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2011/11/04

Ando a ler (1)

A ler: ESMER Yilmaz e PETTERSON Thorleif, Measuring and mapping cultures: 25 years of comparative value surveys, Leiden, Brill, 2007
É feito com dados do WVS de 1981 a 2001.
Em vários artigos a temática religiosa aparece.
Em especial detive-me em: NEVITTE Neil and COCHRANE Christopher, Individualization in Europe and America: connecting religious and moral values, in ESMER Yilmaz e PETTERSON Thorleif, (Edited by), Measuring and mapping cultures: 25 years of comparative value surveys, Leiden, Brill, 2007, 99-126
Como o título diz, pretendem estudar a evolução dos indicadores religiosos e a sua relação com a evolução dos indicadores morais.
Partem da “teoria” da individualização”. Esta prevê a descolagem dos valores humanos das instituições tradicionais (família, trabalho, política, religião…)
A hipótese a testar é se “wether religion is losing its hold on the moral outlooks of citizens in western countries” (p. 102).
Começam por medir a evolução dos indicadores religiosos. Chamam a atenção para a assimetria que se verifica dentro da Europa. Claro que há uma baixa na Europa. Há também uma baixa nos EUA, mas muito menor que a europeia. “The more surprising finding is the evidence of the relative stability in levels of religiosity between 1981 and 2000. Levels of religiosity have declined, but they are not plummeting and nor are they down everywhere.” (p. 105)
A seguir apresentam a evolução dos valores morais. Há uma tendência de aumento da permissividade moral. Em todos os países, excepto na Dinamarca. Aumento mais acentuado nos EUA do que na Europa.
Depois estabelecem a correlação entre a evolução da religiosidade e a evolução da permissividade moral. “The results are somewhat mixed” (p. 109). Esta relação baixou na Europa. (Estamos a falar da relação e não apenas dos níveis morais). Mas nos EUA o padrão é o oposto: a correlação aumentou. E isto põe em causa a hipótese da individualização. “The european findings are consistent wuth the individualization hypothesis; the north American findings clearly are not” (p. 109).
O que significa que a variação dos padrões morais tem outras causas para lá do simples declínio dos níveis de religiosidade.
Para explicar estas discrepâncias lançam a hipótese que haja uma forte relação entre os níveis de envolvimento associativo e a individualização. A participação activa em organizações religiosas serve como contrapeso às tendências permissivas do resto da sociedade.
O artigo é cuidadoso no design da análise que faz e conclui positivamente: “active associational involvement in voluntary religious organizations serves as a counterweight to the individuzliation of eligious and moral values in a far more profound way than either passive spirituality or even such habitual, but generally non-interactive, forms of involvement as church attendance” (p. 115).
A pensar
De salientar que são autores anglosaxónicos. A desatenção à dimensão social e cultural é bastante forte. Por exemplo, não falam nunca do papel dos media. Aparentemente tudo se joga entre as instituições sociais tradicionais que perdem poder e a crescente individualização. Mas os media têm um poder crescente. Outra questão é o papel das agendas culturais: os tais valores mais permissivos não existem apenas nos indivíduos; eles são propostos e reforçados pelos curricula escolares, pelas normativas legais, pelos aparelhos de propaganda e normalização cultural. Nada disso é tido em conta.
Nesse sentido, a teoria da representação social é mais abrangente. Não ponho em causa o impacto que estará a ter o individualismo como ideologia e como prática. Mas ele não existe num vazio de ideias.
Por outro lado é interessante ver confirmada empiricamente uma das intuições da pastoral juvenil salesiana (e da teoria da animação): o papel do grupo para construir alternativas à cultura dominante.
Vou querer ler mais algo sobre a tal teoria da individualização. Talvez BECK Ulrich and BECK-GERNSHEIM Elisabeth, Individualization: institutionalized individualism and its social and political consequences, London, Sage, 2002;

2009/05/17

religiosidade juvenil em Itália (4)

Um segundo capítulo estuda os valores dos jovens e a sua correlação com as pertenças religiosas.
Num certo sentido, nada de surpreendente.
Sistematicamente a adesão religiosa associa-se a valores éticos mais sólidos e menos hedonistas.
Mas o que é surpreendente (em todos os grupos) é como os valores mais apreciados são os ligados à pessoa e ao seu espaço relacional: família, saúde, paz, liberdade, amor, amizade.
Mesmo os que poderiam ser lidos com uma componente mais "social" (paz,liberdade) estão nesta lista apenas porque são condição de possibilidade do tal bem-estar individual.
NO fim da lista, evidentemente os valores políticos.
Mais uma vez isto são valores de 2004 e de Itália. Evidentemente é capaz de haver resultados hoje em Portugal. mas penso bem que esta tendência se deve manter.
A parte
Estou a pôr-me a par do Prison break. Foi uma série que não acompanhei aí em PT, mas nas horas vagas estou a recuperar o tempo perdido. Como todas as boas séries esta funciona a mais do que um nível. O mais óbvio é a fuga (série 1 e 2) ou a luta contra os maus da "companhia" (séries 3 e 4). Mas há outros dilemas a alimenta o interesse pela série. Mormente os de tipo moral. Neste sentido esta é das séries em que o tema da escolha moral é mais patente. E no meio de todas as peripécias, da injustiça, da incapacidade do sistema democrático dar sossego aos heróis, como é que eles tomam as suas decisões: pela lealdade aos que amam (família, amigos). Nada mais é seguro ou certo nesta série. Tudo pode esconder um perigo. Só podes confiar em termos da tua escolha, da tua tomada de decisão, no valor da família ou das relações próxima.
É óbvio que Prison Break não é a primeira série nesta linha. O que me levanta uma pergunta. Fazem a série assim para ir de encontro à nossa maneira de pensar ou nós pensamos assim por termos visto muitas séries destas?