Há tempos apanhei uma borla para aceder aos arquivos de uma revista inglesa de teologia: Theology
Sinceramente, não achei a linha editorial nada de especial. Saquei uns artigos cujos títulos me pareciam mais interessantes. Achei o nível entre o banal e o fraquinho.
Aqui quero comentar um em especial: HARRISON Victoria S., On defining the religious person em Theology 2007, pp. 243-250.
Ela mostra a crise que a tarefa de definir uma pessoa religiosa enfrenta hoje. Tradicionalmente, pessoa religiosa seria a que cumpria, cumulativamente, dois critérios: 1) estar afiliado a uma instituição religiosa e 2) ter convicções religiosas.
Nem vale a pena discutir a fragilidade da coisa.
Qual grande surpresa a autora tenta mostrar como ambos os critérios estão hoje em crise. É possível ter convicções religiosas fortes sem estar ligado a uma instituição religiosa; é possível negar ter convicções religiosas e mesmo assim tê-las.
A autora continua a discutir a tese da descristianização, a desisntitucionalização etc e tal... mas não vai muito longe ao tematizar a complexidade como marca da sociedade contemporânea.
Enfim... uma introdução muito levezinha a um tema interessante.
O que me causa mais espécie (muito para lá do texto do artigo) é esta questão da privatização. É óbvia a força desta tendência... ou nem por isso.
A tese geral é que os mecanismos de controle-influência social estão a perder peso e que uma série de dimensões da vida das pessoas são decididas privadamente.
Como sou um bocado lerdo, pergunto-me: o que quer dizer privado? É o oposto de social? É interpessoal de curto alcance?
Mas isso supõe que, magicamente, uma série de forças poderosas (media, cultura, escola...) se auto-silenciaram... é isso que acontece? Não me parece.