2010/10/30

A fé em casa

Meio antes de deitar, li um artigo que me deixou muito interessado:
LAMBERT Nathaniel M./DOLLAHITE David C., Development of the Faith Activities in the Home Scale, em Journal of Family Issues 2010, 31 (11) pp. 1442-1464.
Os autores pretendem desenvolver uma nova escala para medir as actividades de fé desenvolvidas dentro de casa.
Começam por uma 1ª fase de tipo qualitativo, com entrevistas a famílias altamente religiosas. Isso gera, depois de uma análise qualitativa, 18 items. Mas como entrevistaram famílias das 3 fés abraamicas aparecem muitas possibilidades específicas de cada tradição religiosa. Portanto, pouco generalizáveis.

Depois desta 1ª fase qualitativa fizeram um 2º estudo com questionário fechado.
As hipóteses seriam que o FAITHS teria apenas um factor subjacente (confirmado), que mostraria boa validade. Queriam ainda testar o FAITHS com entrevistados mais jovens e menos religiosos.
O questionário tem uma estrutura simples. A respeito de cada actividade de fé em família (exemplo: Rezar em família fora das refeições) cada entrevistado deve responder pela frequência (7 pontos) e pela importância (5 pontos).
Um estudo bem feito que talvez venha a ser útil.

2010/10/28

sex& religions

A respeito deste artigo: COBB-LEONARD Kathleen//SCOTT-JONES Diane, A belief-behavior gap? Exploring religiosity and sexual activity among high school seniors, em Journal of Adolescent Research 2010 (25-4) p. 578-600.
Fazem um bom levantamento de estudos precedentes que relacionem vivência sexual dos adolescentes e religiosidade. Há algum cuidado em usar boas definições teóricas quer de "sexo" quer de "religião". Estão conscientes das limitações da amostra que usam (curta, forte peso de imigrantes, voluntários, desejabilidade social) e concluem que talvez não haja o tal gap. Segundo eles, os adolescentes estudados não encontram incompatibilidade entre determinadas condutas sexuais e o ensino religioso que professam.
Não quero bater nos autores. É mais um artigo entre tantos. Que procura ser sério em termos teoréticos e metodológicos.
Queria questionar era outra coisa. Imaginemos que fazíamos um inquérito destes aqui em Portugal, com um público de jovens relacionados com a religião católica. Provavelmente encontraríamos os mesmos resultados: existe o tal gap entre o "ensino oficial da Igreja" e as práticas mas que não é sentido como tal pelos sujeitos. Mas qual teria de ser o quadro investigativo que permitisse detectar a contradição entre convicções e comportamentos? Entre quem se identifica (em maior ou menos grau) com a Igreja e o seu ensino mas que ao mesmo tempo desenvolve uma prática oposta?
Para quem me estiver a ler, recordo que não sou psicólogo nem sociólogo. Interesso-me é por teologia pastoral, pela transformação da práxis eclesial. No fundo... como é que se investiga o pecado, a complexa contradição entre ideal e prática?

E ainda mais sobre o Alceste

DALUD-VINCENT Monique, Les «choix» du sociologue avec Alceste - Du paramétrage des unités de contexte aus résultats obtenus, em Bulletin de Méthodologie Sociologique 2010 (107).
A autora, na sequência do artigo visto no post anterior, continua a testar o Alceste. Agora faz variar a dimensão das unidades de contexto. E a verdade é que os resultados variam e muito.
Os valores de k sugeridos pelo programa nem sempre garantem os valores mais altos.

2010/10/27

usar o Alceste

Tenho andado a testar o Alceste. O manual é muito limitadinho. A alternativa mesmo é mexer, perceber como é que o programa se porta com o tipo de dados que tenho. Entretanto vou aproveitando alguma literatura interessante.
O Bulletin de Méthodologie Sociologique, no seu último número (2010, 105) tem vários artigos.
DALUD-VINCENT Monique, Les «choix» du sociologue avec Alceste - De la forme du corpus aus résultats obtenus.
Algumas conclusões : a "normalização" da linguagem mexe com os resultados. Com o nº de UCEs catalogadas e com a distribuição nos grupos. A colocação no corpus das "falas" do entrevistador também afecta muito. Eles dão um exemplo (entrevista semi-estruturada) em que a inclusão das falas do sociólogo aumenta o nº de classes identificadas de 4 para 5. No meu caso (questionário estruturado em papel) a questão não se põe. Mas se avançar para uma 2ª fase de entrevistas em profundidade a coisa já fia mais fino.

Abordagem estrutural

Uma das coisas boas que li recentamente.
PARALES QUENZA Carlos José, On the structural approach to social representations,  em Theory & Psychology (2005) 15-1, pp77-100.
O autor desanca forte na abordagem estrutural das representações sociais (teoria do núcleo central). Acaba por acusar esta corrente de negar o carácter especificamente social das RS em nome de um certo fascínio metodológico mas teoricamente pouco sustentado.

2010/10/12

todovaidoso

meio por acaso descobri que um texto meu, escrito por encomenda para a Ecclesia, está republicado em vários sítios. Aqui, por exemplo.

2010/10/06

um ponto de situação

Uma correcção: tenho 528 questionários metidos mas só 498 válidos, ie, com idades compreendidas entre os 15 e os 21. O projecto da tese falava de 16-20; achei por bem alargar um ano em cada extremidade.
Pus-me a "brincar" com o spss e com as variáveis fechadas.
Não me interessam muito os conteúdos a não ser para decidir como balancear as estratégias de amostragem.
Género:
Genero
Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent
Valid Masculino 209 42,0 42,0 42,0
Feminino 289 58,0 58,0 100,0
Total 498 100,0 100,0
Até não está mal; as percentagens não estão demasiado dispares.
Mas quando fazemos a destrinça por idades, a coisa fica mais estranha.
Nota-se mais a falta de homens nas idades mais altas:
Genero * Idade Crosstabulation
Count
Idade
15 16 17 18 19 20 21 Total
Genero Ma 34 57 60 34 8 9 7 209
Fe 54 54 77 46 25 20 13 289
Total 88 111 137 80 33 29 20 498

E aqui consegue-se também perceber que me falta gente nas idades mais altas.
Falta-me compensar também em termos geográficos.
Nut
Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent
Valid Centro 27 5,4 5,4 5,4
Lisboa 91 18,3 18,3 23,7
Norte 369 74,1 74,1 97,8
Sul 11 2,2 2,2 100,0
Total 498 100,0 100,0

2010/10/05

5 de Outubro

Centenário da república, manhã cinzenta: um belo momento para acabar de introduzir o 500º questionário.
And counting!

2010/10/03

Outras leituras

Uma coisinha interessante que li:
PETTIPIECE  Timothy, From Cybele to Christ: christianity and the tranformation of late roman religious culture em Studies in Religion 37/1 (2008):41-61.
É uma reflexão bastante acessível e sustentada sobre os processos culturais e religiosos em curso no império romano durante a expansão do cristianismo. O autor analisa a forma como a religiosidade tradicional romana se estava a abrir a influências orientais e é nessa tendência que ele coloca o cristianismo.
Uma outra que achei menos interessante:
VOICU Mälina, Religion and gender across Europe em Social Compass 56(2), 2009, 144-162.
Bastante "tradicional": como é que a expansão da secularização altera o papel dos géneros na Europa. Já não tenho pachorra para estes restos de adeptos da teoria da secularização progressiva, com o seu simplismo mecanicista.
O que chateia, neste caso, é que a autora até refere a progressiva complexificação do fenómeno religioso. Mas depois equaciona-o de forma unilinear. Mesmo em termos sociológicos oferece "pérolas" como esta: In traditional society, individual beliefs and practices depend on the norms prescribed by the church... dah!