2009/07/29

Os lugares da fé

Foi este o nome do fórum que orientei no Festival Jota 2009.
Depois, algum dos participantes perguntava-me: Como é que se faz, no concreto, para aumentar a fé?
A pergunta não é idiota e vem no contexto, mesmo que possa parecer "ímpia".
É certo que a fé é dom de Deus; e nesse sentido, não podemos fazer nada para "forçar" Deus a ser mais generoso connosco.
Mas a fé é também resposta nossa. E sobre o rumo que damos à nossa liberdade podemos influir sobre outros e sobre nós mesmos.
Quem me perguntava, sugeria-me que a oração seria uma pista "obrigatória".
Faz sentido; o contacto íntimo com Aquele a quem amamos, aumenta o desejo, transforma-nos e liberta-nos daquilo que nos bloqueia a fé. Mas não chega.
Uma ideia clara de quem é Aquele em quem acreditamos é essencial.

2009/07/20

Jornadas catequistas Porto 2009 (2)

MUito do debate que há em catequese reduz-se a saber qual o peso que têm os conteúdos e a metodologia. E uns puxam para um lado e outros para o outro.
Mas, se calhar, a questão está em saber quais os conteúdos.
Começamos a catequese dos pequeninos a dizer que jesus é nosso amigo. Ok, para começar.
Mas como é que fazemos evoluir essa noção-relação para o absoluto de Deus na vida?
Discutimos se a iniciação à eucaristia se deve fazer no 2º ou no 3º ano. Mas não nos preocupamos em assegurar um itinerário educativo que ajude os catequizandos a assumir o ritmo de celebração semanal típico e necessário à comunidade adulta.

Jornadas catequistas Porto 2009

De 6ª até ontem estive nas jornadas de catequistas do Porto, a orientar um dos cursos: acompanhar a profissão de fé dos adolescentes.
Mais de 200 participantes (no total; uns 30 no meu curso). Reencontrar bons amigos como o Luís de Braga e o Queirós de Vila Real. Também catequistas motivados daqui e dali.
Boa parte do que disse no curso vai aparecer ao longo do próximo ano na revista Catequistas. Mas quero deixar aqui algumas ideias e perguntas que me parecem importantes.
Estou é todo derreado. 2 dias e meio de curso, da maneira "intensa" como eu os oriento, deixaram-me todo partido. Se calhar seria mesmo sensato fazer como a maioria: sentar-me atrás do microfone, ler devagar um textinho, deixar umas perguntas para uns trabalhos de grupo lamechas...

2009/07/16

crismas (3)

No sábado à noite, tivemos uma celebração penitencial com pessoal dos grupos, padrinhos e pais.
Apontamentos só para pensar alto e sem pretensões de avaliar coisa nenhuma:
1: Nós (animadores) não fazemos ideia de qual é a relação dos nossos jovens com o sacramento da confissão.
2: Basicamente confessaram-se os crismandos e os padrinhos.
Estou ciente que só "pensar" estas coisas já é perigoso. Podemos estar a tornarmo-nos num big brother controleiro. Mas a pergunta (e só a pergunta; não as conclusões) é legítima. Os "outros" não tinham necessidade de se confessar? Isto do confessar-se vai da "pressão" exercida?

2009/07/13

crismas (2)

Na catequese que fizemos no sábado emergiram algumas questões que se vão tornando clássicas.
crisma: entre sacramento e profissão de fé
Os jovens que levam isto da fé mais ou menos a sério acentuam de tal modo o seu próprio papel, da sua decisão, do seu compromisso, que esquecem a dinâmica própria do sacramento e de toda a vida cristã. É Deus que toma a iniciativa e que oferece os dons que nos transformam; o nosso papel (e tantas vezes nada fácil) é dizer "sim", acolher os dons da iniciativa primeira de Deus.
Dificuldades com as palavras
Impressionou-me o contraste entre a fé sentida e assumida (dos crismandos e dos que já se tinham crismado à mais tempo) e as dificuldades de linguagem. Há um deficit sério de linguagem teológica desta gente.
Ainda e sempre: entre conteúdos e pedagogia
Se há debate que já cheira de velho nisto da catequese e da pastoral juvenil é a tensão entre conteúdos e pedagogia; entre mais atenção aos conteúdos da fé ou mais atenção aos processos pedagógicos. Evidentemente eu sou crítico de uma série de processos e tradições pastorais que ignoram ou que não reflectem seriamente sobre a dimensão pedagógicia nem sobre a condição do destinatário. Mas a verdade é que às vezes há mesmo um problema de falta de conteúdos. Ao dizer isto não quero reeditar uma pastoral que volte a ser injecção de conteúdos elaborados em sede de investigação teológica e que são "traduzidos" (mal!) em linguagens mais acessíveis aos destinatários. Foi chão que já deu uvas e nem vale a pena perder tempo com abordagens destas. Mas é importante trabalhar com os conteúdos "certos". Neste caso crisma tem que ver com um compromisso, com uma adesão séria, totalizante a Jesus e ao seu projecto. Não tem que ver com jogos sociais nem com uma pseudo-sedução dos jovens.

crismas (1)

A vigararia nascente da cidade do Porto celebrou ontem os seus crismas na sé. Foram 160 jovens das várias paróquias.
5 jovens dos grupos de jovens do centro onde colaboro (2 dos "meu" grupo) estavam nesse lote. Mais que a notícia do evento de festa e de fé, há aqui matéria para pensar.
Na 6ª feira a organização juntou-se com todos os crismandos e padrinhos. Não estive mas pelo relato pareceu-me uma abordagem clássica: explicação do rito, apelo aos valores do compromisso.
Nós, no sábado ao final da tarde fizemos uma catequese envolvendo os 2 grupos de onde vêm os crismandos (e não apenas os crismandos) seguida de jantar convívio com os pais que aparecessem e uma celebração penitencial a seguir.

2009/07/09

Padres e política

A respeito deste post do meu amigo Luís Rodrigues e porque foi um tópico que apareceu no retiro que preguei a semana passada aos diáconos, alguns bitaites:
1. Está mais que claro o que o direito da Igreja diz sobre a relação entre clérigos, instituições eclesiais e partidos políticos.
2. Não entendo a falta de lealdade de ir contra uma regra aceite em Igreja sem dar cavaco a ninguém e forçando o resto da comunidade a ter que lidar com o facto consumado.
3. Não confundir esta auto-imposta limitação do acesos dos clérigos a cargos políticos com a negação cristã da política. Como cristãos, em fidelidade ao Evangelho, somos todos (padres incluídos) "animais fortemente políticos". O rumo que a "polis" (cidade) leva só nos pode interessar. E mantemos o dever de intervir politicamente. No pensamento atento, na formação da consciência, na denúncia da lamaceira em que se vai tornando a "coisa pública" (e aqui está mais um acto político!)... Se dúvidas houvesse, bastaria ler a última encíclica do Papa.
4. Não percebo a questão da ineligibilidade dos ministros de qualquer culto ou religião. COnvido-vos a ler o regulamento: estão excluídos as entidades do estado, os vigaristas e os potenciais corruptores ou beneficiários de corrupção. A que propósito aparece esta limitação aos ministros do culto?
Todas aquelas limitações têm sentido para garantir a "limpeza" do processo eleitoral. Quem já faz parte do estado não se pode meter; quem não cumpriu o seu contrato com o estado; quem pode ter uma relação equívoca com a autarquia... entende-se.
Mas porque é que eu não me posso candidatar a presidente da junta? Sou cidadão português! É que esse pessoal que brada tanto pela separação entre a Igreja e o Estado está-me a mexer nos meus direitos políticos
E, fora isso, gostava de saber onde é que o estado tem um registo dos ministros do culto.

Vocações

Ontem, a Rute Mesquita fez a sua primeira profissão religiosa, em Angola, na congregação das mercedárias da caridade. É um momento de festa para os amigos; ela escreveu comigo o "101 propostas para melhorar a auto-estima" e colaborou em várias acções de formação.
Na impossibilidade de ir a Angola à sua profissão (nem os pais conseguiram vistos em tempo útil) juntámo-nos na capela do colégio salesiano do porto para uma vigília vocacional.
Interessante a iniciativa; bastantes participantes.
Depois da oração, um momento de comunidade à volta de um chá e de bolos.
Alguém mais curioso perguntará: mas qual o interesse científico deste post? Nenhum. Há sabedoria suficiente em rezar e em dar graças.

os jovens confessam-se?

No próximo domingo (dia 11) vai haver crismas na Sé do Porto.
Há uns 5 jovens dos nossos grupos que vão ser confirmados.
São dos "atrasados" (tratamento carinhoso): pessoas que por uma razão ou por outra não celebraram este sacramento ao mesmo tempo que os companheiros de grupo.
No sábado vamos ter uma catequese especial com todos os elementos dos grupos, jantar partilhado e celebração penitencial à noite.
Ao preparar estas coisas, damo-nos conta (eu e os outros animadores) que não fazemos ideia de qual é a prática, regularidade, qualidade, de reconciliação dos nossos jovens.
Não estou a dizer isto aqui para alardear a minha ignorância. Mas para dizer que há muitos processos que reputamos como importantes para um crescimento sustentado na fé que nos passam ao lado.
Serei o único?

2009/07/05

de regresso

Terminou ontem o retiro que preguei aos 9 diáconos (2 de Viana e 7 de Braga) que serão ordenados brevemente. Decorreu em Singeverga, onde a comunidade dos monges beneditinos nos acolheu como convém.
Evidentemente não é este o lugar para falar das emoções associadas a uma experiência destas mas, numa linha mais analítica, aqui ficam algumas questões para pensar:
+ Para que servem as antigas ordens monásticas e de clausura?
+ O que se espera de um padre novo?
Prometo cá voltar a estes temas.