2012/01/30

ainda às voltas com a frequência à missa

Para as gerações nascidas entre os anos 30 e os anos 80, a prática religiosa vai sempre diminuindo. Há apenas 2 excepções a esta regra. A geração nascida antes dos anos 30: a sua menor prática (em relação à dos anos 30) pode dever-se às limitações de deslocação que a idade e a falta de saúde impõem; ou pode dever-se também ao facto de ter sido uma geração que nasceu, cresceu e se educou durante a 1ª república.
A geração mais recente (nascida depois de 1990) tem valores de frequência superiores à dos anos 80. Mas é difícil saber o que isso significa ou quais as causas. Os valores de geração nascida depois de 1990 são, ainda assim, bastante mais baixos que a média da amostra. Aliás são somente superiores à da geração nascida nos anos 80. Será que a tese tradicional segundo a qual a prática diminui com as novas gerações se está a alterar? É prematuro afirmar isso.
Usando os dados de ESS2002 (8 anos antes) verificamos uma distribuição semelhante à de ESS2010.
Também aqui se verifica que a geração mais jovem (neste caso a nascida nos anos 80) tem uma frequência de culto superior à da geração anterior (16,2% de prática regular contra 16% da geração de 70). Mas 8 anos depois (em 2010) essa geração de 80 tinha baixado a prática regular para 14,2. Curiosamente, a geração de 70 sobe (em 2010) para 20,6%.

e para complicar:

O cruzamento entre o sexo e as gerações de nascimento ajudam a perceber que talvez haja algo a acontecer. Em quase todas as gerações, os níveis de frequência das mulheres são mais altos. Excepto para a geração nascida nos anos 90.
Geração Sexo Semanais Ocasionais Nunca
90 Masculino 18 50 32
Feminino 15,3 32,3 52,3

A percentagem de homens a ir semanalmente à missa é maior do que a de mulheres 2,7%. A percentagem em si pode não ter grande significado, dado que neste subgrupo estamos a lidar com um contingente baixo. Mais interessante é o facto de a percentagem de mulheres que nunca vai à missa superar os 50% e ser bastante mais alta que a dos homens.
O problema é que estes dados só aparecem no ESS2010.

Em ESS 2008 as percentagens de frequentadores semanais voltam a ser dominadas pelas mulheres (com uma pequena diferença). Mas mais significativo é que a percentagem de mulheres que nunca vão à missa volta a superar a dos homens.
ESS 2008 Semanais Ocasionais Nunca
Masculino 21,3 41 37,7
Feminino 23 27 50

Seria necessário verificar se a tendência detectada em ESS2010 é real.
A hipótese da crescente homologação de comportamentos entre homens e mulheres, na sociedade portuguesa, poderia explicar em parte esta tendência.

2 comentários:

Camilo disse...

Em relação à geração de 90.
Há pelos menos 2 fatores que podem influenciar esse resultado, para além de algum erro metodologico ou da variação estatistica normal, se a amostra for pequena.

Contra a variação estatistica aleatória temos a grandeza do valor da discordancia entre elas e eles, parece-me demasiado grande para poder ser resultado de uma oscilação aleatória.

em primeiro lugar é preciso ter a certeza de que elas e eles respondem de igual forma nas mesmas circunstancias e em muitos assuntos não o fazem. é possível que possa ocorrer que para os que frequentam a missa apenas por ocasião de batizados, funerais e casamentos dêm respostas diferentes, uns dizendo que frequentam a missa ocasionalmente, outros dizendo que nunca o fazem. Nisto elas e eles podem ter respostas significativamente diferentes mesmo quando têm comportamentos identicos.

Em segundo lugar têm existido uma intensa "campanha" que apresenta a religião e em particular a igreja católica como sendo "opressora" da mulher, como contribuindo para uma menorização do papel da mulher na sociedade. Isto sem dúvida contribui para afastar algumas mulheres, e em particular algumas jovens, da religião.

Anónimo disse...

Lembrei-me de uma possibilidade. É possível que o dominante social tenha passado a ser a posição "não crente", tenha passado a ser o "não orar" e que elas sejam mais permeáveis que eles ao dominante social.

Camilo