Deu-me a preguiça e em vez de continuar o resumo prefiro apresentar uma síntese.
O documento, mais do que um elenco de disposições disciplinares, pretender ser uma leitura teologal da figura do teólogo na Igreja, na sua relação com ela e do serviço que nela desenvolve.
Central é o conceito de verdade, revelada por Deus. Verdade que é mais que um conceito meramente cognitivo mas que tem ressonâncias existenciais e práxicas muito fortes.
A Igreja nasce dessa verdade revelada e assume-se como servidora e anunciadora dessa verdade.
Dentro da Igreja, o papel dos teólogos é dizer essa verdade revelada em diálogo com o humano, mormente com a razão e a inteligência. Essa tarefa é enquadrada teologicamente como vocação, como serviço para a construção eclesial e a evangelização.
A tarefa do teólogo exerce-se na articulação entre a revelação e os saberes humanos: filosofia, história, ciências humanas, contexto cultural.
Aqui aparece a pergunta sobre a forma como estes saberes se relacionam com a Revelação, no concreto agir teológico.
Outra questão é o esquecimento da teologia pastoral.
A subordinação criteriológica não é difícil de entender, aceitando que não há saberes científicos neutros; todos eles são portadores de alguma carga ideológica.
O tema da liberdade de investigação aparece dentro do contexto eclesial da fé. Todo o progresso científico exige diálogo, tempos de maturação. Este apelo eclesial ajuda a superar a ideia do teólogo individualista.éEste tema é tratado com muitos paninhos quentes. Talvez fosse da época. Hoje está muito mais claro que qualquer ecossistema de produção científica é muito menos “livre” do que se poderia supor.
O papel dos pastores (magistério) é operacionalizar a infalibilidade concedida pelo Espírito à sua Igreja. Isto acontece de formas diferentes e em diferentes graus.
O documento insiste, mais do que nos detalhes jurídicos, numa atitude de fundo: o magistério é um parceiro incontornável no acesso à tal verdade revelada. E isto não numa lógica de força mas numa lógica de comunhão.
Com dons e funções diferentes, o magistério e os teólogos partilham o serviço da verdade ao povo de Deus. Mais uma vez a insistência comunional-eclesial.
O documento insiste na atitude aberta por parte dos teólogos diante das várias instâncias e formas de actuação do magistério.
O documento introduz uma dupla metodologia para lidar com estas relações e possíveis conflitos. Quando está em causa a comunhão de fé prevalece a unitas veritatis; quando há diferenças que não põem em questão a comunhão, aplica-se a unitas caritatis.
Claro que o problema pode estar em distinguir umas e outras situações.
Boa parte da argumentação do documento é de tipo atitudinal: mesmo nas dificuldades, uma atitude de comunhão pode fazer crescer muito mais do que atitudes de arrogância.
A dissensão como atitude tem direito a vários números. Não se trata da situação “clássica” do teólogo em conflito com o magistério por uma questão concreta. Trata-se de uma forma de estar na Igreja que põe radicalmente em causa a comunhão.
Segundo o documento, esta atitude nasce do liberalismo exacerbado e da sua alergia a todas as formas de autoridade. As posturas do magistério seriam apenas uma instância entre outras.
Fica de pé a questão de saber como proceder em ordem à descoberta da verdade. O documento critica, suavemente, as opções de “força” de alguns defensores da dissensão: o recurso aos media, o apelo às maiorias sociológicas, ou o entendimento da liberdade de consciência que nega a possibilidade de uma verdade comum.
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2009/02/28
2009/02/27
Donum Veritatis
No tirocínio de docência, um dos documentos em que vamos trabalhar é uma instrução de 1990 sobre a vocação eclesial do teólogo.
Deixo aqui uma síntese misturada com alguns comentários.
Introdução
O conceito de verdade é essencial à condição humana. Dom de Deus, liberta-nos da servidão e da alienação. Vai ser constante este colocar a “verdade” como factor de humanização e de divinização.
A teologia vai aparecer como ferramenta necessária à Igreja para que a revelação possa ser plenamente acolhida na nossa condição humana (de seres racionais, buscadores da verdade).
1 – A verdade, dom de Deus ao seu povo
“A verdade possui em si mesma uma força unificadora” (3). Quer dos homens em relação uns com os outros, quer da humanidade para com Deus.
Esta dimensão “social” da verdade revelada aparece quando se recorda que a totalidade do Povo de Deus recebeu a revelação de Deus
2 – A vocação do teólogo
Na sequência da reflexão sobre o PD (Povo de Deus), surge uma vocação: o teólogo. O seu papel é procurar um sempre maior entendimento da palavra de Deus. Este serviço é feito em comunhão com o Magistério.
Neste momento (nº 6) já temos introduzidos os vários participantes: Deus, humanidade, Igreja, teólogos, magistério.
A 2ª parte do nº 6 acentua a relação entre a verdade revelada e a razão humana. “A ciência teológica responde ao convite da verdade à medida que procura entender a fé”. E nesse empenho serve o PD.
Ou seja, o serviço teológico nasce do dinamismo da própria fé (nº 7). Não é uma concessão que a fé faria à razão. Nem é uma instância avaliativa da fé.
A 2ª parte do nº7 coloca a teologia em perspectiva pastoral, como contributo para que a fé possa ser comunicada. Neste ponto aparece o amor. Lendo hoje esta instrução, depois da encíclica Deus caritas fica fácil entender esta referência.
O teólogo não é um analista frio, distanciado da matéria que estuda. Estudando Deus e a sua revelação, ele não pode colocar-se fora do dinamismo de amor que Deus é. Nem pode alhear o seu agir como teólogo da qualidade da sua vida de fé.
É esta qualidade de fé que, equilibrada com as exigências epistemológicas da ciência, evita atitudes críticas ou preconceituosas.
Interessante este referência ao quadro psicológico e motivacional com que se faz teologia.
O nº 10 recorda o Vaticano I e a capacidade humana de reconhecer Deus a partir da sua Criação. A teologia vai servir-se das ferramentas filosóficas e históricas. Diz-se ainda que a “consulta às ciências humanas” é também necessária.
Aqui vale a pena perguntar-se se esta referência às ciências humanas é menorizada. Além disso ela parece ser feita em referência à teologia moral.
A seguir faz-se referência ao diálogo com a cultura, como recurso que permite iluminar melhor a fé. É isto uma abertura à inculturação como estratégia teológica?
Depois deste elenco de “parceiros”, o documento faz apelo ao discernimento. “O derradeiro princípio normativo para esse discernimento é a doutrina revelada, que deve fornecer os critérios para a avaliação desses elementos e as ferramentas conceptuais e não vice versa.”
Aqui valia a pena recordar MIDALI (Teologia prattica) e aquelas longas (e confusas) páginas que estudámos no 2º ciclo sobre modelo ancilar, interdiciplinar, multidisciplinar… de relação entre a teologia e os outros saberes.
O texto de Clodovis BOFF (Teologia da Libertação e volta ao fundamento) pode ser interessante para perceber de que é que se trata aqui.
O nº11 coloca o teólogo no centro do PD. Ele é membro do PD e está aí para ajudar a sua comunidade. O teólogo não é um “cientista louco” que, individualisticamente, vai fazendo o que quer. E é nesse contexto de uma comunidade de fé que aparecem as questões da liberdade de investigação e da dificuldade que o PD pode ter em acolher as novas propostas.
O nº12 volta à liberdade de investigação.
Gosto da maneira como estes 2 números abordam a questão da liberdade de investigação. Por vezes ouvem-se críticas à suposta falta de liberdade dos teólogos. Como se a liberdade dos investigadores em qualquer campo não fosse também uma liberdade negociada com os outros players (a academia, os interesses dos financiadores, os processos endogâmicos de peer-review…)
...Daqui a pouco vem o resto
Deixo aqui uma síntese misturada com alguns comentários.
Introdução
O conceito de verdade é essencial à condição humana. Dom de Deus, liberta-nos da servidão e da alienação. Vai ser constante este colocar a “verdade” como factor de humanização e de divinização.
A teologia vai aparecer como ferramenta necessária à Igreja para que a revelação possa ser plenamente acolhida na nossa condição humana (de seres racionais, buscadores da verdade).
1 – A verdade, dom de Deus ao seu povo
“A verdade possui em si mesma uma força unificadora” (3). Quer dos homens em relação uns com os outros, quer da humanidade para com Deus.
Esta dimensão “social” da verdade revelada aparece quando se recorda que a totalidade do Povo de Deus recebeu a revelação de Deus
2 – A vocação do teólogo
Na sequência da reflexão sobre o PD (Povo de Deus), surge uma vocação: o teólogo. O seu papel é procurar um sempre maior entendimento da palavra de Deus. Este serviço é feito em comunhão com o Magistério.
Neste momento (nº 6) já temos introduzidos os vários participantes: Deus, humanidade, Igreja, teólogos, magistério.
A 2ª parte do nº 6 acentua a relação entre a verdade revelada e a razão humana. “A ciência teológica responde ao convite da verdade à medida que procura entender a fé”. E nesse empenho serve o PD.
Ou seja, o serviço teológico nasce do dinamismo da própria fé (nº 7). Não é uma concessão que a fé faria à razão. Nem é uma instância avaliativa da fé.
A 2ª parte do nº7 coloca a teologia em perspectiva pastoral, como contributo para que a fé possa ser comunicada. Neste ponto aparece o amor. Lendo hoje esta instrução, depois da encíclica Deus caritas fica fácil entender esta referência.
O teólogo não é um analista frio, distanciado da matéria que estuda. Estudando Deus e a sua revelação, ele não pode colocar-se fora do dinamismo de amor que Deus é. Nem pode alhear o seu agir como teólogo da qualidade da sua vida de fé.
É esta qualidade de fé que, equilibrada com as exigências epistemológicas da ciência, evita atitudes críticas ou preconceituosas.
Interessante este referência ao quadro psicológico e motivacional com que se faz teologia.
O nº 10 recorda o Vaticano I e a capacidade humana de reconhecer Deus a partir da sua Criação. A teologia vai servir-se das ferramentas filosóficas e históricas. Diz-se ainda que a “consulta às ciências humanas” é também necessária.
Aqui vale a pena perguntar-se se esta referência às ciências humanas é menorizada. Além disso ela parece ser feita em referência à teologia moral.
A seguir faz-se referência ao diálogo com a cultura, como recurso que permite iluminar melhor a fé. É isto uma abertura à inculturação como estratégia teológica?
Depois deste elenco de “parceiros”, o documento faz apelo ao discernimento. “O derradeiro princípio normativo para esse discernimento é a doutrina revelada, que deve fornecer os critérios para a avaliação desses elementos e as ferramentas conceptuais e não vice versa.”
Aqui valia a pena recordar MIDALI (Teologia prattica) e aquelas longas (e confusas) páginas que estudámos no 2º ciclo sobre modelo ancilar, interdiciplinar, multidisciplinar… de relação entre a teologia e os outros saberes.
O texto de Clodovis BOFF (Teologia da Libertação e volta ao fundamento) pode ser interessante para perceber de que é que se trata aqui.
O nº11 coloca o teólogo no centro do PD. Ele é membro do PD e está aí para ajudar a sua comunidade. O teólogo não é um “cientista louco” que, individualisticamente, vai fazendo o que quer. E é nesse contexto de uma comunidade de fé que aparecem as questões da liberdade de investigação e da dificuldade que o PD pode ter em acolher as novas propostas.
O nº12 volta à liberdade de investigação.
Gosto da maneira como estes 2 números abordam a questão da liberdade de investigação. Por vezes ouvem-se críticas à suposta falta de liberdade dos teólogos. Como se a liberdade dos investigadores em qualquer campo não fosse também uma liberdade negociada com os outros players (a academia, os interesses dos financiadores, os processos endogâmicos de peer-review…)
...Daqui a pouco vem o resto
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