Continuando com o post anterior:
Remetendo para Flament, Abric estuda a relação entre a estrutura das RS e os seus processos de transformação.
Na relação entre práticas sociais e representações a pergunta decisiva é: o que acontece quando os actores sociais desenvolvem práticas sociais que contradizem o sistema de representação?
Ao ler isto, os meus sensores de alarme dispararam logo! é que isto pode ajudar a explicar muitas das trajectórias de abandono da fé e da Igreja.
Flament introduz o conceito de reversibilidade da situação para responder. Os actores sociais, numa prática contraditória com a RS podem considerar que a situação é irreversível (um regresso ao passado e às práticas anteriores) ou, pelo contrário que é reversível (o regresso às práticas anteriores é possível, sendo a situação actual apenas momentânea).
Se a situação for reversível, as novas práticas vão gerar modificações na RS. Os novos elementos serão integrados na RS, mas apenas através da transformação do sistema periférico; o sistema central mantém-se estável.
No caso de a situação ser percebida como irreversível, as novas práticas contraditórias vão ter consequências mais sérias. Há três transformações possíveis:
1) "resistir à transformação. São os casos onde as novas práticas ainda podem ser geridas pelo sistema periférico e pelos clássicos mecanismos de defesa;
2) Transformação progressiva. A mudança da RS ocorre sem rupturas, com adaptações suaves do núcleo central.
3) Transformação brutal. Quando as novas práticas desafiam o significado central da RS, sem possibilidade de recorrer a mecanismos de defesa.
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2009/03/31
Núcleo central (1)
Num breve artigo (ABRIC Jean-Claude, Central system, peripheral system: their functions in the dynamics of social representations em Papers on Social Representation (1993), 2, Abric apresenta algumas ideias a reter.
Há duas características das RS que parecem contraditórias:
1: São, ao mesmo tempo, estáveis e mutáveis;
2: Consensuais mas marcadas por fortes diferenças inter-individuais.
Para explicar esta aparente contradição, Abric explica que as RS têm duas componentes: o núcleo central e os elementos periféricos.
O núcleo central tem as seguintes características:
>> É determinado pelas condições históricas, sociais e ideológicas. Muito marcado pela memória colectiva do grupo e pelo sistema de normas a que se refere.
>> A sua função é consensual. Assegura a homogeneidade do grupo.
>> É estável, coerente, resiste à mudança.
>> É relativamente independente do imediato contexto social.
O sistema periférico actua como complemento ao sistema central de que depende.
Se o sistema central é essencialmente normativo, o sistema periférico é funcional. Sem ele, a RS não se poderia enraizar no momento concreto.
A sua 1ª função é habilitar o sistema central a definir um curso de acção.
Ao contrário do sistema central, o periférico é muito mais sensível ao contexto imediato. Actua como um interface entre o contexto e o sistema central.
Desempenha ainda uma 2ª função: regula a relação entre o nucleo e a realidade externa.
Tem ainda uma 3ª função: Permite uma certa modulação individual da RS. A sua flexibilidade permite ao sujeito a integração entre a história pessoal e a RS
Há duas características das RS que parecem contraditórias:
1: São, ao mesmo tempo, estáveis e mutáveis;
2: Consensuais mas marcadas por fortes diferenças inter-individuais.
Para explicar esta aparente contradição, Abric explica que as RS têm duas componentes: o núcleo central e os elementos periféricos.
O núcleo central tem as seguintes características:
>> É determinado pelas condições históricas, sociais e ideológicas. Muito marcado pela memória colectiva do grupo e pelo sistema de normas a que se refere.
>> A sua função é consensual. Assegura a homogeneidade do grupo.
>> É estável, coerente, resiste à mudança.
>> É relativamente independente do imediato contexto social.
O sistema periférico actua como complemento ao sistema central de que depende.
Se o sistema central é essencialmente normativo, o sistema periférico é funcional. Sem ele, a RS não se poderia enraizar no momento concreto.
A sua 1ª função é habilitar o sistema central a definir um curso de acção.
Ao contrário do sistema central, o periférico é muito mais sensível ao contexto imediato. Actua como um interface entre o contexto e o sistema central.
Desempenha ainda uma 2ª função: regula a relação entre o nucleo e a realidade externa.
Tem ainda uma 3ª função: Permite uma certa modulação individual da RS. A sua flexibilidade permite ao sujeito a integração entre a história pessoal e a RS
2009/03/30
Ponto de situação
Cá ando às voltas com a TRS.
Nos últimos tempos tenho andado a ler umas coisas sobre a metodologia. E as partes mais bem conseguidas estão na perspectiva da teoria do núcleo central (cfr Abric...).
E muito bem: não basta determinar qual é o conteúdo das RS; há que perceber também qual é a sua estrutura.
Mas, e pergunto eu com a Jodelet, onde ficam os processos (ancoragem, objectivação)?
É que boa parte do que leio, deixa isso de lado?
E a questão dos "themata" onde fica?
Apesar disso cada vez mais me convenço do mérito da TRS para estudar a construção da imagem de Deus.
As abordagens feitas até aqui ou assumem um carácter positivista que não resiste à crítica legítima ou remetem para uma fragmentação radical (religião faça você mesmo) que impede o conhecimento (que é sempre conhecimento do geral) e também uma prática pensada e crítica.
A sugestão que cada um elabora a sua própria imagem de Deus, a partir da sua individualidade radical não parece resistir. Haverá tantas imagens de Deus quantas pessoas? Ou não será que apesar de tudo cada um constrói a sua imagem a partir de esquemas, representações, socialmente disponíveis em número relativamente limitado.
A abordagem da TRS também poderá ajudar a perceber-interpretar melhor a questão do apofatismo (Gallo), em que as pessoas, acreditando em Deus, não o verbalizam.
Precisamente a hipótese da zona muda das RS pode ajudar a explicar isso.
Nos últimos tempos tenho andado a ler umas coisas sobre a metodologia. E as partes mais bem conseguidas estão na perspectiva da teoria do núcleo central (cfr Abric...).
E muito bem: não basta determinar qual é o conteúdo das RS; há que perceber também qual é a sua estrutura.
Mas, e pergunto eu com a Jodelet, onde ficam os processos (ancoragem, objectivação)?
É que boa parte do que leio, deixa isso de lado?
E a questão dos "themata" onde fica?
Apesar disso cada vez mais me convenço do mérito da TRS para estudar a construção da imagem de Deus.
As abordagens feitas até aqui ou assumem um carácter positivista que não resiste à crítica legítima ou remetem para uma fragmentação radical (religião faça você mesmo) que impede o conhecimento (que é sempre conhecimento do geral) e também uma prática pensada e crítica.
A sugestão que cada um elabora a sua própria imagem de Deus, a partir da sua individualidade radical não parece resistir. Haverá tantas imagens de Deus quantas pessoas? Ou não será que apesar de tudo cada um constrói a sua imagem a partir de esquemas, representações, socialmente disponíveis em número relativamente limitado.
A abordagem da TRS também poderá ajudar a perceber-interpretar melhor a questão do apofatismo (Gallo), em que as pessoas, acreditando em Deus, não o verbalizam.
Precisamente a hipótese da zona muda das RS pode ajudar a explicar isso.
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