2009/08/26

2009/08/16

Entender João 6

Em 2009 estamos no ano litúrgico B, onde se escuta principlmente o texto de S. Marcos.
Mas a certa altura, a leitura de Marcos é interrompida para lermos o capítulo 6 de S. João.
É um texto importante porque é dos textos mais densos e longos do NT sobre a Eucaristia.
Claro que o texto é longo e parece algo repetitivo. Somando isso ao calor que faz nesta época do ano, ouço com frequência gente a queixar-se da "inutilidade" (pastoral) deste texto.
E leio alguns comentários que interpretam João 6 em sentido simbólico, interpessoal, social.
O próprio texto de João recorda como as palavras de Jesus provocaram comoção e escândalo entre os seus ouvintes e até entre os discípulos.
Jesus comete uma série de "erros" comunicativos. Ele diz coisas que, hoje, são politicamente incorrectas. mesmo em ambientes eclesiais.
Ele vem dizer que acreditar n'Ele leva à vida. E só acreditar n'Ele o faz. Segundo Ele, quem não acreditar n'Ele, quem não entrar numa relação de alta intensidade com Ele... está lixado.
1ª asneira de Jesus (segundo o pensamento limpinho). Esta pretensão de exclusividade cheira a fanatismo e vai contra o relativismo.
Mas Jesus continua a dizer "asneiras". Ele vai equivaler "acreditar n'Ele" e "comer a sua carne". A fé "é" Eucaristia.
Isto então é que é o cúmulo do inaceitável.
Há muita "pastoral" que passa o tempo a ter uma visão descontraída, descomprometida, da Eucaristia. E vem Jesus dizer que... tudo ou nada? Pode lá ser!
É evidente que não pretendo negar aqui todo o papel da progresividade pastoral, da importância de saudáveis modelos educativos. O Evangelho de João é um texto muito maduro, escrito de dentro da comunidade para dentro. Não é um texto para ajudar ao crescimento de quem está fora. É um texto para sedimentar a identidade cristã de uma comunidade que já teve de enfrentar muitas contrariedades, também internas.
Os meus interesses pastorais, normalmente, colocam-se a outro nível: ao nível daqueles que estão em trajectória de crescimento na fé. E é óbvio que não tem sentido estruturas uma pastoral catequética a partir do "tudo ou nada" que João 6 propõe.
Mas o texto é útil à mesma para percebermos qual é a identidade crente para a qual caminhamos. Ajuda-nos a tomar posição sobre algumas questões importantes.
Cristo é essencial para a nossa salvação, para a nossa qualidade de vida? Ou não? Que relação entre o papel de Cristo e os outros factores de qualidade (salvação) na nossa vida?
qual o papel da Eucaristia na vida cristã? Tem sentido uma vida cristã em que a Eucaristia é um optativo? Em que o valor da Eucaristia depende da estética ou da sintonia psicológica do cristão?
É óbvio que João carrega nas tintas. O capítulo 6 é longo e há frases que se repetem muitas vezes. O que, a meu ver, mostra a importância que o autor dá ao que está em causa. Também me parece óbvio que há hoje muito operador e "pensador" pastoral que aposta no "aligeirar", no diminuir a tensão.
2 projectos pastorais em confronto. Como sempre, a minha veia pragmática sugere-me uma pista para avaliar as respectivas qualidades. Qual deles produz mais resultados? Qual deles é capaz de produzir práticas de vida mais em consonância com o estilo de Jesus? E qual deles produz mais conformidade à cultura dominante? Qual produz mais amor, mais entrega, mais sangue e vida oferecidos? Qual deles produz mais comodismo, mais capacidade de calar as vozes que nos incomodam com os seus apelos?
Disclaimer: Já estou a imaginar algumas bocas de conhecidos, dizendo que virei integrista ou coisa que o valha. Pois... deve ser isso mesmo

2009/08/15

Fé e quotidiano

Pode ser só uma observação "a olhometro"... Mas é engano meu ou vai crescendo, na pastoral juvenil (que é a área que acompanho mais) uma mentalidade que separa a fé do quotidiano?
Há gente motivada, que leva a fé a sério, que quer ir a Taize, ou fazer esta experiência espiritual intensa, cheia de boa vontade... mas numa lógica de consumo espiritual pontual, regressa à sua vida quotidiana, mas sem solução de continuidade entre essas experiências de pico e o quotidiano...
E, melhor ou pior, vão vivendo... e ansiando pela próxima experiência de pico.
isto, em termos cristãos, não faz muito sentido, pois não?
É uma vida compartimentada.
É também uma afirmação de fé algo blasfema. Será que Deus não tem poder para estar presente e transformar o quotidiano?

A minha meta é o céu

É o que diz o refrão de uma das canções dos Terceira margem.
E é uma ideia apropriada para esta festa da Assunção de Maria.
Hoje festejamos que ela está no céu. Vive e vive em Deus.
O que quer dizer que o nosso Deus não andou na mesma escola dos nossos políticos de promessas sempre revistas e/ou adiadas.
Mas mais importante do que fazer uma afirmação sobre Maria de Nazaré, é percebermos o impacto que isso tem sobre todos nós, Igreja. A plenitude da vida em Deus é viável. Há uma via, um caminho para lá chegar.
E o evangelho da visitação (proposto pela liturgia para hoje) dá indicações sobre esse caminho. O caminho para o céu é o caminho do serviço.
É o caminho do louvor.

2009/08/09

Projecto GPS: Livro Três

Uma notícia meio pessoal, meio profissional.
Está na fase final a elaboração do Livro Três do Projecto GPS.
O corpo do texto está pronto, já paginado; falta apenas escrever a introdução.
Foi um desafio e peras. As propostas para o 3º ano do GPS supõem que o grupo estará na 4ª e 5ª etapas do seu ciclo evolutivo. E a verdade é que há pouca experiência de observar grupos nessa fase. Nestas fases, a interacção do grupo está muito mais virada para os conteúdos. Mas como fazer propostas que não reduzam o grupo ao "debater temas", tão clássico e tão estéril?
Com dificuldade, se calhar com algumas oscilações de qualidade, acho que conseguimos, fazer propostas activas.