2011/11/19

Ando a ler (4)

A ler PAIS José Machado, CABRAL Manuel Villaverde and VALA Jorge, Religião e bioética, Lisboa, Imprensa de Ciências Sociais, 2001.
É um conjunto de estudos feitos a partir de dados da 3ª vaga do ISSP (dados recolhidos em 1998).
O primeiro artigo é CABRAL Manuel Villaverde, Prática religiosa e atitudes sociais dos portugueses numa perspectiva comparada.
Assume-se como um não especialista e sociologia da religião (pag. 21) e declara assumir as “considerações gerais de alguém como Niklas Luhmann”. Luhmann defende que na sociedade industriais e pós-industriais não há um sistema central de significado; todos os sistemas coexistem, de forma mais ou menos articulada, mais ou menos tensa.
Diz Cabral, apoiando-se em Luhmann: “o estudo sociológico dos fenómenos religiosos é forçado a proceder a uma redução metodológica contra aquilo mesmo que, segundo a dogmática religiosa, define a religião, a saber, o facto de esta se representar como explicação global de todos os fenómenos sociais e, portanto, não só transcender a explicação sociológica como na realidade a incluir.” (p. 21)
Ainda não consegui deitar as mãos a um exemplar do Luhmann em inglês e por isso estou às apalpadelas. Mas ficam-me algumas dúvidas.
Onde é que está a ideia que a religião explica, de facto, todos os fenómenos sociais? Mesmo numa “dogmática” que não reconheça a “legítima autonomia das realidades criadas” (Vaticano II) o papel central, hegemónico, se quisermos, da religião coloca-se ao nível do “dever ser”, não ao nível dos factos.
Em nota, Cabral dá como exemplo de uma sociologia da religião superada (e a superar) o texto de Luís França, por este procurar explicar determinados factos a partir de factos intra-eclesiais. Estranho. Que raio de sociologia é esta que tem o sue objecto de estudo desprovido de agência?
Cabral continua a recorrer a Luhmann para fazer a distinção entre experiência e acção. Mas tenho que cá voltar.

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