2009/04/28

Dizer o Evangelho hoje

Toda a actuação pastoral da Igreja consiste (deve consistir) em dizer hoje o Evangelho de Jesus. Ok, isto parece óbvio mas ajuda a deixar de fora muitas coisas feitas por "pessoal" e instituições da Igreja que não dizem o Evangelho; ecoarão a cultura dominante ou os desejos-frustrações-projecções dos seus protagonistas mas não o Evangelho de Jesus. Podem usar a caixa de comentários para dar exemplos. Aqui só me interessa clarificar o princípio.
Mas como é que se faz esse dizer o Evangelho de Jesus?
Não basta nunca uma tradução, mais ou menos fiel, aos conteúdos.
Exige-se também a reproposta dos efeitos do Evangelho.
Ou seja, não basta dizer (com "linguagens adequadas à condição social e cultural do homem de hoje) que Jesus ressuscitou. A comunicação evangélica deve encarregar-se de repropor a mesma praxis original. Quando os discípulos de Emaús descobrem o Ressucitado, não apenas acedem a uma informação mas assumem uma praxis (abrem-se os olhos; regressam ao convívio da comunidade...); não tem sentido hoje recordar o episódio dos discípulos de Emaús sem um empenho em provocar nos ouvintes de hoje a mesma resposta de exultação transformativa.
O caso clássico desta tese é a pregação de Pedro e João ao coxo : Act 3, 1-11
Uma evangelização autêntica não separa o anúncio da verdade (Jesus como salvador) da actuação da verdade (Jesus que salva o paralítico).
É que se assim não fosse estaríamos a dizer que Jesus, Deus, não são senão palavras. Só se as nossas palavras sobre Deus produzem, de algum modo, a mesma pragmática de fé das palavras originais de Jesus, é que são fiéis.
Ora isto ajuda a explicar o relativo insucesso de tanta pastoral que fazemos. Se salvação, comunidade, fé, vida... são apenas palavras, sons, significados conseguidos por consenso... não há mais nada a dizer: o último que apague a luz e feche a porta.
Mas talvez haja alternativas.
Afirmar o Evangelho como beleza, novidade e possibilidade.

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