Esta semana foi muito cheia e muito confusa.
Realmente escrevi pouco e não muito bem. Desculpem lá os poucos leitores fiéis, os interessados e os eventuais que por cá aparecem.
Reuniões, início da quaresma, retiros...
Além disso, descobri que ainda não estou, ao nível da produção escrita. Andei durante anos a escrever num registo que quis o mais acessível possível. Quando tinha de fazer o resumo de algo complicado, o empenho era torná-lo simples para os meus leitores potenciais (no site das Edições Salesianas, na revista Catequistas, no acompanhamento pessoal que vou fazendo a a, b ou c...)
Agora é preciso escrever sem simplificar. mas também não quero a mania pseudo-intelectual de escrever complicado só para parecer bem.
Está visto que vou ter de treinar isto.
2009/02/28
Donum Veritatis 2
Deu-me a preguiça e em vez de continuar o resumo prefiro apresentar uma síntese.
O documento, mais do que um elenco de disposições disciplinares, pretender ser uma leitura teologal da figura do teólogo na Igreja, na sua relação com ela e do serviço que nela desenvolve.
Central é o conceito de verdade, revelada por Deus. Verdade que é mais que um conceito meramente cognitivo mas que tem ressonâncias existenciais e práxicas muito fortes.
A Igreja nasce dessa verdade revelada e assume-se como servidora e anunciadora dessa verdade.
Dentro da Igreja, o papel dos teólogos é dizer essa verdade revelada em diálogo com o humano, mormente com a razão e a inteligência. Essa tarefa é enquadrada teologicamente como vocação, como serviço para a construção eclesial e a evangelização.
A tarefa do teólogo exerce-se na articulação entre a revelação e os saberes humanos: filosofia, história, ciências humanas, contexto cultural.
Aqui aparece a pergunta sobre a forma como estes saberes se relacionam com a Revelação, no concreto agir teológico.
Outra questão é o esquecimento da teologia pastoral.
A subordinação criteriológica não é difícil de entender, aceitando que não há saberes científicos neutros; todos eles são portadores de alguma carga ideológica.
O tema da liberdade de investigação aparece dentro do contexto eclesial da fé. Todo o progresso científico exige diálogo, tempos de maturação. Este apelo eclesial ajuda a superar a ideia do teólogo individualista.éEste tema é tratado com muitos paninhos quentes. Talvez fosse da época. Hoje está muito mais claro que qualquer ecossistema de produção científica é muito menos “livre” do que se poderia supor.
O papel dos pastores (magistério) é operacionalizar a infalibilidade concedida pelo Espírito à sua Igreja. Isto acontece de formas diferentes e em diferentes graus.
O documento insiste, mais do que nos detalhes jurídicos, numa atitude de fundo: o magistério é um parceiro incontornável no acesso à tal verdade revelada. E isto não numa lógica de força mas numa lógica de comunhão.
Com dons e funções diferentes, o magistério e os teólogos partilham o serviço da verdade ao povo de Deus. Mais uma vez a insistência comunional-eclesial.
O documento insiste na atitude aberta por parte dos teólogos diante das várias instâncias e formas de actuação do magistério.
O documento introduz uma dupla metodologia para lidar com estas relações e possíveis conflitos. Quando está em causa a comunhão de fé prevalece a unitas veritatis; quando há diferenças que não põem em questão a comunhão, aplica-se a unitas caritatis.
Claro que o problema pode estar em distinguir umas e outras situações.
Boa parte da argumentação do documento é de tipo atitudinal: mesmo nas dificuldades, uma atitude de comunhão pode fazer crescer muito mais do que atitudes de arrogância.
A dissensão como atitude tem direito a vários números. Não se trata da situação “clássica” do teólogo em conflito com o magistério por uma questão concreta. Trata-se de uma forma de estar na Igreja que põe radicalmente em causa a comunhão.
Segundo o documento, esta atitude nasce do liberalismo exacerbado e da sua alergia a todas as formas de autoridade. As posturas do magistério seriam apenas uma instância entre outras.
Fica de pé a questão de saber como proceder em ordem à descoberta da verdade. O documento critica, suavemente, as opções de “força” de alguns defensores da dissensão: o recurso aos media, o apelo às maiorias sociológicas, ou o entendimento da liberdade de consciência que nega a possibilidade de uma verdade comum.
O documento, mais do que um elenco de disposições disciplinares, pretender ser uma leitura teologal da figura do teólogo na Igreja, na sua relação com ela e do serviço que nela desenvolve.
Central é o conceito de verdade, revelada por Deus. Verdade que é mais que um conceito meramente cognitivo mas que tem ressonâncias existenciais e práxicas muito fortes.
A Igreja nasce dessa verdade revelada e assume-se como servidora e anunciadora dessa verdade.
Dentro da Igreja, o papel dos teólogos é dizer essa verdade revelada em diálogo com o humano, mormente com a razão e a inteligência. Essa tarefa é enquadrada teologicamente como vocação, como serviço para a construção eclesial e a evangelização.
A tarefa do teólogo exerce-se na articulação entre a revelação e os saberes humanos: filosofia, história, ciências humanas, contexto cultural.
Aqui aparece a pergunta sobre a forma como estes saberes se relacionam com a Revelação, no concreto agir teológico.
Outra questão é o esquecimento da teologia pastoral.
A subordinação criteriológica não é difícil de entender, aceitando que não há saberes científicos neutros; todos eles são portadores de alguma carga ideológica.
O tema da liberdade de investigação aparece dentro do contexto eclesial da fé. Todo o progresso científico exige diálogo, tempos de maturação. Este apelo eclesial ajuda a superar a ideia do teólogo individualista.éEste tema é tratado com muitos paninhos quentes. Talvez fosse da época. Hoje está muito mais claro que qualquer ecossistema de produção científica é muito menos “livre” do que se poderia supor.
O papel dos pastores (magistério) é operacionalizar a infalibilidade concedida pelo Espírito à sua Igreja. Isto acontece de formas diferentes e em diferentes graus.
O documento insiste, mais do que nos detalhes jurídicos, numa atitude de fundo: o magistério é um parceiro incontornável no acesso à tal verdade revelada. E isto não numa lógica de força mas numa lógica de comunhão.
Com dons e funções diferentes, o magistério e os teólogos partilham o serviço da verdade ao povo de Deus. Mais uma vez a insistência comunional-eclesial.
O documento insiste na atitude aberta por parte dos teólogos diante das várias instâncias e formas de actuação do magistério.
O documento introduz uma dupla metodologia para lidar com estas relações e possíveis conflitos. Quando está em causa a comunhão de fé prevalece a unitas veritatis; quando há diferenças que não põem em questão a comunhão, aplica-se a unitas caritatis.
Claro que o problema pode estar em distinguir umas e outras situações.
Boa parte da argumentação do documento é de tipo atitudinal: mesmo nas dificuldades, uma atitude de comunhão pode fazer crescer muito mais do que atitudes de arrogância.
A dissensão como atitude tem direito a vários números. Não se trata da situação “clássica” do teólogo em conflito com o magistério por uma questão concreta. Trata-se de uma forma de estar na Igreja que põe radicalmente em causa a comunhão.
Segundo o documento, esta atitude nasce do liberalismo exacerbado e da sua alergia a todas as formas de autoridade. As posturas do magistério seriam apenas uma instância entre outras.
Fica de pé a questão de saber como proceder em ordem à descoberta da verdade. O documento critica, suavemente, as opções de “força” de alguns defensores da dissensão: o recurso aos media, o apelo às maiorias sociológicas, ou o entendimento da liberdade de consciência que nega a possibilidade de uma verdade comum.
2009/02/27
Donum Veritatis
No tirocínio de docência, um dos documentos em que vamos trabalhar é uma instrução de 1990 sobre a vocação eclesial do teólogo.
Deixo aqui uma síntese misturada com alguns comentários.
Introdução
O conceito de verdade é essencial à condição humana. Dom de Deus, liberta-nos da servidão e da alienação. Vai ser constante este colocar a “verdade” como factor de humanização e de divinização.
A teologia vai aparecer como ferramenta necessária à Igreja para que a revelação possa ser plenamente acolhida na nossa condição humana (de seres racionais, buscadores da verdade).
1 – A verdade, dom de Deus ao seu povo
“A verdade possui em si mesma uma força unificadora” (3). Quer dos homens em relação uns com os outros, quer da humanidade para com Deus.
Esta dimensão “social” da verdade revelada aparece quando se recorda que a totalidade do Povo de Deus recebeu a revelação de Deus
2 – A vocação do teólogo
Na sequência da reflexão sobre o PD (Povo de Deus), surge uma vocação: o teólogo. O seu papel é procurar um sempre maior entendimento da palavra de Deus. Este serviço é feito em comunhão com o Magistério.
Neste momento (nº 6) já temos introduzidos os vários participantes: Deus, humanidade, Igreja, teólogos, magistério.
A 2ª parte do nº 6 acentua a relação entre a verdade revelada e a razão humana. “A ciência teológica responde ao convite da verdade à medida que procura entender a fé”. E nesse empenho serve o PD.
Ou seja, o serviço teológico nasce do dinamismo da própria fé (nº 7). Não é uma concessão que a fé faria à razão. Nem é uma instância avaliativa da fé.
A 2ª parte do nº7 coloca a teologia em perspectiva pastoral, como contributo para que a fé possa ser comunicada. Neste ponto aparece o amor. Lendo hoje esta instrução, depois da encíclica Deus caritas fica fácil entender esta referência.
O teólogo não é um analista frio, distanciado da matéria que estuda. Estudando Deus e a sua revelação, ele não pode colocar-se fora do dinamismo de amor que Deus é. Nem pode alhear o seu agir como teólogo da qualidade da sua vida de fé.
É esta qualidade de fé que, equilibrada com as exigências epistemológicas da ciência, evita atitudes críticas ou preconceituosas.
Interessante este referência ao quadro psicológico e motivacional com que se faz teologia.
O nº 10 recorda o Vaticano I e a capacidade humana de reconhecer Deus a partir da sua Criação. A teologia vai servir-se das ferramentas filosóficas e históricas. Diz-se ainda que a “consulta às ciências humanas” é também necessária.
Aqui vale a pena perguntar-se se esta referência às ciências humanas é menorizada. Além disso ela parece ser feita em referência à teologia moral.
A seguir faz-se referência ao diálogo com a cultura, como recurso que permite iluminar melhor a fé. É isto uma abertura à inculturação como estratégia teológica?
Depois deste elenco de “parceiros”, o documento faz apelo ao discernimento. “O derradeiro princípio normativo para esse discernimento é a doutrina revelada, que deve fornecer os critérios para a avaliação desses elementos e as ferramentas conceptuais e não vice versa.”
Aqui valia a pena recordar MIDALI (Teologia prattica) e aquelas longas (e confusas) páginas que estudámos no 2º ciclo sobre modelo ancilar, interdiciplinar, multidisciplinar… de relação entre a teologia e os outros saberes.
O texto de Clodovis BOFF (Teologia da Libertação e volta ao fundamento) pode ser interessante para perceber de que é que se trata aqui.
O nº11 coloca o teólogo no centro do PD. Ele é membro do PD e está aí para ajudar a sua comunidade. O teólogo não é um “cientista louco” que, individualisticamente, vai fazendo o que quer. E é nesse contexto de uma comunidade de fé que aparecem as questões da liberdade de investigação e da dificuldade que o PD pode ter em acolher as novas propostas.
O nº12 volta à liberdade de investigação.
Gosto da maneira como estes 2 números abordam a questão da liberdade de investigação. Por vezes ouvem-se críticas à suposta falta de liberdade dos teólogos. Como se a liberdade dos investigadores em qualquer campo não fosse também uma liberdade negociada com os outros players (a academia, os interesses dos financiadores, os processos endogâmicos de peer-review…)
...Daqui a pouco vem o resto
Deixo aqui uma síntese misturada com alguns comentários.
Introdução
O conceito de verdade é essencial à condição humana. Dom de Deus, liberta-nos da servidão e da alienação. Vai ser constante este colocar a “verdade” como factor de humanização e de divinização.
A teologia vai aparecer como ferramenta necessária à Igreja para que a revelação possa ser plenamente acolhida na nossa condição humana (de seres racionais, buscadores da verdade).
1 – A verdade, dom de Deus ao seu povo
“A verdade possui em si mesma uma força unificadora” (3). Quer dos homens em relação uns com os outros, quer da humanidade para com Deus.
Esta dimensão “social” da verdade revelada aparece quando se recorda que a totalidade do Povo de Deus recebeu a revelação de Deus
2 – A vocação do teólogo
Na sequência da reflexão sobre o PD (Povo de Deus), surge uma vocação: o teólogo. O seu papel é procurar um sempre maior entendimento da palavra de Deus. Este serviço é feito em comunhão com o Magistério.
Neste momento (nº 6) já temos introduzidos os vários participantes: Deus, humanidade, Igreja, teólogos, magistério.
A 2ª parte do nº 6 acentua a relação entre a verdade revelada e a razão humana. “A ciência teológica responde ao convite da verdade à medida que procura entender a fé”. E nesse empenho serve o PD.
Ou seja, o serviço teológico nasce do dinamismo da própria fé (nº 7). Não é uma concessão que a fé faria à razão. Nem é uma instância avaliativa da fé.
A 2ª parte do nº7 coloca a teologia em perspectiva pastoral, como contributo para que a fé possa ser comunicada. Neste ponto aparece o amor. Lendo hoje esta instrução, depois da encíclica Deus caritas fica fácil entender esta referência.
O teólogo não é um analista frio, distanciado da matéria que estuda. Estudando Deus e a sua revelação, ele não pode colocar-se fora do dinamismo de amor que Deus é. Nem pode alhear o seu agir como teólogo da qualidade da sua vida de fé.
É esta qualidade de fé que, equilibrada com as exigências epistemológicas da ciência, evita atitudes críticas ou preconceituosas.
Interessante este referência ao quadro psicológico e motivacional com que se faz teologia.
O nº 10 recorda o Vaticano I e a capacidade humana de reconhecer Deus a partir da sua Criação. A teologia vai servir-se das ferramentas filosóficas e históricas. Diz-se ainda que a “consulta às ciências humanas” é também necessária.
Aqui vale a pena perguntar-se se esta referência às ciências humanas é menorizada. Além disso ela parece ser feita em referência à teologia moral.
A seguir faz-se referência ao diálogo com a cultura, como recurso que permite iluminar melhor a fé. É isto uma abertura à inculturação como estratégia teológica?
Depois deste elenco de “parceiros”, o documento faz apelo ao discernimento. “O derradeiro princípio normativo para esse discernimento é a doutrina revelada, que deve fornecer os critérios para a avaliação desses elementos e as ferramentas conceptuais e não vice versa.”
Aqui valia a pena recordar MIDALI (Teologia prattica) e aquelas longas (e confusas) páginas que estudámos no 2º ciclo sobre modelo ancilar, interdiciplinar, multidisciplinar… de relação entre a teologia e os outros saberes.
O texto de Clodovis BOFF (Teologia da Libertação e volta ao fundamento) pode ser interessante para perceber de que é que se trata aqui.
O nº11 coloca o teólogo no centro do PD. Ele é membro do PD e está aí para ajudar a sua comunidade. O teólogo não é um “cientista louco” que, individualisticamente, vai fazendo o que quer. E é nesse contexto de uma comunidade de fé que aparecem as questões da liberdade de investigação e da dificuldade que o PD pode ter em acolher as novas propostas.
O nº12 volta à liberdade de investigação.
Gosto da maneira como estes 2 números abordam a questão da liberdade de investigação. Por vezes ouvem-se críticas à suposta falta de liberdade dos teólogos. Como se a liberdade dos investigadores em qualquer campo não fosse também uma liberdade negociada com os outros players (a academia, os interesses dos financiadores, os processos endogâmicos de peer-review…)
...Daqui a pouco vem o resto
Status Quaestionis
Cyrille Miyigbena apresentou a sua síntese sobre o papel do Status quaestionis nella ricerca.
Muito sistemático. Entregou a cada um uma folha com a síntese do que dizia.
A forma como lia, sublinhava bem o que lhe interessava ou poderia ser mais discutível.
A lógica da questão é muito simples. Ao iniciar um projecto de investigação tenta-se perceber qual é o estado da investigação sobre o tema (a quaestionis, precisamente). Isso permite identificar correntes, problemas, antecipar possibilidades.
Mormente a nível de doutoramento é essencial para poder começar onde outros terminaram.
Cyrille coloca o SQ entre a definição do problema e a recolha de dados.
Aqui o diálogo no seminário pareceu-me menos conclusivo. Ou seja, a tarefa do SQ acaba por depender do grau de definição do problema de investigação.
Também é verdade que a minha “confusão” pode resultar do meu próprio percurso. Ou seja, nesta altura do campeonato tenho já (ou penso ter) uma definição do problema bastante detalhada (embora não tanto focalizada). E seguir a sequência clássica (dicionários – enciclopédias….) pode parecer pouco útil.
Outra dificuldade que pode haver na minha percepção da prestação de Cyrille é a dependência dele em relação às fontes clássicas de metodologia daqui da UPS (Farina, PRELEZZO-GARCIA). São textos que li e que me ajudaram no 2º ciclo (o de Farina lembro-me de o usar logo na filosofia). Se calhar talvez fosse bom relê-los numa perspectiva de 3º ciclo.
Muito sistemático. Entregou a cada um uma folha com a síntese do que dizia.
A forma como lia, sublinhava bem o que lhe interessava ou poderia ser mais discutível.
A lógica da questão é muito simples. Ao iniciar um projecto de investigação tenta-se perceber qual é o estado da investigação sobre o tema (a quaestionis, precisamente). Isso permite identificar correntes, problemas, antecipar possibilidades.
Mormente a nível de doutoramento é essencial para poder começar onde outros terminaram.
Cyrille coloca o SQ entre a definição do problema e a recolha de dados.
Aqui o diálogo no seminário pareceu-me menos conclusivo. Ou seja, a tarefa do SQ acaba por depender do grau de definição do problema de investigação.
Também é verdade que a minha “confusão” pode resultar do meu próprio percurso. Ou seja, nesta altura do campeonato tenho já (ou penso ter) uma definição do problema bastante detalhada (embora não tanto focalizada). E seguir a sequência clássica (dicionários – enciclopédias….) pode parecer pouco útil.
Outra dificuldade que pode haver na minha percepção da prestação de Cyrille é a dependência dele em relação às fontes clássicas de metodologia daqui da UPS (Farina, PRELEZZO-GARCIA). São textos que li e que me ajudaram no 2º ciclo (o de Farina lembro-me de o usar logo na filosofia). Se calhar talvez fosse bom relê-los numa perspectiva de 3º ciclo.
2009/02/23
Que maturidade de fé?
Um dos livros que li este fim de semana foi Catéchèse et maturité de la foi de Giguère.
O título interessava-me. A colocação inicial entusiasmou-me.
O homem chama a atenção para o facto de um conceito tão nuclear à catequese como maturidade estar tão mal definido e tão pouco operacionalizado.
E eu com os meus botões: era disto mesmo que eu andava à procura para dar um pontapé de arranque à tese!
Pois...
o autor faz um levantamento dos vários significados e conteúdos atribuídos ao conceito. mas já aí a coisa me parece um pouco superficial. Cita uma série de autores que conheço (daqui da UPS) mas parece-me pouco sistemático.
Vai optar pela maturidade de fé entendida como universal humano.
Cita a visão de Alberich (que apresentei na CATEQUISTAS de Fevereiro) e tenta apontar-lhe os limites. Segundo ele, o problema de Alberich é deixar-se limitar por uma visão religiosa católica de maturidade. Para o autor, é preciso deixar isso de lado e procurar um conceito mais alargado, mais humanista.
Bom... nesta altura do campeonato eu já estou a magicar: tudo isso é legítimo, mas a que propósito é que ele mete aqui a catequese? Se o homem procura uma teoria da maturidade universal, porque raio é que não o assume e insiste em vender o livro como coisa de catequética?
A verdade é que ele é coerente. Para quem não sabe, Giguère tem um livro dos anos 90 sobre a fé adulta que fez um certo sucesso (dentro deste nicho); ele diz que é preciso abandonar tudo isso.
é evidente que uma visºao diferenciada da realidade da fé não aparece aqui. A possibilidade de uma experiência de conversão poder lançar o sujeito em possibilidades novas também não.
Nisto tudo.. não cheguei ao fim do livro.
É evidente que se trabalhar nesta área vou ter de o comprar e ler e riscar todo. mas para já, já deu para perceber a música do artista.
Se alguém tiver por aí uma recensão ou comentário ao livro, envie sff. Pode ser que eu tenha lido mal o livro.
O título interessava-me. A colocação inicial entusiasmou-me.
O homem chama a atenção para o facto de um conceito tão nuclear à catequese como maturidade estar tão mal definido e tão pouco operacionalizado.
E eu com os meus botões: era disto mesmo que eu andava à procura para dar um pontapé de arranque à tese!
Pois...
o autor faz um levantamento dos vários significados e conteúdos atribuídos ao conceito. mas já aí a coisa me parece um pouco superficial. Cita uma série de autores que conheço (daqui da UPS) mas parece-me pouco sistemático.
Vai optar pela maturidade de fé entendida como universal humano.
Cita a visão de Alberich (que apresentei na CATEQUISTAS de Fevereiro) e tenta apontar-lhe os limites. Segundo ele, o problema de Alberich é deixar-se limitar por uma visão religiosa católica de maturidade. Para o autor, é preciso deixar isso de lado e procurar um conceito mais alargado, mais humanista.
Bom... nesta altura do campeonato eu já estou a magicar: tudo isso é legítimo, mas a que propósito é que ele mete aqui a catequese? Se o homem procura uma teoria da maturidade universal, porque raio é que não o assume e insiste em vender o livro como coisa de catequética?
A verdade é que ele é coerente. Para quem não sabe, Giguère tem um livro dos anos 90 sobre a fé adulta que fez um certo sucesso (dentro deste nicho); ele diz que é preciso abandonar tudo isso.
é evidente que uma visºao diferenciada da realidade da fé não aparece aqui. A possibilidade de uma experiência de conversão poder lançar o sujeito em possibilidades novas também não.
Nisto tudo.. não cheguei ao fim do livro.
É evidente que se trabalhar nesta área vou ter de o comprar e ler e riscar todo. mas para já, já deu para perceber a música do artista.
Se alguém tiver por aí uma recensão ou comentário ao livro, envie sff. Pode ser que eu tenha lido mal o livro.
Iniciação cristã: entre 2 fogos?
Para lá das confusões de tipo histórico-documental (que dificultam perceber claramente o que se diz quando usamos a expressão IC) há hoje duas perspectivas para abordar a IC. Estas duas perspectivas partem de pontos de vista dificilmente harmonizáveis: catequético-pedagógico (onde claramente estou eu) e teológico-litúrgica.
Isto pode parecer um debate meio esotérico e inútil. Mas a verdade é que acaba por condicionar bastante a práxis da catequese. ainda que inconscientemente, muitos dos debates que acontecem a nível local, acabam por derivar daqui.
Perspectiva pedagógico-catequética
Gevaert sintetizou muito bem esta posição:
Usa-se o termo IC para indicar o processo de formação ou de crescimento, suficientemente amplo no tempo e devidamente articulado, constituído por elementos catequéticos, litúrgico-sacramentais, comunitários e comportamentais que é indispensável para uma pessoa poder participar com escolhe livre e adequada mentalidade na fé e na vida cristã.
Esta abordagem usa um conceito global de IC e integra todos os elementos em presença. Não basta o sacramento para fazer automaticamente o cristão; mas é precisa a conversão e a fé em JC, como pressupostos indispensáveis para receber os sacramentos que incorporam em Cristo e na Igreja.
Segundo este modelo (ou melhor segundo Gevaert e uns tantos outros, entre os quais eu) a IC não dura toda a vida cristã. Nem se confunde com a maturidade. A IC é apenas o processo pelo qual alguém começa a ser cristão.
Perspectiva teológico-litúrgica
Esta perspectiva reclama o papel determinante para os sacramentos. São os sacramentos que iniciam, que inauguram a nova existência cristã, na medida em que introduzem a pessoa na Páscoa de Cristo.
Quero aprofundar, daqui por uns dias, as possíveis pontes entre estas duas perspectivas.
Mas era importante recordar um dos grandes padres da antiguidade: S. Basílio Magno.
Primeiro é preciso tornar-se discípulo do Senhor e, depois, ser admitido ao Baptismo.
Quem fala assim não é gago!
Isto pode parecer um debate meio esotérico e inútil. Mas a verdade é que acaba por condicionar bastante a práxis da catequese. ainda que inconscientemente, muitos dos debates que acontecem a nível local, acabam por derivar daqui.
Perspectiva pedagógico-catequética
Gevaert sintetizou muito bem esta posição:
Usa-se o termo IC para indicar o processo de formação ou de crescimento, suficientemente amplo no tempo e devidamente articulado, constituído por elementos catequéticos, litúrgico-sacramentais, comunitários e comportamentais que é indispensável para uma pessoa poder participar com escolhe livre e adequada mentalidade na fé e na vida cristã.
Esta abordagem usa um conceito global de IC e integra todos os elementos em presença. Não basta o sacramento para fazer automaticamente o cristão; mas é precisa a conversão e a fé em JC, como pressupostos indispensáveis para receber os sacramentos que incorporam em Cristo e na Igreja.
Segundo este modelo (ou melhor segundo Gevaert e uns tantos outros, entre os quais eu) a IC não dura toda a vida cristã. Nem se confunde com a maturidade. A IC é apenas o processo pelo qual alguém começa a ser cristão.
Perspectiva teológico-litúrgica
Esta perspectiva reclama o papel determinante para os sacramentos. São os sacramentos que iniciam, que inauguram a nova existência cristã, na medida em que introduzem a pessoa na Páscoa de Cristo.
Quero aprofundar, daqui por uns dias, as possíveis pontes entre estas duas perspectivas.
Mas era importante recordar um dos grandes padres da antiguidade: S. Basílio Magno.
Primeiro é preciso tornar-se discípulo do Senhor e, depois, ser admitido ao Baptismo.
Quem fala assim não é gago!
2009/02/21
150 anos
Aqui na universidade há hoje, todo o dia, um convénio sobre os 150 anos da fundação da congregação salesiana.
o Auditório está cheio. Muita gente de fora.
O programa:
Dom Bosco, fundador da soc. salesiana: o contexto histórico. Casella.
O tortuoso caminho para a aprovação das constituições. Motto
Aspectos jurídico-canónicos. Graulich
Os salesianos como religiosos-educadores: figuras e papéis no interior da comunidade salesiana. Bordignon
o Auditório está cheio. Muita gente de fora.
O programa:
Dom Bosco, fundador da soc. salesiana: o contexto histórico. Casella.
O tortuoso caminho para a aprovação das constituições. Motto
Aspectos jurídico-canónicos. Graulich
Os salesianos como religiosos-educadores: figuras e papéis no interior da comunidade salesiana. Bordignon
2009/02/19
Iniciação cristã: formação profissional?
Comecei a ler uma compilação de textos sobre a IC: Diventare cristiani. L'iniziazione cristiana tra problemi e ricerca di nuove vie
O primeiro é de benzi: Il radicamento neotestamentario dell'iniziazione cristiana. Il discorso de Pietro a Pentecoste (Atti 2, 14-41)
A certa altura o caramelo diz que a IC não tem nada que ver com o mundo da antropologia cultural: "não se trata de uma 'iniciação' tribal, mágica ou religiosa: estes itinerários de iniciação são normalmente percusos feitos em etapas, com provas que pedem uma separação ou uma agregação e culminam numa condenação à morte simbólica da personalidade do iniciado para reencontrar uma nova identidade pessoal e social."
Continua ele a dizer que a Inic. que a Igreja propõe pode ser comparada à do artesão em relação com o seu aprendiz.
Não sei onde é que ele foi buscar essa ideia. De facto nos rituais da IC estão todos aqueles elementos da iniciação social.
Aliás, um texto de CASPANI Pierpaolo (Il ripristino del catecumenato nei documenti del Vaticano II) cita, das actas do concílio essa referência à antroloplogia cultural.
A redução da IC à aquisição de um saber parece-me muito pobre. Foi das primeiras vezes que encontrei esta ideia. Vou tentar perceber se há mais gente com essa ideia.
Claro que é preciso entender a IC como iniciação secundária, aquela que acontece numa sociedade complexa. mas isso fica para depois.
O primeiro é de benzi: Il radicamento neotestamentario dell'iniziazione cristiana. Il discorso de Pietro a Pentecoste (Atti 2, 14-41)
A certa altura o caramelo diz que a IC não tem nada que ver com o mundo da antropologia cultural: "não se trata de uma 'iniciação' tribal, mágica ou religiosa: estes itinerários de iniciação são normalmente percusos feitos em etapas, com provas que pedem uma separação ou uma agregação e culminam numa condenação à morte simbólica da personalidade do iniciado para reencontrar uma nova identidade pessoal e social."
Continua ele a dizer que a Inic. que a Igreja propõe pode ser comparada à do artesão em relação com o seu aprendiz.
Não sei onde é que ele foi buscar essa ideia. De facto nos rituais da IC estão todos aqueles elementos da iniciação social.
Aliás, um texto de CASPANI Pierpaolo (Il ripristino del catecumenato nei documenti del Vaticano II) cita, das actas do concílio essa referência à antroloplogia cultural.
A redução da IC à aquisição de um saber parece-me muito pobre. Foi das primeiras vezes que encontrei esta ideia. Vou tentar perceber se há mais gente com essa ideia.
Claro que é preciso entender a IC como iniciação secundária, aquela que acontece numa sociedade complexa. mas isso fica para depois.
2009/02/18
Iniciação cristã: terminologia
Estou a assistir às aulas de Ubaldo Montisci, como ouvinte (Libero uditore) no curso de Iniciação cristã e catecumenato. É um curso que já fiz, no mestrado, com Cyril deSousa. Mas como o tema me interessa quero aproveitar o tempo para me deixar estimular.
Hoje foi a 1ª aula a sério. A IC no processo da evangelização.
E as questões de nomes estiveram muito presentes. Evangelização, missão, IC, catequese… Está claro que muita da nossa confusão nasce da confusão dos próprios documentos.
Segundo Monstisci há duas grandes correntes terminológicas. A primeira vem do decreto conciliar Ad Gentes. Segundo este documento a acção missionária da Igreja tem 4 momentos: a) Testemunho de vida, diálogo, presença da caridade; >> b) Evangelização e a conversão; >> c) Catecumenato e iniciação cristã; >> d) Formação da comunidade cristã.
A Evangelização aparece aqui como um momento específico do processo.
Esta visão influencia a terminologia e a abordagem do Directório Catequístico geral (1971) e do RICA.
A segunda corrente nasce com a Evangelii Nuntiandi, de Paulo VI (1975). A Evangelização seria o conjunto de todas as acções eclesiais.
Esta perspectiva é retomada pelo Directório geral de catequese (1997).
Alguém se pergunta qual o interesse destas questões terminológicas. Em primeiro lugar dar qualidade à comunicação entre nós. E também reconhecer que o debate sobre os termos é muitas vezes consequência de um debate pastoral e teológico.
O Documento da CEP Para que acreditem e tenham vida, sem ser completamente claro na terminologia, pode ajudar-nos. Este documento procura “a contextualização da catequese na evangelização, requerida pelas Exortações Evangelii Nuntiandi e Catechesi Tradendae;” (nº 1), entre outras coisas.
É algo confuso em alguns aspectos.
A frase “A catequese situa-se nesta linha. Tem em vista transmitir a Palavra de Deus que revela o Seu desígnio de salvação realizado em Jesus Cristo de modo a despertar a fé e a conversão ao Senhor e a viver em comunhão com Ele (CT 5 e 6).” (nº 2) parece não distinguir entre catequese e despertar da fé. Mas antes (Chegam muitas crianças à catequese sem os rudimentos de vida cristã, a necessitar do despertar da fé) (nº 1) catequese e despertar da fé parecem ser realidades distintas.
Mais adiante volta a distinção: “comunicar a revelação de modo a despertar e solidificar a fé é a tarefa fundamental das comunidades cristãs. Dentro desta tarefa tem um lugar relevante a catequese.” A catequese parece ser parte, um momento, de um processo mais amplo.
Em 2b elencam-se várias aberturas à fé, entre as quais o despertar da fé. Mas a distinção fica clara com “Porém, nenhuma destas vias dispensa o aprofundamento da fé.”
A ideia de processo aparece também no nº 3: “Não podemos à partida pressupor a fé. Torna-se necessário despertá-la no coração das pessoas, converter os baptizados que não conhecem ou não praticam o cristianismo, levar o evangelho aos afastados. É preciso começar a evangelizar pelo princípio, pôr em prática uma nova evangelização.”
Neste sentido nova evangelização teria o sentido de evangelização inicial.
Esta ideia da evangelização como um processo plural continua: “a evangelização precisa de ser entendida como um processo que integra vários momentos com uma sequência própria”. Claramente, a catequese é relacionada com o todo da evangelização: “A catequese é um momento do processo de evangelização: tem uma etapa anterior que a prepara e precisa de ter continuação.”
Assumindo a inspiração na EN, o documento da CEP identifica 5 momentos para esta evangelização:
1. Presença e acolhimento;
2. Primeiro anúncio
3. Catequese (“que solidifica e faz amadurecer o primeiro anúncio”)
4. Comunidade cristã e sacramentos
5. Comunidade cristã e testemunho
Outro termo que também aparece é iniciação cristã. Aliás, o nº 4 tem por título “Catequese e Iniciação Cristã”. Só que não é dada nunca uma definição (ou descrição sustentada). Diz-se que a IC é “uma fase fundamental em que se lançam os alicerces da vida cristã e que, portanto, condiciona o edifício futuro da fé”.
Na verdade, não se diz muito. A seguir, descreve-se a IC, de forma algo redutiva: “Iniciação consiste na incorporação gradual e progressiva no mistério de Cristo e da Igreja, através dos três sacramentos da iniciação cristã- Baptismo, Confirmação e Eucaristia- e da aprendizagem e treino nas várias dimensões da fé: conhecimento do essencial do mistério cristão; celebração da fé na Eucaristia e nos sacramentos; união com o Senhor na oração; prática do Evangelho na caridade e no serviço.”
Ou seja, avançam-se alguns conteúdos mas não se aborda o específico do paradigma iniciação em relação com outros paradigmas: socialização, instrução…
Hoje foi a 1ª aula a sério. A IC no processo da evangelização.
E as questões de nomes estiveram muito presentes. Evangelização, missão, IC, catequese… Está claro que muita da nossa confusão nasce da confusão dos próprios documentos.
Segundo Monstisci há duas grandes correntes terminológicas. A primeira vem do decreto conciliar Ad Gentes. Segundo este documento a acção missionária da Igreja tem 4 momentos: a) Testemunho de vida, diálogo, presença da caridade; >> b) Evangelização e a conversão; >> c) Catecumenato e iniciação cristã; >> d) Formação da comunidade cristã.
A Evangelização aparece aqui como um momento específico do processo.
Esta visão influencia a terminologia e a abordagem do Directório Catequístico geral (1971) e do RICA.
A segunda corrente nasce com a Evangelii Nuntiandi, de Paulo VI (1975). A Evangelização seria o conjunto de todas as acções eclesiais.
Esta perspectiva é retomada pelo Directório geral de catequese (1997).
Alguém se pergunta qual o interesse destas questões terminológicas. Em primeiro lugar dar qualidade à comunicação entre nós. E também reconhecer que o debate sobre os termos é muitas vezes consequência de um debate pastoral e teológico.
O Documento da CEP Para que acreditem e tenham vida, sem ser completamente claro na terminologia, pode ajudar-nos. Este documento procura “a contextualização da catequese na evangelização, requerida pelas Exortações Evangelii Nuntiandi e Catechesi Tradendae;” (nº 1), entre outras coisas.
É algo confuso em alguns aspectos.
A frase “A catequese situa-se nesta linha. Tem em vista transmitir a Palavra de Deus que revela o Seu desígnio de salvação realizado em Jesus Cristo de modo a despertar a fé e a conversão ao Senhor e a viver em comunhão com Ele (CT 5 e 6).” (nº 2) parece não distinguir entre catequese e despertar da fé. Mas antes (Chegam muitas crianças à catequese sem os rudimentos de vida cristã, a necessitar do despertar da fé) (nº 1) catequese e despertar da fé parecem ser realidades distintas.
Mais adiante volta a distinção: “comunicar a revelação de modo a despertar e solidificar a fé é a tarefa fundamental das comunidades cristãs. Dentro desta tarefa tem um lugar relevante a catequese.” A catequese parece ser parte, um momento, de um processo mais amplo.
Em 2b elencam-se várias aberturas à fé, entre as quais o despertar da fé. Mas a distinção fica clara com “Porém, nenhuma destas vias dispensa o aprofundamento da fé.”
A ideia de processo aparece também no nº 3: “Não podemos à partida pressupor a fé. Torna-se necessário despertá-la no coração das pessoas, converter os baptizados que não conhecem ou não praticam o cristianismo, levar o evangelho aos afastados. É preciso começar a evangelizar pelo princípio, pôr em prática uma nova evangelização.”
Neste sentido nova evangelização teria o sentido de evangelização inicial.
Esta ideia da evangelização como um processo plural continua: “a evangelização precisa de ser entendida como um processo que integra vários momentos com uma sequência própria”. Claramente, a catequese é relacionada com o todo da evangelização: “A catequese é um momento do processo de evangelização: tem uma etapa anterior que a prepara e precisa de ter continuação.”
Assumindo a inspiração na EN, o documento da CEP identifica 5 momentos para esta evangelização:
1. Presença e acolhimento;
2. Primeiro anúncio
3. Catequese (“que solidifica e faz amadurecer o primeiro anúncio”)
4. Comunidade cristã e sacramentos
5. Comunidade cristã e testemunho
Outro termo que também aparece é iniciação cristã. Aliás, o nº 4 tem por título “Catequese e Iniciação Cristã”. Só que não é dada nunca uma definição (ou descrição sustentada). Diz-se que a IC é “uma fase fundamental em que se lançam os alicerces da vida cristã e que, portanto, condiciona o edifício futuro da fé”.
Na verdade, não se diz muito. A seguir, descreve-se a IC, de forma algo redutiva: “Iniciação consiste na incorporação gradual e progressiva no mistério de Cristo e da Igreja, através dos três sacramentos da iniciação cristã- Baptismo, Confirmação e Eucaristia- e da aprendizagem e treino nas várias dimensões da fé: conhecimento do essencial do mistério cristão; celebração da fé na Eucaristia e nos sacramentos; união com o Senhor na oração; prática do Evangelho na caridade e no serviço.”
Ou seja, avançam-se alguns conteúdos mas não se aborda o específico do paradigma iniciação em relação com outros paradigmas: socialização, instrução…
2009/02/17
Iniciação cristã e pós-moderniade
Declaração de interesses: sou fã do conceito e da prática da Iniciação cristã.
Mas já percebi que IC se está a tornar uma daquelas expressões de moda onde cada um mete os conteúdos que quer. Supostamente o projecto catequético português também está inspirado numa lógica de IC. Pois... um exemplo típico de mudar o nome para deixar tudo o resto na mesma.
Mas para lá destes apartes, talvez valha a pena pensar a sério sobre as condições de implementação de uma prática consistente de IC.
Nas sociedades tradicionais, a Iniciação permite o acesso a um grupo sedimentado, com uma cultura definida, com uma identidade clara. Ora essa clareza de identidade pode ser hoje reproposta hoje, neste contexto pós-moderno?
É certo que a IC não surgiu numa sociedade tradicional mas num mundo socialmente bastante complexo como o império romano. Por isso alguns falam duma iniciação secundária. Não se tratava de integrar a "sociedade" mas um grupo específico (até com algo de marginal) dentro de uma sociedade plural e contraditória. O que tem bastantes semelhanças com o nosso contexto.
Mas, por outro lado, há uma tendência a ver a IC como um processo em que de um lado está uma instituição pesada, com um pacote identitário (o depositum fidei) e do outro estaria um sujeito passivo, que se conformaao que lhe é dado.
Não é preciso ter dois dedos de testa para perceber que isso hoje não pode funcionar. Educativamente. mas também teologicamente. Porque anula o carácter dialógico da revelação
Mas já percebi que IC se está a tornar uma daquelas expressões de moda onde cada um mete os conteúdos que quer. Supostamente o projecto catequético português também está inspirado numa lógica de IC. Pois... um exemplo típico de mudar o nome para deixar tudo o resto na mesma.
Mas para lá destes apartes, talvez valha a pena pensar a sério sobre as condições de implementação de uma prática consistente de IC.
Nas sociedades tradicionais, a Iniciação permite o acesso a um grupo sedimentado, com uma cultura definida, com uma identidade clara. Ora essa clareza de identidade pode ser hoje reproposta hoje, neste contexto pós-moderno?
É certo que a IC não surgiu numa sociedade tradicional mas num mundo socialmente bastante complexo como o império romano. Por isso alguns falam duma iniciação secundária. Não se tratava de integrar a "sociedade" mas um grupo específico (até com algo de marginal) dentro de uma sociedade plural e contraditória. O que tem bastantes semelhanças com o nosso contexto.
Mas, por outro lado, há uma tendência a ver a IC como um processo em que de um lado está uma instituição pesada, com um pacote identitário (o depositum fidei) e do outro estaria um sujeito passivo, que se conformaao que lhe é dado.
Não é preciso ter dois dedos de testa para perceber que isso hoje não pode funcionar. Educativamente. mas também teologicamente. Porque anula o carácter dialógico da revelação
2009/02/15
Género e religião
Uma das coisas que li este fim de semana foi:
FREATHY R.J.K., Gender, age, attendance at a place of worship and young people'se attitudes towards the Bible, Journal of Beliefs & Values (2006).
Faz uma síntese de uma investigação feita em Inglaterra sobre o uso da Bíblia com adolescentes. O estudo parece muito inconclusivo. Mas o interessante é a recolha de bibliografia.
A certa altura há um apartado sobre género de diferenças de atitude. O tema é importante porque todos os estudos feitos em contexto cristão ou pós-cristão mostram diferenças entre homens e mulheres. A que se deve isso? 5 hipótese.
1. Socialização dos papéis sexuais. Homens e mulheres são educados de forma diferente, com ideias e valores diferentes. O que os leva a ser mais ou menos religiosos.
2. Localização estrutural. As mulheres vêm-se a si mesmas como modelos religiosos para os seus filhos. Ou a sua gestão de tempo de trabalho permite-lhes mais oportunidades para desenvolver a dimensão religiosa.
3. orientação de género. A orientação masculina ou feminina da personalidade, mais do que o sexo, afecta o comportamento religioso.
4. Profundidade psicológica. As diferentes respostas religiosas em termos de género podem ser explicadas pela diferenciada resposta à figura paterna; as mulheres seriam mais próximas aos seus pais do que os homens.
5. Personalidade. As diferenças de personalidade entre homens e mulheres em áreas indirectamente relacionadas com a religião afecta o comportamento religioso.
É evidente que isto dá pano para mangas. Mas o que impressiona mesmo é como disto não se fala. Nem se pode falar!
FREATHY R.J.K., Gender, age, attendance at a place of worship and young people'se attitudes towards the Bible, Journal of Beliefs & Values (2006).
Faz uma síntese de uma investigação feita em Inglaterra sobre o uso da Bíblia com adolescentes. O estudo parece muito inconclusivo. Mas o interessante é a recolha de bibliografia.
A certa altura há um apartado sobre género de diferenças de atitude. O tema é importante porque todos os estudos feitos em contexto cristão ou pós-cristão mostram diferenças entre homens e mulheres. A que se deve isso? 5 hipótese.
1. Socialização dos papéis sexuais. Homens e mulheres são educados de forma diferente, com ideias e valores diferentes. O que os leva a ser mais ou menos religiosos.
2. Localização estrutural. As mulheres vêm-se a si mesmas como modelos religiosos para os seus filhos. Ou a sua gestão de tempo de trabalho permite-lhes mais oportunidades para desenvolver a dimensão religiosa.
3. orientação de género. A orientação masculina ou feminina da personalidade, mais do que o sexo, afecta o comportamento religioso.
4. Profundidade psicológica. As diferentes respostas religiosas em termos de género podem ser explicadas pela diferenciada resposta à figura paterna; as mulheres seriam mais próximas aos seus pais do que os homens.
5. Personalidade. As diferenças de personalidade entre homens e mulheres em áreas indirectamente relacionadas com a religião afecta o comportamento religioso.
É evidente que isto dá pano para mangas. Mas o que impressiona mesmo é como disto não se fala. Nem se pode falar!
2009/02/13
Iniciação cristã: continuidade e ruptura
Quem tem acompanhado as minhas intervenções (formação, revista Catequistas) sabe que sou fã do modelo da Iniciação cristã. Por tantas razões.
Vou-me é apercebendo que a expressão "Iniciação Cristã" significa coisas muito diferentes para pessoas diferentes.
Para mim, a IC tem um carácter fortemente digital, discreto. No sentido em que a progressão do candidato não ocorre de forma linear, contínua, analógica. Mas se dá, em alguns momentos, por saltos, por rupturas. A experiência de Paulo a caminho de Damasco é exemplo disso. Há um antes e um depois.
A que propósito vem isto?
De um artigo de LEIJSSEN Lambert, Les rites de passage dans un contexte postmoderne. L'inversion de la domande et de l'offre, Questions liturgiques 88 (2007).
Mais uma vez é um liturgista. O título do artigo atraiu-me. mas fiquei algo desiludido.
Ele tenta explicar que no contexto pós-moderno a prática dos ritais de passagem se altera. so what?
O que me chama a atenção é que ele não consegue tematizar os sacramentos em si mesmos, como rituais de uma comunidade iniciada. O problema seria apenas como celebrar com gente que tem uma adesão muito débil à fé.
A certa altura ele identifica esses potenciais consumidores de ritos, com a tal fé tão frágil, com os pobres, os indigentes, os doentes. A conclusão, para ele é óbvia. Para não atraiçoarmos a prática de Cristo, a Igreja tem de se adaptar e ir ao seu encontro.
E é aqui que o problema não é catequético nem litúrgico mas dogmático.
O que a crise de pertença eclesial que a laicização da modernidade provocou e que a pós-modernidade agudizou é que nem todos são cristãos. E nós até reconhecemos que a misericórdia de Deus é imensa. O Reino é maior do que a Igreja. O principal é o Reino. a Igreja é apenas a porção auto-consciente do Reino que está no mundo para fazer crescer o Reino.
E é preciso aceitar isso até ao fim. Para lá da Igreja, dos seus ritos, há muita vida. E vida valiosa aos olhos de Deus. Que não deve ser eclesializada à força!
As pessoas na sua não-fé, na sua busca de fé, nas suas hesitações e contradições devem ser respeitadas naquilo que são e naquilo em que acreditam. Claro que as devemos evangelizar, promover o diálogo. Mas condição essencial do diálogo é o respeito pela diferença.
Se as pessoas que se vão casar têm alguma fé ao ponto de querer sacralizar a sua relação de algum modo (com todas as dificuldades de expressão que tenham) a Igreja deve ir ao encontro disso propondo ritualidades consistentes com "isso" que está em causa E se não há fé suficiente para assumirem o sacramento-matrimónio full-scale, iso deve ser respeitado.
No fundo, continua a tentar reeditar-se o regime de cristandade. E alguns acreditam que para o conseguir, neste contexto de pós-modernidade com as suas pertenças e convicções débeis, a Igreja deveria tornar-se um camaleão, disposta a oferecer a cada um aquilo que ele quer. Ou seja que, de algum modo já detém. Ou seja, a não oferecer nada.
Obrigado mas não vou nisso
Vou-me é apercebendo que a expressão "Iniciação Cristã" significa coisas muito diferentes para pessoas diferentes.
Para mim, a IC tem um carácter fortemente digital, discreto. No sentido em que a progressão do candidato não ocorre de forma linear, contínua, analógica. Mas se dá, em alguns momentos, por saltos, por rupturas. A experiência de Paulo a caminho de Damasco é exemplo disso. Há um antes e um depois.
A que propósito vem isto?
De um artigo de LEIJSSEN Lambert, Les rites de passage dans un contexte postmoderne. L'inversion de la domande et de l'offre, Questions liturgiques 88 (2007).
Mais uma vez é um liturgista. O título do artigo atraiu-me. mas fiquei algo desiludido.
Ele tenta explicar que no contexto pós-moderno a prática dos ritais de passagem se altera. so what?
O que me chama a atenção é que ele não consegue tematizar os sacramentos em si mesmos, como rituais de uma comunidade iniciada. O problema seria apenas como celebrar com gente que tem uma adesão muito débil à fé.
A certa altura ele identifica esses potenciais consumidores de ritos, com a tal fé tão frágil, com os pobres, os indigentes, os doentes. A conclusão, para ele é óbvia. Para não atraiçoarmos a prática de Cristo, a Igreja tem de se adaptar e ir ao seu encontro.
E é aqui que o problema não é catequético nem litúrgico mas dogmático.
O que a crise de pertença eclesial que a laicização da modernidade provocou e que a pós-modernidade agudizou é que nem todos são cristãos. E nós até reconhecemos que a misericórdia de Deus é imensa. O Reino é maior do que a Igreja. O principal é o Reino. a Igreja é apenas a porção auto-consciente do Reino que está no mundo para fazer crescer o Reino.
E é preciso aceitar isso até ao fim. Para lá da Igreja, dos seus ritos, há muita vida. E vida valiosa aos olhos de Deus. Que não deve ser eclesializada à força!
As pessoas na sua não-fé, na sua busca de fé, nas suas hesitações e contradições devem ser respeitadas naquilo que são e naquilo em que acreditam. Claro que as devemos evangelizar, promover o diálogo. Mas condição essencial do diálogo é o respeito pela diferença.
Se as pessoas que se vão casar têm alguma fé ao ponto de querer sacralizar a sua relação de algum modo (com todas as dificuldades de expressão que tenham) a Igreja deve ir ao encontro disso propondo ritualidades consistentes com "isso" que está em causa E se não há fé suficiente para assumirem o sacramento-matrimónio full-scale, iso deve ser respeitado.
No fundo, continua a tentar reeditar-se o regime de cristandade. E alguns acreditam que para o conseguir, neste contexto de pós-modernidade com as suas pertenças e convicções débeis, a Igreja deveria tornar-se um camaleão, disposta a oferecer a cada um aquilo que ele quer. Ou seja que, de algum modo já detém. Ou seja, a não oferecer nada.
Obrigado mas não vou nisso
Giguère
Hoje encontrei meio por acaso um artigo de P.A. guiguère que me poderá ajudar no caso de optar pelo tema da maturidade de fé. Maturité de la foi: concept opératoire ou slogan cosmétique? Lumen Vitae (2008)
Não tanto pelo que ele diz mas por confirmar que o tema é importante e está esquecido.
Ele faz o levantamento de uma série de documentos eclesiais onde o tema da maturidade aparece. Há consenso mas ninguém mexe uma palha para o operacionalizar. E eu a pensar que isso só acontecia lá na minha terrinha!-
Para chegar a uma catquese que promove uma maturidade na fé ele pede várias coisas.
1. Centrar-se sobre a iniciativa e acção de Deus -
E não tanto na nossa acção eclesial.
2. Centrar-se no sujeito crente.
Deixar de o ver apenas como destinatário da nossa acção. Não há maturidade sem envolvimento activo do catequizando.
3. Centrar-se na aprendizagem.
Recuperando o esquema tradicional da catequese (Traditio - receptio - redictio) o autor apela à necessidade de superar uma catequese feita de transmissão. é inútil uma renovação metodológica que não supere esse modelo.
4. Um lugar para a espiritualidade.
Catequese com qualidade ajuda a crescer. Não se limita a enunciar conteúdos.
5. Aumentar o conhecimento sobre os processos de maturação.
Ele recorda os contributos de Fowler e Oser. Enretanto superados pelo andar dos anos e pelas mudanças culturais no ocidente.
Não tanto pelo que ele diz mas por confirmar que o tema é importante e está esquecido.
Ele faz o levantamento de uma série de documentos eclesiais onde o tema da maturidade aparece. Há consenso mas ninguém mexe uma palha para o operacionalizar. E eu a pensar que isso só acontecia lá na minha terrinha!-
Para chegar a uma catquese que promove uma maturidade na fé ele pede várias coisas.
1. Centrar-se sobre a iniciativa e acção de Deus -
E não tanto na nossa acção eclesial.
2. Centrar-se no sujeito crente.
Deixar de o ver apenas como destinatário da nossa acção. Não há maturidade sem envolvimento activo do catequizando.
3. Centrar-se na aprendizagem.
Recuperando o esquema tradicional da catequese (Traditio - receptio - redictio) o autor apela à necessidade de superar uma catequese feita de transmissão. é inútil uma renovação metodológica que não supere esse modelo.
4. Um lugar para a espiritualidade.
Catequese com qualidade ajuda a crescer. Não se limita a enunciar conteúdos.
5. Aumentar o conhecimento sobre os processos de maturação.
Ele recorda os contributos de Fowler e Oser. Enretanto superados pelo andar dos anos e pelas mudanças culturais no ocidente.
Christian initiation in early christianity
ROUWHORST Gerard, Christian initiation in early christianity, Questions liturgiques 87(2006).
Bom artigo para perceber melhor o papel actual da IC.
Apesar do título não é um artigo de tipo histórico-arqueológico.
O autor começa por identificar alguns preconceitos históricos da renovação litúrgica do século XX. Segundo ele houve uma série de autores (e essa atitude alargou-se depois a muitos sectores da Igreja) que entenderam a necessária reforma litúrgica como o regresso a uma era dourada de liturgias perfeitas (que seria a Igreja antiga, ou melhor a igreja do século IV).
Ele aponta a este mito da era dourada duas críticas. A 1ª é a dificuldade de historicamente perceber o que se passou. A 2ª é esquecer que as formas litúrgicas dessa tal era dourada funcionavam (? ver a 1ª crítica) num determinado contexto social; se esse contexto social não se repetir hoje, há o risco elevado de não funcionarem hoje.
E este processo que ocorre com toda a liturgia, aplica-se também à recuperação do modelo da IC (Atenção que o autor é essencialmente um liturgista e não um educador-catequeta).
Bom artigo para perceber melhor o papel actual da IC.
Apesar do título não é um artigo de tipo histórico-arqueológico.
O autor começa por identificar alguns preconceitos históricos da renovação litúrgica do século XX. Segundo ele houve uma série de autores (e essa atitude alargou-se depois a muitos sectores da Igreja) que entenderam a necessária reforma litúrgica como o regresso a uma era dourada de liturgias perfeitas (que seria a Igreja antiga, ou melhor a igreja do século IV).
Ele aponta a este mito da era dourada duas críticas. A 1ª é a dificuldade de historicamente perceber o que se passou. A 2ª é esquecer que as formas litúrgicas dessa tal era dourada funcionavam (? ver a 1ª crítica) num determinado contexto social; se esse contexto social não se repetir hoje, há o risco elevado de não funcionarem hoje.
E este processo que ocorre com toda a liturgia, aplica-se também à recuperação do modelo da IC (Atenção que o autor é essencialmente um liturgista e não um educador-catequeta).
2009/02/12
The rcia was the appetizer
ROLL Susan K.'The RCIA was the appetizer'. Ten issues affecting the future of adult christain initiation, Questions Liturgiques, 2006. 87.
Abstract:
A autora, americana, a trabalhar no Canadá levanta 10 desafios que se colocam ao RICA (RCIA em inglês).
O Rica tem uma forte implementação nas paróquias na América do Norte.
Alguns dos desafios são interessantes, outros nascem de uma perspectiva muito ligada ao contexto e outras nascem apenas, parece-me, de falta de entendimento do que é uma iniciação cristã e da ruptura que deve provocar.
1. Que credibilidade tem ainda a Ig. católica como instituição?
Depois das broncas com os padres pedófilos, com os escãndalos financeiros, o problema é sério.
Para as nossas igrejas o problema não se coloca da mesma forma. mas está bem observado que a imagem institucional da Igreja afecta também o percurso de fé dos candidatos.
2. O que acontece quando os potenciais candidatos descobrem que podem enfrentar discriminação e exclusão depois de terem sido iniciados?
Ela identifica 4 tipos de discriminação: a) Divorciados-recasados; b)Papel das mulheres; c) Homossexuais; d) Raciais.
O problema é sério. Num certo sentido anunciamos um jesus que acolhe a todos mas na prática há alguns que são excluídos. Pelo menos é essa a percepção pública. Eu acho que ela não salienta suficientemente o facto de o encontro com Jesus ser capaz de provocar mudanças reais na pessoa. E nos 4 campos de discriminação que ela identifica há diferenças.
Quanto à discriminação racial nada há a dizer: tem de ser eliminada das nossas comunidades e não há mais discussão.
A questão dos divorciados é mais delicada. ela remete para a figura da anulação como estilo católico de gerir o divórcio (o que no vaticano faz muitas cócegas!) O que não faz sentido é gente que não foi iniciada na fé ter acedido a um sacramento vocacional de serviço. Mas isso sou eu e as minhas radicalidades de celibatário.
Na questão das mulheres ela argumenta bem. Embora misture a questão da ordenação das mulheres com a possibilidade das mulheres acederem a vozes de responsabilidade ela argumenta e bem, parece-me, que à raiz do baptismo único em Cristo morto e ressuscitado, não pode haver discriminação de género.
Na questão dos homossexuais ela parece-me pouco crítica. A mim parece-me que de facto a opção por um estilo de vida homossexual é pobre e uma resposta desadequada à presença de Cristo na vida da pessoa.
3. Como é que a Igeja lida com a "hiper-cultura"?
Isto da relação do RICA com a pós-modernidade pedia mais aprofudamento. Cita aqui um artigo de Mark WEDIG que vou tentar ler.
4. Quão grande é o nosso Deus?
Acho que não percebi isto. Ela parece criticar o facto de as comunidades cristãs usarem linguagens e metáforas incompatíveis com a ciência contemporânea. acho que está correcta a atenção purificadora à linguagem que usamos mas será necessário abandonar completamente a linguagem bíblica. O processo de iniciação nºao serve precisamente para habilitar o neófito a uma linguagem e culturas alternativas em relação às dominantes?
5. O mistério pascal está mesmo no centro?
Ela chama e bem a atenção para um certo esquecimento da Páscoa e do seu impacto na vida ressuscitada do cristão. Mas se calhar é isso mesmo que acontece em boa parte do artigo: ela deixa de lado o impacto renovador que com o encontro pascal com Cristo tem na existência.
6. Porquê despedir os catecúmenos depois da liturgia da Palavra?
Questão de tipo mais organizativo. Que ela desenvolve bem em ordem a valorizar o papel que a Palavra de Deus deve ter.
7. RICA: para uma fé nova ou para resolver problemas pessoais
Abstract:
This article is arranged around ten distinct issues divided into three major categories within one large complex topic, the future of adult Christian initiation. The request was to address the Rite of Christian Initiation of Adults specifically from a North American perspective. As an American now serving as a professor at a Canadian pontifical University I have incorporated insights and perspectives from both of these neighboring yet strikingly different countries.
A autora, americana, a trabalhar no Canadá levanta 10 desafios que se colocam ao RICA (RCIA em inglês).
O Rica tem uma forte implementação nas paróquias na América do Norte.
Alguns dos desafios são interessantes, outros nascem de uma perspectiva muito ligada ao contexto e outras nascem apenas, parece-me, de falta de entendimento do que é uma iniciação cristã e da ruptura que deve provocar.
1. Que credibilidade tem ainda a Ig. católica como instituição?
Depois das broncas com os padres pedófilos, com os escãndalos financeiros, o problema é sério.
Para as nossas igrejas o problema não se coloca da mesma forma. mas está bem observado que a imagem institucional da Igreja afecta também o percurso de fé dos candidatos.
2. O que acontece quando os potenciais candidatos descobrem que podem enfrentar discriminação e exclusão depois de terem sido iniciados?
Ela identifica 4 tipos de discriminação: a) Divorciados-recasados; b)Papel das mulheres; c) Homossexuais; d) Raciais.
O problema é sério. Num certo sentido anunciamos um jesus que acolhe a todos mas na prática há alguns que são excluídos. Pelo menos é essa a percepção pública. Eu acho que ela não salienta suficientemente o facto de o encontro com Jesus ser capaz de provocar mudanças reais na pessoa. E nos 4 campos de discriminação que ela identifica há diferenças.
Quanto à discriminação racial nada há a dizer: tem de ser eliminada das nossas comunidades e não há mais discussão.
A questão dos divorciados é mais delicada. ela remete para a figura da anulação como estilo católico de gerir o divórcio (o que no vaticano faz muitas cócegas!) O que não faz sentido é gente que não foi iniciada na fé ter acedido a um sacramento vocacional de serviço. Mas isso sou eu e as minhas radicalidades de celibatário.
Na questão das mulheres ela argumenta bem. Embora misture a questão da ordenação das mulheres com a possibilidade das mulheres acederem a vozes de responsabilidade ela argumenta e bem, parece-me, que à raiz do baptismo único em Cristo morto e ressuscitado, não pode haver discriminação de género.
Na questão dos homossexuais ela parece-me pouco crítica. A mim parece-me que de facto a opção por um estilo de vida homossexual é pobre e uma resposta desadequada à presença de Cristo na vida da pessoa.
3. Como é que a Igeja lida com a "hiper-cultura"?
Isto da relação do RICA com a pós-modernidade pedia mais aprofudamento. Cita aqui um artigo de Mark WEDIG que vou tentar ler.
4. Quão grande é o nosso Deus?
Acho que não percebi isto. Ela parece criticar o facto de as comunidades cristãs usarem linguagens e metáforas incompatíveis com a ciência contemporânea. acho que está correcta a atenção purificadora à linguagem que usamos mas será necessário abandonar completamente a linguagem bíblica. O processo de iniciação nºao serve precisamente para habilitar o neófito a uma linguagem e culturas alternativas em relação às dominantes?
5. O mistério pascal está mesmo no centro?
Ela chama e bem a atenção para um certo esquecimento da Páscoa e do seu impacto na vida ressuscitada do cristão. Mas se calhar é isso mesmo que acontece em boa parte do artigo: ela deixa de lado o impacto renovador que com o encontro pascal com Cristo tem na existência.
6. Porquê despedir os catecúmenos depois da liturgia da Palavra?
Questão de tipo mais organizativo. Que ela desenvolve bem em ordem a valorizar o papel que a Palavra de Deus deve ter.
7. RICA: para uma fé nova ou para resolver problemas pessoais
Religious education at the edge of history
Se calhar este é um bom lugar para fazer o reporting das leituras.
FOSTER Charles R., Religious education at the edge of history em Religious Education, Vol 99, n. 1
Deixo aqui o abstract:
Mais um texto sobre educação religiosa (o termo religious education é dominante no mundo anglo-saxónico. originalmente no mundo protestante mas tem-se expandido também para os católicos. E acaba por se revestir de imensos significados.) em contexto pós-moderno.
O autor pega numa intuição de Gabriel Moran (um clássico) segundo a qual a ER deveria ser bilingue: deveria falar a língua da comunidade (a tradição, a revelação) mas também a língua do contexto onde a comunidade de fé se coloca.
O autor defende que neste contexto pós-moderno é preciso alargar esta intuição e avançar para uma ER multilingue. Deveria continuar a usar a lingiagem nativa da educação religiosa, a linguagem da educação inter-religiosa, e linguagem da educação religiosa pública (o autor é americano e chama a atenção à educação para a civil religion (ver aqui), a linguagem de uma educação religiosa em contexto pós-religioso e a linguagem da educação religiosa académica.
O contexto fortemente multi-étnico, multi-cultural, multi-religioso dos E.U.A. ajuda a perceber melhor as preocupações do autor.
Mas esta abordagem ao pós-moderno parece-me muito débil. Não se percebe qual das linguagens deve ser considerada a língua-mãe. A não ser que o autor pretenda que a ER se torne numa Babel. A intenção está correcta: não fechar a ER num gueto. Mas com que força nos apresentamos "em público"
FOSTER Charles R., Religious education at the edge of history em Religious Education, Vol 99, n. 1
Deixo aqui o abstract:
This article suggests that religious education discourse in the future
must be multilingual if it is to prepare people to participate in a postmodern
world of religious diversity and secularism. Five “languages”
are suggested, including those native to the religious education of
particular religious communities, the language of interreligious education,
the language of public religious education, a postreligion
religious education language, and the language of academic religious
education.
Mais um texto sobre educação religiosa (o termo religious education é dominante no mundo anglo-saxónico. originalmente no mundo protestante mas tem-se expandido também para os católicos. E acaba por se revestir de imensos significados.) em contexto pós-moderno.
O autor pega numa intuição de Gabriel Moran (um clássico) segundo a qual a ER deveria ser bilingue: deveria falar a língua da comunidade (a tradição, a revelação) mas também a língua do contexto onde a comunidade de fé se coloca.
O autor defende que neste contexto pós-moderno é preciso alargar esta intuição e avançar para uma ER multilingue. Deveria continuar a usar a lingiagem nativa da educação religiosa, a linguagem da educação inter-religiosa, e linguagem da educação religiosa pública (o autor é americano e chama a atenção à educação para a civil religion (ver aqui), a linguagem de uma educação religiosa em contexto pós-religioso e a linguagem da educação religiosa académica.
O contexto fortemente multi-étnico, multi-cultural, multi-religioso dos E.U.A. ajuda a perceber melhor as preocupações do autor.
Mas esta abordagem ao pós-moderno parece-me muito débil. Não se percebe qual das linguagens deve ser considerada a língua-mãe. A não ser que o autor pretenda que a ER se torne numa Babel. A intenção está correcta: não fechar a ER num gueto. Mas com que força nos apresentamos "em público"
2009/02/11
PJ e catequese para a Igreja de hoje
Para não ficarem com a ideia que isto do doutoramento é um processo narcisista, vou começar a dar aqui notícia de eventos académicos que me interessam. Duvido que haja muitos dos meus leitores que possam aparecer. Mas pode ser bom ficar com a ideia do que se passa.
Aqui vai o primeiro:
Il Dipartimento di Pastorale Giovanile e Catechetica dell’Università Pontificia Salesiana organizza una Tavola rotonda dal titolo: “Fare pastorale giovanile e catechesi nella Chiesa oggi: sfide e possibilità”. Intervengono mons. Paolo Giulietti, già responsabile del Servizio Nazionale della Pastorale Giovanile della CEI e attualmente parroco nella Diocesi di Perugia; e don Cesare Chialastri, ex-vice rettore del Seminario Regionale di Anagni, responsabile della Caritas, e animatore pastorale nella Diocesi di Velletri-Segni. Modera il Prof. Gabriele Quinzi, docente UPS.
L’incontro, aperto a tutti i docenti e studenti del DPGC, si svolge nell’Aula II dell’UPS il prossimo 18 febbraio 2009, dalle ore 15.00 alle 18.00.
Aqui vai o primeiro:
Il Dipartimento di Pastorale Giovanile e Catechetica dell’Università Pontificia Salesiana organizza una Tavola rotonda dal titolo: “Fare pastorale giovanile e catechesi nella Chiesa oggi: sfide e possibilità”. Intervengono mons. Paolo Giulietti, già responsabile del Servizio Nazionale della Pastorale Giovanile della CEI e attualmente parroco nella Diocesi di Perugia; e don Cesare Chialastri, ex-vice rettore del Seminario Regionale di Anagni, responsabile della Caritas, e animatore pastorale nella Diocesi di Velletri-Segni. Modera il Prof. Gabriele Quinzi, docente UPS.
L’incontro, aperto a tutti i docenti e studenti del DPGC, si svolge nell’Aula II dell’UPS il prossimo 18 febbraio 2009, dalle ore 15.00 alle 18.00.
Recursos
Acabei de chegar todo suado do supermercado onde fui comprar uma impressora(zinha). Para quem está habituado a usar uma nuvera que faz 100 páginas por minuto é uma sensação estranha usar uma impressora normal.
Mas era uma necessidade. Como trabalho principalmente no quarto, gosto de ter as coisas em papel e rabiscá-las, riscá-las e corrigi-las.
Acho que há aqui condições porreiras para trabalhar.
Aqui a universidade tem um centro de impressão muito bem equipado: meia dúzia e computadores à disposição de quem chega com ficheiros. A biblioteca também permite fotocópias (mais caras).
De resto temos acesso a 2 redes de acesso à net. Os residentes têm nos quartos acesso a uma ligação fixa. Na zona das aulas há também uma rede wireless. Na biblioteca todas as mesas têm tomada de corrente e algumas, parece-me também ligação à rede de internet.
A biblioteca tem para aí uns 600.000 volumes. Uma parte deles é de acesso directo mas outros têm de ser requisitados através de um robot que os vai buscar ao silo. Há subscrição eletrónica de uma série de revistas.
Claro que quando aparece uma revista "só" em papel, fico logo frustrado. Enfim... coisas de novo rico.
Claro que todos estes recursos são para usar. E faz-me alguma confusão que os alunos nas aulas estejam a aceder o tempo todo ao facebook (aqui em itália hi5 é coisa de putos!)
Mas verdadeiramente fica muito mais fácil trabalhar assim.
Mas era uma necessidade. Como trabalho principalmente no quarto, gosto de ter as coisas em papel e rabiscá-las, riscá-las e corrigi-las.
Acho que há aqui condições porreiras para trabalhar.
Aqui a universidade tem um centro de impressão muito bem equipado: meia dúzia e computadores à disposição de quem chega com ficheiros. A biblioteca também permite fotocópias (mais caras).
De resto temos acesso a 2 redes de acesso à net. Os residentes têm nos quartos acesso a uma ligação fixa. Na zona das aulas há também uma rede wireless. Na biblioteca todas as mesas têm tomada de corrente e algumas, parece-me também ligação à rede de internet.
A biblioteca tem para aí uns 600.000 volumes. Uma parte deles é de acesso directo mas outros têm de ser requisitados através de um robot que os vai buscar ao silo. Há subscrição eletrónica de uma série de revistas.
Claro que quando aparece uma revista "só" em papel, fico logo frustrado. Enfim... coisas de novo rico.
Claro que todos estes recursos são para usar. E faz-me alguma confusão que os alunos nas aulas estejam a aceder o tempo todo ao facebook (aqui em itália hi5 é coisa de putos!)
Mas verdadeiramente fica muito mais fácil trabalhar assim.
Possibilidades (4)
Outra das possibilidades é o estudo das concepções e práticas dos adolescentes sobre o sacramento da reconciliação.
O tema despertou-me o interesse quando estávamos nas fases iniciais de desenvolvimento do projecto GPS.
Foi talvez das áreas onde tivemos mais dificuldades em desenvolver-propor um modelo operativo.
Este é um tema que está sistematicamente esquecido na Igreja, em quase todos os sectores. O interesse vem-me do facto de a minha (somada à de tantos outros salesianos e animadores) experiência me dizer que este sacramento é uma das boas plataformas de crescimento espiritual.
Tem o inconveniente de não ser tão rentável quanto os outros. Não é que os custos de o investigar sejam muito altos; parece-me hoje é que não trará tantos efeitos multiplicadores como outros.
O tema despertou-me o interesse quando estávamos nas fases iniciais de desenvolvimento do projecto GPS.
Foi talvez das áreas onde tivemos mais dificuldades em desenvolver-propor um modelo operativo.
Este é um tema que está sistematicamente esquecido na Igreja, em quase todos os sectores. O interesse vem-me do facto de a minha (somada à de tantos outros salesianos e animadores) experiência me dizer que este sacramento é uma das boas plataformas de crescimento espiritual.
Tem o inconveniente de não ser tão rentável quanto os outros. Não é que os custos de o investigar sejam muito altos; parece-me hoje é que não trará tantos efeitos multiplicadores como outros.
2009/02/10
Possibilidades (3)
Outro dos problemas que acho estimulante é a questão da maturidade cristã.
Como já se deve ter percebido, eu sou mesmo fã da categoria de iniciação cristã.
Acho que é uma perspectiva que pode ajudar muito a pastoral e também o esforço ecuménico: são cada vez mais as outras igrejas cristãs que se estão a socorrer deste modelo.
Ora bem, o objectivo da IC (= iniciação cristã) é formar um cristao adulto, maduro, autónomo. Depois de atingido esse ponto, muito crescimento em santidade haverá, mas para já interessa-me perceber o que é essa maturidade que faz de alguém um discípulos sério e comprometido de Jesus de Nazaré.
Na revista Catequistas deste mês (Fevereiro 2008, nº 46) faço uma apresentação da questão.
Ora eu acho que se tem reflectido pouco sobre isto.
Admito que há dificuldades para uma reflexão séria. Que se o for também será pública. Dizer que a maturidade é isto e aquilo exige a coragem de não pactuar com tantas formas imaturas de cristianismo. E isso em termos de gestão eclesial mete medo a muita gente. Vejam como a maioria das nossas comunidades e dos nossos pastores optou (inconscientemente?) por ignorar a nota pastoral sobre o ano paulino.
Reflectir sobre a maturidade cristã ajudaria a uma avaliação séria da catequese que fazemos. E aí juntam-se duas palavras proibidas: avaliação e maturidade.
Tenho encontrado alguns artigos, mais na área da psicologia da religião do que da pastoral strictu sensu, que me têm feito pensar.
Como já se deve ter percebido, eu sou mesmo fã da categoria de iniciação cristã.
Acho que é uma perspectiva que pode ajudar muito a pastoral e também o esforço ecuménico: são cada vez mais as outras igrejas cristãs que se estão a socorrer deste modelo.
Ora bem, o objectivo da IC (= iniciação cristã) é formar um cristao adulto, maduro, autónomo. Depois de atingido esse ponto, muito crescimento em santidade haverá, mas para já interessa-me perceber o que é essa maturidade que faz de alguém um discípulos sério e comprometido de Jesus de Nazaré.
Na revista Catequistas deste mês (Fevereiro 2008, nº 46) faço uma apresentação da questão.
Ora eu acho que se tem reflectido pouco sobre isto.
Admito que há dificuldades para uma reflexão séria. Que se o for também será pública. Dizer que a maturidade é isto e aquilo exige a coragem de não pactuar com tantas formas imaturas de cristianismo. E isso em termos de gestão eclesial mete medo a muita gente. Vejam como a maioria das nossas comunidades e dos nossos pastores optou (inconscientemente?) por ignorar a nota pastoral sobre o ano paulino.
Reflectir sobre a maturidade cristã ajudaria a uma avaliação séria da catequese que fazemos. E aí juntam-se duas palavras proibidas: avaliação e maturidade.
Tenho encontrado alguns artigos, mais na área da psicologia da religião do que da pastoral strictu sensu, que me têm feito pensar.
Possibilidades (2)
Uma outra possibilidade é o tema do perdão.
É um tema nuclear para a existência cristã (perdoai-nos as nossas ofensas como nós perdoamos a quem nos tem ofendido... Além disso, com o imparável pluralismo da nossa cultura cresce exponencialmente a possibilidade de conflito. O que torna o perdão uma capacidade cada vez mais actual.
Mas anda algo ausente dos mecanismos clássicos da educação cristã.
Como é que os mais novos aprendem a perdoar?
Qual é a sua prática de perdão?
Quais as influências sobre as concepções e as práticas?
É um tema nuclear para a existência cristã (perdoai-nos as nossas ofensas como nós perdoamos a quem nos tem ofendido... Além disso, com o imparável pluralismo da nossa cultura cresce exponencialmente a possibilidade de conflito. O que torna o perdão uma capacidade cada vez mais actual.
Mas anda algo ausente dos mecanismos clássicos da educação cristã.
Como é que os mais novos aprendem a perdoar?
Qual é a sua prática de perdão?
Quais as influências sobre as concepções e as práticas?
2009/02/09
Possibilidades (1)
Deixa-me cá fazer uma lista dos temas que gostaria de investigar.
A construção da imagem de Deus nos adolescentes.
Se calhar o título é pomposo.
A imagem de Deus que cada um de nós faz... de onde vem?
Há muita investigação a mostrar que a relação com os pais influencia essa imagem de Deus.
Supostamente aquilo que se aprende na catequese também.
O que acontece hoje é que os adolescentes vivem numa sociedade culturalmente fragmentada. Não se trata apenas de pluralismo mas de real fragmentação. A respeito de Deus (e da sua imagem) os pais dizem uma coisas (mas há sempre a hipótese que mesmo dentro da família haja várias vozes), a escola diz outra, os media lá mandam os seus bitaites, a paróquia tambám fala a várias vozes...
Como é que os adolescentes crentes processam esta pluralidade de informação?
Era um tema com alguma relevência. Penso eu de que... como dizia um intelectual da nossa praça.
A construção da imagem de Deus nos adolescentes.
Se calhar o título é pomposo.
A imagem de Deus que cada um de nós faz... de onde vem?
Há muita investigação a mostrar que a relação com os pais influencia essa imagem de Deus.
Supostamente aquilo que se aprende na catequese também.
O que acontece hoje é que os adolescentes vivem numa sociedade culturalmente fragmentada. Não se trata apenas de pluralismo mas de real fragmentação. A respeito de Deus (e da sua imagem) os pais dizem uma coisas (mas há sempre a hipótese que mesmo dentro da família haja várias vozes), a escola diz outra, os media lá mandam os seus bitaites, a paróquia tambám fala a várias vozes...
Como é que os adolescentes crentes processam esta pluralidade de informação?
Era um tema com alguma relevência. Penso eu de que... como dizia um intelectual da nossa praça.
Ponto de situação
1. Porquê um doutoramento?
Acima de tudo para aumentar a minha capacidade científica. No trabalho que faço habitualmente (editor, formador de catequistas e animadores) não consigo já limitar-me a aplicar fórmulas e produtos concebidos noutros contextos.
Particularmente na área da catequese assiste-se nos últimos 40 anos a uma tendência anti-globalização. Penso que o último produto catequético de alcance verdadeiramente internacional foi o catecismo verde (um catecismo desenvolvido na alemanha nos anos 50 e que teve múltiplas edições um pouco por todo o mundo). Claro que vai havendo consensos globais ao nível das opções de fundo (RICA, DGC...) mas há que passar dessas intuições e opções pastorais globais para instrumentos contextualizados a uma cultura concreta, a configurações sociais e económicas concretas.
E isso não está fácil. Daí a minha necessidade de conhecer mais, de ganhar mais sentido crítico.
Dada a escassez de diálogo, de troca de ideias, que há na Igreja em Portugal (pelo menos nesta área da catequese e da pastoral juvenil e a um nível elevado) a hipótese do doutoramento aparece como uma das mais acessíveis.
2. Que fazer?
Um doutoramento, ou qualquer projecto de investigação, tem de ter uma boa "trindade". Um problema, uma perspectiva teórica adequada, um método. Estes três elementos podem combinar-se de variadas formas.
Alguns exemplos. Problema: formação de catequistas. Perspectiva teórica: análise de género(porque é que há mais catequistas do que "catequistos"?) análise custo-benefício (quantas horas são necessárias para formar um catequista?) Método: entrevostas em profundidade, sondagens...
Ou seja: grandes possibilidades, grande dificuldade na escolha.
Não é que todas as combinações de problemas-teorias-método sejam possíveis (ou igualmente interessantes) mas as possibilidades são imensas.
Interessa-me escolher com um critério económico: um que me permita obter o máximo de ganho (em capacidade explicativa e preditiva) com o mínimo de custos.
Acima de tudo para aumentar a minha capacidade científica. No trabalho que faço habitualmente (editor, formador de catequistas e animadores) não consigo já limitar-me a aplicar fórmulas e produtos concebidos noutros contextos.
Particularmente na área da catequese assiste-se nos últimos 40 anos a uma tendência anti-globalização. Penso que o último produto catequético de alcance verdadeiramente internacional foi o catecismo verde (um catecismo desenvolvido na alemanha nos anos 50 e que teve múltiplas edições um pouco por todo o mundo). Claro que vai havendo consensos globais ao nível das opções de fundo (RICA, DGC...) mas há que passar dessas intuições e opções pastorais globais para instrumentos contextualizados a uma cultura concreta, a configurações sociais e económicas concretas.
E isso não está fácil. Daí a minha necessidade de conhecer mais, de ganhar mais sentido crítico.
Dada a escassez de diálogo, de troca de ideias, que há na Igreja em Portugal (pelo menos nesta área da catequese e da pastoral juvenil e a um nível elevado) a hipótese do doutoramento aparece como uma das mais acessíveis.
2. Que fazer?
Um doutoramento, ou qualquer projecto de investigação, tem de ter uma boa "trindade". Um problema, uma perspectiva teórica adequada, um método. Estes três elementos podem combinar-se de variadas formas.
Alguns exemplos. Problema: formação de catequistas. Perspectiva teórica: análise de género(porque é que há mais catequistas do que "catequistos"?) análise custo-benefício (quantas horas são necessárias para formar um catequista?) Método: entrevostas em profundidade, sondagens...
Ou seja: grandes possibilidades, grande dificuldade na escolha.
Não é que todas as combinações de problemas-teorias-método sejam possíveis (ou igualmente interessantes) mas as possibilidades são imensas.
Interessa-me escolher com um critério económico: um que me permita obter o máximo de ganho (em capacidade explicativa e preditiva) com o mínimo de custos.
2009/02/08
Teologia prática
Teologia prática ou pastoral é a área da teologia onde me movo.
Funciona tal como o resto da teologia (vide post anterior) mas reflecte em especial sobre a praxis da Igreja.
Na cabeça de muita gente, a prática da Igreja e dos cristãos deve reger-se por um modelo dedutivo: haveria um saber de tipo teórico (teologia bíblica e sistemática) da qual se tiram uns corolários práticos, umas adaptações à realidade.
Esta abordagem simplista ajuda a explicar o relativo insucesso de tantas coisas que vamos fazendo (mal) em Igreja.
Mas há mais praxis eclesial para lá desse modelo ingénuo.
Recuso a ideia que a TP (= teologa prática) seja uma tradução ou adaptação ao concreto da teologia "séria". Nem que seja um downgrade.
Para não cair nessa asneirada o trabalho não é fácil. A TP tem de saber dialogar com todo o resto da teologia e com as suas fontes mas também com a realidade. realidade é a Igreja que existe e que se transforma. Mas é também a realidade extra-eclesial.
Para isso a TP vai ter de usar uma série de saberes exteriores a ela mesma: psicologia, sociologia, economia, estudos culturais...
Parecendo que não tem muito que se lhe diga.
Dentro da teologia pastoral interessa-me muito o seu carácter empírico. Não é só por uma questão de eficácia mas por uma questão de fé.
o Deus em que pomos a nossa fé é um Deus incarnado, um Deus que abraçou radicalmente o concreto da nossa humanidade. Por isso a atitude daqueles crentes e/ou teólogos que olham para a realidade como um mal menor (em alternativa ao bem maior que seria a Bíblia ou as formulações doutrinais) sempre me pareceu espiritualmente pobre.
Uma das carências da TP em Portugal é a sua desatenção empírica. Atenção que eu não estou a desperzar o papel das teorias; não há nada mais prático do que uma boa teoria. O problema é que nós na Igreja (e não só) não conhecemos a realidade em que nos movemos nem somos capazes de monitorizar as mudanças que provocamos. a atenção à realidade é quase sempre de tipo impressionista. Acho que... tenho a impressão que...
Por estas e outras razões, gostaria de dedicar este processo de doutoramento a uma abordagem empírica. Porque me será pessoalmente útil. mas também porque pode ser uma chamada de atenção a outros em Portugal.
Resumindo: tenho claro que a minha tese de doutoramento será na área da pastoral juvenil e catequese, com uma abordagem empírica.
Temas... métodos... abordagens teóricas... espera pelos próximos posts.
Funciona tal como o resto da teologia (vide post anterior) mas reflecte em especial sobre a praxis da Igreja.
Na cabeça de muita gente, a prática da Igreja e dos cristãos deve reger-se por um modelo dedutivo: haveria um saber de tipo teórico (teologia bíblica e sistemática) da qual se tiram uns corolários práticos, umas adaptações à realidade.
Esta abordagem simplista ajuda a explicar o relativo insucesso de tantas coisas que vamos fazendo (mal) em Igreja.
Mas há mais praxis eclesial para lá desse modelo ingénuo.
Recuso a ideia que a TP (= teologa prática) seja uma tradução ou adaptação ao concreto da teologia "séria". Nem que seja um downgrade.
Para não cair nessa asneirada o trabalho não é fácil. A TP tem de saber dialogar com todo o resto da teologia e com as suas fontes mas também com a realidade. realidade é a Igreja que existe e que se transforma. Mas é também a realidade extra-eclesial.
Para isso a TP vai ter de usar uma série de saberes exteriores a ela mesma: psicologia, sociologia, economia, estudos culturais...
Parecendo que não tem muito que se lhe diga.
Dentro da teologia pastoral interessa-me muito o seu carácter empírico. Não é só por uma questão de eficácia mas por uma questão de fé.
o Deus em que pomos a nossa fé é um Deus incarnado, um Deus que abraçou radicalmente o concreto da nossa humanidade. Por isso a atitude daqueles crentes e/ou teólogos que olham para a realidade como um mal menor (em alternativa ao bem maior que seria a Bíblia ou as formulações doutrinais) sempre me pareceu espiritualmente pobre.
Uma das carências da TP em Portugal é a sua desatenção empírica. Atenção que eu não estou a desperzar o papel das teorias; não há nada mais prático do que uma boa teoria. O problema é que nós na Igreja (e não só) não conhecemos a realidade em que nos movemos nem somos capazes de monitorizar as mudanças que provocamos. a atenção à realidade é quase sempre de tipo impressionista. Acho que... tenho a impressão que...
Por estas e outras razões, gostaria de dedicar este processo de doutoramento a uma abordagem empírica. Porque me será pessoalmente útil. mas também porque pode ser uma chamada de atenção a outros em Portugal.
Resumindo: tenho claro que a minha tese de doutoramento será na área da pastoral juvenil e catequese, com uma abordagem empírica.
Temas... métodos... abordagens teóricas... espera pelos próximos posts.
2009/02/07
Teologia... isso o que é?
A quem não esteja tanto por dentro pode soar estranho usar terminologia científica e académica a respeito de "teologia".
Deixa-me explicar algumas coisas. Sou um cristão católico, sacerdote, pertenço à congregação salesiana.
Não acho que haja maneira objectiva de demonstrar a validade universal da minha fé e da dos outros cristãos mas espero que quem não acredite aceite que tenho (temos) razões (ao menos subjectivas) para acreditar.
E em que é que entra a teologia?
A teologia (pelo menos numa perspectiva cristã) pretende ser um discurso, uma praxis de pensamento, que obedece às regras do método científico e que tem Deus por objecto.
1ª correcção. Na verdade, a teologia não pode ter Deus por objecto mas apenas aquilo que nós homens d'Ele conhecemos ou julgamos conhecer.
Fé e teologia não são o mesmo. Interessa-me mesmo é a fé, a possibilidade de estabelecer com o Deus revelado na vida, palavras e práticas de Jesus de Nazaré, uma relação de confiança e compromisso.
Mas porque acredito que Deus se tornou presente à humanidade e nos falou em processos e categorias humanas, tornou-se possível (e obrigatório) usar as capacidades humanas (entre as quais, a racionalidade) para dar sentido a essa fé de que falava. Não só em termos pessoais mas também para assegurar uma comunicação consistente entre aqueles que partilham a mesma fé.
Por isso é que a teologia, usando os recursos do método científico, pode ser dita também uma ciência.
Deixa-me explicar algumas coisas. Sou um cristão católico, sacerdote, pertenço à congregação salesiana.
Não acho que haja maneira objectiva de demonstrar a validade universal da minha fé e da dos outros cristãos mas espero que quem não acredite aceite que tenho (temos) razões (ao menos subjectivas) para acreditar.
E em que é que entra a teologia?
A teologia (pelo menos numa perspectiva cristã) pretende ser um discurso, uma praxis de pensamento, que obedece às regras do método científico e que tem Deus por objecto.
1ª correcção. Na verdade, a teologia não pode ter Deus por objecto mas apenas aquilo que nós homens d'Ele conhecemos ou julgamos conhecer.
Fé e teologia não são o mesmo. Interessa-me mesmo é a fé, a possibilidade de estabelecer com o Deus revelado na vida, palavras e práticas de Jesus de Nazaré, uma relação de confiança e compromisso.
Mas porque acredito que Deus se tornou presente à humanidade e nos falou em processos e categorias humanas, tornou-se possível (e obrigatório) usar as capacidades humanas (entre as quais, a racionalidade) para dar sentido a essa fé de que falava. Não só em termos pessoais mas também para assegurar uma comunicação consistente entre aqueles que partilham a mesma fé.
Por isso é que a teologia, usando os recursos do método científico, pode ser dita também uma ciência.
Começar doutoramento
Estou a começar o doutoramento em teologia, na área da pastoral juvenil e catequética. Estou a fazê-lo na univ. pontificia salesiana, em Roma.
Todos os manuais sobre como fazer doutoramentos, sugerem/recomendam que se faça um diário de bordo sobre o processo. Resolvi fazê-lo de forma mais ou menos pública. Na esperança que este percurso possa ser útil a mais alguém. E que a possibilidade de feedbacks me possa ajudar a mim.
O programa de doutoramento é muito simples. Curricularmente só tenho de fazer um seminário de investigação e um tirocínio de docência.
Neste momento estou em Roma, durante este 2º semestre, ara frequentar essa parte curricular, fazer o esquema da tese e fazê-lo aprovar.
Todos os manuais sobre como fazer doutoramentos, sugerem/recomendam que se faça um diário de bordo sobre o processo. Resolvi fazê-lo de forma mais ou menos pública. Na esperança que este percurso possa ser útil a mais alguém. E que a possibilidade de feedbacks me possa ajudar a mim.
O programa de doutoramento é muito simples. Curricularmente só tenho de fazer um seminário de investigação e um tirocínio de docência.
Neste momento estou em Roma, durante este 2º semestre, ara frequentar essa parte curricular, fazer o esquema da tese e fazê-lo aprovar.
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