Comecei a ler um número (2006) da revista Hedegehog, chamado “After secularization”. O segundo artigo (DAVIE Grace, Is Europe an exceptional case?, in The Hegdehog Review. Critical reflections on contemporary culture, 8 (2006) 1-2, 23-34) tem a curiosidade de a autora oferecer algumas previsões sobre a evolução religiosa da Europa.
São previsões com grau diferente de certeza.
Na primeira, ela “pensa” que a religião vicária (é um conceito que ela usa; a maioria delega numa minoria o exercício religioso) se vai manter até metade deste século. O modelo de mercado religioso (em que há uma constante negociação entre oferta e procura) tenderá a crescer. O que complica esta previsão é que também as igrejas históricas entrarão nesta opção de mercado.
Na segunda previsão, ela “sabe” que a presença do Islão é um factor crucial. Não só porque é mais um parceiro a jogo mas pró ser um catalisador de mudanças profundas no horizonte religioso da Europa.
A terceira previsão é uma “evidência”: a combinação destes factores aumentará (e não diminuirá) a dimensão pública da religião.
Dá para perceber que a autora não é grande fã das teorias clássicas da secularização.
2011/11/29
2011/11/19
Ando a ler (5)
Por causa das dúvidas estou a ler FURSETH Inger and REPSTAD Pål, An introduction to the sociology of religion. Classical and contemporany perspectives, Aldershot, Ashgate, 2006. Vi a recomendação deste manual de sociologia da religião numa recensão publicada na Análise Social (uma revista do ICS).
Para um não sociólogo como eu, começaram bem, explicando os conceitos base da sociologia, apresentando o pluralismo de ideias que há na sociologia.
Algumas “teses” a reter.
1. Os fenómenos “sociais” podem ser explicados por acumulação de causas individuais. Ou, no lado oposto do espectro, por um sistema estrutural. Ou por uma explicação que fique no meio. Para lá dos extremismos simplistas, as autoras alertam para a tensão que há entre a “sociology from below” (mais atenta ao papel dos sujeitos) e a “sociology from above” (mais atenta ao peso das estruturas).
2. A tensão entre uma perspectiva idealista e outra mais materialista.
3. A tensão entre os que defendem uma visão eminentemente harmónica da sociedade e aqueles que defendem um maior papel do conflito.
4. A evolução de uma visão mais essencialista (estática) da sociedade e do real para outra mais construtivista.
Para um não sociólogo como eu, começaram bem, explicando os conceitos base da sociologia, apresentando o pluralismo de ideias que há na sociologia.
Algumas “teses” a reter.
1. Os fenómenos “sociais” podem ser explicados por acumulação de causas individuais. Ou, no lado oposto do espectro, por um sistema estrutural. Ou por uma explicação que fique no meio. Para lá dos extremismos simplistas, as autoras alertam para a tensão que há entre a “sociology from below” (mais atenta ao papel dos sujeitos) e a “sociology from above” (mais atenta ao peso das estruturas).
2. A tensão entre uma perspectiva idealista e outra mais materialista.
3. A tensão entre os que defendem uma visão eminentemente harmónica da sociedade e aqueles que defendem um maior papel do conflito.
4. A evolução de uma visão mais essencialista (estática) da sociedade e do real para outra mais construtivista.
Ando a ler (4)
A ler PAIS José Machado, CABRAL Manuel Villaverde and VALA Jorge, Religião e bioética, Lisboa, Imprensa de Ciências Sociais, 2001.
É um conjunto de estudos feitos a partir de dados da 3ª vaga do ISSP (dados recolhidos em 1998).
O primeiro artigo é CABRAL Manuel Villaverde, Prática religiosa e atitudes sociais dos portugueses numa perspectiva comparada.
Assume-se como um não especialista e sociologia da religião (pag. 21) e declara assumir as “considerações gerais de alguém como Niklas Luhmann”. Luhmann defende que na sociedade industriais e pós-industriais não há um sistema central de significado; todos os sistemas coexistem, de forma mais ou menos articulada, mais ou menos tensa.
Diz Cabral, apoiando-se em Luhmann: “o estudo sociológico dos fenómenos religiosos é forçado a proceder a uma redução metodológica contra aquilo mesmo que, segundo a dogmática religiosa, define a religião, a saber, o facto de esta se representar como explicação global de todos os fenómenos sociais e, portanto, não só transcender a explicação sociológica como na realidade a incluir.” (p. 21)
Ainda não consegui deitar as mãos a um exemplar do Luhmann em inglês e por isso estou às apalpadelas. Mas ficam-me algumas dúvidas.
Onde é que está a ideia que a religião explica, de facto, todos os fenómenos sociais? Mesmo numa “dogmática” que não reconheça a “legítima autonomia das realidades criadas” (Vaticano II) o papel central, hegemónico, se quisermos, da religião coloca-se ao nível do “dever ser”, não ao nível dos factos.
Em nota, Cabral dá como exemplo de uma sociologia da religião superada (e a superar) o texto de Luís França, por este procurar explicar determinados factos a partir de factos intra-eclesiais. Estranho. Que raio de sociologia é esta que tem o sue objecto de estudo desprovido de agência?
Cabral continua a recorrer a Luhmann para fazer a distinção entre experiência e acção. Mas tenho que cá voltar.
É um conjunto de estudos feitos a partir de dados da 3ª vaga do ISSP (dados recolhidos em 1998).
O primeiro artigo é CABRAL Manuel Villaverde, Prática religiosa e atitudes sociais dos portugueses numa perspectiva comparada.
Assume-se como um não especialista e sociologia da religião (pag. 21) e declara assumir as “considerações gerais de alguém como Niklas Luhmann”. Luhmann defende que na sociedade industriais e pós-industriais não há um sistema central de significado; todos os sistemas coexistem, de forma mais ou menos articulada, mais ou menos tensa.
Diz Cabral, apoiando-se em Luhmann: “o estudo sociológico dos fenómenos religiosos é forçado a proceder a uma redução metodológica contra aquilo mesmo que, segundo a dogmática religiosa, define a religião, a saber, o facto de esta se representar como explicação global de todos os fenómenos sociais e, portanto, não só transcender a explicação sociológica como na realidade a incluir.” (p. 21)
Ainda não consegui deitar as mãos a um exemplar do Luhmann em inglês e por isso estou às apalpadelas. Mas ficam-me algumas dúvidas.
Onde é que está a ideia que a religião explica, de facto, todos os fenómenos sociais? Mesmo numa “dogmática” que não reconheça a “legítima autonomia das realidades criadas” (Vaticano II) o papel central, hegemónico, se quisermos, da religião coloca-se ao nível do “dever ser”, não ao nível dos factos.
Em nota, Cabral dá como exemplo de uma sociologia da religião superada (e a superar) o texto de Luís França, por este procurar explicar determinados factos a partir de factos intra-eclesiais. Estranho. Que raio de sociologia é esta que tem o sue objecto de estudo desprovido de agência?
Cabral continua a recorrer a Luhmann para fazer a distinção entre experiência e acção. Mas tenho que cá voltar.
2011/11/08
Ando a ler (3)
Finalmente acabei de ler WAGNER Wolfgang and HAYES Nick, El discurso de lo cotidiano y el sentido común. La teoria de las representaciones sociales, Barcelona, Anthropos Editorial, 2011. É um livro que saiu em espanhol em 2011. É uma apresentação avançada da teoria das representações sociais. Foge bastante aos livros do mesmo género, mais antigos. O peso da reflexão epistemológica é bastante mais consistente.
2011/11/05
Ando a ler (2)
Continuo no mesmo livro de ontem. Agora a ler o artigo de PETTERSON Thorleif, Religion in contemporary society: eroded by human well-being, supported by cultural diversity, in ESMER Yilmaz e PETTERSON Thorleif, (Edited by), Measuring and mapping cultures: 25 years of comparative value surveys, Leiden, Brill, 2007, 127-154
A tese é interessante. Procura perceber como é que se articula a teoria da descristianização com a teoria do mercado. Tenta identificar quais os factores que contrariam a pressão da modernidade na diminuição da adesão religiosa.
O que me detém hoje é o facto de ser comum neste tipo de estudos feito a partir do EVS(e do WVS) escolher os países como unidades de análise. Somam-se os dados dos países, calculam-se as métricas habituais et voila!
Mas se algo marca hoje a sociologia é a consciência da fragmentação social. Num “país” coexistem uma série de clusters….
A tese é interessante. Procura perceber como é que se articula a teoria da descristianização com a teoria do mercado. Tenta identificar quais os factores que contrariam a pressão da modernidade na diminuição da adesão religiosa.
O que me detém hoje é o facto de ser comum neste tipo de estudos feito a partir do EVS(e do WVS) escolher os países como unidades de análise. Somam-se os dados dos países, calculam-se as métricas habituais et voila!
Mas se algo marca hoje a sociologia é a consciência da fragmentação social. Num “país” coexistem uma série de clusters….
2011/11/04
Ando a ler (1)
A ler: ESMER Yilmaz e PETTERSON Thorleif, Measuring and mapping cultures: 25 years of comparative value surveys, Leiden, Brill, 2007
É feito com dados do WVS de 1981 a 2001.
Em vários artigos a temática religiosa aparece.
Em especial detive-me em: NEVITTE Neil and COCHRANE Christopher, Individualization in Europe and America: connecting religious and moral values, in ESMER Yilmaz e PETTERSON Thorleif, (Edited by), Measuring and mapping cultures: 25 years of comparative value surveys, Leiden, Brill, 2007, 99-126
Como o título diz, pretendem estudar a evolução dos indicadores religiosos e a sua relação com a evolução dos indicadores morais.
Partem da “teoria” da individualização”. Esta prevê a descolagem dos valores humanos das instituições tradicionais (família, trabalho, política, religião…)
A hipótese a testar é se “wether religion is losing its hold on the moral outlooks of citizens in western countries” (p. 102).
Começam por medir a evolução dos indicadores religiosos. Chamam a atenção para a assimetria que se verifica dentro da Europa. Claro que há uma baixa na Europa. Há também uma baixa nos EUA, mas muito menor que a europeia. “The more surprising finding is the evidence of the relative stability in levels of religiosity between 1981 and 2000. Levels of religiosity have declined, but they are not plummeting and nor are they down everywhere.” (p. 105)
A seguir apresentam a evolução dos valores morais. Há uma tendência de aumento da permissividade moral. Em todos os países, excepto na Dinamarca. Aumento mais acentuado nos EUA do que na Europa.
Depois estabelecem a correlação entre a evolução da religiosidade e a evolução da permissividade moral. “The results are somewhat mixed” (p. 109). Esta relação baixou na Europa. (Estamos a falar da relação e não apenas dos níveis morais). Mas nos EUA o padrão é o oposto: a correlação aumentou. E isto põe em causa a hipótese da individualização. “The european findings are consistent wuth the individualization hypothesis; the north American findings clearly are not” (p. 109).
O que significa que a variação dos padrões morais tem outras causas para lá do simples declínio dos níveis de religiosidade.
Para explicar estas discrepâncias lançam a hipótese que haja uma forte relação entre os níveis de envolvimento associativo e a individualização. A participação activa em organizações religiosas serve como contrapeso às tendências permissivas do resto da sociedade.
O artigo é cuidadoso no design da análise que faz e conclui positivamente: “active associational involvement in voluntary religious organizations serves as a counterweight to the individuzliation of eligious and moral values in a far more profound way than either passive spirituality or even such habitual, but generally non-interactive, forms of involvement as church attendance” (p. 115).
A pensar
De salientar que são autores anglosaxónicos. A desatenção à dimensão social e cultural é bastante forte. Por exemplo, não falam nunca do papel dos media. Aparentemente tudo se joga entre as instituições sociais tradicionais que perdem poder e a crescente individualização. Mas os media têm um poder crescente. Outra questão é o papel das agendas culturais: os tais valores mais permissivos não existem apenas nos indivíduos; eles são propostos e reforçados pelos curricula escolares, pelas normativas legais, pelos aparelhos de propaganda e normalização cultural. Nada disso é tido em conta.
Nesse sentido, a teoria da representação social é mais abrangente. Não ponho em causa o impacto que estará a ter o individualismo como ideologia e como prática. Mas ele não existe num vazio de ideias.
Por outro lado é interessante ver confirmada empiricamente uma das intuições da pastoral juvenil salesiana (e da teoria da animação): o papel do grupo para construir alternativas à cultura dominante.
Vou querer ler mais algo sobre a tal teoria da individualização. Talvez BECK Ulrich and BECK-GERNSHEIM Elisabeth, Individualization: institutionalized individualism and its social and political consequences, London, Sage, 2002;
É feito com dados do WVS de 1981 a 2001.
Em vários artigos a temática religiosa aparece.
Em especial detive-me em: NEVITTE Neil and COCHRANE Christopher, Individualization in Europe and America: connecting religious and moral values, in ESMER Yilmaz e PETTERSON Thorleif, (Edited by), Measuring and mapping cultures: 25 years of comparative value surveys, Leiden, Brill, 2007, 99-126
Como o título diz, pretendem estudar a evolução dos indicadores religiosos e a sua relação com a evolução dos indicadores morais.
Partem da “teoria” da individualização”. Esta prevê a descolagem dos valores humanos das instituições tradicionais (família, trabalho, política, religião…)
A hipótese a testar é se “wether religion is losing its hold on the moral outlooks of citizens in western countries” (p. 102).
Começam por medir a evolução dos indicadores religiosos. Chamam a atenção para a assimetria que se verifica dentro da Europa. Claro que há uma baixa na Europa. Há também uma baixa nos EUA, mas muito menor que a europeia. “The more surprising finding is the evidence of the relative stability in levels of religiosity between 1981 and 2000. Levels of religiosity have declined, but they are not plummeting and nor are they down everywhere.” (p. 105)
A seguir apresentam a evolução dos valores morais. Há uma tendência de aumento da permissividade moral. Em todos os países, excepto na Dinamarca. Aumento mais acentuado nos EUA do que na Europa.
Depois estabelecem a correlação entre a evolução da religiosidade e a evolução da permissividade moral. “The results are somewhat mixed” (p. 109). Esta relação baixou na Europa. (Estamos a falar da relação e não apenas dos níveis morais). Mas nos EUA o padrão é o oposto: a correlação aumentou. E isto põe em causa a hipótese da individualização. “The european findings are consistent wuth the individualization hypothesis; the north American findings clearly are not” (p. 109).
O que significa que a variação dos padrões morais tem outras causas para lá do simples declínio dos níveis de religiosidade.
Para explicar estas discrepâncias lançam a hipótese que haja uma forte relação entre os níveis de envolvimento associativo e a individualização. A participação activa em organizações religiosas serve como contrapeso às tendências permissivas do resto da sociedade.
O artigo é cuidadoso no design da análise que faz e conclui positivamente: “active associational involvement in voluntary religious organizations serves as a counterweight to the individuzliation of eligious and moral values in a far more profound way than either passive spirituality or even such habitual, but generally non-interactive, forms of involvement as church attendance” (p. 115).
A pensar
De salientar que são autores anglosaxónicos. A desatenção à dimensão social e cultural é bastante forte. Por exemplo, não falam nunca do papel dos media. Aparentemente tudo se joga entre as instituições sociais tradicionais que perdem poder e a crescente individualização. Mas os media têm um poder crescente. Outra questão é o papel das agendas culturais: os tais valores mais permissivos não existem apenas nos indivíduos; eles são propostos e reforçados pelos curricula escolares, pelas normativas legais, pelos aparelhos de propaganda e normalização cultural. Nada disso é tido em conta.
Nesse sentido, a teoria da representação social é mais abrangente. Não ponho em causa o impacto que estará a ter o individualismo como ideologia e como prática. Mas ele não existe num vazio de ideias.
Por outro lado é interessante ver confirmada empiricamente uma das intuições da pastoral juvenil salesiana (e da teoria da animação): o papel do grupo para construir alternativas à cultura dominante.
Vou querer ler mais algo sobre a tal teoria da individualização. Talvez BECK Ulrich and BECK-GERNSHEIM Elisabeth, Individualization: institutionalized individualism and its social and political consequences, London, Sage, 2002;
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