Há tempos apanhei uma borla para aceder aos arquivos de uma revista inglesa de teologia: Theology
Sinceramente, não achei a linha editorial nada de especial. Saquei uns artigos cujos títulos me pareciam mais interessantes. Achei o nível entre o banal e o fraquinho.
Aqui quero comentar um em especial: HARRISON Victoria S., On defining the religious person em Theology 2007, pp. 243-250.
Ela mostra a crise que a tarefa de definir uma pessoa religiosa enfrenta hoje. Tradicionalmente, pessoa religiosa seria a que cumpria, cumulativamente, dois critérios: 1) estar afiliado a uma instituição religiosa e 2) ter convicções religiosas.
Nem vale a pena discutir a fragilidade da coisa.
Qual grande surpresa a autora tenta mostrar como ambos os critérios estão hoje em crise. É possível ter convicções religiosas fortes sem estar ligado a uma instituição religiosa; é possível negar ter convicções religiosas e mesmo assim tê-las.
A autora continua a discutir a tese da descristianização, a desisntitucionalização etc e tal... mas não vai muito longe ao tematizar a complexidade como marca da sociedade contemporânea.
Enfim... uma introdução muito levezinha a um tema interessante.
O que me causa mais espécie (muito para lá do texto do artigo) é esta questão da privatização. É óbvia a força desta tendência... ou nem por isso.
A tese geral é que os mecanismos de controle-influência social estão a perder peso e que uma série de dimensões da vida das pessoas são decididas privadamente.
Como sou um bocado lerdo, pergunto-me: o que quer dizer privado? É o oposto de social? É interpessoal de curto alcance?
Mas isso supõe que, magicamente, uma série de forças poderosas (media, cultura, escola...) se auto-silenciaram... é isso que acontece? Não me parece.
2011/02/16
2011/01/20
Sequeri
Esteve esta semana em Braga, o prof. PierAngelo Sequeri.
Um teólogo (muito) interessante e algo (muito?) difícil de entender.
Na conferência que fez fiquei impressionado com a sua acessibilidade.
Se houver quem se interesse por conhecer melhor a sua teologia, deixo aqui uma sugestão:
GALLAGHER Michael Paul, Truth and trist: Pierangelo Sequeri's theology of faith, em Irish Theological Quarterly 73 (2008) 3-31.
É uma apresnetação-resumo da teologia de Sequeri.
Um teólogo (muito) interessante e algo (muito?) difícil de entender.
Na conferência que fez fiquei impressionado com a sua acessibilidade.
Se houver quem se interesse por conhecer melhor a sua teologia, deixo aqui uma sugestão:
GALLAGHER Michael Paul, Truth and trist: Pierangelo Sequeri's theology of faith, em Irish Theological Quarterly 73 (2008) 3-31.
É uma apresnetação-resumo da teologia de Sequeri.
2011/01/10
Antígona
Há tempos morreu Carlos Pinto Coelho.
Nos meus anos de início de adolescência vi uma adaptação televisiva da antígona de Sófocles.
Ele, já conhecido como jornalista de televisão, faz o papel do coro grego como se fosse um pivot de telejornal.
Não sei, a esta distância, apreciar o mérito teatral da coisa. De qualquer forma, na altura, impressionou-me.
E tenho andado, por estes dias, à volta com Antígona.
Para nós que nos interessamos por educação, esta figura tem um potencial interessante. Embora seja do mais anti-epocal que possa haver.
E por estes dias o Geração de 60, publicou 3 posts sobre Antígona. a ler.
Nos meus anos de início de adolescência vi uma adaptação televisiva da antígona de Sófocles.
Ele, já conhecido como jornalista de televisão, faz o papel do coro grego como se fosse um pivot de telejornal.
Não sei, a esta distância, apreciar o mérito teatral da coisa. De qualquer forma, na altura, impressionou-me.
E tenho andado, por estes dias, à volta com Antígona.
Para nós que nos interessamos por educação, esta figura tem um potencial interessante. Embora seja do mais anti-epocal que possa haver.
E por estes dias o Geração de 60, publicou 3 posts sobre Antígona. a ler.
2011/01/05
heresias?
Prossegue a minha análise dos dados.
Mas dei-me conta de um risco analítico. Com facilidade tendo a catalogar posições dos sujeitos em termos das grandes "heresias" do passado: sabelianismo, adopcionismo... (para quem não está muito por dentro disto da teologia trinitária, garanto que são correntes de pensamento reais; não estou a inventar.)
Mas se calhar não são comparáveis. Uma coisa é uma heresia pensada por teólogos. Outra é uma representação social.
Seria interessante perceber que imagem de Deus tinham mesmo os seguidores de uma igreja ariana (refere-se à heresia de Ario e não a uma qualquer raça ariana). Mas sobre isso temos muito poucos dados ou nenhuns.
No passado, os teólogos e pastores eriçavam-se todos com os que pensavam e escreviam; talvez fosse mais útil dialogar (mesmo que fosse para combater) com o que dizia, pensava e sentia a gente simples.
Mas dei-me conta de um risco analítico. Com facilidade tendo a catalogar posições dos sujeitos em termos das grandes "heresias" do passado: sabelianismo, adopcionismo... (para quem não está muito por dentro disto da teologia trinitária, garanto que são correntes de pensamento reais; não estou a inventar.)
Mas se calhar não são comparáveis. Uma coisa é uma heresia pensada por teólogos. Outra é uma representação social.
Seria interessante perceber que imagem de Deus tinham mesmo os seguidores de uma igreja ariana (refere-se à heresia de Ario e não a uma qualquer raça ariana). Mas sobre isso temos muito poucos dados ou nenhuns.
No passado, os teólogos e pastores eriçavam-se todos com os que pensavam e escreviam; talvez fosse mais útil dialogar (mesmo que fosse para combater) com o que dizia, pensava e sentia a gente simples.
2010/12/23
coisinhas boas: similitude Jaro_winkler
Mais uma vitória(zinha)!
Como acho que já comentei, uma das coisas que se destaca de uma leitura preliminar é a sobreposição de respostas entre "Deus" e "Jesus", em alguns questionários.
É coisa para dar informações importantes sobre a representação da Trindade.
O problema é que nós, humanos, somos bastante bons a detectar "parecenças". E as máquinas nem por isso.
Como fazer para automatizar este procedimento de medida da similitude entre dois campos?
Afinal, na área da data warehouse há uns fulanos que lidam com isso todos os dias. Há vários algoritmos disponíveis. Um deles é o de Jaro-Winkler-
Depois de umas tentativas frustradas de implementar a coisa, descobri que um outro sw com que estou a trabalhar (Pentaho kettle) consegue fazer isso razoavelmente.
O algoritmo jaro-winkler compara 2 textos e dá uma medida entre 0 (totalmente diferentes) e 1 (absolutamente semelhantes).
Como acho que já comentei, uma das coisas que se destaca de uma leitura preliminar é a sobreposição de respostas entre "Deus" e "Jesus", em alguns questionários.
É coisa para dar informações importantes sobre a representação da Trindade.
O problema é que nós, humanos, somos bastante bons a detectar "parecenças". E as máquinas nem por isso.
Como fazer para automatizar este procedimento de medida da similitude entre dois campos?
Afinal, na área da data warehouse há uns fulanos que lidam com isso todos os dias. Há vários algoritmos disponíveis. Um deles é o de Jaro-Winkler-
Depois de umas tentativas frustradas de implementar a coisa, descobri que um outro sw com que estou a trabalhar (Pentaho kettle) consegue fazer isso razoavelmente.
O algoritmo jaro-winkler compara 2 textos e dá uma medida entre 0 (totalmente diferentes) e 1 (absolutamente semelhantes).
2010/12/14
Leituras em Sociologia da religião (3)
TSCHANNEN Olivier, L'individu comme croyant, in Social Compass, 57 (2010) 2, 285-297.
Texto algo complicado e a pedir várias leituras. Mas rico de ideias e perspectivas.
Que relação entre o individualismo e a crença? A pergunta parece ser simples. mas depois percebe-se que o texto é sobre isso e sobre mais coisas.
Quer o individualismo quer a crença são realidades sociais altamente ambíguas; daí a dificuldade em as estudar.
O autor faz uma breve história do individualismo. Segundo ele, o individualismo exige a capacidade de crença. (Não estamos a falar de conteúdos específicos; apenas da capacidade de crença).
O artigo puxa muitas referências com as quais não estou muito à vontade mas pareceu-me estimulante.
Texto algo complicado e a pedir várias leituras. Mas rico de ideias e perspectivas.
Que relação entre o individualismo e a crença? A pergunta parece ser simples. mas depois percebe-se que o texto é sobre isso e sobre mais coisas.
Quer o individualismo quer a crença são realidades sociais altamente ambíguas; daí a dificuldade em as estudar.
O autor faz uma breve história do individualismo. Segundo ele, o individualismo exige a capacidade de crença. (Não estamos a falar de conteúdos específicos; apenas da capacidade de crença).
O artigo puxa muitas referências com as quais não estou muito à vontade mas pareceu-me estimulante.
Leituras em Sociologia da religião (2)
NUÑEZ Francesc, Leaving the institution. Secularized priests, in Social Compass, 57 (2010) 2, 268-284
O autor pretende estudar o processo de secularização de elevado número de padres da diocese de Barcelona.
Queixa-se da dificuldade em obter dados.
Não consegue comparar os dados que tem com valores da Espanha, da Catalunha. Não se percebe se também trabalha com os dados das congregações religiosas.
Não baliza bem os tempos. Fala da crise dos anos 60-70 mas não apresente séries temporais e vai buscar dados, por vezes, até ao ano 2000.
Mistura tendências sociais com escritos teológico-pastorais sem se perceber qual é o critério de ligação.
Não equaciona a reacção da "instituição" aos abandonos.
Muito supertifical
O autor pretende estudar o processo de secularização de elevado número de padres da diocese de Barcelona.
Queixa-se da dificuldade em obter dados.
Não consegue comparar os dados que tem com valores da Espanha, da Catalunha. Não se percebe se também trabalha com os dados das congregações religiosas.
Não baliza bem os tempos. Fala da crise dos anos 60-70 mas não apresente séries temporais e vai buscar dados, por vezes, até ao ano 2000.
Mistura tendências sociais com escritos teológico-pastorais sem se perceber qual é o critério de ligação.
Não equaciona a reacção da "instituição" aos abandonos.
Muito supertifical
Leituras em Sociologia da religião (1)
Aqui ficam algumas leituras recentes.
BRÉCHON Pierre, La mesure de l'appartenance et de la non-appartenance dans les grandes enquêtes européennes, in Social Compass, 56 (2009) 2, 163-178
Trabalha o conceito de pertença religiosa e a dificuldade em o operacionalizar em instrumentos de estudo. Incide especialmente sobre grandes inquéritos de âmbito europeu: o EVS, o WVS, o ISSP e o ESS.
Há problemas gerais. Por um lado procura-se a descontextualização dos items (para não favorecer uma confissão religiosa em detrimento de outra) mas isso traduz-se muitas vezes num genericismo que não leva a medir coisa nenhuma. Depois há as diferenças de formulação que geram respostas dispares. O autor apresenta várias tabelas que mostram diferenças assinaláveis em vários países, para inquéritos feitos quase ao mesmo tempo.
Depois destas questões mais metodológicas, o autor resume dados mais substantivos, comparando 15 países europeus, os EUA e o Canadá.
Há grandes assimetrias. A secularização é bem mensurável em vários países. Mas "a excepcionalidade europeia, que diz que esta sofre um processo de secularização enquanto o resto do mundo conhece um regresso do religioso, não se confirma".
BRÉCHON Pierre, La mesure de l'appartenance et de la non-appartenance dans les grandes enquêtes européennes, in Social Compass, 56 (2009) 2, 163-178
Trabalha o conceito de pertença religiosa e a dificuldade em o operacionalizar em instrumentos de estudo. Incide especialmente sobre grandes inquéritos de âmbito europeu: o EVS, o WVS, o ISSP e o ESS.
Há problemas gerais. Por um lado procura-se a descontextualização dos items (para não favorecer uma confissão religiosa em detrimento de outra) mas isso traduz-se muitas vezes num genericismo que não leva a medir coisa nenhuma. Depois há as diferenças de formulação que geram respostas dispares. O autor apresenta várias tabelas que mostram diferenças assinaláveis em vários países, para inquéritos feitos quase ao mesmo tempo.
Depois destas questões mais metodológicas, o autor resume dados mais substantivos, comparando 15 países europeus, os EUA e o Canadá.
Há grandes assimetrias. A secularização é bem mensurável em vários países. Mas "a excepcionalidade europeia, que diz que esta sofre um processo de secularização enquanto o resto do mundo conhece um regresso do religioso, não se confirma".
2010/12/03
E já estão 780!
Acabei de introduzir no computador os dados da última leva de questionários recebidos (foram mais de 250)!
Algumas informações:
questionários válidos (so far):
Por idades: 15 - 111; 16 - 226; 17 - 243; 18 - 90; 19 - 35; 20 - 30; 21 - 20
Pois é. Espero que o desequilíbrio entre os 16-18 e os 18-21 não me venha a dar problemas!
Por géneros: Eles - 360; Elas - 420
Algumas informações:
questionários válidos (so far):
Por idades: 15 - 111; 16 - 226; 17 - 243; 18 - 90; 19 - 35; 20 - 30; 21 - 20
Pois é. Espero que o desequilíbrio entre os 16-18 e os 18-21 não me venha a dar problemas!
Por géneros: Eles - 360; Elas - 420
2010/11/17
novidades de Novembro
Algumas novidades: um amigo enviou-me uns 250 questionários preenchidos, provindos do Sul. Assim a demografia fica mais bem distribuída. Ainda se mantém o peso excessivo da faixa 16-18 anos.
Descobri algumas possibilidades para medir a similitude das respostas relativas a Deus e a Jesus. Como disse lá para trás, estão a parecer questionários onde aquilo que se diz de Deus é igual (mais ou menos) ao que se diz de Jesus (e por vezes do Espírito). Era importante medir o impacto desta indiferenciação trinitária.
Por portas travessas (outro projecto em que estou metido) descobri vários algoritmos, entre os quais o de Jaro-Winkler. Problema: como é que o implemento em access ou noutra ferramenta acessível aos comuns mortais?
Descobri algumas possibilidades para medir a similitude das respostas relativas a Deus e a Jesus. Como disse lá para trás, estão a parecer questionários onde aquilo que se diz de Deus é igual (mais ou menos) ao que se diz de Jesus (e por vezes do Espírito). Era importante medir o impacto desta indiferenciação trinitária.
Por portas travessas (outro projecto em que estou metido) descobri vários algoritmos, entre os quais o de Jaro-Winkler. Problema: como é que o implemento em access ou noutra ferramenta acessível aos comuns mortais?
2010/10/30
A fé em casa
Meio antes de deitar, li um artigo que me deixou muito interessado:
LAMBERT Nathaniel M./DOLLAHITE David C., Development of the Faith Activities in the Home Scale, em Journal of Family Issues 2010, 31 (11) pp. 1442-1464.
Os autores pretendem desenvolver uma nova escala para medir as actividades de fé desenvolvidas dentro de casa.
Começam por uma 1ª fase de tipo qualitativo, com entrevistas a famílias altamente religiosas. Isso gera, depois de uma análise qualitativa, 18 items. Mas como entrevistaram famílias das 3 fés abraamicas aparecem muitas possibilidades específicas de cada tradição religiosa. Portanto, pouco generalizáveis.
Depois desta 1ª fase qualitativa fizeram um 2º estudo com questionário fechado.
As hipóteses seriam que o FAITHS teria apenas um factor subjacente (confirmado), que mostraria boa validade. Queriam ainda testar o FAITHS com entrevistados mais jovens e menos religiosos.
O questionário tem uma estrutura simples. A respeito de cada actividade de fé em família (exemplo: Rezar em família fora das refeições) cada entrevistado deve responder pela frequência (7 pontos) e pela importância (5 pontos).
Um estudo bem feito que talvez venha a ser útil.
LAMBERT Nathaniel M./DOLLAHITE David C., Development of the Faith Activities in the Home Scale, em Journal of Family Issues 2010, 31 (11) pp. 1442-1464.
Os autores pretendem desenvolver uma nova escala para medir as actividades de fé desenvolvidas dentro de casa.
Começam por uma 1ª fase de tipo qualitativo, com entrevistas a famílias altamente religiosas. Isso gera, depois de uma análise qualitativa, 18 items. Mas como entrevistaram famílias das 3 fés abraamicas aparecem muitas possibilidades específicas de cada tradição religiosa. Portanto, pouco generalizáveis.
Depois desta 1ª fase qualitativa fizeram um 2º estudo com questionário fechado.
As hipóteses seriam que o FAITHS teria apenas um factor subjacente (confirmado), que mostraria boa validade. Queriam ainda testar o FAITHS com entrevistados mais jovens e menos religiosos.
O questionário tem uma estrutura simples. A respeito de cada actividade de fé em família (exemplo: Rezar em família fora das refeições) cada entrevistado deve responder pela frequência (7 pontos) e pela importância (5 pontos).
Um estudo bem feito que talvez venha a ser útil.
2010/10/28
sex& religions
A respeito deste artigo: COBB-LEONARD Kathleen//SCOTT-JONES Diane, A belief-behavior gap? Exploring religiosity and sexual activity among high school seniors, em Journal of Adolescent Research 2010 (25-4) p. 578-600.
Fazem um bom levantamento de estudos precedentes que relacionem vivência sexual dos adolescentes e religiosidade. Há algum cuidado em usar boas definições teóricas quer de "sexo" quer de "religião". Estão conscientes das limitações da amostra que usam (curta, forte peso de imigrantes, voluntários, desejabilidade social) e concluem que talvez não haja o tal gap. Segundo eles, os adolescentes estudados não encontram incompatibilidade entre determinadas condutas sexuais e o ensino religioso que professam.
Não quero bater nos autores. É mais um artigo entre tantos. Que procura ser sério em termos teoréticos e metodológicos.
Queria questionar era outra coisa. Imaginemos que fazíamos um inquérito destes aqui em Portugal, com um público de jovens relacionados com a religião católica. Provavelmente encontraríamos os mesmos resultados: existe o tal gap entre o "ensino oficial da Igreja" e as práticas mas que não é sentido como tal pelos sujeitos. Mas qual teria de ser o quadro investigativo que permitisse detectar a contradição entre convicções e comportamentos? Entre quem se identifica (em maior ou menos grau) com a Igreja e o seu ensino mas que ao mesmo tempo desenvolve uma prática oposta?
Para quem me estiver a ler, recordo que não sou psicólogo nem sociólogo. Interesso-me é por teologia pastoral, pela transformação da práxis eclesial. No fundo... como é que se investiga o pecado, a complexa contradição entre ideal e prática?
Fazem um bom levantamento de estudos precedentes que relacionem vivência sexual dos adolescentes e religiosidade. Há algum cuidado em usar boas definições teóricas quer de "sexo" quer de "religião". Estão conscientes das limitações da amostra que usam (curta, forte peso de imigrantes, voluntários, desejabilidade social) e concluem que talvez não haja o tal gap. Segundo eles, os adolescentes estudados não encontram incompatibilidade entre determinadas condutas sexuais e o ensino religioso que professam.
Não quero bater nos autores. É mais um artigo entre tantos. Que procura ser sério em termos teoréticos e metodológicos.
Queria questionar era outra coisa. Imaginemos que fazíamos um inquérito destes aqui em Portugal, com um público de jovens relacionados com a religião católica. Provavelmente encontraríamos os mesmos resultados: existe o tal gap entre o "ensino oficial da Igreja" e as práticas mas que não é sentido como tal pelos sujeitos. Mas qual teria de ser o quadro investigativo que permitisse detectar a contradição entre convicções e comportamentos? Entre quem se identifica (em maior ou menos grau) com a Igreja e o seu ensino mas que ao mesmo tempo desenvolve uma prática oposta?
Para quem me estiver a ler, recordo que não sou psicólogo nem sociólogo. Interesso-me é por teologia pastoral, pela transformação da práxis eclesial. No fundo... como é que se investiga o pecado, a complexa contradição entre ideal e prática?
E ainda mais sobre o Alceste
DALUD-VINCENT Monique, Les «choix» du sociologue avec Alceste - Du paramétrage des unités de contexte aus résultats obtenus, em Bulletin de Méthodologie Sociologique 2010 (107).
A autora, na sequência do artigo visto no post anterior, continua a testar o Alceste. Agora faz variar a dimensão das unidades de contexto. E a verdade é que os resultados variam e muito.
Os valores de k sugeridos pelo programa nem sempre garantem os valores mais altos.
A autora, na sequência do artigo visto no post anterior, continua a testar o Alceste. Agora faz variar a dimensão das unidades de contexto. E a verdade é que os resultados variam e muito.
Os valores de k sugeridos pelo programa nem sempre garantem os valores mais altos.
2010/10/27
usar o Alceste
Tenho andado a testar o Alceste. O manual é muito limitadinho. A alternativa mesmo é mexer, perceber como é que o programa se porta com o tipo de dados que tenho. Entretanto vou aproveitando alguma literatura interessante.
O Bulletin de Méthodologie Sociologique, no seu último número (2010, 105) tem vários artigos.
DALUD-VINCENT Monique, Les «choix» du sociologue avec Alceste - De la forme du corpus aus résultats obtenus.
Algumas conclusões : a "normalização" da linguagem mexe com os resultados. Com o nº de UCEs catalogadas e com a distribuição nos grupos. A colocação no corpus das "falas" do entrevistador também afecta muito. Eles dão um exemplo (entrevista semi-estruturada) em que a inclusão das falas do sociólogo aumenta o nº de classes identificadas de 4 para 5. No meu caso (questionário estruturado em papel) a questão não se põe. Mas se avançar para uma 2ª fase de entrevistas em profundidade a coisa já fia mais fino.
O Bulletin de Méthodologie Sociologique, no seu último número (2010, 105) tem vários artigos.
DALUD-VINCENT Monique, Les «choix» du sociologue avec Alceste - De la forme du corpus aus résultats obtenus.
Algumas conclusões : a "normalização" da linguagem mexe com os resultados. Com o nº de UCEs catalogadas e com a distribuição nos grupos. A colocação no corpus das "falas" do entrevistador também afecta muito. Eles dão um exemplo (entrevista semi-estruturada) em que a inclusão das falas do sociólogo aumenta o nº de classes identificadas de 4 para 5. No meu caso (questionário estruturado em papel) a questão não se põe. Mas se avançar para uma 2ª fase de entrevistas em profundidade a coisa já fia mais fino.
Abordagem estrutural
Uma das coisas boas que li recentamente.
PARALES QUENZA Carlos José, On the structural approach to social representations, em Theory & Psychology (2005) 15-1, pp77-100.
O autor desanca forte na abordagem estrutural das representações sociais (teoria do núcleo central). Acaba por acusar esta corrente de negar o carácter especificamente social das RS em nome de um certo fascínio metodológico mas teoricamente pouco sustentado.
PARALES QUENZA Carlos José, On the structural approach to social representations, em Theory & Psychology (2005) 15-1, pp77-100.
O autor desanca forte na abordagem estrutural das representações sociais (teoria do núcleo central). Acaba por acusar esta corrente de negar o carácter especificamente social das RS em nome de um certo fascínio metodológico mas teoricamente pouco sustentado.
2010/10/12
todovaidoso
meio por acaso descobri que um texto meu, escrito por encomenda para a Ecclesia, está republicado em vários sítios. Aqui, por exemplo.
2010/10/06
um ponto de situação
Uma correcção: tenho 528 questionários metidos mas só 498 válidos, ie, com idades compreendidas entre os 15 e os 21. O projecto da tese falava de 16-20; achei por bem alargar um ano em cada extremidade.
Pus-me a "brincar" com o spss e com as variáveis fechadas.
Não me interessam muito os conteúdos a não ser para decidir como balancear as estratégias de amostragem.
Género:
Genero
Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent
Valid Masculino 209 42,0 42,0 42,0
Feminino 289 58,0 58,0 100,0
Total 498 100,0 100,0
Até não está mal; as percentagens não estão demasiado dispares.
Mas quando fazemos a destrinça por idades, a coisa fica mais estranha.
Nota-se mais a falta de homens nas idades mais altas:
Genero * Idade Crosstabulation
Count
Idade
15 16 17 18 19 20 21 Total
Genero Ma 34 57 60 34 8 9 7 209
Fe 54 54 77 46 25 20 13 289
Total 88 111 137 80 33 29 20 498
E aqui consegue-se também perceber que me falta gente nas idades mais altas.
Falta-me compensar também em termos geográficos.
Nut
Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent
Valid Centro 27 5,4 5,4 5,4
Lisboa 91 18,3 18,3 23,7
Norte 369 74,1 74,1 97,8
Sul 11 2,2 2,2 100,0
Total 498 100,0 100,0
Pus-me a "brincar" com o spss e com as variáveis fechadas.
Não me interessam muito os conteúdos a não ser para decidir como balancear as estratégias de amostragem.
Género:
Genero
Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent
Valid Masculino 209 42,0 42,0 42,0
Feminino 289 58,0 58,0 100,0
Total 498 100,0 100,0
Até não está mal; as percentagens não estão demasiado dispares.
Mas quando fazemos a destrinça por idades, a coisa fica mais estranha.
Nota-se mais a falta de homens nas idades mais altas:
Genero * Idade Crosstabulation
Count
Idade
15 16 17 18 19 20 21 Total
Genero Ma 34 57 60 34 8 9 7 209
Fe 54 54 77 46 25 20 13 289
Total 88 111 137 80 33 29 20 498
E aqui consegue-se também perceber que me falta gente nas idades mais altas.
Falta-me compensar também em termos geográficos.
Nut
Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent
Valid Centro 27 5,4 5,4 5,4
Lisboa 91 18,3 18,3 23,7
Norte 369 74,1 74,1 97,8
Sul 11 2,2 2,2 100,0
Total 498 100,0 100,0
2010/10/05
5 de Outubro
Centenário da república, manhã cinzenta: um belo momento para acabar de introduzir o 500º questionário.
And counting!
And counting!
2010/10/03
Outras leituras
Uma coisinha interessante que li:
PETTIPIECE Timothy, From Cybele to Christ: christianity and the tranformation of late roman religious culture em Studies in Religion 37/1 (2008):41-61.
É uma reflexão bastante acessível e sustentada sobre os processos culturais e religiosos em curso no império romano durante a expansão do cristianismo. O autor analisa a forma como a religiosidade tradicional romana se estava a abrir a influências orientais e é nessa tendência que ele coloca o cristianismo.
Uma outra que achei menos interessante:
VOICU Mälina, Religion and gender across Europe em Social Compass 56(2), 2009, 144-162.
Bastante "tradicional": como é que a expansão da secularização altera o papel dos géneros na Europa. Já não tenho pachorra para estes restos de adeptos da teoria da secularização progressiva, com o seu simplismo mecanicista.
O que chateia, neste caso, é que a autora até refere a progressiva complexificação do fenómeno religioso. Mas depois equaciona-o de forma unilinear. Mesmo em termos sociológicos oferece "pérolas" como esta: In traditional society, individual beliefs and practices depend on the norms prescribed by the church... dah!
PETTIPIECE Timothy, From Cybele to Christ: christianity and the tranformation of late roman religious culture em Studies in Religion 37/1 (2008):41-61.
É uma reflexão bastante acessível e sustentada sobre os processos culturais e religiosos em curso no império romano durante a expansão do cristianismo. O autor analisa a forma como a religiosidade tradicional romana se estava a abrir a influências orientais e é nessa tendência que ele coloca o cristianismo.
Uma outra que achei menos interessante:
VOICU Mälina, Religion and gender across Europe em Social Compass 56(2), 2009, 144-162.
Bastante "tradicional": como é que a expansão da secularização altera o papel dos géneros na Europa. Já não tenho pachorra para estes restos de adeptos da teoria da secularização progressiva, com o seu simplismo mecanicista.
O que chateia, neste caso, é que a autora até refere a progressiva complexificação do fenómeno religioso. Mas depois equaciona-o de forma unilinear. Mesmo em termos sociológicos oferece "pérolas" como esta: In traditional society, individual beliefs and practices depend on the norms prescribed by the church... dah!
2010/09/15
influências
Uma das questões do meu questionário tem a ver com a missão e com o carácter difusivo da fé.
Achas qye a tua fé influenciou outras pessoas? Se sim, quais as acções e/ou atitudes que, de algum modo, o fizeram?
Algumas observações:
A maioria diz que não. Normal numa igreja pouco missionária, feita mais de consumos que de convicções.
Alguns sentem a necessidade de afirmar que a fé é muito pessoal, que não é legítimo influenciar outros... provavelmente isto nasce dos excessos de socialização religiosa da infância e das contra-reacções adolescenciais.
Outra tendência, naqueles que dizem que sim que influenciaram é a forte componente cognitiva. Influenciar a fé de outrem é "passar informação".
Achas qye a tua fé influenciou outras pessoas? Se sim, quais as acções e/ou atitudes que, de algum modo, o fizeram?
Algumas observações:
A maioria diz que não. Normal numa igreja pouco missionária, feita mais de consumos que de convicções.
Alguns sentem a necessidade de afirmar que a fé é muito pessoal, que não é legítimo influenciar outros... provavelmente isto nasce dos excessos de socialização religiosa da infância e das contra-reacções adolescenciais.
Outra tendência, naqueles que dizem que sim que influenciaram é a forte componente cognitiva. Influenciar a fé de outrem é "passar informação".
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