2009/05/27

Já está!

Pelas 12h15 eu e outro colega (também orientado pelo Anthony) lá fomos apresentar os nossos esquemas.
Mais uma vez o tempo se revelou curto. Começo ele, falou muito e os professores também não se calavam. resultado: eu fiquei com 13 minutos para apresentação e diálogo. Fiz 3-4 minutos de apresentação. O Cimosa elogiou muito o esquema (ou gostou ou queria ir almoçar), o Venturi perguntou algo pelo aspecto prospectivo e o José Luis Moral resolveu dizer asneiras: e tal e coisa e a base antropológica e a sociologia do conhecimento (Berger e Luckman) e a sociologia francesa...
Pena que nestas plataformas não dê para responder; ou não leu o esquema e/ou não percebe nada de Moscovici.
No fim, o Anthony chamou a atenção sobre a necessidade de avaliar estas coisas como propostas de teologia empírica que são.
Bem... já está. Agora vou imprimir e levar ao prof. para assinar e entregar na secretaria.

Apresentação esquema da tese

Hoje vou apresentar aos professores do instituto de teologia pastoral o meu esquema de tese. É uma novidade deste ano: os alunos apresentam o seu esquema a um conjunto de professores da área; isto aumenta os contactos e a comunicação.

O título
Believing in God: An empirical-theological study of social representations among adolescents in Portugal
Proponho para este projecto de investigação o título: “Acreditar em Deus…”
É um título que indica já as grandes opções e conteúdos do projecto.
“Acreditar em Deus”. Optei por uma forma verbal e não substantival porque permite exprimir melhor o objecto central do estudo. As expressões “fé” ou “imagem de Deus” poderiam ainda induzir um mapa teológico em que o estudo do mistério de Deus, a teologia da fé, a teologia espiritual estavam ainda separadas e compartimentadas. Ao usar uma forma verbal remete-se para uma acção, para uma praxis que vai ser estudada sob uma perspectiva empírico-teológica. O título diz ainda qual a abordagem teórica que preside ao olhar empírico sobre a realidade: a teoria das representações sociais.
O grupo estudado será o dos adolescentes em Portugal. Concretamente aquele grupo (aproximadamente 150000) de adolescentes com idades compreendidas entre os 16 e os 20 anos que frequentaram a catequese.

Desenho da tese
As opções desta proposta são claramente influenciadas pelo ciclo empírico-teológico proposto por van der Ven.
Opto por uma abordagem exploratória-explanatória em boa parte por ausência de investigação prévia utilizável.

Objectivos
• Identificare le immagini di Dio elaborate dagli adolescenti e il rapporto stabilito con Lui;
• I processi messi in atto per questo;
• Riflettere e valutare teologicamente e pastoralmente la reale esperienza di credere in Dio.
Estes objectivos estão formulados ainda sem referência aos constructos teóricos que vou usar.
São objectivos realistas, isto é são atingíveis a partir das disponibilidades e recursos científicos disponibilizados por mim e pelos relatores. É razoável acreditar que, por analogia com outros projectos de investigação, no estado actual da ciência, seja possível chegar a resultados originais.
Os objectivos estão devidamente articulados sem sobreposições nem repetições.

Background
Como pano de fundo e motivação para este trabalho está a evidente tensão entre a necessidade de conhecer-compreender a realidade e a ausência ou grave deficiência de estudos teórica e empiricamente bem fundados. Os estudos feitos em Portugal sobre as temáticas conexas com esta têm sérias limitações ao nível da definição teórica e ao nível epistemológico.

Clarificar os pressupostos teóricos
Qualquer estudo em teologia deve sempre clarificar quer o seu objecto teológico (neste caso, a experiência de acreditar em Deus) quer os instrumentos analíticos de que se serve (neste caso, a teoria das representações sociais).
Por isso assumo claramente uma visão “rica” de acreditar em Deus. Onde se articulam fides qua e fides quae num cristocentrismo trinitário. Dimensão eclesial e ortoprática. Dimensão histórico-evolutiva e escatológica.
Optei por usar a teoria das representações sociais pela sua capacidade heurística, flexibilidade e por evitar alguns dos problemas que outras abordagens às temáticas religiosas geralmente têm: o individualismo e a epistemologia reificada e monológica. A TRS permitirá estudar os processos pelos quais os sujeitos estudados elaboram socialmente as suas representações.
Pode parecer um risco usar esta teoria num contexto de teologia. Mas a sua antropologia de base dialógica, onde os sujeitos e os contextos sociais se articulam sem se sobreporem nem anularem e o equilíbrio tenso que há entre força do contexto sócio-cultural e agência da pessoa parecem oferecer uma alternativa promissora no clima cultural onde estamos, que nos parece condenar a escolher entre o esquecimento das críticas pós-modernas e a dissolução do sujeito.

Questões a investigar
• Quali le rappresentazioni sociali di Dio fatte dagli adolescenti portoghesi coinvolti nei processi di catechesi?
• Quali i processi messi in atto nella elaborazione delle RS (ancoraggio, oggettivazione) ?
• Quali i contenuti delle RS e come sono strutturati?
• Che correlazioni ci sono tra queste variabili e concetti: genero, età, pratica religiosa personale, percorso catechistico, RS di Dio del catechista rispettivo?
• Ci sono manifestazioni di polifasia cognitiva? Como possono essere interpretate?
• Può la “zona muta delle RS” spiegare la tendenza apofatica?
• Quale interpretazione teologica possiamo fare sulle RS di Dio prodotte dagli adolescenti?

Metodologia
A pesquisa sobre a RS da amostra será feita com um questionário. Este questionário contém uma série de informações de tipo mais anagráfico e alguns indutores que permitem captar as representações sociais presentes nos sujeitos.
Complementarmente à análise (cluster, factor, MDS) pode ser necessário recorrer a uma recolha de dados mais qualitativa que sugira pistas posteriores de análise e interpretação. O desenvolvimento, em anos recentes de software que permite uma expedita análise de dados não estruturados será uma ajuda preciosa.

2009/05/25

Socialização e valores

Mais um livro que começo a ler (antes de regressar): Franco Garelli, Augusto Palmonari e Loredana Sciolla, La socializzazione flessibile. Identità e trasmissione dei valori tra i giovani.
Uma das hipóteses a testar era que nas agências tradicionais (família, escola) as relações se estabelecem na base da negociação e no diálogo (e não como antes, na base de uma relação de força).
Hipótese confirmada, mas...
Quer na escola quer na família dominam os modelos não autoritários. Mas na família as relações pais-filhos mostram muita força, num clima de diálogo e de reciprocidade entre pais e filhos. os filhos tendem a identificar-se muito com os modelos culturais transmitidos pelos pais.
Na escola também já não há posturas autoritárias. mas as coisas não são como nas famílias. Há uma indiferença recíproca, até um verdadeiro laxismo, mesmo quando há desacordo com os professores. isto não gera uma oposição generalizada aos professores; antes, uma "microconflitualidade" difusa.
Isto promete...

o papel do estado

É um bocado off-topic mas pareceu-me interessante este artigo. Não é nenhuma apologia do neoliberalismo nem se trata de discutir a redução de impostos. Está colocado mais numa perspectiva de defesa.
Um estado-nação moderno define-se por ter (ou tentar ter) o monopólio da violência. A história dos últimos 200 anos é história da luta entre estados ou de grupos que não se reviam em estados e queriam estados alternativos.
mas hoje, segundo o autor, isso está a mudar. É possível definir uma agenda política sem precisar de estado. Ou até, fazer depender essa agenda da ausência de estado.
A ler.

Defese de tese

Hoje à tarde, um colega vai defender a sua tese em teologia dogmática: perspectivas mariológicas no diálogo católicos anglicanos.

2009/05/24

isto tem estado algo parado

mas não é só por preguiça. Entre o calor e as mudanças fica difícil ter cabeça clara para postar seja o que for.
Esta semana apresentei o meu esquema de tese aos colegas do seminário. na próxima 4ª (dia 27) apresento aos professores do Instituto de pastoral.
Daqui a uma semana estou de regresso a portugal.
Coisas boas:
1. Biblioteca
2. Alguns professores muito acessíveis
Descoberta recentes:
1. A teologia de Perangelo Sequeri
2. O potencial das ferramentas de análise de dados qualitativos e não estruturados

2009/05/17

religiosidade juvenil em Itália (4)

Um segundo capítulo estuda os valores dos jovens e a sua correlação com as pertenças religiosas.
Num certo sentido, nada de surpreendente.
Sistematicamente a adesão religiosa associa-se a valores éticos mais sólidos e menos hedonistas.
Mas o que é surpreendente (em todos os grupos) é como os valores mais apreciados são os ligados à pessoa e ao seu espaço relacional: família, saúde, paz, liberdade, amor, amizade.
Mesmo os que poderiam ser lidos com uma componente mais "social" (paz,liberdade) estão nesta lista apenas porque são condição de possibilidade do tal bem-estar individual.
NO fim da lista, evidentemente os valores políticos.
Mais uma vez isto são valores de 2004 e de Itália. Evidentemente é capaz de haver resultados hoje em Portugal. mas penso bem que esta tendência se deve manter.
A parte
Estou a pôr-me a par do Prison break. Foi uma série que não acompanhei aí em PT, mas nas horas vagas estou a recuperar o tempo perdido. Como todas as boas séries esta funciona a mais do que um nível. O mais óbvio é a fuga (série 1 e 2) ou a luta contra os maus da "companhia" (séries 3 e 4). Mas há outros dilemas a alimenta o interesse pela série. Mormente os de tipo moral. Neste sentido esta é das séries em que o tema da escolha moral é mais patente. E no meio de todas as peripécias, da injustiça, da incapacidade do sistema democrático dar sossego aos heróis, como é que eles tomam as suas decisões: pela lealdade aos que amam (família, amigos). Nada mais é seguro ou certo nesta série. Tudo pode esconder um perigo. Só podes confiar em termos da tua escolha, da tua tomada de decisão, no valor da família ou das relações próxima.
É óbvio que Prison Break não é a primeira série nesta linha. O que me levanta uma pergunta. Fazem a série assim para ir de encontro à nossa maneira de pensar ou nós pensamos assim por termos visto muitas séries destas?

2009/05/16

religiosidade juvenil em Itália (3)

Um pouco espalhados pelas várias posições religiosas está a participação dos jovens em grandes eventos: Taize, jornadas da juventude...
São momentos de forte emotividade que, de algum modo, mantêm acesa a fé...
A questão que se põe é saber se queremos continuar a alimentar um consumo religioso-emotivo que não altera substancialmente nada na vida e na fé dos jovens, em que estes momentos não trazem qualquer impacto ao quotidiano... ou se acreditamos que estes momentos têm o potencial de ser o início de uma caminhada mais séria.
Mas esta questão já se põe há anos. E não parece haver da parte das comunidades cristãs e dos seus responsáveis uma vontade sincera de alterar o status quo.

2009/05/15

religiosidade juvenil em Itália (2)

Mais cedo do que previa lá fui ler o livro.
Mais alguns dados:
Idade: a idade parece ser um factor que influencia a identidade religiosa. Os autores falam de uma curva em U: haveria um ponto mais alto pelos 15 anos, vai-se descendo aí pelos 20 e a partir dos 25 volta-se a subir.
Neste estudo, como noutros, isto levanta imensas questões. É um efeito de idade ou de cohorte? Estas evoluções têm que ver com a idade ou os mais novos estão sujeitos ao efeito da secularização?
Género: As mulheres continuam a ter sempre resultados melhores.
Transmissão matrilienar da fé: Palavras complicadas para dizer que as mulheres na família (mães e avós) são mais influentes a definir o perfil religioso dos jovens do que os homens. Pelo menos aqui neste estudo. Em portugal também se verifica isso mas na minha tese de mestrado lancei a hipótese que o peso do efeito feminino estaria a diminuir. Em PT não há grande reflexão sobre o papel das avós nesta história.

2009/05/14

religiosidade juvenil em Itália

Alguns dados, muito sintéticos, a partir de um inquérito feito em 2004.
Totalmente superadas algumas categorias que ainda usamos.
Os autores identificam 11 tipos de religiosidade juvenil.
Agnósticos: 6,3%. Sentem que não podem exprimir um juízo sobre o facto religioso. Longe ou em afastamento de religião, com escassa confiança nas formas institucionais. Assumir-se como agnóstico nem sempre é uma escolha convicta e motivada; vem mais de um contexto familiar pouco interessado no tema religioso.
Não crentes: 11,4%. Os mais afastados da experiência religiosa. Há uma reflexão pessoal feita por detrás. Há uma recusa coerente das práticas religiosas e um marcado cepticismo face à Igreja.
Crer num Deus genérico: 6%. Andam à procura de uma religião pessoal, modelada a partir das exigências pessoais e afastada das formas tradicionais e institucionais. Normalmente, gente com alto capital cultural interessados em defender a própria liberdade e individualidade.
Minorias religiosas: 2%. São isso mesmo.
Cristãos genéricos: 4,8%. Dizem crer em Jesus mas não na Igreja. Estão a afastar-se das formas tradicionais de participação mas têm ainda uma certa tensão religiosa, vivida apenas no interior pessoal.
Católicos afastados: 4,7%. Abandonaram quase totalmente a prática religiosa, institucionalizada ou pessoal. A dimensão religiosa não interessa. Mas reconhecem-se na fé católica e não acham que a sua fé esteja a diminuir.
Católicos ocasionais: 18%. A religião não é parte essencial da sua vida. Baixa participação comunitária. Participação esporádica em rituais religiosos e oração pessoal. A religião não coloca grandes problemas.
Católicos ritualitas: 16, 7%. A dimensão religiosa está sempre presente mas mais como um preceito do que como uma opção pessoal. A religião não é importante mas não se quer acabar com ela. Uma fé mais de preceitos e pressão social do que de afectos.
Católicos intimistas: 9.9%. Fé forte mas isolada da comunidade eclesial. A Igreja é vista como importante mas a vida religiosa é vivida essencialmente no espaço pessoal. Esta opção nasce do individualismo da cultura dominante.
Católicos moderados: 13,6%. Uma clara escolha de pertencer de ser católico, num quadro de forte tensão espiritual. Mas é-lhes difícil assumir os preceitos da fé. alternam momentos de empenho religioso com outros de desinteresse. Componente emotiva importante, têm uma religiosidade estruturada e apoio familiar nesta dimensão.
Católicos fervorosos: 6,7%. Os mais identificados. Ser católico é mais do que uma etiqueta social. Mexe com as opções de vida e os comportamentos quotidianos. alto impacto na vida pessoal e na participação comunitária.

2009/05/12

Dialogicidade (1)

Como vos disse, comecei a ler o livro de Ivana Markova.
Acabei o 3ª capítulo. Já vão 88 páginas. temas difíceis, muitos autores, uma linha de pensamento pouco convencional.
Mas o que até me espanta é que a mulher escreve bem. Não sei se é por estar em inglês mas aquilo corre. Frases bem construída, com preocupação de clareza. Acho que viu tirar fotocópias ao livro e enviá-las a uma série de professores daqui!
Só para aumentar o apetite:
Se o Ego-alter é a ontologia da comunicação,e, por implicação, ontologia da mente humana, então é a dialogicidade que gera e multiplicidade de géneros de pensamento e comunicação. Por isso, as antimonias no pensar e na linguagem, devem ser uma expressão da dialogicidade. Elas são produtos e processos dialógicos. A dialogicidade poderia fornecer as bases para uma teoria dialógica do conhecimento social, ie, para uma epistemolodia dialógica. Consequentemente, a dialogicidade parece ser um bom ponto de partida para a elaboração de umas psicologia social

E vai na volta, um de vocês diz: "pois, mas para que é que isso serve?"
Contra as visões do mundo que vêm a pessoas como essencialmente indivíduo, ela (Markova) recolhe demosntração do nosso carácter dialógico. Não apenas na linha de Buber, de um diálogo interpessoal que leva à comunhão. Mas numa linha mais claramente mais social onde está presente a cultura, a linguagem, a ideologia, a economia... e onde o que nos faz ser humanos é o diálogo. Um diálogo permanente.
E que importância tem isso?
Imagina a catequese. Bem podem procurar catecismos maravilhosos e perfeitos. Se nós somos mesmos seres dialógicos, terá sempre mais peso a qualidade do diálogo que se estabelece no grupo de catequese, do que o rigor teológico do catecismo ou a eficácia cognitivista dos materiais.
Outro exemplo. Numa visão monológica, individualista, a diferença entre as pessoas é uma perda que deve ser superada. Claro que hoje não há as formas antigas que havia para chegar ao consenso (imposição pela força). E por isso somos quase forçados a renunciar à comunicação em que cada um fica na sua. Mas esta visão dialógica abre-nos a um diálogo constante, onde nunca há consenso. (O consenso é o fim do diálogo, a morte)
Pois todos os sistemas dependem da pluralidade das vozes para poder subsistir.
tentem lá aplicar isso ao vosso grupo de catequese ou ao vosso namoro a ver se isto não abre possibilidades interessantes.

Não percam os próximos capítulos, pois nós, tamb+em não!

santa malandragem

Já receberam mails da Nigéria de um gajo que diz que te quer dar uma fortuna de um tio rico de que nunca ouviste falar?
Há toda uma indústria de fraude na internet.
Mas agora chegou o payback time.
São cada vez mais as pessoas que se dedicam, com maior ou menor afinco, a lixar os vigaristas.
É perfeito. Todo o prazer de pregar uma grande partida a alguém só prejudicando vigaristas.
Ler este artigo para começar.
Um exemplo real de uma vigarice feita a vigaristas.
Acho que, nas horas vagas, vou pegar neste hobby!

2009/05/11

a pastar

Estou um bocado à toa.
Com o esquema da tese já feito mas ainda não apresentado e aprovado fica-se um bocado sem saber o que fazer.
Tenho andado a recolher bibliografia que pode ser útil mas fica difícil perceber até que ponto se deve aprofundar determinada leitura.
Depois começa o calor e a sensação de que está quase na hora de ir embora.
Comecei hoje a ler uma coisinha bem escrita: MARKOVA Ivana, Dialogicity and social representations. The dynamics of mind.

2009/05/08

Parabéns Karina

Hoje a Karina, do ComDeus, a editora brasileira com quem estamos a fazer o suplemento da Catequistas faz anos.
Conhecemo-nos profissionalmente há quase um ano, nunca nos vimos.
Mas, por isso mesmo, quero agradecer a Deus o esforço que ela faz pela evangelização da criançada.
Para ela, família e colaboradores a bênção de Deus e uma oração

2009/05/06

Nomes a reter

Já reparei que uma das falhas neste meu prestar de contas aqui no blog é a referência a autores ou livros que vale a pena reter.
Ou porque são mesmo muito bons ou porque entram para a fila dos autores a ler.
Na área da sociologia da religião apresento Danielle Hervieu-léger. Um saltinho à wikipedia.

À volta da pós-modernidade e da maneira como lida com a religião, três sugestões: Zygmunt Baumann, Giddens (who eles?) e Ulrich Beck

Pós-adolescência 2

Em quase todos os contextos se observa que há um afastamento da fé-Igreja nesta idade (3ª década de vida).
Em portugal isso não é facilmente demonstrável; claro que esse afastamento existe; mas não é fácil demonstrar que se trata de algo novo. Nós notamos que desde os 10 anos há um afastamento progressivo. Fica a pergunta: aos 20 anos há uma perda mais grave?
Basicamente há 2 explicações:
Teoria da secularização e da descristianização progressiva: Parece uma história da carochinha, já tem muitos anos, está mais que demonstrada a sua falsidade mas continua a estar por detrás de muita ciência social em PT. O afastamento é "normal" e resulta dum movimento social generalizado.
Ciclo de vida: Outra teoria diz que é por causa da especificidade desta faixa de vida que se dá o afastamento. Porque entram no mundo dos adultos e da "racionalidade" ou porque apostam noutros âmbitos de vida (estudo, namoro-casamento, entrada no mercado de trabalho...) a religião perde peso específico. Superados estes parêntesis haveria um regresso.

O Schweitzer sugere outras interpretações a ter em conta.
Efeitos do desenvolvimento cognitivo. As pessoas não desenvolvem todas as capacidade ao mesmo tempo. Pode ser que a adesão a uma experiência de fé, nestas idades, exija um certo tipo de desenvolvimento e maturidade. E quando ele não acontece, pura e simplesmente, as pessoas perdem interesse pela fé.

Influências biográficas. Parece óbvio mas não é. A história pessoal de vida e de fé de cada um acaba por ser profundamente influente nas opções que se fazem.

Efeito de cohorte. Muito do que sucede não tem apenas que ver com a geração dos "vinte" em geral mas com esta geração que agora tem "vintes".

Pós-adolescência

Schweitzer The postmodern life cycle. Challenges for the Church and Theology) continua a sua apresentação com a pós-adolescência. Outros chamam-lhe jovens adultos. Outros falam apenas da 3ª década de vida.
Não há acordo nos nomes. Nem na teoria.
Mas estamos de acordo que o pessoal de 20 e tal anos, na maioria dos casos, ainda não é adulto. É só recordar os sociólogos e os seus limiares: fim de estudos, entrada no mercado de trabalho, estabilização de uma relação afectiva, sair de casa dos pais, ter o 1º filho.
Também é verdade que encontramos aqueles casos de amigos que superando todos esses limiares continuam a não ser adultos. Mas não me quero meter nisso, que a coisa assim já é complicada quanto baste.
Que desafios para a Igreja e para a teologia pastoral?

Que adolescência na pós-modernidade? (3)

Resumindo: é difícil chegar a conclusões.
A reflexão psicológica e sociológica sobre a adolescência é pouco sistemática.
Aliás, o Handbook of adolescent psychology (Lerner-Steinberg) aposta claramente nas mid-range theories em detrimento das grand-theories.
E tudo se complica quando metemos a pós-modernidade à mistura.
Claramente revejo-me na crítica ao positivismo racionalista que muitos autores pós-modernos fazem. Ma non troppo. Mas não acho que a realidade se dissolva em construções culturais.
Concordo que é difícil chegar a modelos absolutos, universais, value-free. Mas isso não deveria inibir a normatividade. Ou seja, acho legítimo usar práticas de análise e de transformação da realidade inspiradas em valores não universais.
Mas isto é tudo ao nível da pós-modernidade como quadro teórico de interpretação. outra coisa é ao nível das vivências.
Assim a olho, percebe-se que algo de pós-modernidade está presente nas práticas correntes. O que não encontro é estudos empíricos que o demonstrem, que o quantifiquem. Vai na volta, os pós-modernos vão dizer que esse tipo de abordagem é "demodee".
Ou seja: gostava de saber como é que as grandes intuições da pós-modernidade podem ser operacionalizadas. Como é que as práticas dos nossos adolescentes são por elas influenciadas.

2009/05/04

Vasco Granja

Morreu. MUitos não devem saber quem era.
Mas acho que fez mais pela cultura do que muitos ministros da dita e artistas da treta que nada fazem sem o subsidiozinho.
Entre a animação na tv e e revista tintin há uma parte de mim que foi formada por ele.
Ok, é verdade que gostava mais dos filmes do Tex Avery do que dos Koniecs (Koniec é, numa língua eslava qualquer o mesmo que The end; chamávamos assim aos filmes de leste que o Vasco lá metia). Mas a verdade é que vi coisas muito bonitas que abriram horizontes e possibilidades: os checos com as plasticinas, o Norman Mc Claren e as suas experimentações.
A verdade é que se hoje alguém, com 10 ou com 20 anos quiser saber mais sobre animação ou quiser ver desenhos animados fora do mainstream, não tem grande hipótese.
Não tenho vergonha de dizer que ainda gosto muito de nada desenhada. E isso também se deve a ele.
R I P

Ainda às voltas com a adolescência

Como viram nos posts anteriores, Schweitzer identifica como um grande desafio a crise da identidade em contexto pós-moderno.
Vai daí, tentei aprofundar o problema. Já referi o texto de Gilligan.
Descobri também uma revista chamada Identity. O nº 2 de 2005 é todo dedicado a este tema de pensar a identidade em contexto pós-moderno.
Um obrigado à Sofia que me arranjou, com impressionante velocidade, acesso aos textos.

2009/05/02

Self

Desculpem a ignorância, mas...
Como é que se deve traduzir "self" em português?
Em contexto de psicologia, identidade etc...

Que adolescência na pós-modernidade? (2)

Ora todo este processo aparece num contexto cada vez mais plural: nas opções, nos valores... e não há, para muitos adolescentes (resta ver até que ponto a experiência da fé o poderia ser) um centro estruturador e integrador dessa pluralidade.
À pergunta "quem sou eu?" não há uma resposta única. Há uma pluralidade de respostas e de auto-definições.
Não pode haver identidades fixas no contexto da pós-modernidade.

Ok: esta é a teoria. E assim a olho, parece explicar muitos dos fenómenos que observamos.
Mas gostava de saber até que ponto isto se verifica mesmo.
Um exemplo: esta semana li na net (e não me lembro onde) um estudo, feito em Portugal a dizer que muita da formação profissional que se fazia em idade adulta era razoavelmente inútil, já que era incapaz de mudar estruturalmente as prestações do trabalhador; de algum modo elas já estariam definidas na adolescência. A ser verdade, isto parece contrariar a tese pós-moderna.

Que adolescência na pós-modernidade? (1)

Estou a ler Friedrich SCHWEITZER, The postmodern life cycle. Challenges for church abd theology.
O 3º capítulo estuda a adolescência (como 2ª fase da vida, a seguir à infânica) e tenta perceber o que é isso da Adol. neste contexto pós-moderno e que desafios coloca à pastoral.
A tese, não original, é que a adolescência é uma "invenção" da modernidade. A existência de um tempo, mais ou menos prolongado, entre a infância e a idade adulta só aparece porque as condições da modernidade o possibilitavam e exigiam.
É a modernidade, com a sua exigência de um tempo alargado de formação para a vida activa que cria a adolescência.
Erikson caracteriza a adol. como um tempo de definição da identidade pessoal.
O problema é que as actuais condições sociais diferem drasticamente daquela situação em que a ideia da adol. como identidade foi definida.
Schwaitzer recorda a crítica feminista à identidade como sendo virada para descrição dos adolescentes masculinos.
Mais grave ainda parece ser a alteração das estruturas temporais da adol. A modernidade criou a adol como um tempo de transição entre a infância e a adultez. Não já criança; ainda não adulto! É esse "ainda não" que parece posto hoje em questão.
em 1º lugar porque as perspectiva laborais mudaram. A ideia de usar a adol. como um tempo de prepração profissional para o resto da vida foi posto em causa. A flexibilidade de emprego veio para ficar. Por isso a adol. e as suas opções (formativas e outras) deixa de ter aquele carácter definitivo que tinha antes.
Devido à indefinição, a adol tende a prolongar-se cada vez mais. E uma série de marcas dos adultos passam a ser reclamados pelos adol.: vida sexual activa, autonomia financeira...
De algum modo, desapareceu a pressão para evoluir em direcção à idade adulta. É possível continuar indefinidamente adol. Ora isso torna inviável o aparecimento de uma identidade definida.

2009/05/01

1 de Maio

Aqui em Roma também é feriado.
E aqui na universidade é dia de festa. Estas 8 comunidades (as 6 que estamos no campus, o "gerini" onde estão os estudantes salesianos de teologia, o "testaccio" onde estão os salesianos que estudam em outras universidades romanas) juntamo-nos para festejar a nossa unidade, o nosso pertencer a esta unidade.
É um momento de comunhão, onde as barreiras de idade, de estatuto académico desaparecem. O programa foi simples mas rico. Recordem que não é fácil envolver 330 intelectuais nestas exuberâncias festivas. Ao início da manhã houve uma academia, onde cada comunidade apresentava um número e onde se homenagearam os irmãos que comemoravam jubileus de profissão religiosa ou de ordenação (25, 50 ou 60 anos).
Ao final da manhã foi a missa. Senti-me bem.
NO fim da missa fomos buscar à estação de comboios o Pe. Artur, um salesianos de Portugal que nos veio visitar. Chegou mesmo a tempo do almoço.
Da parte da tarde houve sessão de cinema, mas nós os portugueses escapulimo-nos e fomos dar à língua em português, que sabe muito bem.