Em 2009 estamos no ano litúrgico B, onde se escuta principlmente o texto de S. Marcos.
Mas a certa altura, a leitura de Marcos é interrompida para lermos o capítulo 6 de S. João.
É um texto importante porque é dos textos mais densos e longos do NT sobre a Eucaristia.
Claro que o texto é longo e parece algo repetitivo. Somando isso ao calor que faz nesta época do ano, ouço com frequência gente a queixar-se da "inutilidade" (pastoral) deste texto.
E leio alguns comentários que interpretam João 6 em sentido simbólico, interpessoal, social.
O próprio texto de João recorda como as palavras de Jesus provocaram comoção e escândalo entre os seus ouvintes e até entre os discípulos.
Jesus comete uma série de "erros" comunicativos. Ele diz coisas que, hoje, são politicamente incorrectas. mesmo em ambientes eclesiais.
Ele vem dizer que acreditar n'Ele leva à vida. E só acreditar n'Ele o faz. Segundo Ele, quem não acreditar n'Ele, quem não entrar numa relação de alta intensidade com Ele... está lixado.
1ª asneira de Jesus (segundo o pensamento limpinho). Esta pretensão de exclusividade cheira a fanatismo e vai contra o relativismo.
Mas Jesus continua a dizer "asneiras". Ele vai equivaler "acreditar n'Ele" e "comer a sua carne". A fé "é" Eucaristia.
Isto então é que é o cúmulo do inaceitável.
Há muita "pastoral" que passa o tempo a ter uma visão descontraída, descomprometida, da Eucaristia. E vem Jesus dizer que... tudo ou nada? Pode lá ser!
É evidente que não pretendo negar aqui todo o papel da progresividade pastoral, da importância de saudáveis modelos educativos. O Evangelho de João é um texto muito maduro, escrito de dentro da comunidade para dentro. Não é um texto para ajudar ao crescimento de quem está fora. É um texto para sedimentar a identidade cristã de uma comunidade que já teve de enfrentar muitas contrariedades, também internas.
Os meus interesses pastorais, normalmente, colocam-se a outro nível: ao nível daqueles que estão em trajectória de crescimento na fé. E é óbvio que não tem sentido estruturas uma pastoral catequética a partir do "tudo ou nada" que João 6 propõe.
Mas o texto é útil à mesma para percebermos qual é a identidade crente para a qual caminhamos. Ajuda-nos a tomar posição sobre algumas questões importantes.
Cristo é essencial para a nossa salvação, para a nossa qualidade de vida? Ou não? Que relação entre o papel de Cristo e os outros factores de qualidade (salvação) na nossa vida?
qual o papel da Eucaristia na vida cristã? Tem sentido uma vida cristã em que a Eucaristia é um optativo? Em que o valor da Eucaristia depende da estética ou da sintonia psicológica do cristão?
É óbvio que João carrega nas tintas. O capítulo 6 é longo e há frases que se repetem muitas vezes. O que, a meu ver, mostra a importância que o autor dá ao que está em causa. Também me parece óbvio que há hoje muito operador e "pensador" pastoral que aposta no "aligeirar", no diminuir a tensão.
2 projectos pastorais em confronto. Como sempre, a minha veia pragmática sugere-me uma pista para avaliar as respectivas qualidades. Qual deles produz mais resultados? Qual deles é capaz de produzir práticas de vida mais em consonância com o estilo de Jesus? E qual deles produz mais conformidade à cultura dominante? Qual produz mais amor, mais entrega, mais sangue e vida oferecidos? Qual deles produz mais comodismo, mais capacidade de calar as vozes que nos incomodam com os seus apelos?
Disclaimer: Já estou a imaginar algumas bocas de conhecidos, dizendo que virei integrista ou coisa que o valha. Pois... deve ser isso mesmo
2009/08/16
2009/08/15
Fé e quotidiano
Pode ser só uma observação "a olhometro"... Mas é engano meu ou vai crescendo, na pastoral juvenil (que é a área que acompanho mais) uma mentalidade que separa a fé do quotidiano?
Há gente motivada, que leva a fé a sério, que quer ir a Taize, ou fazer esta experiência espiritual intensa, cheia de boa vontade... mas numa lógica de consumo espiritual pontual, regressa à sua vida quotidiana, mas sem solução de continuidade entre essas experiências de pico e o quotidiano...
E, melhor ou pior, vão vivendo... e ansiando pela próxima experiência de pico.
isto, em termos cristãos, não faz muito sentido, pois não?
É uma vida compartimentada.
É também uma afirmação de fé algo blasfema. Será que Deus não tem poder para estar presente e transformar o quotidiano?
Há gente motivada, que leva a fé a sério, que quer ir a Taize, ou fazer esta experiência espiritual intensa, cheia de boa vontade... mas numa lógica de consumo espiritual pontual, regressa à sua vida quotidiana, mas sem solução de continuidade entre essas experiências de pico e o quotidiano...
E, melhor ou pior, vão vivendo... e ansiando pela próxima experiência de pico.
isto, em termos cristãos, não faz muito sentido, pois não?
É uma vida compartimentada.
É também uma afirmação de fé algo blasfema. Será que Deus não tem poder para estar presente e transformar o quotidiano?
A minha meta é o céu
É o que diz o refrão de uma das canções dos Terceira margem.
E é uma ideia apropriada para esta festa da Assunção de Maria.
Hoje festejamos que ela está no céu. Vive e vive em Deus.
O que quer dizer que o nosso Deus não andou na mesma escola dos nossos políticos de promessas sempre revistas e/ou adiadas.
Mas mais importante do que fazer uma afirmação sobre Maria de Nazaré, é percebermos o impacto que isso tem sobre todos nós, Igreja. A plenitude da vida em Deus é viável. Há uma via, um caminho para lá chegar.
E o evangelho da visitação (proposto pela liturgia para hoje) dá indicações sobre esse caminho. O caminho para o céu é o caminho do serviço.
É o caminho do louvor.
E é uma ideia apropriada para esta festa da Assunção de Maria.
Hoje festejamos que ela está no céu. Vive e vive em Deus.
O que quer dizer que o nosso Deus não andou na mesma escola dos nossos políticos de promessas sempre revistas e/ou adiadas.
Mas mais importante do que fazer uma afirmação sobre Maria de Nazaré, é percebermos o impacto que isso tem sobre todos nós, Igreja. A plenitude da vida em Deus é viável. Há uma via, um caminho para lá chegar.
E o evangelho da visitação (proposto pela liturgia para hoje) dá indicações sobre esse caminho. O caminho para o céu é o caminho do serviço.
É o caminho do louvor.
2009/08/09
Projecto GPS: Livro Três
Uma notícia meio pessoal, meio profissional.
Está na fase final a elaboração do Livro Três do Projecto GPS.
O corpo do texto está pronto, já paginado; falta apenas escrever a introdução.
Foi um desafio e peras. As propostas para o 3º ano do GPS supõem que o grupo estará na 4ª e 5ª etapas do seu ciclo evolutivo. E a verdade é que há pouca experiência de observar grupos nessa fase. Nestas fases, a interacção do grupo está muito mais virada para os conteúdos. Mas como fazer propostas que não reduzam o grupo ao "debater temas", tão clássico e tão estéril?
Com dificuldade, se calhar com algumas oscilações de qualidade, acho que conseguimos, fazer propostas activas.
Está na fase final a elaboração do Livro Três do Projecto GPS.
O corpo do texto está pronto, já paginado; falta apenas escrever a introdução.
Foi um desafio e peras. As propostas para o 3º ano do GPS supõem que o grupo estará na 4ª e 5ª etapas do seu ciclo evolutivo. E a verdade é que há pouca experiência de observar grupos nessa fase. Nestas fases, a interacção do grupo está muito mais virada para os conteúdos. Mas como fazer propostas que não reduzam o grupo ao "debater temas", tão clássico e tão estéril?
Com dificuldade, se calhar com algumas oscilações de qualidade, acho que conseguimos, fazer propostas activas.
2009/07/29
Os lugares da fé
Foi este o nome do fórum que orientei no Festival Jota 2009.
Depois, algum dos participantes perguntava-me: Como é que se faz, no concreto, para aumentar a fé?
A pergunta não é idiota e vem no contexto, mesmo que possa parecer "ímpia".
É certo que a fé é dom de Deus; e nesse sentido, não podemos fazer nada para "forçar" Deus a ser mais generoso connosco.
Mas a fé é também resposta nossa. E sobre o rumo que damos à nossa liberdade podemos influir sobre outros e sobre nós mesmos.
Quem me perguntava, sugeria-me que a oração seria uma pista "obrigatória".
Faz sentido; o contacto íntimo com Aquele a quem amamos, aumenta o desejo, transforma-nos e liberta-nos daquilo que nos bloqueia a fé. Mas não chega.
Uma ideia clara de quem é Aquele em quem acreditamos é essencial.
Depois, algum dos participantes perguntava-me: Como é que se faz, no concreto, para aumentar a fé?
A pergunta não é idiota e vem no contexto, mesmo que possa parecer "ímpia".
É certo que a fé é dom de Deus; e nesse sentido, não podemos fazer nada para "forçar" Deus a ser mais generoso connosco.
Mas a fé é também resposta nossa. E sobre o rumo que damos à nossa liberdade podemos influir sobre outros e sobre nós mesmos.
Quem me perguntava, sugeria-me que a oração seria uma pista "obrigatória".
Faz sentido; o contacto íntimo com Aquele a quem amamos, aumenta o desejo, transforma-nos e liberta-nos daquilo que nos bloqueia a fé. Mas não chega.
Uma ideia clara de quem é Aquele em quem acreditamos é essencial.
2009/07/20
Jornadas catequistas Porto 2009 (2)
MUito do debate que há em catequese reduz-se a saber qual o peso que têm os conteúdos e a metodologia. E uns puxam para um lado e outros para o outro.
Mas, se calhar, a questão está em saber quais os conteúdos.
Começamos a catequese dos pequeninos a dizer que jesus é nosso amigo. Ok, para começar.
Mas como é que fazemos evoluir essa noção-relação para o absoluto de Deus na vida?
Discutimos se a iniciação à eucaristia se deve fazer no 2º ou no 3º ano. Mas não nos preocupamos em assegurar um itinerário educativo que ajude os catequizandos a assumir o ritmo de celebração semanal típico e necessário à comunidade adulta.
Mas, se calhar, a questão está em saber quais os conteúdos.
Começamos a catequese dos pequeninos a dizer que jesus é nosso amigo. Ok, para começar.
Mas como é que fazemos evoluir essa noção-relação para o absoluto de Deus na vida?
Discutimos se a iniciação à eucaristia se deve fazer no 2º ou no 3º ano. Mas não nos preocupamos em assegurar um itinerário educativo que ajude os catequizandos a assumir o ritmo de celebração semanal típico e necessário à comunidade adulta.
Jornadas catequistas Porto 2009
De 6ª até ontem estive nas jornadas de catequistas do Porto, a orientar um dos cursos: acompanhar a profissão de fé dos adolescentes.
Mais de 200 participantes (no total; uns 30 no meu curso). Reencontrar bons amigos como o Luís de Braga e o Queirós de Vila Real. Também catequistas motivados daqui e dali.
Boa parte do que disse no curso vai aparecer ao longo do próximo ano na revista Catequistas. Mas quero deixar aqui algumas ideias e perguntas que me parecem importantes.
Estou é todo derreado. 2 dias e meio de curso, da maneira "intensa" como eu os oriento, deixaram-me todo partido. Se calhar seria mesmo sensato fazer como a maioria: sentar-me atrás do microfone, ler devagar um textinho, deixar umas perguntas para uns trabalhos de grupo lamechas...
Mais de 200 participantes (no total; uns 30 no meu curso). Reencontrar bons amigos como o Luís de Braga e o Queirós de Vila Real. Também catequistas motivados daqui e dali.
Boa parte do que disse no curso vai aparecer ao longo do próximo ano na revista Catequistas. Mas quero deixar aqui algumas ideias e perguntas que me parecem importantes.
Estou é todo derreado. 2 dias e meio de curso, da maneira "intensa" como eu os oriento, deixaram-me todo partido. Se calhar seria mesmo sensato fazer como a maioria: sentar-me atrás do microfone, ler devagar um textinho, deixar umas perguntas para uns trabalhos de grupo lamechas...
2009/07/16
crismas (3)
No sábado à noite, tivemos uma celebração penitencial com pessoal dos grupos, padrinhos e pais.
Apontamentos só para pensar alto e sem pretensões de avaliar coisa nenhuma:
1: Nós (animadores) não fazemos ideia de qual é a relação dos nossos jovens com o sacramento da confissão.
2: Basicamente confessaram-se os crismandos e os padrinhos.
Estou ciente que só "pensar" estas coisas já é perigoso. Podemos estar a tornarmo-nos num big brother controleiro. Mas a pergunta (e só a pergunta; não as conclusões) é legítima. Os "outros" não tinham necessidade de se confessar? Isto do confessar-se vai da "pressão" exercida?
Apontamentos só para pensar alto e sem pretensões de avaliar coisa nenhuma:
1: Nós (animadores) não fazemos ideia de qual é a relação dos nossos jovens com o sacramento da confissão.
2: Basicamente confessaram-se os crismandos e os padrinhos.
Estou ciente que só "pensar" estas coisas já é perigoso. Podemos estar a tornarmo-nos num big brother controleiro. Mas a pergunta (e só a pergunta; não as conclusões) é legítima. Os "outros" não tinham necessidade de se confessar? Isto do confessar-se vai da "pressão" exercida?
2009/07/13
crismas (2)
Na catequese que fizemos no sábado emergiram algumas questões que se vão tornando clássicas.
crisma: entre sacramento e profissão de fé
Os jovens que levam isto da fé mais ou menos a sério acentuam de tal modo o seu próprio papel, da sua decisão, do seu compromisso, que esquecem a dinâmica própria do sacramento e de toda a vida cristã. É Deus que toma a iniciativa e que oferece os dons que nos transformam; o nosso papel (e tantas vezes nada fácil) é dizer "sim", acolher os dons da iniciativa primeira de Deus.
Dificuldades com as palavras
Impressionou-me o contraste entre a fé sentida e assumida (dos crismandos e dos que já se tinham crismado à mais tempo) e as dificuldades de linguagem. Há um deficit sério de linguagem teológica desta gente.
Ainda e sempre: entre conteúdos e pedagogia
Se há debate que já cheira de velho nisto da catequese e da pastoral juvenil é a tensão entre conteúdos e pedagogia; entre mais atenção aos conteúdos da fé ou mais atenção aos processos pedagógicos. Evidentemente eu sou crítico de uma série de processos e tradições pastorais que ignoram ou que não reflectem seriamente sobre a dimensão pedagógicia nem sobre a condição do destinatário. Mas a verdade é que às vezes há mesmo um problema de falta de conteúdos. Ao dizer isto não quero reeditar uma pastoral que volte a ser injecção de conteúdos elaborados em sede de investigação teológica e que são "traduzidos" (mal!) em linguagens mais acessíveis aos destinatários. Foi chão que já deu uvas e nem vale a pena perder tempo com abordagens destas. Mas é importante trabalhar com os conteúdos "certos". Neste caso crisma tem que ver com um compromisso, com uma adesão séria, totalizante a Jesus e ao seu projecto. Não tem que ver com jogos sociais nem com uma pseudo-sedução dos jovens.
crisma: entre sacramento e profissão de fé
Os jovens que levam isto da fé mais ou menos a sério acentuam de tal modo o seu próprio papel, da sua decisão, do seu compromisso, que esquecem a dinâmica própria do sacramento e de toda a vida cristã. É Deus que toma a iniciativa e que oferece os dons que nos transformam; o nosso papel (e tantas vezes nada fácil) é dizer "sim", acolher os dons da iniciativa primeira de Deus.
Dificuldades com as palavras
Impressionou-me o contraste entre a fé sentida e assumida (dos crismandos e dos que já se tinham crismado à mais tempo) e as dificuldades de linguagem. Há um deficit sério de linguagem teológica desta gente.
Ainda e sempre: entre conteúdos e pedagogia
Se há debate que já cheira de velho nisto da catequese e da pastoral juvenil é a tensão entre conteúdos e pedagogia; entre mais atenção aos conteúdos da fé ou mais atenção aos processos pedagógicos. Evidentemente eu sou crítico de uma série de processos e tradições pastorais que ignoram ou que não reflectem seriamente sobre a dimensão pedagógicia nem sobre a condição do destinatário. Mas a verdade é que às vezes há mesmo um problema de falta de conteúdos. Ao dizer isto não quero reeditar uma pastoral que volte a ser injecção de conteúdos elaborados em sede de investigação teológica e que são "traduzidos" (mal!) em linguagens mais acessíveis aos destinatários. Foi chão que já deu uvas e nem vale a pena perder tempo com abordagens destas. Mas é importante trabalhar com os conteúdos "certos". Neste caso crisma tem que ver com um compromisso, com uma adesão séria, totalizante a Jesus e ao seu projecto. Não tem que ver com jogos sociais nem com uma pseudo-sedução dos jovens.
crismas (1)
A vigararia nascente da cidade do Porto celebrou ontem os seus crismas na sé. Foram 160 jovens das várias paróquias.
5 jovens dos grupos de jovens do centro onde colaboro (2 dos "meu" grupo) estavam nesse lote. Mais que a notícia do evento de festa e de fé, há aqui matéria para pensar.
Na 6ª feira a organização juntou-se com todos os crismandos e padrinhos. Não estive mas pelo relato pareceu-me uma abordagem clássica: explicação do rito, apelo aos valores do compromisso.
Nós, no sábado ao final da tarde fizemos uma catequese envolvendo os 2 grupos de onde vêm os crismandos (e não apenas os crismandos) seguida de jantar convívio com os pais que aparecessem e uma celebração penitencial a seguir.
5 jovens dos grupos de jovens do centro onde colaboro (2 dos "meu" grupo) estavam nesse lote. Mais que a notícia do evento de festa e de fé, há aqui matéria para pensar.
Na 6ª feira a organização juntou-se com todos os crismandos e padrinhos. Não estive mas pelo relato pareceu-me uma abordagem clássica: explicação do rito, apelo aos valores do compromisso.
Nós, no sábado ao final da tarde fizemos uma catequese envolvendo os 2 grupos de onde vêm os crismandos (e não apenas os crismandos) seguida de jantar convívio com os pais que aparecessem e uma celebração penitencial a seguir.
2009/07/09
Padres e política
A respeito deste post do meu amigo Luís Rodrigues e porque foi um tópico que apareceu no retiro que preguei a semana passada aos diáconos, alguns bitaites:
1. Está mais que claro o que o direito da Igreja diz sobre a relação entre clérigos, instituições eclesiais e partidos políticos.
2. Não entendo a falta de lealdade de ir contra uma regra aceite em Igreja sem dar cavaco a ninguém e forçando o resto da comunidade a ter que lidar com o facto consumado.
3. Não confundir esta auto-imposta limitação do acesos dos clérigos a cargos políticos com a negação cristã da política. Como cristãos, em fidelidade ao Evangelho, somos todos (padres incluídos) "animais fortemente políticos". O rumo que a "polis" (cidade) leva só nos pode interessar. E mantemos o dever de intervir politicamente. No pensamento atento, na formação da consciência, na denúncia da lamaceira em que se vai tornando a "coisa pública" (e aqui está mais um acto político!)... Se dúvidas houvesse, bastaria ler a última encíclica do Papa.
4. Não percebo a questão da ineligibilidade dos ministros de qualquer culto ou religião. COnvido-vos a ler o regulamento: estão excluídos as entidades do estado, os vigaristas e os potenciais corruptores ou beneficiários de corrupção. A que propósito aparece esta limitação aos ministros do culto?
Todas aquelas limitações têm sentido para garantir a "limpeza" do processo eleitoral. Quem já faz parte do estado não se pode meter; quem não cumpriu o seu contrato com o estado; quem pode ter uma relação equívoca com a autarquia... entende-se.
Mas porque é que eu não me posso candidatar a presidente da junta? Sou cidadão português! É que esse pessoal que brada tanto pela separação entre a Igreja e o Estado está-me a mexer nos meus direitos políticos
E, fora isso, gostava de saber onde é que o estado tem um registo dos ministros do culto.
1. Está mais que claro o que o direito da Igreja diz sobre a relação entre clérigos, instituições eclesiais e partidos políticos.
2. Não entendo a falta de lealdade de ir contra uma regra aceite em Igreja sem dar cavaco a ninguém e forçando o resto da comunidade a ter que lidar com o facto consumado.
3. Não confundir esta auto-imposta limitação do acesos dos clérigos a cargos políticos com a negação cristã da política. Como cristãos, em fidelidade ao Evangelho, somos todos (padres incluídos) "animais fortemente políticos". O rumo que a "polis" (cidade) leva só nos pode interessar. E mantemos o dever de intervir politicamente. No pensamento atento, na formação da consciência, na denúncia da lamaceira em que se vai tornando a "coisa pública" (e aqui está mais um acto político!)... Se dúvidas houvesse, bastaria ler a última encíclica do Papa.
4. Não percebo a questão da ineligibilidade dos ministros de qualquer culto ou religião. COnvido-vos a ler o regulamento: estão excluídos as entidades do estado, os vigaristas e os potenciais corruptores ou beneficiários de corrupção. A que propósito aparece esta limitação aos ministros do culto?
Todas aquelas limitações têm sentido para garantir a "limpeza" do processo eleitoral. Quem já faz parte do estado não se pode meter; quem não cumpriu o seu contrato com o estado; quem pode ter uma relação equívoca com a autarquia... entende-se.
Mas porque é que eu não me posso candidatar a presidente da junta? Sou cidadão português! É que esse pessoal que brada tanto pela separação entre a Igreja e o Estado está-me a mexer nos meus direitos políticos
E, fora isso, gostava de saber onde é que o estado tem um registo dos ministros do culto.
Vocações
Ontem, a Rute Mesquita fez a sua primeira profissão religiosa, em Angola, na congregação das mercedárias da caridade. É um momento de festa para os amigos; ela escreveu comigo o "101 propostas para melhorar a auto-estima" e colaborou em várias acções de formação.
Na impossibilidade de ir a Angola à sua profissão (nem os pais conseguiram vistos em tempo útil) juntámo-nos na capela do colégio salesiano do porto para uma vigília vocacional.
Interessante a iniciativa; bastantes participantes.
Depois da oração, um momento de comunidade à volta de um chá e de bolos.
Alguém mais curioso perguntará: mas qual o interesse científico deste post? Nenhum. Há sabedoria suficiente em rezar e em dar graças.
Na impossibilidade de ir a Angola à sua profissão (nem os pais conseguiram vistos em tempo útil) juntámo-nos na capela do colégio salesiano do porto para uma vigília vocacional.
Interessante a iniciativa; bastantes participantes.
Depois da oração, um momento de comunidade à volta de um chá e de bolos.
Alguém mais curioso perguntará: mas qual o interesse científico deste post? Nenhum. Há sabedoria suficiente em rezar e em dar graças.
os jovens confessam-se?
No próximo domingo (dia 11) vai haver crismas na Sé do Porto.
Há uns 5 jovens dos nossos grupos que vão ser confirmados.
São dos "atrasados" (tratamento carinhoso): pessoas que por uma razão ou por outra não celebraram este sacramento ao mesmo tempo que os companheiros de grupo.
No sábado vamos ter uma catequese especial com todos os elementos dos grupos, jantar partilhado e celebração penitencial à noite.
Ao preparar estas coisas, damo-nos conta (eu e os outros animadores) que não fazemos ideia de qual é a prática, regularidade, qualidade, de reconciliação dos nossos jovens.
Não estou a dizer isto aqui para alardear a minha ignorância. Mas para dizer que há muitos processos que reputamos como importantes para um crescimento sustentado na fé que nos passam ao lado.
Serei o único?
Há uns 5 jovens dos nossos grupos que vão ser confirmados.
São dos "atrasados" (tratamento carinhoso): pessoas que por uma razão ou por outra não celebraram este sacramento ao mesmo tempo que os companheiros de grupo.
No sábado vamos ter uma catequese especial com todos os elementos dos grupos, jantar partilhado e celebração penitencial à noite.
Ao preparar estas coisas, damo-nos conta (eu e os outros animadores) que não fazemos ideia de qual é a prática, regularidade, qualidade, de reconciliação dos nossos jovens.
Não estou a dizer isto aqui para alardear a minha ignorância. Mas para dizer que há muitos processos que reputamos como importantes para um crescimento sustentado na fé que nos passam ao lado.
Serei o único?
2009/07/05
de regresso
Terminou ontem o retiro que preguei aos 9 diáconos (2 de Viana e 7 de Braga) que serão ordenados brevemente. Decorreu em Singeverga, onde a comunidade dos monges beneditinos nos acolheu como convém.
Evidentemente não é este o lugar para falar das emoções associadas a uma experiência destas mas, numa linha mais analítica, aqui ficam algumas questões para pensar:
+ Para que servem as antigas ordens monásticas e de clausura?
+ O que se espera de um padre novo?
Prometo cá voltar a estes temas.
Evidentemente não é este o lugar para falar das emoções associadas a uma experiência destas mas, numa linha mais analítica, aqui ficam algumas questões para pensar:
+ Para que servem as antigas ordens monásticas e de clausura?
+ O que se espera de um padre novo?
Prometo cá voltar a estes temas.
2009/06/29
Retiro aos futuros padres
Ainda ontem "reactivei" o blog e já me vou ausentar!
Entre amanhã e o próximo sábado vou estar fora, sem acesso à net.
Vou estar em Singeverga, a pregar o retiro a 7 diáconos da diocese de Braga que serão ordenados padres em breve.
Para eles é um momento de intensa experiência espiritual. Peço a todos os benévolos leitores as vossas orações.
Entre amanhã e o próximo sábado vou estar fora, sem acesso à net.
Vou estar em Singeverga, a pregar o retiro a 7 diáconos da diocese de Braga que serão ordenados padres em breve.
Para eles é um momento de intensa experiência espiritual. Peço a todos os benévolos leitores as vossas orações.
Apresentação do projecto GPS em Leiria (2)
Outra questão que, nestes âmbitos da PJ, costuma separar as águas é o conceito de animador.
Para muitos grupos animador é aquele que tem um papel activo na condução das reuniões.
Por isso quando eu digo que o grupo precisa de um animador bem formado, disponível, adulto na fé, isso é sentido como se eu pretendesse "enfiar" no grupo um professor-polícia que reduziria os jovens à passividade.
Vamos lá a ver se nos entendemos.
1. Não confundir a figura do animador com a questão das lideranças. Em qualquer processo de grupo, é inevitável o aparecimento de líderes, de elementos que se destacam em algum aspecto e que acabam por ser mais centrais na rede de comunicação (e decisão-acção) do grupo. A liderança é uma função "natural" do grupo. Eu falo do animador. De alguém que, estando no grupo, é suficientemente diferente (mais maduro) para estar ao serviço do crescimento do grupo e dos seus elementos.
2. Não confundir o animador com o gestor de actividades. O animador não tem que fazer tudo. O que o animador faz, deixa de fazer ou faz fazer depende do tipo de grupo, da fase evolutiva do grupo e de mil e um factores. O facto de haver um animador não quer dizer que seja ele o único protagonista. Muito pelo contrário.
Mas para lá destas diferenças factuais no conceito de animador, pode ser que as diferenças tenham bases teóricas.
Eu revejo-me num modelo educativo que assenta na assimetria educativa. Ou seja, só há diálogo educativo se houver algum tipo de assimetria. Isto não quer dizer hierarquia, desigual distribuição do poder. Um professor (vamos buscar um exemplo à escola) pode ser muito "democrático" mas tem de ser "diferente" (=assimétrico) dos alunos; se isso não acontecer termina a relação educativa. A diferença pode ser de idade, autoridade, competência científica. Ou pode ser apenas de atitude: os alunos estão lá para um qualquer objectivo (aprender, fazer turismo na escola...); o professor está lá para servir esse objectivo dos alunos.
Acho ingénuo um certo "basismo" que diz que sendo todos iguais não deveria haver distinções dentro do grupo. Discordo disto em termos filosóficos. Mas, acima de tudo em termos práticos: isto não acontece na realidade. Peguem em qualquer grupo e deixem-no sem nenhum tipo de autoridade. A evolução natural do grupo leva ao aparecimento de diferentes papéis; entre esses papéis diferenciados estão as lideranças. Mesmo que o grupo não evolua para o caos nem para a ditadura, mesmo que se mantenha organizado e democrático (coisa que estatisticamente é bastante raro) aparece sempre alguém que "faz as despesas" de organização do grupo.
Aquilo que defendo é que em vez de deixar isso ao acaso, a comunidade ofereça aos grupos eclesiais alguém disponível e formado para esse serviço.
Num certo sentido eu percebo a dificuldade de aceitar estas propostas:
1) Por reacção à falta de protagonismo juvenil. Na escola, na sociedade, na Igreja demasiadas coisas são impostas. Os jovens sentem uma necessidade real de espaços onde possam sentir-se responsáveis. É evidente que o modelo de animador que defendemos não contraria isso; antes o potencia!
2) Por tradicionalismo. Como em muitos sectores de PJ o nível de reflexão é muito baixo, as ocasiões de formação são raras, as pessoas agarram-se ao que conhecem. A mudança é sentida como perigosa.
Para muitos grupos animador é aquele que tem um papel activo na condução das reuniões.
Por isso quando eu digo que o grupo precisa de um animador bem formado, disponível, adulto na fé, isso é sentido como se eu pretendesse "enfiar" no grupo um professor-polícia que reduziria os jovens à passividade.
Vamos lá a ver se nos entendemos.
1. Não confundir a figura do animador com a questão das lideranças. Em qualquer processo de grupo, é inevitável o aparecimento de líderes, de elementos que se destacam em algum aspecto e que acabam por ser mais centrais na rede de comunicação (e decisão-acção) do grupo. A liderança é uma função "natural" do grupo. Eu falo do animador. De alguém que, estando no grupo, é suficientemente diferente (mais maduro) para estar ao serviço do crescimento do grupo e dos seus elementos.
2. Não confundir o animador com o gestor de actividades. O animador não tem que fazer tudo. O que o animador faz, deixa de fazer ou faz fazer depende do tipo de grupo, da fase evolutiva do grupo e de mil e um factores. O facto de haver um animador não quer dizer que seja ele o único protagonista. Muito pelo contrário.
Mas para lá destas diferenças factuais no conceito de animador, pode ser que as diferenças tenham bases teóricas.
Eu revejo-me num modelo educativo que assenta na assimetria educativa. Ou seja, só há diálogo educativo se houver algum tipo de assimetria. Isto não quer dizer hierarquia, desigual distribuição do poder. Um professor (vamos buscar um exemplo à escola) pode ser muito "democrático" mas tem de ser "diferente" (=assimétrico) dos alunos; se isso não acontecer termina a relação educativa. A diferença pode ser de idade, autoridade, competência científica. Ou pode ser apenas de atitude: os alunos estão lá para um qualquer objectivo (aprender, fazer turismo na escola...); o professor está lá para servir esse objectivo dos alunos.
Acho ingénuo um certo "basismo" que diz que sendo todos iguais não deveria haver distinções dentro do grupo. Discordo disto em termos filosóficos. Mas, acima de tudo em termos práticos: isto não acontece na realidade. Peguem em qualquer grupo e deixem-no sem nenhum tipo de autoridade. A evolução natural do grupo leva ao aparecimento de diferentes papéis; entre esses papéis diferenciados estão as lideranças. Mesmo que o grupo não evolua para o caos nem para a ditadura, mesmo que se mantenha organizado e democrático (coisa que estatisticamente é bastante raro) aparece sempre alguém que "faz as despesas" de organização do grupo.
Aquilo que defendo é que em vez de deixar isso ao acaso, a comunidade ofereça aos grupos eclesiais alguém disponível e formado para esse serviço.
Num certo sentido eu percebo a dificuldade de aceitar estas propostas:
1) Por reacção à falta de protagonismo juvenil. Na escola, na sociedade, na Igreja demasiadas coisas são impostas. Os jovens sentem uma necessidade real de espaços onde possam sentir-se responsáveis. É evidente que o modelo de animador que defendemos não contraria isso; antes o potencia!
2) Por tradicionalismo. Como em muitos sectores de PJ o nível de reflexão é muito baixo, as ocasiões de formação são raras, as pessoas agarram-se ao que conhecem. A mudança é sentida como perigosa.
2009/06/28
Apresentação do projecto GPS em Leiria (1)
Ontem (27 Junho) fomos (eu, a idália e o Fraga) a Leiria. A convite da pastoral juvenil da diocese apresentámos o projecto GPS. previstos 25 participantes; presentes uns 45. O que nestas coisas de PJ é sempre de saudar. Vários padres presentes. Ainda de saudar mais.
No diálogo com os participantes apareceram várias questões que merecem alguma reflexão.
Que entendimento de grupo?
Eu tenho vindo a defender a existência de grupos fortemente coesos. Com uma alta estabilidade dos elementos. Alguns animadores (ali e em muitos sítios) defendem uma ideia diferente (e que é prática corrente em muito sítio) em que o grupo é uma realidade muito aberta onde se entra e sai numa rotação relativamente levada. Este modelo imagina que o jovem entra a uma certa idade, se mantém no grupo durante alguns ano e depois o abandona. E este processo vai-se mantendo em contínuo. Isto leva a que num mesmo grupo coexistam pessoas de idades muito diferentes, normalmente entre os 15-16 e os 20 e tal anos. Eu posso representar este modelo com a imagem do corredor de passagem. Um grupo assim é como um corredor de passagem onde se entra de um lado, se leva algum tempo a fazer o que há a fazer e se sai pelo outro lado. Em cada momento há um determinado número de pessoas dentro do corredor (grupo) mas em que os tempos de permanência no grupo são muito diferentes.
Eu defendo um outro modelo que pode ser representado pela imagem da sala de estar: há um grupo de pessoas (mais ou menos sempre as mesmas) que se mantêm na sua tarefa (os objectivos do grupo) com uma certa constância.
Claro que não defendo um grupo-seita em que não se pode entrar ou do qual não se pode sair. Isso poderia ser representado pela imagem do bunker!. É evidente que no modelo que defendo há gente que entra e que sai. Mas isso acontece como excepção a uma regra. Excepção que tem custos para o adequado funcionamento do grupo. Excepção que não pode nem deve ser erigida em norma.
Claro que o argumentário em favor de um ou outro modelo pode nunca mais acabar. Mas vale a pena tentar perceber as vantagens e limites de cada um deles.
Podemos tentar perceber qual o grau de coesão de cada modelo.
É sempre mais baixa no modelo "corredor de passagem". A coesão faz-se a partir das memórias, da quantidade e qualidade das inter-relações. A partir do momento em que o grupo está sempre a refazer-se (porque é de norma que haja sempre gente que entra e sai) as redes internas estão sempre em fase inicial de elaboração. Isso leva a que a qualidade da comunicação profunda seja relativamente débil.
No modelo "sala de estar" a coesão (e a qualidade-quantidade das comunicações dentro do grupo) pode crescer porque o grupo pode seguir um percurso evolutivo mais ou menos linear (isto não quer dizer que não haja sobressaltos e problemas). Quando a comunicação tem alta qualidade, quando o grupo tem, ao mesmo tempo uma alta coesão e um alto respeito pela individualidade de cada um dos elementos, o grupo ganha o seu maior potencial educativo.
Outra questão é a da homogeneidade-heterogemeidade . No modelo "corredor de passagem" há uma mais alta heterogeneidade. Normalmente a partir do factor idade. E isso, com todo o realismo, condiciona a qualidade da comunicação. Não acho que seja impossível algum diálogo entre pessoas de 16 anos e pessoas de 25. Mas as experiências de vida e de fé são de facto muito condicionadas pelas vivências de cada um. Pessoas com idades diferentes podem perfeitamente falar adequadamente sobre "coisas" externas: a cultura de espinafres, o uso do preservativo, um texto de S. Paulo... Mas se não quisermos mais falar sobre coisas mas sobre a nossa vivência, se quisermos que o grupo seja um espaço onde se partilham experiências e se aprende com elas numa lógica de interacção, fica mais difícil quando a heterogeneidade é muita.
Exemplo: a experiência de tentar viver na fé a sexualidade (para dar exemplo de uma questão frequente) não é a mesma aos 16 e aos 25 (espero eu!). O que acontece se colocarmos um grupo "corredor" heterogéneo a trabalhar sobre isto? Das duas uma: ou se procura um diálogo "objectivo", em que todos abdicam das suas experiências e vivências (a dimensão subjectiva) ou algumas experiências abafam outras. Pode-se tentar negar este meu argumento, dizendo que "os mais novos aprendem com os mais velhos"... É verdade, até certo ponto. Mas o modelo de PJ que defendo, diz que os mais "novos" têm direito a ser mais novos, a ter as suas próprias experiências, a elaborar, eclesialmente, as suas próprias sínteses, ao seu ritmo.
É evidente que não vale a pena procurar construir grupos absolutamente homogéneos. Inviável e inútil. O que digo é que a partir de certo ponto a heterogeneidade dentro do grupo impossibilita o diálogo e a partilha. O modelo "sala de estar" defende melhor a qualidade de comunicação e aprendizagem dentro do grupo.
Poderia ser interessante pensar nesta óptica a prática dos escuteiros. Como se sabe, cada secção tem 4-5 anos de duração: lobitos (6-10); exploradores (10-15);Pioneiros (15-18); caminheiros (18-22). Dentro de cada secção organizam-se as unidades, pequenos grupos (bandos, patrulhas, equipas). Se bem me lembro, cada agrupamento pode usar vários modelos para estruturar as unidades. Podem ser em co-educação ou separadas por géneros; podem pedir homogeneidade de idades ou podem preferir um modelo "vertical" em que coexistem, na mesma unidade as várias idades. Estas várias possibilidades mostram que a questão não é simples. E tem muito que ver com o modelo educativo escutista e com o tipo de "objectivos" que estão em jogo.
Mas se repararem não é possível ter um jovem de 16 anos (pioneiro) com outro de 22 (caminheiro em idade de partida)
No diálogo com os participantes apareceram várias questões que merecem alguma reflexão.
Que entendimento de grupo?
Eu tenho vindo a defender a existência de grupos fortemente coesos. Com uma alta estabilidade dos elementos. Alguns animadores (ali e em muitos sítios) defendem uma ideia diferente (e que é prática corrente em muito sítio) em que o grupo é uma realidade muito aberta onde se entra e sai numa rotação relativamente levada. Este modelo imagina que o jovem entra a uma certa idade, se mantém no grupo durante alguns ano e depois o abandona. E este processo vai-se mantendo em contínuo. Isto leva a que num mesmo grupo coexistam pessoas de idades muito diferentes, normalmente entre os 15-16 e os 20 e tal anos. Eu posso representar este modelo com a imagem do corredor de passagem. Um grupo assim é como um corredor de passagem onde se entra de um lado, se leva algum tempo a fazer o que há a fazer e se sai pelo outro lado. Em cada momento há um determinado número de pessoas dentro do corredor (grupo) mas em que os tempos de permanência no grupo são muito diferentes.
Eu defendo um outro modelo que pode ser representado pela imagem da sala de estar: há um grupo de pessoas (mais ou menos sempre as mesmas) que se mantêm na sua tarefa (os objectivos do grupo) com uma certa constância.
Claro que não defendo um grupo-seita em que não se pode entrar ou do qual não se pode sair. Isso poderia ser representado pela imagem do bunker!. É evidente que no modelo que defendo há gente que entra e que sai. Mas isso acontece como excepção a uma regra. Excepção que tem custos para o adequado funcionamento do grupo. Excepção que não pode nem deve ser erigida em norma.
Claro que o argumentário em favor de um ou outro modelo pode nunca mais acabar. Mas vale a pena tentar perceber as vantagens e limites de cada um deles.
Podemos tentar perceber qual o grau de coesão de cada modelo.
É sempre mais baixa no modelo "corredor de passagem". A coesão faz-se a partir das memórias, da quantidade e qualidade das inter-relações. A partir do momento em que o grupo está sempre a refazer-se (porque é de norma que haja sempre gente que entra e sai) as redes internas estão sempre em fase inicial de elaboração. Isso leva a que a qualidade da comunicação profunda seja relativamente débil.
No modelo "sala de estar" a coesão (e a qualidade-quantidade das comunicações dentro do grupo) pode crescer porque o grupo pode seguir um percurso evolutivo mais ou menos linear (isto não quer dizer que não haja sobressaltos e problemas). Quando a comunicação tem alta qualidade, quando o grupo tem, ao mesmo tempo uma alta coesão e um alto respeito pela individualidade de cada um dos elementos, o grupo ganha o seu maior potencial educativo.
Outra questão é a da homogeneidade-heterogemeidade . No modelo "corredor de passagem" há uma mais alta heterogeneidade. Normalmente a partir do factor idade. E isso, com todo o realismo, condiciona a qualidade da comunicação. Não acho que seja impossível algum diálogo entre pessoas de 16 anos e pessoas de 25. Mas as experiências de vida e de fé são de facto muito condicionadas pelas vivências de cada um. Pessoas com idades diferentes podem perfeitamente falar adequadamente sobre "coisas" externas: a cultura de espinafres, o uso do preservativo, um texto de S. Paulo... Mas se não quisermos mais falar sobre coisas mas sobre a nossa vivência, se quisermos que o grupo seja um espaço onde se partilham experiências e se aprende com elas numa lógica de interacção, fica mais difícil quando a heterogeneidade é muita.
Exemplo: a experiência de tentar viver na fé a sexualidade (para dar exemplo de uma questão frequente) não é a mesma aos 16 e aos 25 (espero eu!). O que acontece se colocarmos um grupo "corredor" heterogéneo a trabalhar sobre isto? Das duas uma: ou se procura um diálogo "objectivo", em que todos abdicam das suas experiências e vivências (a dimensão subjectiva) ou algumas experiências abafam outras. Pode-se tentar negar este meu argumento, dizendo que "os mais novos aprendem com os mais velhos"... É verdade, até certo ponto. Mas o modelo de PJ que defendo, diz que os mais "novos" têm direito a ser mais novos, a ter as suas próprias experiências, a elaborar, eclesialmente, as suas próprias sínteses, ao seu ritmo.
É evidente que não vale a pena procurar construir grupos absolutamente homogéneos. Inviável e inútil. O que digo é que a partir de certo ponto a heterogeneidade dentro do grupo impossibilita o diálogo e a partilha. O modelo "sala de estar" defende melhor a qualidade de comunicação e aprendizagem dentro do grupo.
Poderia ser interessante pensar nesta óptica a prática dos escuteiros. Como se sabe, cada secção tem 4-5 anos de duração: lobitos (6-10); exploradores (10-15);Pioneiros (15-18); caminheiros (18-22). Dentro de cada secção organizam-se as unidades, pequenos grupos (bandos, patrulhas, equipas). Se bem me lembro, cada agrupamento pode usar vários modelos para estruturar as unidades. Podem ser em co-educação ou separadas por géneros; podem pedir homogeneidade de idades ou podem preferir um modelo "vertical" em que coexistem, na mesma unidade as várias idades. Estas várias possibilidades mostram que a questão não é simples. E tem muito que ver com o modelo educativo escutista e com o tipo de "objectivos" que estão em jogo.
Mas se repararem não é possível ter um jovem de 16 anos (pioneiro) com outro de 22 (caminheiro em idade de partida)
Aniversário
Ontem a LS (do meu grupo de jovens) fez anos: 22.
Decidiu fazer uma festa. A mãe tem um café, o que oferece algumas vantagens logísticas.
Convidou o pessoal do grupo de jovens e alguns catequistas com quem trabalha.
Não! Não estou a transformar este blog num noticiário de eventos sociais, para manter a média de posts!
Quero é pensar pastoralmente sobre isto.
Ela poderia ter convidado colegas da faculdade, amigos e conhecidos.
Poderia não ter feito festa nenhuma.
Decidiu investir simbolicamente numa rede de relações ligadas ao grupo de fé e aos serviços eclesiais em que está. Quais as condições de possibilidade para isso acontecer?
Eu avanço com uma hipótese: a eclesialidade tem uma consistência social forte. E à hora de fazer opções, isso nota-se.
Este exemplo contraria aqueles que defendem que é possível ser Igreja sem uma forte relacionalidade social, sem efectivos laços. A experiência de Igreja (e da fé que lhe está associada) não pode ser apenas uma questão de referência mas de efectiva pertença.
Decidiu fazer uma festa. A mãe tem um café, o que oferece algumas vantagens logísticas.
Convidou o pessoal do grupo de jovens e alguns catequistas com quem trabalha.
Não! Não estou a transformar este blog num noticiário de eventos sociais, para manter a média de posts!
Quero é pensar pastoralmente sobre isto.
Ela poderia ter convidado colegas da faculdade, amigos e conhecidos.
Poderia não ter feito festa nenhuma.
Decidiu investir simbolicamente numa rede de relações ligadas ao grupo de fé e aos serviços eclesiais em que está. Quais as condições de possibilidade para isso acontecer?
Eu avanço com uma hipótese: a eclesialidade tem uma consistência social forte. E à hora de fazer opções, isso nota-se.
Este exemplo contraria aqueles que defendem que é possível ser Igreja sem uma forte relacionalidade social, sem efectivos laços. A experiência de Igreja (e da fé que lhe está associada) não pode ser apenas uma questão de referência mas de efectiva pertença.
Hora de retomar
Antes de mais, um pedido de desculpas.
Este blog, está, há quase um mês, em estado latente (dizer comatoso, pode ser exagerado).
Qualquer semelhança com o governo da nação, é pura coincidência; os sintomas (ausência de acção) podem ser similares mas as causas (e eventuais consequências) são bem diferentes. Só faço esta nota por motivos epistemológicos: é interessante perceber se 2 realidades com os mesmos fenómenos são necessariamente iguais.
Causas: Regressei a Portugal e às Edições Salesianas e tive de me dedicar a fundo a alguns dossiers mais "emergentes". Preferi suspender as minhas atenções académicas durante este mês de Junho, resolver os pendentes para, a partir de agora conseguir compaginar (com um mínimo de decência) a investigação, o trabalho na editora e os empenhos na formação.
Uma alteração: Até aqui este blog tem sido feito em Roma, numa situação de total dedicação ao estudo.
É evidente que agora, aqui em Portugal, as coisas mudam.
Pensei que poderia ser interessante usar este espaço para reflectir cientifica e criticamente sobre a realidade e os problemas pastorais que surgem. Eu escrevo habitualmente no site das Edições Salesianas e no Tás à toa (o site do meu grupo de jovens). Nenhum dos dois espaços tem o perfil adequado para uma reflexão mais sistemática.
Este blog, está, há quase um mês, em estado latente (dizer comatoso, pode ser exagerado).
Qualquer semelhança com o governo da nação, é pura coincidência; os sintomas (ausência de acção) podem ser similares mas as causas (e eventuais consequências) são bem diferentes. Só faço esta nota por motivos epistemológicos: é interessante perceber se 2 realidades com os mesmos fenómenos são necessariamente iguais.
Causas: Regressei a Portugal e às Edições Salesianas e tive de me dedicar a fundo a alguns dossiers mais "emergentes". Preferi suspender as minhas atenções académicas durante este mês de Junho, resolver os pendentes para, a partir de agora conseguir compaginar (com um mínimo de decência) a investigação, o trabalho na editora e os empenhos na formação.
Uma alteração: Até aqui este blog tem sido feito em Roma, numa situação de total dedicação ao estudo.
É evidente que agora, aqui em Portugal, as coisas mudam.
Pensei que poderia ser interessante usar este espaço para reflectir cientifica e criticamente sobre a realidade e os problemas pastorais que surgem. Eu escrevo habitualmente no site das Edições Salesianas e no Tás à toa (o site do meu grupo de jovens). Nenhum dos dois espaços tem o perfil adequado para uma reflexão mais sistemática.
2009/06/06
já em PT
Desculpem lá a ausência. Cheguei a Portugal no domingo passado e estive uns dias em casa dos meus pais. Desde 4ª feira já estou no Porto, na minha comunidade das Ediçóes Salesianas.
Tem sido tempo de rever os amigos e arrumar coisas.
Algumas impressões:
1. Então já acabaste o doutoramento? perguntam-me com frquência.
Não, não acabei. Um doutoramento não se faz em 4 meses. isto não são Phd em novas oportunidades nem dá para mandar teses por faz ao domingo (desculpem mas não resisto a esta farpazinha)
2. Outra coisa que me faz espécie é que raras são as pessoas que se interessam por tentar perceber de que é que trata este projecto de investigação.
Não é uma acusação a ninguém. É apenas um estímulo à (minha) humildade e a perceber que a vida das pessoas anda à volta daquilo que elas consideram importante e urgente. E nesse sentido o distanciar-se que o estudo sempre supõe é sempre um bocado irrelevante. Claro que há algumas pessoas que se dizem pros nisto da Igreja e da pastoral bem poderiam mostrar (ou fingir mostrar) algum interesse. Mas poderia ser pior: um colega meu está a acabar uma tese sobre o conceito de graça em Jerónimo Seripando. Quando o ouvi falar sobre isso a minha ignorância só me permitiu rir do nome do fulano. Obviamente, eu só posso achar que o "meu" tema de tese é que é interessante, os outros nem por isso.
Tem sido tempo de rever os amigos e arrumar coisas.
Algumas impressões:
1. Então já acabaste o doutoramento? perguntam-me com frquência.
Não, não acabei. Um doutoramento não se faz em 4 meses. isto não são Phd em novas oportunidades nem dá para mandar teses por faz ao domingo (desculpem mas não resisto a esta farpazinha)
2. Outra coisa que me faz espécie é que raras são as pessoas que se interessam por tentar perceber de que é que trata este projecto de investigação.
Não é uma acusação a ninguém. É apenas um estímulo à (minha) humildade e a perceber que a vida das pessoas anda à volta daquilo que elas consideram importante e urgente. E nesse sentido o distanciar-se que o estudo sempre supõe é sempre um bocado irrelevante. Claro que há algumas pessoas que se dizem pros nisto da Igreja e da pastoral bem poderiam mostrar (ou fingir mostrar) algum interesse. Mas poderia ser pior: um colega meu está a acabar uma tese sobre o conceito de graça em Jerónimo Seripando. Quando o ouvi falar sobre isso a minha ignorância só me permitiu rir do nome do fulano. Obviamente, eu só posso achar que o "meu" tema de tese é que é interessante, os outros nem por isso.
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