2009/06/29

Retiro aos futuros padres

Ainda ontem "reactivei" o blog e já me vou ausentar!
Entre amanhã e o próximo sábado vou estar fora, sem acesso à net.
Vou estar em Singeverga, a pregar o retiro a 7 diáconos da diocese de Braga que serão ordenados padres em breve.
Para eles é um momento de intensa experiência espiritual. Peço a todos os benévolos leitores as vossas orações.

Apresentação do projecto GPS em Leiria (2)

Outra questão que, nestes âmbitos da PJ, costuma separar as águas é o conceito de animador.
Para muitos grupos animador é aquele que tem um papel activo na condução das reuniões.
Por isso quando eu digo que o grupo precisa de um animador bem formado, disponível, adulto na fé, isso é sentido como se eu pretendesse "enfiar" no grupo um professor-polícia que reduziria os jovens à passividade.
Vamos lá a ver se nos entendemos.
1. Não confundir a figura do animador com a questão das lideranças. Em qualquer processo de grupo, é inevitável o aparecimento de líderes, de elementos que se destacam em algum aspecto e que acabam por ser mais centrais na rede de comunicação (e decisão-acção) do grupo. A liderança é uma função "natural" do grupo. Eu falo do animador. De alguém que, estando no grupo, é suficientemente diferente (mais maduro) para estar ao serviço do crescimento do grupo e dos seus elementos.
2. Não confundir o animador com o gestor de actividades. O animador não tem que fazer tudo. O que o animador faz, deixa de fazer ou faz fazer depende do tipo de grupo, da fase evolutiva do grupo e de mil e um factores. O facto de haver um animador não quer dizer que seja ele o único protagonista. Muito pelo contrário.
Mas para lá destas diferenças factuais no conceito de animador, pode ser que as diferenças tenham bases teóricas.
Eu revejo-me num modelo educativo que assenta na assimetria educativa. Ou seja, só há diálogo educativo se houver algum tipo de assimetria. Isto não quer dizer hierarquia, desigual distribuição do poder. Um professor (vamos buscar um exemplo à escola) pode ser muito "democrático" mas tem de ser "diferente" (=assimétrico) dos alunos; se isso não acontecer termina a relação educativa. A diferença pode ser de idade, autoridade, competência científica. Ou pode ser apenas de atitude: os alunos estão lá para um qualquer objectivo (aprender, fazer turismo na escola...); o professor está lá para servir esse objectivo dos alunos.
Acho ingénuo um certo "basismo" que diz que sendo todos iguais não deveria haver distinções dentro do grupo. Discordo disto em termos filosóficos. Mas, acima de tudo em termos práticos: isto não acontece na realidade. Peguem em qualquer grupo e deixem-no sem nenhum tipo de autoridade. A evolução natural do grupo leva ao aparecimento de diferentes papéis; entre esses papéis diferenciados estão as lideranças. Mesmo que o grupo não evolua para o caos nem para a ditadura, mesmo que se mantenha organizado e democrático (coisa que estatisticamente é bastante raro) aparece sempre alguém que "faz as despesas" de organização do grupo.
Aquilo que defendo é que em vez de deixar isso ao acaso, a comunidade ofereça aos grupos eclesiais alguém disponível e formado para esse serviço.
Num certo sentido eu percebo a dificuldade de aceitar estas propostas:
1) Por reacção à falta de protagonismo juvenil. Na escola, na sociedade, na Igreja demasiadas coisas são impostas. Os jovens sentem uma necessidade real de espaços onde possam sentir-se responsáveis. É evidente que o modelo de animador que defendemos não contraria isso; antes o potencia!
2) Por tradicionalismo. Como em muitos sectores de PJ o nível de reflexão é muito baixo, as ocasiões de formação são raras, as pessoas agarram-se ao que conhecem. A mudança é sentida como perigosa.

2009/06/28

Apresentação do projecto GPS em Leiria (1)

Ontem (27 Junho) fomos (eu, a idália e o Fraga) a Leiria. A convite da pastoral juvenil da diocese apresentámos o projecto GPS. previstos 25 participantes; presentes uns 45. O que nestas coisas de PJ é sempre de saudar. Vários padres presentes. Ainda de saudar mais.
No diálogo com os participantes apareceram várias questões que merecem alguma reflexão.
Que entendimento de grupo?
Eu tenho vindo a defender a existência de grupos fortemente coesos. Com uma alta estabilidade dos elementos. Alguns animadores (ali e em muitos sítios) defendem uma ideia diferente (e que é prática corrente em muito sítio) em que o grupo é uma realidade muito aberta onde se entra e sai numa rotação relativamente levada. Este modelo imagina que o jovem entra a uma certa idade, se mantém no grupo durante alguns ano e depois o abandona. E este processo vai-se mantendo em contínuo. Isto leva a que num mesmo grupo coexistam pessoas de idades muito diferentes, normalmente entre os 15-16 e os 20 e tal anos. Eu posso representar este modelo com a imagem do corredor de passagem. Um grupo assim é como um corredor de passagem onde se entra de um lado, se leva algum tempo a fazer o que há a fazer e se sai pelo outro lado. Em cada momento há um determinado número de pessoas dentro do corredor (grupo) mas em que os tempos de permanência no grupo são muito diferentes.
Eu defendo um outro modelo que pode ser representado pela imagem da sala de estar: há um grupo de pessoas (mais ou menos sempre as mesmas) que se mantêm na sua tarefa (os objectivos do grupo) com uma certa constância.
Claro que não defendo um grupo-seita em que não se pode entrar ou do qual não se pode sair. Isso poderia ser representado pela imagem do bunker!. É evidente que no modelo que defendo há gente que entra e que sai. Mas isso acontece como excepção a uma regra. Excepção que tem custos para o adequado funcionamento do grupo. Excepção que não pode nem deve ser erigida em norma.
Claro que o argumentário em favor de um ou outro modelo pode nunca mais acabar. Mas vale a pena tentar perceber as vantagens e limites de cada um deles.
Podemos tentar perceber qual o grau de coesão de cada modelo.
É sempre mais baixa no modelo "corredor de passagem". A coesão faz-se a partir das memórias, da quantidade e qualidade das inter-relações. A partir do momento em que o grupo está sempre a refazer-se (porque é de norma que haja sempre gente que entra e sai) as redes internas estão sempre em fase inicial de elaboração. Isso leva a que a qualidade da comunicação profunda seja relativamente débil.
No modelo "sala de estar" a coesão (e a qualidade-quantidade das comunicações dentro do grupo) pode crescer porque o grupo pode seguir um percurso evolutivo mais ou menos linear (isto não quer dizer que não haja sobressaltos e problemas). Quando a comunicação tem alta qualidade, quando o grupo tem, ao mesmo tempo uma alta coesão e um alto respeito pela individualidade de cada um dos elementos, o grupo ganha o seu maior potencial educativo.
Outra questão é a da homogeneidade-heterogemeidade . No modelo "corredor de passagem" há uma mais alta heterogeneidade. Normalmente a partir do factor idade. E isso, com todo o realismo, condiciona a qualidade da comunicação. Não acho que seja impossível algum diálogo entre pessoas de 16 anos e pessoas de 25. Mas as experiências de vida e de fé são de facto muito condicionadas pelas vivências de cada um. Pessoas com idades diferentes podem perfeitamente falar adequadamente sobre "coisas" externas: a cultura de espinafres, o uso do preservativo, um texto de S. Paulo... Mas se não quisermos mais falar sobre coisas mas sobre a nossa vivência, se quisermos que o grupo seja um espaço onde se partilham experiências e se aprende com elas numa lógica de interacção, fica mais difícil quando a heterogeneidade é muita.
Exemplo: a experiência de tentar viver na fé a sexualidade (para dar exemplo de uma questão frequente) não é a mesma aos 16 e aos 25 (espero eu!). O que acontece se colocarmos um grupo "corredor" heterogéneo a trabalhar sobre isto? Das duas uma: ou se procura um diálogo "objectivo", em que todos abdicam das suas experiências e vivências (a dimensão subjectiva) ou algumas experiências abafam outras. Pode-se tentar negar este meu argumento, dizendo que "os mais novos aprendem com os mais velhos"... É verdade, até certo ponto. Mas o modelo de PJ que defendo, diz que os mais "novos" têm direito a ser mais novos, a ter as suas próprias experiências, a elaborar, eclesialmente, as suas próprias sínteses, ao seu ritmo.
É evidente que não vale a pena procurar construir grupos absolutamente homogéneos. Inviável e inútil. O que digo é que a partir de certo ponto a heterogeneidade dentro do grupo impossibilita o diálogo e a partilha. O modelo "sala de estar" defende melhor a qualidade de comunicação e aprendizagem dentro do grupo.
Poderia ser interessante pensar nesta óptica a prática dos escuteiros. Como se sabe, cada secção tem 4-5 anos de duração: lobitos (6-10); exploradores (10-15);Pioneiros (15-18); caminheiros (18-22). Dentro de cada secção organizam-se as unidades, pequenos grupos (bandos, patrulhas, equipas). Se bem me lembro, cada agrupamento pode usar vários modelos para estruturar as unidades. Podem ser em co-educação ou separadas por géneros; podem pedir homogeneidade de idades ou podem preferir um modelo "vertical" em que coexistem, na mesma unidade as várias idades. Estas várias possibilidades mostram que a questão não é simples. E tem muito que ver com o modelo educativo escutista e com o tipo de "objectivos" que estão em jogo.
Mas se repararem não é possível ter um jovem de 16 anos (pioneiro) com outro de 22 (caminheiro em idade de partida)

Aniversário

Ontem a LS (do meu grupo de jovens) fez anos: 22.
Decidiu fazer uma festa. A mãe tem um café, o que oferece algumas vantagens logísticas.
Convidou o pessoal do grupo de jovens e alguns catequistas com quem trabalha.
Não! Não estou a transformar este blog num noticiário de eventos sociais, para manter a média de posts!
Quero é pensar pastoralmente sobre isto.
Ela poderia ter convidado colegas da faculdade, amigos e conhecidos.
Poderia não ter feito festa nenhuma.
Decidiu investir simbolicamente numa rede de relações ligadas ao grupo de fé e aos serviços eclesiais em que está. Quais as condições de possibilidade para isso acontecer?
Eu avanço com uma hipótese: a eclesialidade tem uma consistência social forte. E à hora de fazer opções, isso nota-se.
Este exemplo contraria aqueles que defendem que é possível ser Igreja sem uma forte relacionalidade social, sem efectivos laços. A experiência de Igreja (e da fé que lhe está associada) não pode ser apenas uma questão de referência mas de efectiva pertença.

Hora de retomar

Antes de mais, um pedido de desculpas.
Este blog, está, há quase um mês, em estado latente (dizer comatoso, pode ser exagerado).
Qualquer semelhança com o governo da nação, é pura coincidência; os sintomas (ausência de acção) podem ser similares mas as causas (e eventuais consequências) são bem diferentes. Só faço esta nota por motivos epistemológicos: é interessante perceber se 2 realidades com os mesmos fenómenos são necessariamente iguais.
Causas: Regressei a Portugal e às Edições Salesianas e tive de me dedicar a fundo a alguns dossiers mais "emergentes". Preferi suspender as minhas atenções académicas durante este mês de Junho, resolver os pendentes para, a partir de agora conseguir compaginar (com um mínimo de decência) a investigação, o trabalho na editora e os empenhos na formação.
Uma alteração: Até aqui este blog tem sido feito em Roma, numa situação de total dedicação ao estudo.
É evidente que agora, aqui em Portugal, as coisas mudam.
Pensei que poderia ser interessante usar este espaço para reflectir cientifica e criticamente sobre a realidade e os problemas pastorais que surgem. Eu escrevo habitualmente no site das Edições Salesianas e no Tás à toa (o site do meu grupo de jovens). Nenhum dos dois espaços tem o perfil adequado para uma reflexão mais sistemática.

2009/06/06

já em PT

Desculpem lá a ausência. Cheguei a Portugal no domingo passado e estive uns dias em casa dos meus pais. Desde 4ª feira já estou no Porto, na minha comunidade das Ediçóes Salesianas.
Tem sido tempo de rever os amigos e arrumar coisas.
Algumas impressões:
1. Então já acabaste o doutoramento? perguntam-me com frquência.
Não, não acabei. Um doutoramento não se faz em 4 meses. isto não são Phd em novas oportunidades nem dá para mandar teses por faz ao domingo (desculpem mas não resisto a esta farpazinha)

2. Outra coisa que me faz espécie é que raras são as pessoas que se interessam por tentar perceber de que é que trata este projecto de investigação.
Não é uma acusação a ninguém. É apenas um estímulo à (minha) humildade e a perceber que a vida das pessoas anda à volta daquilo que elas consideram importante e urgente. E nesse sentido o distanciar-se que o estudo sempre supõe é sempre um bocado irrelevante. Claro que há algumas pessoas que se dizem pros nisto da Igreja e da pastoral bem poderiam mostrar (ou fingir mostrar) algum interesse. Mas poderia ser pior: um colega meu está a acabar uma tese sobre o conceito de graça em Jerónimo Seripando. Quando o ouvi falar sobre isso a minha ignorância só me permitiu rir do nome do fulano. Obviamente, eu só posso achar que o "meu" tema de tese é que é interessante, os outros nem por isso.