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2009/03/05

Catequese e sacramentos

Já deu para perceber que aqui em Itália o debate sobre a relação entre catequese e sacramentos continua a bulir. Aqui já apresentei sucintamente a questão.
Para fazer alguma ordem, trago hoje um (longo) artigo de CASPANI Pierpaolo: «Iniziazione cristiana» e «catecumenato»: semplicemente sinonimi? (1999).
O artigo é longo mas menos longo do que o livro de 900 páginas (segundo me disse o Montisci) onde ele aprofunda estas ideias.
O artigo já tem 10 anos e está em termos das referências algo desactualizado.
O problema dele é tentar perceber como é que se articulam catequese e sacramentos, se o importante é a iniciação pelos sacramentos ou a iniciação aos sacramentos.
É verdade que havia na altura (e continua a haver) uma grande confusão terminológica.
O homem inclina-se para reconhecer a prioridade da acção de Deus nos sacramentos. Mas não é dos ultras.
Mas neste debate todo, acho que esta gente esquece as coisas essenciais.
O que é que está em causa? fazer catequese? sacramentos? Não.
O que está em cima da mesa é como é que as pessoas se tornam cristãs.
Convinha não esquecer também que este processo de nos tornarmos cristãos segue o estilo dialógico e incarnacional de toda a história da salvação. Deus toma a iniciativa e pede a nossa resposta positiva. A salvação acontece quando dizemos "sim" à iniciativa de Deus.
Por nós próprios não nos podemos tornar cristãos (pelagianismo). Acentuar de tal modo a iniciativa de Deus que se esqueça-ignore a componente humana da resposta remete-nos para a magia.
Uns acentuam mais a dimensão humana e estão interessados na "catequese" vista como um processo educativo humano que capacita a pessoa a aderir ao projecto de Deus. E nesta linha os sacramentos são apenas ritos simbólicos que dão forma à decisão interior da pessoa.
Outros acentuam mais a força salvífica do sacramento. pela acção de Deus, o sacramento modifica radicalmente a pessoa.
Uns e outros esticam a corda ora para um lado, ora para outro.
Outros ainda tentam sínteses e consensos.
Estarei eu a ver mal ou esta gente está a esquecer a pergunta primeira?
E não estarão a esquecer as grandes pistas da Igreja, representadas pelo RICA?
Mesmo cronologicamente o RICA recorda que a IC não acaba com os sacramentos da iniciação mas sim com a mistagogia. O RIca é muoto claro ao definir um percurso onde tudo o que ele considera importante está presente. Depois da conversão há um tempo de catecumenato; quando a fé amadurece o suficiente, entra-se numa preparação específica para os sacramentos (originalmente, a quaresma), eles são recebidos e depois há um tempo de mistagogia, onde os que receberam os sacramentos são instruídos a fazer a ponte entre a fé madura, a força do sacramento, a presença plena na comunidade e a vida.
Menos que isto não chega.

2009/02/23

Iniciação cristã: entre 2 fogos?

Para lá das confusões de tipo histórico-documental (que dificultam perceber claramente o que se diz quando usamos a expressão IC) há hoje duas perspectivas para abordar a IC. Estas duas perspectivas partem de pontos de vista dificilmente harmonizáveis: catequético-pedagógico (onde claramente estou eu) e teológico-litúrgica.
Isto pode parecer um debate meio esotérico e inútil. Mas a verdade é que acaba por condicionar bastante a práxis da catequese. ainda que inconscientemente, muitos dos debates que acontecem a nível local, acabam por derivar daqui.
Perspectiva pedagógico-catequética
Gevaert sintetizou muito bem esta posição:
Usa-se o termo IC para indicar o processo de formação ou de crescimento, suficientemente amplo no tempo e devidamente articulado, constituído por elementos catequéticos, litúrgico-sacramentais, comunitários e comportamentais que é indispensável para uma pessoa poder participar com escolhe livre e adequada mentalidade na fé e na vida cristã.
Esta abordagem usa um conceito global de IC e integra todos os elementos em presença. Não basta o sacramento para fazer automaticamente o cristão; mas é precisa a conversão e a fé em JC, como pressupostos indispensáveis para receber os sacramentos que incorporam em Cristo e na Igreja.
Segundo este modelo (ou melhor segundo Gevaert e uns tantos outros, entre os quais eu) a IC não dura toda a vida cristã. Nem se confunde com a maturidade. A IC é apenas o processo pelo qual alguém começa a ser cristão.
Perspectiva teológico-litúrgica
Esta perspectiva reclama o papel determinante para os sacramentos. São os sacramentos que iniciam, que inauguram a nova existência cristã, na medida em que introduzem a pessoa na Páscoa de Cristo.
Quero aprofundar, daqui por uns dias, as possíveis pontes entre estas duas perspectivas.
Mas era importante recordar um dos grandes padres da antiguidade: S. Basílio Magno.
Primeiro é preciso tornar-se discípulo do Senhor e, depois, ser admitido ao Baptismo.
Quem fala assim não é gago!

2009/02/19

Iniciação cristã: formação profissional?

Comecei a ler uma compilação de textos sobre a IC: Diventare cristiani. L'iniziazione cristiana tra problemi e ricerca di nuove vie
O primeiro é de benzi: Il radicamento neotestamentario dell'iniziazione cristiana. Il discorso de Pietro a Pentecoste (Atti 2, 14-41)
A certa altura o caramelo diz que a IC não tem nada que ver com o mundo da antropologia cultural: "não se trata de uma 'iniciação' tribal, mágica ou religiosa: estes itinerários de iniciação são normalmente percusos feitos em etapas, com provas que pedem uma separação ou uma agregação e culminam numa condenação à morte simbólica da personalidade do iniciado para reencontrar uma nova identidade pessoal e social."
Continua ele a dizer que a Inic. que a Igreja propõe pode ser comparada à do artesão em relação com o seu aprendiz.
Não sei onde é que ele foi buscar essa ideia. De facto nos rituais da IC estão todos aqueles elementos da iniciação social.
Aliás, um texto de CASPANI Pierpaolo (Il ripristino del catecumenato nei documenti del Vaticano II) cita, das actas do concílio essa referência à antroloplogia cultural.
A redução da IC à aquisição de um saber parece-me muito pobre. Foi das primeiras vezes que encontrei esta ideia. Vou tentar perceber se há mais gente com essa ideia.
Claro que é preciso entender a IC como iniciação secundária, aquela que acontece numa sociedade complexa. mas isso fica para depois.

2009/02/18

Iniciação cristã: terminologia

Estou a assistir às aulas de Ubaldo Montisci, como ouvinte (Libero uditore) no curso de Iniciação cristã e catecumenato. É um curso que já fiz, no mestrado, com Cyril deSousa. Mas como o tema me interessa quero aproveitar o tempo para me deixar estimular.
Hoje foi a 1ª aula a sério. A IC no processo da evangelização.
E as questões de nomes estiveram muito presentes. Evangelização, missão, IC, catequese… Está claro que muita da nossa confusão nasce da confusão dos próprios documentos.
Segundo Monstisci há duas grandes correntes terminológicas. A primeira vem do decreto conciliar Ad Gentes. Segundo este documento a acção missionária da Igreja tem 4 momentos: a) Testemunho de vida, diálogo, presença da caridade; >> b) Evangelização e a conversão; >> c) Catecumenato e iniciação cristã; >> d) Formação da comunidade cristã.
A Evangelização aparece aqui como um momento específico do processo.
Esta visão influencia a terminologia e a abordagem do Directório Catequístico geral (1971) e do RICA.
A segunda corrente nasce com a Evangelii Nuntiandi, de Paulo VI (1975). A Evangelização seria o conjunto de todas as acções eclesiais.
Esta perspectiva é retomada pelo Directório geral de catequese (1997).
Alguém se pergunta qual o interesse destas questões terminológicas. Em primeiro lugar dar qualidade à comunicação entre nós. E também reconhecer que o debate sobre os termos é muitas vezes consequência de um debate pastoral e teológico.

O Documento da CEP Para que acreditem e tenham vida, sem ser completamente claro na terminologia, pode ajudar-nos. Este documento procura “a contextualização da catequese na evangelização, requerida pelas Exortações Evangelii Nuntiandi e Catechesi Tradendae;” (nº 1), entre outras coisas.
É algo confuso em alguns aspectos.
A frase “A catequese situa-se nesta linha. Tem em vista transmitir a Palavra de Deus que revela o Seu desígnio de salvação realizado em Jesus Cristo de modo a despertar a fé e a conversão ao Senhor e a viver em comunhão com Ele (CT 5 e 6).” (nº 2) parece não distinguir entre catequese e despertar da fé. Mas antes (Chegam muitas crianças à catequese sem os rudimentos de vida cristã, a necessitar do despertar da fé) (nº 1) catequese e despertar da fé parecem ser realidades distintas.
Mais adiante volta a distinção: “comunicar a revelação de modo a despertar e solidificar a fé é a tarefa fundamental das comunidades cristãs. Dentro desta tarefa tem um lugar relevante a catequese.” A catequese parece ser parte, um momento, de um processo mais amplo.
Em 2b elencam-se várias aberturas à fé, entre as quais o despertar da fé. Mas a distinção fica clara com “Porém, nenhuma destas vias dispensa o aprofundamento da fé.”
A ideia de processo aparece também no nº 3: “Não podemos à partida pressupor a fé. Torna-se necessário despertá-la no coração das pessoas, converter os baptizados que não conhecem ou não praticam o cristianismo, levar o evangelho aos afastados. É preciso começar a evangelizar pelo princípio, pôr em prática uma nova evangelização.”
Neste sentido nova evangelização teria o sentido de evangelização inicial.

Esta ideia da evangelização como um processo plural continua: “a evangelização precisa de ser entendida como um processo que integra vários momentos com uma sequência própria”. Claramente, a catequese é relacionada com o todo da evangelização: “A catequese é um momento do processo de evangelização: tem uma etapa anterior que a prepara e precisa de ter continuação.”
Assumindo a inspiração na EN, o documento da CEP identifica 5 momentos para esta evangelização:
1. Presença e acolhimento;
2. Primeiro anúncio
3. Catequese (“que solidifica e faz amadurecer o primeiro anúncio”)
4. Comunidade cristã e sacramentos
5. Comunidade cristã e testemunho

Outro termo que também aparece é iniciação cristã. Aliás, o nº 4 tem por título “Catequese e Iniciação Cristã”. Só que não é dada nunca uma definição (ou descrição sustentada). Diz-se que a IC é “uma fase fundamental em que se lançam os alicerces da vida cristã e que, portanto, condiciona o edifício futuro da fé”.
Na verdade, não se diz muito. A seguir, descreve-se a IC, de forma algo redutiva: “Iniciação consiste na incorporação gradual e progressiva no mistério de Cristo e da Igreja, através dos três sacramentos da iniciação cristã- Baptismo, Confirmação e Eucaristia- e da aprendizagem e treino nas várias dimensões da fé: conhecimento do essencial do mistério cristão; celebração da fé na Eucaristia e nos sacramentos; união com o Senhor na oração; prática do Evangelho na caridade e no serviço.”
Ou seja, avançam-se alguns conteúdos mas não se aborda o específico do paradigma iniciação em relação com outros paradigmas: socialização, instrução…

2009/02/17

Iniciação cristã e pós-moderniade

Declaração de interesses: sou fã do conceito e da prática da Iniciação cristã.

Mas já percebi que IC se está a tornar uma daquelas expressões de moda onde cada um mete os conteúdos que quer. Supostamente o projecto catequético português também está inspirado numa lógica de IC. Pois... um exemplo típico de mudar o nome para deixar tudo o resto na mesma.
Mas para lá destes apartes, talvez valha a pena pensar a sério sobre as condições de implementação de uma prática consistente de IC.
Nas sociedades tradicionais, a Iniciação permite o acesso a um grupo sedimentado, com uma cultura definida, com uma identidade clara. Ora essa clareza de identidade pode ser hoje reproposta hoje, neste contexto pós-moderno?
É certo que a IC não surgiu numa sociedade tradicional mas num mundo socialmente bastante complexo como o império romano. Por isso alguns falam duma iniciação secundária. Não se tratava de integrar a "sociedade" mas um grupo específico (até com algo de marginal) dentro de uma sociedade plural e contraditória. O que tem bastantes semelhanças com o nosso contexto.
Mas, por outro lado, há uma tendência a ver a IC como um processo em que de um lado está uma instituição pesada, com um pacote identitário (o depositum fidei) e do outro estaria um sujeito passivo, que se conformaao que lhe é dado.
Não é preciso ter dois dedos de testa para perceber que isso hoje não pode funcionar. Educativamente. mas também teologicamente. Porque anula o carácter dialógico da revelação

2009/02/13

Christian initiation in early christianity

ROUWHORST Gerard, Christian initiation in early christianity, Questions liturgiques 87(2006).
Bom artigo para perceber melhor o papel actual da IC.
Apesar do título não é um artigo de tipo histórico-arqueológico.
O autor começa por identificar alguns preconceitos históricos da renovação litúrgica do século XX. Segundo ele houve uma série de autores (e essa atitude alargou-se depois a muitos sectores da Igreja) que entenderam a necessária reforma litúrgica como o regresso a uma era dourada de liturgias perfeitas (que seria a Igreja antiga, ou melhor a igreja do século IV).
Ele aponta a este mito da era dourada duas críticas. A 1ª é a dificuldade de historicamente perceber o que se passou. A 2ª é esquecer que as formas litúrgicas dessa tal era dourada funcionavam (? ver a 1ª crítica) num determinado contexto social; se esse contexto social não se repetir hoje, há o risco elevado de não funcionarem hoje.
E este processo que ocorre com toda a liturgia, aplica-se também à recuperação do modelo da IC (Atenção que o autor é essencialmente um liturgista e não um educador-catequeta).