2009/06/28

Apresentação do projecto GPS em Leiria (1)

Ontem (27 Junho) fomos (eu, a idália e o Fraga) a Leiria. A convite da pastoral juvenil da diocese apresentámos o projecto GPS. previstos 25 participantes; presentes uns 45. O que nestas coisas de PJ é sempre de saudar. Vários padres presentes. Ainda de saudar mais.
No diálogo com os participantes apareceram várias questões que merecem alguma reflexão.
Que entendimento de grupo?
Eu tenho vindo a defender a existência de grupos fortemente coesos. Com uma alta estabilidade dos elementos. Alguns animadores (ali e em muitos sítios) defendem uma ideia diferente (e que é prática corrente em muito sítio) em que o grupo é uma realidade muito aberta onde se entra e sai numa rotação relativamente levada. Este modelo imagina que o jovem entra a uma certa idade, se mantém no grupo durante alguns ano e depois o abandona. E este processo vai-se mantendo em contínuo. Isto leva a que num mesmo grupo coexistam pessoas de idades muito diferentes, normalmente entre os 15-16 e os 20 e tal anos. Eu posso representar este modelo com a imagem do corredor de passagem. Um grupo assim é como um corredor de passagem onde se entra de um lado, se leva algum tempo a fazer o que há a fazer e se sai pelo outro lado. Em cada momento há um determinado número de pessoas dentro do corredor (grupo) mas em que os tempos de permanência no grupo são muito diferentes.
Eu defendo um outro modelo que pode ser representado pela imagem da sala de estar: há um grupo de pessoas (mais ou menos sempre as mesmas) que se mantêm na sua tarefa (os objectivos do grupo) com uma certa constância.
Claro que não defendo um grupo-seita em que não se pode entrar ou do qual não se pode sair. Isso poderia ser representado pela imagem do bunker!. É evidente que no modelo que defendo há gente que entra e que sai. Mas isso acontece como excepção a uma regra. Excepção que tem custos para o adequado funcionamento do grupo. Excepção que não pode nem deve ser erigida em norma.
Claro que o argumentário em favor de um ou outro modelo pode nunca mais acabar. Mas vale a pena tentar perceber as vantagens e limites de cada um deles.
Podemos tentar perceber qual o grau de coesão de cada modelo.
É sempre mais baixa no modelo "corredor de passagem". A coesão faz-se a partir das memórias, da quantidade e qualidade das inter-relações. A partir do momento em que o grupo está sempre a refazer-se (porque é de norma que haja sempre gente que entra e sai) as redes internas estão sempre em fase inicial de elaboração. Isso leva a que a qualidade da comunicação profunda seja relativamente débil.
No modelo "sala de estar" a coesão (e a qualidade-quantidade das comunicações dentro do grupo) pode crescer porque o grupo pode seguir um percurso evolutivo mais ou menos linear (isto não quer dizer que não haja sobressaltos e problemas). Quando a comunicação tem alta qualidade, quando o grupo tem, ao mesmo tempo uma alta coesão e um alto respeito pela individualidade de cada um dos elementos, o grupo ganha o seu maior potencial educativo.
Outra questão é a da homogeneidade-heterogemeidade . No modelo "corredor de passagem" há uma mais alta heterogeneidade. Normalmente a partir do factor idade. E isso, com todo o realismo, condiciona a qualidade da comunicação. Não acho que seja impossível algum diálogo entre pessoas de 16 anos e pessoas de 25. Mas as experiências de vida e de fé são de facto muito condicionadas pelas vivências de cada um. Pessoas com idades diferentes podem perfeitamente falar adequadamente sobre "coisas" externas: a cultura de espinafres, o uso do preservativo, um texto de S. Paulo... Mas se não quisermos mais falar sobre coisas mas sobre a nossa vivência, se quisermos que o grupo seja um espaço onde se partilham experiências e se aprende com elas numa lógica de interacção, fica mais difícil quando a heterogeneidade é muita.
Exemplo: a experiência de tentar viver na fé a sexualidade (para dar exemplo de uma questão frequente) não é a mesma aos 16 e aos 25 (espero eu!). O que acontece se colocarmos um grupo "corredor" heterogéneo a trabalhar sobre isto? Das duas uma: ou se procura um diálogo "objectivo", em que todos abdicam das suas experiências e vivências (a dimensão subjectiva) ou algumas experiências abafam outras. Pode-se tentar negar este meu argumento, dizendo que "os mais novos aprendem com os mais velhos"... É verdade, até certo ponto. Mas o modelo de PJ que defendo, diz que os mais "novos" têm direito a ser mais novos, a ter as suas próprias experiências, a elaborar, eclesialmente, as suas próprias sínteses, ao seu ritmo.
É evidente que não vale a pena procurar construir grupos absolutamente homogéneos. Inviável e inútil. O que digo é que a partir de certo ponto a heterogeneidade dentro do grupo impossibilita o diálogo e a partilha. O modelo "sala de estar" defende melhor a qualidade de comunicação e aprendizagem dentro do grupo.
Poderia ser interessante pensar nesta óptica a prática dos escuteiros. Como se sabe, cada secção tem 4-5 anos de duração: lobitos (6-10); exploradores (10-15);Pioneiros (15-18); caminheiros (18-22). Dentro de cada secção organizam-se as unidades, pequenos grupos (bandos, patrulhas, equipas). Se bem me lembro, cada agrupamento pode usar vários modelos para estruturar as unidades. Podem ser em co-educação ou separadas por géneros; podem pedir homogeneidade de idades ou podem preferir um modelo "vertical" em que coexistem, na mesma unidade as várias idades. Estas várias possibilidades mostram que a questão não é simples. E tem muito que ver com o modelo educativo escutista e com o tipo de "objectivos" que estão em jogo.
Mas se repararem não é possível ter um jovem de 16 anos (pioneiro) com outro de 22 (caminheiro em idade de partida)

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