2012/01/31

e elas não rezam?!

Hoje foi mais dia de festa que dia de estudo mas alguma coisa se fez.
Continuo a trabalhar as variáveis dos inquéritos europeus. Desta vez, a frequência da oração pessoal.
Nada de especial a assinalar: os mais velhos rezam mais do que os mais novos, as mulheres rezam mais do que os homens.
Excepto... na geração nascida nos anos 90. Aqui elas rezam bem menos do que os homens.
Já vimos que a respeito da frequência ao culto se passa o mesmo: contrariando as posições relativas das gerações anteriores, elas frequentam menos que os homens.
Estou a ficar curioso. Será só efeito da homologação de comportamentos?
Alguma conversa ouvida em paragem de autocarro a uma senhora de certa idade e com uma linguagem pouco senhoril levanta uma hipótese pouco académica: "elas agora são piores do que eles". A dita senhora referia-se à conduta sexual delas.
A brincar, a brincar não sei. Não tenho ideia nenhuma que a tese da senhora do autocarro é verdadeira.
Mas, e se estiver a haver algo que leve a nova geração de mulheres a um padrão de comportamentos muito diferente das gerações anteriores?

2012/01/30

ainda às voltas com a frequência à missa

Para as gerações nascidas entre os anos 30 e os anos 80, a prática religiosa vai sempre diminuindo. Há apenas 2 excepções a esta regra. A geração nascida antes dos anos 30: a sua menor prática (em relação à dos anos 30) pode dever-se às limitações de deslocação que a idade e a falta de saúde impõem; ou pode dever-se também ao facto de ter sido uma geração que nasceu, cresceu e se educou durante a 1ª república.
A geração mais recente (nascida depois de 1990) tem valores de frequência superiores à dos anos 80. Mas é difícil saber o que isso significa ou quais as causas. Os valores de geração nascida depois de 1990 são, ainda assim, bastante mais baixos que a média da amostra. Aliás são somente superiores à da geração nascida nos anos 80. Será que a tese tradicional segundo a qual a prática diminui com as novas gerações se está a alterar? É prematuro afirmar isso.
Usando os dados de ESS2002 (8 anos antes) verificamos uma distribuição semelhante à de ESS2010.
Também aqui se verifica que a geração mais jovem (neste caso a nascida nos anos 80) tem uma frequência de culto superior à da geração anterior (16,2% de prática regular contra 16% da geração de 70). Mas 8 anos depois (em 2010) essa geração de 80 tinha baixado a prática regular para 14,2. Curiosamente, a geração de 70 sobe (em 2010) para 20,6%.

e para complicar:

O cruzamento entre o sexo e as gerações de nascimento ajudam a perceber que talvez haja algo a acontecer. Em quase todas as gerações, os níveis de frequência das mulheres são mais altos. Excepto para a geração nascida nos anos 90.
Geração Sexo Semanais Ocasionais Nunca
90 Masculino 18 50 32
Feminino 15,3 32,3 52,3

A percentagem de homens a ir semanalmente à missa é maior do que a de mulheres 2,7%. A percentagem em si pode não ter grande significado, dado que neste subgrupo estamos a lidar com um contingente baixo. Mais interessante é o facto de a percentagem de mulheres que nunca vai à missa superar os 50% e ser bastante mais alta que a dos homens.
O problema é que estes dados só aparecem no ESS2010.

Em ESS 2008 as percentagens de frequentadores semanais voltam a ser dominadas pelas mulheres (com uma pequena diferença). Mas mais significativo é que a percentagem de mulheres que nunca vão à missa volta a superar a dos homens.
ESS 2008 Semanais Ocasionais Nunca
Masculino 21,3 41 37,7
Feminino 23 27 50

Seria necessário verificar se a tendência detectada em ESS2010 é real.
A hipótese da crescente homologação de comportamentos entre homens e mulheres, na sociedade portuguesa, poderia explicar em parte esta tendência.

2012/01/29

Para dar sinal de vida

Nas últimas semanas tenho, finalmente,começado a redigir a tese. Ou melhor: ajuntado textos e rabiscos para a tese.
O importante é que já não estou apenas na fase de ler e pensar; j+a estou mesmo a seguir os items do meu projecto.
Para não haver tentações resolvi começar pelo princípio (o state of the art). E dentro deste tópico peguei pela zona em que estava menos à vontade: a sociologia da religião.
A coisa não é difícil de perceber; mas as teorias são muitas, dificilmente compatíveis. e os dados não se prestam muito a infirmar ou confirmar nenhuma.
Bom... algumas coisas com que me ocupei hoje:
1. desde meados dos anos 90 que a % de frequência à missa não baixa. O que pode significar que o quase dogma da secularização tem muito que se lhe diga.
2. A maneira como isto da missa é vivida pelas várias gerações varia muito. Ainda estou nisso, mas parece que a geração mais nova tem valores mais altos que a precedente. Amanhã verei com mais calma.