2009/03/31

As críticas

Há (ou houve) um debate sério dentro do campo da TRS.
Alguns criticam o risco de reduzir as RS ao seu aspecto cognitivo. Reproduzindo aquilo que teria sucedido com as atitudes: no início o conceito de atitude tinha uma dimensão social muito clara, mas o influxo de Alport forçou uma deriva individualista.
A crítica vai direitinha para Abric & friends.
Já me estava a fazer espécie o facto de, ao olhar para tantos estudos (com uma estatística toda estilosa) desta linha eu não conseguir perceber o carácter social dos ditos.
Isto ainda precisa de aprofundamento.

Núcleo central (2)

Continuando com o post anterior:
Remetendo para Flament, Abric estuda a relação entre a estrutura das RS e os seus processos de transformação.
Na relação entre práticas sociais e representações a pergunta decisiva é: o que acontece quando os actores sociais desenvolvem práticas sociais que contradizem o sistema de representação?
Ao ler isto, os meus sensores de alarme dispararam logo! é que isto pode ajudar a explicar muitas das trajectórias de abandono da fé e da Igreja.
Flament introduz o conceito de reversibilidade da situação para responder. Os actores sociais, numa prática contraditória com a RS podem considerar que a situação é irreversível (um regresso ao passado e às práticas anteriores) ou, pelo contrário que é reversível (o regresso às práticas anteriores é possível, sendo a situação actual apenas momentânea).
Se a situação for reversível, as novas práticas vão gerar modificações na RS. Os novos elementos serão integrados na RS, mas apenas através da transformação do sistema periférico; o sistema central mantém-se estável.
No caso de a situação ser percebida como irreversível, as novas práticas contraditórias vão ter consequências mais sérias. Há três transformações possíveis:
1) "resistir à transformação. São os casos onde as novas práticas ainda podem ser geridas pelo sistema periférico e pelos clássicos mecanismos de defesa;
2) Transformação progressiva. A mudança da RS ocorre sem rupturas, com adaptações suaves do núcleo central.
3) Transformação brutal. Quando as novas práticas desafiam o significado central da RS, sem possibilidade de recorrer a mecanismos de defesa.

Núcleo central (1)

Num breve artigo (ABRIC Jean-Claude, Central system, peripheral system: their functions in the dynamics of social representations em Papers on Social Representation (1993), 2, Abric apresenta algumas ideias a reter.
Há duas características das RS que parecem contraditórias:
1: São, ao mesmo tempo, estáveis e mutáveis;
2: Consensuais mas marcadas por fortes diferenças inter-individuais.
Para explicar esta aparente contradição, Abric explica que as RS têm duas componentes: o núcleo central e os elementos periféricos.
O núcleo central tem as seguintes características:
>> É determinado pelas condições históricas, sociais e ideológicas. Muito marcado pela memória colectiva do grupo e pelo sistema de normas a que se refere.
>> A sua função é consensual. Assegura a homogeneidade do grupo.
>> É estável, coerente, resiste à mudança.
>> É relativamente independente do imediato contexto social.
O sistema periférico actua como complemento ao sistema central de que depende.
Se o sistema central é essencialmente normativo, o sistema periférico é funcional. Sem ele, a RS não se poderia enraizar no momento concreto.
A sua 1ª função é habilitar o sistema central a definir um curso de acção.
Ao contrário do sistema central, o periférico é muito mais sensível ao contexto imediato. Actua como um interface entre o contexto e o sistema central.
Desempenha ainda uma 2ª função: regula a relação entre o nucleo e a realidade externa.
Tem ainda uma 3ª função: Permite uma certa modulação individual da RS. A sua flexibilidade permite ao sujeito a integração entre a história pessoal e a RS

2009/03/30

Ponto de situação

Cá ando às voltas com a TRS.
Nos últimos tempos tenho andado a ler umas coisas sobre a metodologia. E as partes mais bem conseguidas estão na perspectiva da teoria do núcleo central (cfr Abric...).
E muito bem: não basta determinar qual é o conteúdo das RS; há que perceber também qual é a sua estrutura.
Mas, e pergunto eu com a Jodelet, onde ficam os processos (ancoragem, objectivação)?
É que boa parte do que leio, deixa isso de lado?
E a questão dos "themata" onde fica?
Apesar disso cada vez mais me convenço do mérito da TRS para estudar a construção da imagem de Deus.
As abordagens feitas até aqui ou assumem um carácter positivista que não resiste à crítica legítima ou remetem para uma fragmentação radical (religião faça você mesmo) que impede o conhecimento (que é sempre conhecimento do geral) e também uma prática pensada e crítica.
A sugestão que cada um elabora a sua própria imagem de Deus, a partir da sua individualidade radical não parece resistir. Haverá tantas imagens de Deus quantas pessoas? Ou não será que apesar de tudo cada um constrói a sua imagem a partir de esquemas, representações, socialmente disponíveis em número relativamente limitado.
A abordagem da TRS também poderá ajudar a perceber-interpretar melhor a questão do apofatismo (Gallo), em que as pessoas, acreditando em Deus, não o verbalizam.
Precisamente a hipótese da zona muda das RS pode ajudar a explicar isso.

Narração em África e comunicação da fé

Fui assistir à defesa de doutoramento de Apolinary MSHGHWA sobre Communicating faith through narration: an african pastoral perspective.
A tese é orientada pelo Anthny (que provavelmente será o meu orientador). Tem como co-relatores o Tonelli (o grande expert em narração e PJ) e pelo Aimable Musoni (prof de dogmática, de pastoral em África; ruandês).
Uma sessão simpática, com tantos amigos do candidato. Mas deu-me a sensação que ficou um bocadinho curto. A tese que ele defende é simples:
1) A narração é um lugar importante na cultura africana;
2) A comunicação da fé cristã pode e deve ser feita como narração;
3) logo, 'bora lá juntar as duas.
É evidente que não li a tese. mas pela maneira como a apresentou, pela maneira como (não) respondeu às perguntas dos profes, é que digo que ficou um bocadinho curta.
Vim-me embora antes da nota final (porque é preciso trabalhar!) Quando souber algo mais eu aviso.

2009/03/28

Por onde lhe pegar?

Cada vez mais acho que a TRS serve de forma ímpar para o conhecimento da realidade, também em termos da experiência religiosa :)
O problema é que quando mais estudo a dita TRS, mais alargada me parece a coisa. E há que fazer opções. Há um certo consenso que a pluralidade temática e metodológica da TRS não é uma fragilidade mas um indicador da sua riqueza conceptual. Tudo bem. Mas às vezes, preferia uma teoria mais humilde.
É preciso distinguir três orientações principais:
>> A incidência da estrutura social na elaboração de uma RS (Doise)
>> A dinâmica representacional e as suas características estruturais, mormente em relação com as práticas sociais (Abric);
>> O papel regulador das RS sobre as interacções sociais (Jodelet).

TRS e barreiras semânticas

Alex GILLESPIE (Social representations, alternative representations and semantic barriers aprofunda o tema da pluralidade de RS.
Ele segue a tese segundo a qual a comunicação exige uma comunidade de representações mas também uma diferença. A possibilidade da comunicação nasce da semelhança mas a necessidade da comunicação nasce da diferença.
E sugere que a comunicação pressupõe não só a diferença como também a representação da diferença.
E fala das representações alternativas (=RA): são a representação de uma visão alternativa, no interior da própria RS.
As representações alternativas não são a representação dos outros mas as ideias que lhes atribuímos.
A existência de RA no interior das RSsão uma consequência necessária na existência de uma pluralidade de representações. E as RA são, ao mesmo tempo, desestabilizadoras e protectivas. Podem desestabilizar porque introduzem as alternativas no interior das representações existentes; mas podem proteger porque "estereotipam" essa alternativa.
As representações hegemónicas não têm RA. Nesse sentido são incapazes de dialogar. A questão que se pões é a da possibilidade da existência de RS hegemónicas numa cultura tão fragmentária como a nossa.
As representações emancipadas nascem precisamente num contexto de abertura e de diálogo com alternativas.
E também as representações polémicas, que nascem num conflito ideológico inter-grupo, tendem a ter uma RA principal. Mas não há diálogo entre a RS e a RA.
Perguntando-se porque é que a RA numa representação polémica é resistente ao diálogo, ele introduz o conceito de barreira semântica.
E identifica 7: Oposição rígida; transferência de significado, pensamentos proibidos, Separação, Estigma, Sabotagem da motivação, Suspensão.

Epistemologia da TRS

A partir do artigo MARKOVÁ Ivana 2008 The epistemological significance of the theory of social representations. Journal for the Theory of Social Behaviour 38(4):461-487.
A autora tenta estudar a dificuldade de acolhimento da TRS no âmbito da psicologia social a partir de questões paradigmáticas e epistemológicas.
Apresenta a tese que o salto ocorrido na física entre uma física (e epistemologia) newtoniana e einsteiniana ainda não ocorreu na psicologia (e na psicologia social em particular).
A maioria da psicologia depende ainda da visão mecanicista e empiricista de Newton.
A TRS assume-se como seguidora do paradigma de Einstein e do seu triângulo de relações.
O primeiro lado desse triângulo é a relação entre epistemologia e ciência. Para Einstein há uma relação recíproca entre ambas, cada uma dependente da outra.
O segundo lado é a relação entre teoria e experiência. A praxis tradicional diz que a teoria deve ser deduzida da experiência por abstracção lógica e que a teoria é falsifica por resultados experimentais que a contradigam. Mas não é a abordagem de Einstein. Os conceitos são invenções livres do espírito humano, não são deduzidos por abstracção.
O terceiro lado é o argumento contra as explicações dos efeitos a partir das suas causas.
Epistemologia interaccional
Muita da dificuldade em entender a TRS é tentar fazê-lo a partir do paradigma mecanicista em vez de usar uma epistemologia interaccional.
A TRS explora a realidade social dos fenómenos nas suas interdependências e dinâmicas. Ela pressupõe interacção entre os fenómenos sociais e não a existência de categorias simples. Assume que o pensamento natural e a comunicação são multifacetados e heterogéneos. Interessa-se mais pela interacção entre os sujeitos do que pelo comportamento dos agentes isolados.
Nesta abordagem (TRS) uma representação é gerada conjuntamente pelo eu e pelo outro.
O que separa as epistemologias de Newton e de Einstein é o conceito de interacção entre o eu e o outro na produção de conhecimento (representação). Na epistemologia de Newton o eu, independentemente do social, gera a representação a partir do objecto.
Esta triangularidade leva a explorar outras componentes do processo de geração social do conhecimento: tempo, cultura…. À figura base do triângulo, acrescenta-se uma dimensão temporal. (O que leva à metáfora do Toblerone, o famoso chocolate suíço).
Uma abordagem newtoniana exige uma operacionalização dos conceitos como princípio metodológico. Mas a natureza relacional das RS, leva a que o critério de verdade baseado na correspondência entre os fenómenos sociais complexos e a medição não fça muito sentido. Porquê? Porque entender as RS como fenómenos mentais de nível individual originados em acções ou interacções, passa completamente ao lado da questão.
O modelo habitual em psicologia propõe um conhecedor passivo e um objecto a ser descoberto. A TRS propõe que a representação deva ser considerado em modo activo: as representações são modalidades de conhecimento e a sua função é moldar actividades, comunicação e criar realidade. Conceber as RS como pequenas entidades estáveis é tentar interpretar o electromagnetismo em termos mecanicistas.
Teoria é método da TRS
A ciência pré-Einstein é “data-driven” e não “theory-driven”, o que leva à centralidade do método.
A TRS está aberta a uma pluralidade de métodos; todos servem desde qu sirvam para resolver o problema.
Pensamento natural e polifasia cognitiva
As pessoas usam vários modos de comunicação e pensamento. Por isso, o pensamento humano está cheio de contradições, é influenciado pelo pensar dos outros e pelos contextos históricos e culturais que nos rodeiam.
Tudo isso leva à hipótese da polifasia cognitiva, a possibilidade de cada um ter variadas práticas comunicativas ao mesmo tempo.

2009/03/25

Empirical approaches to social representations

Logo de manhã fui buscar este livro: BREAKWELL Glynis M.//CANTER David V., Empirical approaches to social representations.
É uma compilação de textos sobre metodologia em TRS.
Tirou-me um grande peso dos ombros. Depois do dia de ontem, em que estive completamente aos papéis, sabe bem ler um livro que explica bem as coisas, bem escrito.
Já li os dois primeiros textos e estou a gostar. Ainda são de tipo teorético mas isto promete.
O que não percebo é o preço do livro: 51 libras usados!
É um livro de 1993, cartonado, 340 páginas.
Já reparei que há uma série de livros, mais especializados que custam couro e cabelo.
Onde é que eles vão fabricar estes preços?
Era o tipo de livro que, a confirmar-se a qualidade, poderia interessar-me como obra de referência. Por este preço, no way!!!
Aliás, só para desabafo, os artigos eletrónicos também estão pela hora da morte: 20-30 € por um artigo! Are you kidding?
A chatice são aquelas revistas que não sei onde encontrar.

Dia grande

Dia de grandes acontecimentos. Dia de sol aqui em roma.
Anunciação do Senhor. Deixa logo bem disposto celebrar uma festa destas. Para não eaquecermos qual é o estilo de Deus na história. Toda e minha também.

Clodóvis Boff. Este teólogo veio cá à UPS apresentar o seu novo livro, uma "mariologia social". Muito equilibrado. Uma pessoa que cresce. Gostei mesmo. E não fui o único.

Doutoramento do Jesus Doss. É um salesianos aqui da minha comunidade, indiano, que defendeu hoje o seu doutoramento em comunicação social. Momento de família e festa forte no refeitório. O que é uma chatice, porque esta noite tinha umas coisas para escrever; mas com a barriga cheia de gelado, acho que não vou lá.

Gregor recuperado. Gregor é o administrador da nossa comunidade que ontem teve um problema algo sério de tensão. mas hoje já está recuperado e pronto para as curvas.

2009/03/24

Dia cinzento

Acordei tarde. E mal disposto. O tempo está fresco e cinzento, cor de burro quando foge.
Pleno de energia lá me atirei às fotocópias sobre métodos de análise da TRS (que referi no último post).
Não entendo nada daquilo. Umas vezes tem que ver com a minha incompetência em estatística avançada, outras tem que ver com as ambiguidades teoréticas das várias correntes da TRS... nem sei.
O dia inteiro a pegar em textos, a saltar para outros... e a sensação de que não se aprende nada.
Admitamos que faz parte do caminho.

2009/03/23

Coisas boas

Uma lista um pouco avulsa de coisas boas, daqui de Roma

Social constructionism and theology, uma compilação coordenada por HERMANS Chris A.M.
Trouxe o livro na 6ª feira da biblioteca. Tem alguns artigos interessantes. Vai dar uma série de posts.

The postmodern life cycle, de F. Schweitzer.
Chegou-me finalmente pelo correio. À espera de ser lido, riscado e anotado.

Visita de amigo. Chegou aqui hoje a Roma o Pe. Leal. Ele é agora o superior dos salesianos em Moçambique. há 20 e tantos anos que nos conhecemos e vamos trocando entusiasmos pela evangelização dos jovens e pela vida salesiana.

Métodos e teoria das representações sociais
Descobri o n~º 52/3 da European Review of applied sychology dedicada aos métodos de estudo das representações sociais., Aquilo é que foi bombar nas fotocópias.

Tnhink tank - evangelização dos jovens. Foi hoje a 1ª sessão plenária. Muitos alunos, bastantes professores.

2009/03/21

Representações sociais e atitudes (4)

Do consensual ao reificado: representação social das atitudes
Há um certo debate acerca da continuidade e/ou complementaridade dos conceitos de RS e atitude.
Mas Howarth defende que as diferenças são profundas. As atitudes nascem numa psicologia de paradigma cartesiano, com um forte dualismo entre corpo-alma, eu-outro, indivíduo-sociedade. A mente é concebida não só como separada do corpo mas também do mundo material e social. Neste paradigma não é possível pensar um “eu social”.
Moscovici ao lançar a TRS usa um paradigma hegeliano, onde as contradições são subsumidas numa síntese.
Pode-se ainda recuperar a distinção que Dewey faz entre concepções mecânicas e orgânicas da sociedade.
As TRS assentam na concepção de relações mutuamente constitutivas entre o indivíduo e o mundo onde se vive.
Atitudes e RS vêm de paradigmas diferentes, têm linguagens diferentes. Por causa do dualismo cartesiano subjacente, os teóricos das atitudes não conseguem analisar as relações entre indivíduo e mundo.
A partir daqui, a autora vai tentar perceber, usando a grelha de análise da TRS, como é que se chegou à teoria das atitudes. Precisamente porque a RS da pessoa como indivíduo se expandiu, chegou-se a uma teoria reificada dessa RS. “A RS das atitudes deriva directamente da RS do indivíduo” (p. 21).

Representações sociais e atitudes (3)

Mudanças na conceptualização das atitudes
O que diferencia, e, ao limite, torna incompatíveis, o conceito de atitude e o de RS é a diferente concepção do interface indivíduo-sociedade.
Por razões várias tem-se observado uma crescente individualização do conceito de atitude. E foi uma reacção contra a cultura individualista que levou ao desenvolvimento da TRS.
Mas não seria possível acrescentar uma perspectiva mais social ao estudo das atitudes? A autora identifica algumas tentativas nesse sentido mas mostra-se crítica quanto à qualidade “social” desses esforços. Essas tentativas reconhecem um papel ao social nos conteúdos, nas origens… mas não agarram os processos sociais subjacentes.
“Até à data não há exemplos reconhecidos no campo das ‘atitudes’ que incorporem a relação, interactiva e mutuamente constitutiva, que há entre o ‘individual’ e o ‘social’”. (p. 16)

Representações sociais e atitudes (2)

Atitudes e representações sociais: uma distinção básica
As definições de atitude são inúmeras. Mas tendem a partilhar a noção que, diante de um objecto há uma atitude latente que se vai exprimir num contexto “neutral”. A atitude não corresponde ao comportamento; influencia-o. As atitudes são uma propriedade dos indivíduos. Estes são vistos de forma isolada, dissociados do seu ambiente social, recebendo informação e reagindo a ela. Algumas abordagens têm em conta o ambiente, mas mais como uma variável de fundo. Não se explora o facto de o indivíduo poder influenciar o ambiente e vice-versa. Além disso, a teoria das atitudes não consegue explorar como as atitudes são partilhadas, como certas atitudes se relacionam com outras, qual a relação entre atitudes e identidades e como é que certas atitudes podem influir na sociedade como um todo.
Uma primeira função das RS é dotar o nosso mundo de uma ordem negociada (e, por isso mesmo, negociável) que enquadre objectos, pessoas e acontecimentos.
Para a TRS, os indivíduos são vistos como alguém que activamente participa na construção do ambiente. As RS diferem das atitudes porque não podem ser formadas pelos indivíduos isolados. As RS são moldadas na interacção, no diálogo e na prática com os outros.
Uma segunda função das RS é permitir a comunicação entre membros de uma comunidade, ao fornecer-lhes um código para a interacção social e um código comum para entender a realidade onde existem.
Uma oura função das RS é prescritiva. As RS são partilhadas e tendem a impor-se. O que é prescritivo nas RS é o processo de re-presentação em si mesmo. Não pode haver comunicação dentro de uma sociedade ou grupo sem representação. Isto não quer dizer que a TRS negue o livre arbítrio ou a possibilidade da mudança social. As RS só existem na medida em que circulam em constantes cambiantes, pois são interpretadas e reelaboradas pelos sujeitos. Por isso as RS podem conter doses elevadas de conflito e contradição. Um campo representacional “permite” contradição, fragmentação, negociação e debate.
A TRS permite a conceptualização da polifasia cognitiva. Isto não só permite inconsistências nas RS mas teoriza que essas contradições são centrais para a comunicação, a interacção e a prática social.
Resumindo: o que a teoria das atitudes e a TRS estudam seja semelhante em termos de conteúdo, as suas perspectivas não poderiam ser mais diferentes. As atitudes partem do indivíduo. As RS partem do conhecimento social. As RS são diferentes das atitudes porque existem fora do indivíduo tal como na mente do indivíduo.

Representações sociais e atitudes (1)

Um artigo de Howarth pode ajudar-me muito.
(HOWARTH Caroline Susannah 2006: 691-714)(HOWARTH Caroline Susannah 2006 How social representations of attitudes have informed attitude theories: the consensual and the reified. Theory and psychology 16(5):691-714.)

Este artigo não aparece isolado. Há (ou houve) um debate mais ou menos latente entre uma psicologia social “europeia” (mais atenta ao social) e uma outra “americana” (mais atenta ao individual-psicológico).
Howarth tenta perceber como é que um constructo como atitude que nasce com uma forte componente social (cfr Thomas & Znaniecki) evolui para uma perspectiva muito mais individualista. “É minha intenção mostrar como a progressiva individualização da psicologia social conduziu a um intendimento extremamente estreito das atitudes, focado quase exclusivamente no indivíduo descontextualizado e em versões (quase) associais e apolíticas dos seres sociais.” (p. 5)
Ela reconhece que houve ao longo da história da psicologia tentativas de “colocar o social de volta à psicologia social”.
Para perceber o que se passou ela vai usar a teoria da representação social (= TRS) para comparar e contrastar o conteúdo das teorias das atitudes e das representações sociais.

2009/03/20

Notícias soltas 2

Aquecimento global
O frio voltou a Roma.Ontem à noite os trovões assustaram os mais fortes.
Dizem que está a nevar acima dos 1000 metros.
E eu preocupado em comprar umas t-shirts para a primevera-verão que se avizinha. pois...

comentários
Aqui o estaminé (latitudes) continua com cerca de 100 visitas por semana. o que é impressionante, atendendo ao perfil e às previsões.
Este blog tem todos os comentários abertos e não moderados.
Imagino que quem por aqui passa não vem à procura de gajas boas. Imagino que é gente que se interessa por estas coisas da evangelização, pastoral, catequese. Por isso estejam à vontade para comentar.
Digo isto, porque várias vozes já me disseram que se sentem intimidadas com o "nível" (deixa-me rir) dos posts. Vamos lá a esclarecer: este blog funciona online como a minha forma de fazer um "diário" do projecto de investigação em que estou. Normalmente recomenda-se a quem se mete em coisas destas de doutoramentos que vá fazendo um "diário", um instrumento que dê forma aos processos de reflexão interior que ocorrem. Aproveitando as novas tecnologias resolvi fazer uma cosa dessas com carácter público.
Isto não tem uma ordem pensada: vou postando mais ou menos em sintonia com o trabalho que vou fazendo.
Isto não tem uma linha editorial: não é como os textos que escrevo na catequistas ou no site das edições salesianas. Não é sequer como o "Pensar a catequese" em que o Luís Rodrigues, de uma forma pedagógica, vai dizendo as suas coisas. Normalmente para um público mais "pro" do que o meu habitual (Catequistas, edisal...)
Tenho consciência que algumas coisas que digo e que enfrento são um bocado "à frente" em relação ao nível do diálogo que normalmente aparece na nossa igreja. Mas mesmo assim, acho que é legítimo, escrever e comentar. Quanto mais não seja para dizer (a respeito daquilo que vos pode interessar) que não perceberam nada do que eu disse ou que eu estou a complicar inutilmente.
Agradeço àquele/as que têm tido a bondade de comentar.
Fazem com que isto da pesquisa seja menos solitário.

Read more
Alguém percebe alguma coisa disto do blogspot?
Se alguém souber como é que isto do readmore funciona, diga-me sff.
É que assim sempre evito fazer posts que parecem uns testamentos.

2009/03/19

AICA

O prof. Ubaldo Montisci convidou-me a participar numa reunião da AICA - Roma.
AICA é a associação italiana de catequetas. Aqueles que estão perto de Roma juntam-se 2 vezes por ano.
O encontro de hoje foi no auxilium, a faculdade de educação que as salesianas (FMA) têm aqui em Roma.
Foi uma tarde muito estimulante poder estar à conversa com uma série de professores de catequética.

e continua

Para simplificar...
Muita da pesquisa que se faz sobre temáticas religiosa tem um problema de validade. Isto é, os dados que obtemos podem não estar a medir aquilo que julgávamos. No post anterior (que resumir a 2ª parte do texto de Schweitzer) apareciam algumas tensões que punham em causa a validade de muitos estudos:
* Dados isolados vs contextos existenciais globais
* Atitudes momentâneas vs inserção na biografia ampla
* O real vs o potencial
* Empírico vs aspectos teológicos e normativos
* Estrutura-função vs conteúdo
* Aceitação de um entendimento tradicional de Deus vs a variedade das espiritualidades pessoais.
À pergunta "Acredita em Deus? as respostas não podem ser interpretadas de forma unívoca se não tivermos em atenção o contexto do sujeito.
Uma resposta possível "Nãp, eu não acredito que Deus exista" pode vir de um ateu ou de um teólogo que duvida que seja legítimo usar a categoria "existência" aplicada a Deus.

Pesquisa sobre jovens e religião

Uma síntese da 2ª parte deste artigo:
SCHWEITZER Friedrich, Research on youth and religion in the perspective of religious education. In Imagining God. Empirical explorations from an international perspective. ZIEBERTZ Hans-Georg, ed. Pp. 19-34. Munster: Lit Verlag 2001.


Mormente a 2ª parte do artigo (Second thoughts about research on youth and religion) tem algumas ideias que vale a pena reter.

1) Há uma tensão entre afirmações sobre temáticas religiosas e a inserção contextual do sujeito. As afirmações religiosas, se são consideradas isoladamente do contexto vivencial dos sujeitos podem facilmente induzir em erro. “as long as we do not know what a response really means in terms of its contextual embeddeness, we obviously know very little about a person’s religious or spiritual life” (p. 25).
Isto não significa que tenhamos que estudar estes temas segundo uma metodologia qualitativa mas uma abordagem quantitativa tem que estar disponível para lidar com a natureza complexa das experiências e convicções religiosas.

2) Numa perspectiva de educação religiosa (que é a do autor; ou de praxis pastoral) há uma certa frustração com a fixidez fotográfica de alguns resultados que não têm em consideração os processos de mudança religiosa e desenvolvimento em curso na pessoa. “Only if the process (temporal) context is taken into consideration, will the results be meaningful…” (p. 26)

3) Uma outra tensão resulta da diferença entre a fé actual e a fé potencial da pessoa. A educação e a pastoral interessam-se não apenas pelo que a pessoa é mas pelo que pode e deve tornar-se. Há, portanto, que superar a dicotomia entre o “que está” e o “que não está” de modo a abranger o potencial que ainda não está realizado.

4) Uma outra fonte de tensão acerca dos aspectos normativos das investigações. Supostamente a investigação empírica seria value-free para ser objectiva. Mas os educadores religiosos ficam frustrados com esse tipo de investigação que é sempre guiado por pressupostos teológicos e ideológicos não admitidos e, por isso mesmo, nunca discutidos ou postos em causa. O autor dá dois exemplos alemães, de sinal ideológico contrário, que acabam por conduzir ao mesmo tipo de resultados empíricos. Investigações que tentam aferir a conformidade dos jovens com categorias teológicas intra-eclesiais tendem a mostrar que há um afastamento da fé e uma perda de peso da dimensão religiosa. Mas investigações com um pressuposto “liberal”, que à partida desvaloriza a dimensão religiosa, acaba por chegar à mesma conclusão. Mas em ambos os casos a real experiência religiosa dos jovens não é tida em consideração. “This bias makes it hard or even impossible to focus on a type of religion which is highly pluralized and individualized” (p. 27)

5) Uma dificuldade final é a tensão entre a estrutura ou função da religião e o conteúdo religioso. O problema nasce (é um alemão que fala) por causa do pluralismo religioso; as formulações habituais de pesquisa tendem a considerar um horizonte exclusivamente cristão. “Structural and functional categories may not be sufficient in order to capture the specific religious understandings involved” (p. 28)

2009/03/18

Ilusões na idade das emoções

Foi um dos últimos livros que comprei em Portugal, antes de vir para Roma.
É a tese de doutoramento de Abílio Oliveira.
Tem como sub-título Representações sociais da morte, do suicídio e da música na adolescência.
Quando o vi na FNAC, fiquei com aquela sensação "é mesmo isto de que eu preciso". Não por causa do suicídio mas por trabalhar a teoria da representação social com adolescentes.
Ok. não quero aqui fazer uma recensão sistemática ao livro, mas aqui vão alguns bitaites...
Aquilo até começa bem. Definir é descrever o que é a adolescência, o suicídio. Apresenta o que é e os méritos da teoria das representações sociais.
O resto do livro descreve a parte empírica. Até tem um cd com os quadros e gráficos que não estão no livro. Não tem a base de dados.
A conceptualização e operacionalização da música é que me parece mais fragilzinha.
O que não percebo mesmo (e se alguém me pudesse ajudar, agradecia) é o que é que o design da investigação tem a ver com a teoria da representação social.
Eu, que não sou um especialista na TRS (mas que já li algumas coisas sobre a dita) não encontro ligação entre os dados e a análise que faz. Digo isto com muita humildade mas... acho que há aqui um equívoco.
Na análise dos dados não se percebe qual o núcleo central e os elementos periféricos (Abric...), quais os processos de objectivização e ancoragem... a sensação que me dá é que se fez uma análise de opiniões.
Gosto do recurso que ele faz à AFC (Análise factorial de correspondências) mas dá a sensação que, basicamente, ele considera o target como homogéneo. É certo que ele chama a atenção para as mudanças que a idade e o género introduzem. Mas não aparecem outras diferenciações. E se, em relação a este tema, não houver "os adolescemtes" mas grupos sociais bem diferenciados?
Estou com um certo receio ao escrever este post, por não estar a ler bem a tese de Oliveira. Li-a toda (e não é pequena) mas não ao ponto de a ler em profundidade. Escrevo este comentário na esperança que alguém me possa ajudar a ler melhor o seu trabalho.
A tese foi feita no iSCTE; fui ao site deles e não vi lá grandes referências ao trabalho. Era fruta a mais encontrar lá um forum onde alunos discutem com professores e se discutem posições e publicações... nºao era?

2009/03/17

Francis versus van der Ven

Hoje dediquei-me a (re)ler algum material publicado por Francis e colaboradores.
E se ontem estava na dúvida entre a abordagem de Francis ou a de van der Ven, hoje acho que estou mais esclarecido.
Não consigo perceber onde é que a maior parte do material de Francis é teologia pastoral. Ou, na lógica dele, TP em diálogo interdisciplinar com a psicologia.
Há um artigo de Cartledge (Empirical theology: inter- or intra-disciplinary? que pretende comparar os dois:
O artigo de Cartledege faz um apanhado mais alargado da questão. A qualidade da comparação entre Francis e van der Ven não é muito grande. Explica razoavelmente a legitimação de van der Ven. Mas não aborda o tema da normatividade da teologia empírica. Ou seja fala da teologia empírica só associada à TP, com valor descritivo e explanatório. A ideia da TE permitir aceder ao sensus fidei fidelium não aparece.

Se calhar ainda não percebi o entendimento que Francis faz de interdisciplinaridade.

2009/03/16

Teoria da personalidade

Hoje li mais um artigo de FRANCIS Leslie J., Personality theory and empirical theology em Journal of empirical theology (2002).
Dois pontos de interesse.
A legitimação da teologia empírica. É interessante encontrá-la fora de van der Ven e do seu círculo de Nimega. O início do artigo é muito directo e acessível para perceber a legitimidade da teologia empírica.
Interessante também a forma como ele (Francis) tematiza a sua diferença para van der Ven: este prefere a abordagem intradisciplinar enquanto Francis prefere a interdisciplinar. Por duas razões: 1) Para que outros públicos que não os da TP tenham acesso aos dados e às conclusões e ao debate; 2) para que a TP possa aprender mais facilmente com o debate teorético e metodológico das outras ciências.
Personalidade e TP. O grosso do artigo é a defesa da importância do uso das teorias da personalidade em teologia pastoral. O homem farta-se de citar estudos que fez que provam esse mérito. Eu, que pouco conheço de teoria da personalidade, fiquei convencico. É das áreas da psicologia onde estou mais careca.. Só um aparte: este Francis investiga para caraças. A bibliografia dele é impressionante.

estaca zero?

Na 6ª passada fui falar com o prof. Anthony, para lhe mostrar uns esboços.
Como disse aí para trás, tinha pensado fazer algo sobre a avaliação da maturidade de fé. Pois...
Entre as observações e sugestões do Anthony e mais umas coisas que fui lendo... acho que vou mudar de ofício.
Há aqui algumas dificuldades "perigosas". Eu revejo-me muito na lógica do RICA e na sua alternância entre saltos e progressão contínua.
E nessa lógica, o processo de iniciação cristã deveria concluir-se como um ameta bem definida. O problema é que os documentos do magistério são contraditórios. Umas vezes falam da IC como de uma realidade limitada no tempo e nos objectivos mas outras vezes não a distinguem do todo da vida cristã (que por definição é sempre aberta ao crescimento até à estatura de Cristo na sua plenitude. Se calhar é por isso que nunca se consegue chegar a acordo quanto aos conteúdos a incluir num projecto de catequese!
Soma-se a isto a tendência pós-moderna a não aceitar metas pré-determinadas. E mais os catequetas que não se põem de acordo.
É que a ideia original era desenvolver um instrumento de avaliação unívoco que ajudasse a monitorizar as práticas. Mas com esta confusão toda, ninguém se poria de acordo com o tal instrumento. Claro que se poderia enfrentar teoricamente o boi pelos cornos. Mas aí o esforço teria de ser muito mais teorético do que empírico.
Voltei a ler o artigo de FRANCIS Leslie J. e POCOCK Nigel, Assessing religious maturity: the development of a short form of the religious status inventory (RSInv-S10), em Journal of empirical theology (2007). Eles usam um instrumento muito dependente da teologia evangélica e que para isto não conseguiria legitimação teorética suficiente.
Grrr!

2009/03/15

ex cursus

Ontem, a minha comunidade aqui em Roma fomos passear. Fomos atá aos lugares da morte de Sta Maria Goretti e ao santuário de N Sra. das graças, onde está o corpo da santa.
O santuário, simples mas belo, é orientado pastoralmente pelos passionistas. Ao chegar tivemos direito a uma pequena "prédica" de um deles que nos sensibilizou pastoralmente para a figura da Goretti.
A certa altura deteve-se num dos últimos factos da sua vida: pouco antes de morrer, o sacerdote que a acompanhava, perguntou-lhe se ela perdoava ao seu assassino. Coisa a que ela assentiu.
Vai daí, o nosso ilustre prelector começa a contestar uma certa tendência minimalista em pastoral, "cheia de filosofia", que esquece o papel da graça. Ele usa uma contraposição que em italiano se percebe mas em português não tanto. Ele dizia que a Goretti e o padre que a acompanhou e lhe perguntou se perdoava o assassino funcionavam do "tetto in su" (do telhado para cima); mas hoje nós tendemos a funcionar do "tetto in giu" (do telhado para baixo).
Isto gerou uma certa celeuma no autocarro, com uma série de provocações ao Maurto Mantovani (que é o vigário da comunidade e professor de filosofia).
Eu estou de acordo que há uma certa forma de entender e fazer a pastoral que em nome da pedagogia, do dálogo com a realidade do destinatário, nunca sai da cepa torta. A pastoral feita é conservadora, conformista em relação ao status quo. e isto em termos morais, em termos económico-politicos, ou em termos espirituais. É uma pastoral que esquece a força renovadora e revolucionária do Evangelho. Que esquece que JC é novidade radical.
Exemplo: Alinhar acriticamente na cultura dominante
Mas por outro lado também desconfio de uma pastoral (pensada e praticada) que quer tudo e já. Que não está atenta às condições reais de vida das pessoas. Que se limita a ser prescritiva (ti deves fazer isto) sem nunca propor caminhos concretos.
Exemplo: família em ruptura e agressão mútua e o agente pastoral a fazer apelo aos valores ou à oração sem a vontade de enfrentar os problemas reais.
Para que conste eu acho que o caso da Goretti está longe de qualquer destas duas asneiradas. A fé madura que ela tinha desenvolvido é que a leva, de forma muito realista a contrariar as tentativas de exploração sexual do vizinho (que viria a ser o assassino) e a perdoá-lo.
Penso que a inspiração pastoral deve vir de Jesus Cristo. De quem mais? Ele que é novidade e ruptura radical em relação ao "mundo", a tudo aquilo que as nossas sociedades e culturas produzem de desumanizante (e por isso de anti-Deus) não pactua, não se resigna e propõe alternativas. Mas fá-lo, incarnando-Se. Tornando-Se presente na nossa realidade e, em diálogo com a nossa realidade, os nossos ritmos, vai-nos fazendo crescer.

2009/03/13

Linguagem e IC

Comecei a ler mais um artigo: LANZA Sergio, Quali linguaggi per l'iniziazione cristiana em Iniziazione cristiana degli adulti oggi. Atti della XXVI Settimana di Studio dell'associazione Professori di Liturgia.
Há aqui algumas coisas que nos deveriam fazer pensar.
Diz ele que não é possivel uma linguagem significativa e comunicativa na celebração da IC fora de uma pre-compreensão comum.
Ora hoje essa linguagem comum (que dá sentido à celebração da IC) não existe mais no tecido sociocultural (não estamos mais no famoso regime de cristandade).
E, para conseguir essa tal linguagem comum, não chega mexer na ritualidade (tantas missas com crianças e/ou com jovens em que se inventam ritos às 3 pancadas ou se omitem outros), nem insistir nas noções (explicar vezes sem conta o que acontece ma liturgia).
O problema é que tantas vezes a liturgia é pensada de forma intraeclesial. Os liturgistas, raciocinam (praticam) a partir de uma síntese de fé e de teologia que não é a dos que estão em caminho de IC. precisamente para se integrarem na comunidade.
Quando quem está na celebração não partilha da tal linguagem, esta torna-se auto-referencial. Faz só referência a si mesma e à sua lógica interna, não tendo nunca em conta a vida dos outros.
Ora uma linguagem auto-referencial leva sempre à virtualidade e à alienação. É como um reality show: podemos estar de fora a assistir, ir acompanhando o que se passa. Mas a prática comunicativa que ocorre (na casa dos famosos ou na liturgia) não interage com a nossa realidade.
À linguagem auto-referencial corresponde uma realidade virtual: um mundo artificial,que existe apenas na sua própria esfera e para os seus fãs, sem relação com a vida real.
Ora, uma liturgia assim, serve para quê?

Catecumenato antigo 4

E só para acabar...
Objectivos do CA
O crescimento na fé. A fé, suscitada por uma 1ª evangelização feita pelos padrinhos-garantes, cristãos normais da comunidade, encontra no caminho catecumenal o lugar adequado para um desenvolvimento gradual em vista da recepção dos três sacramentos da IC.
Mudança de vida. A fé, se autêntica, produz a conversão com uma passagem de uma mentalidade e comportamentos pagãos a uma mentalidade e comportamentos cristãos. Isto torna possível a recepção do baptismo para uma vida nova em Cristo, capaz de levar à vida eterna.
Adequar a vida à fé e ao sacramento. Os antigos insistiam até mais não na ligação fé, vida, sacramento.

Catecumenato antigo 3

3. O CA inicia a uma comunidade de salvação
A questão do CA não é somente pessoal; envolve toda a comunidade. Não é algo que o indivíduo deseja e adquire. A comunidade toda se envolve activamente no processo de iniciação dos catecúmenos. Associa-se aos jejuns, aos momentos de oração dos candidatos.
E por isso os ritos e os sacramentos são importantes. São a forma comunitária de dizer que a salvação de Deus os envolve a todos. Não são fins em si mesmos.

4. O baptismo e a fé
O baptismo acontece no contexto de uma caminhada de fé. Mesmo sem se ser baptizado já se é cristão, pois já se tem alguma fé (a que resulta da conversão)

5. O baptismo como dimensão permanente
O baptismo não é algo pontual; introduz a pessoa numa realidade permanente.

6. Maternidade da Igreja
O CA não é uma organização nem uma técnicas. É a resposta amorosa da Igreja-mãe que vai ao encontro das situações onde estão os novos filhos. É uma igreja não fechada em si própria. É uma igreja que tem algo a dar aos novos.

Catecumenato antigo 2

Continuando com o texto de Pasquato.
2. O CA é uma iniciação à história da salvação
Não apenas como transmissão de informações sobre eventos passados. O CA é o processo que ajuda catecúmeno a descobrir que a história da luta entre Deus e o mal, que a passagem do mar vermelho é a sua própria história.
Não se trata de adquirir conhecimentos. Trata-se de fazer crescer a fé, isto é, envolver-se na causa de Deus.
Com Sto Agostinho percebe-se o alcance existencial do CA: "... quem te escuta, escutando, acredite; acreditando, espere; esperando, ame."
Nos eternos debates que vamos tendo sobre catequese entre quem quer mais conteúdos e quem quer melhores metodologias, não será de parar para pensar o que é que queremos realmente com a catequese? É que uma catequese que envolve os catecúmenos nunca é uma seca; e quando eles se queixam hoje que é uma seca, ou quando já não se queixam e simplesmente se vão embora, talvez nos esteja a dizer que algo de essencial nos está a falhar. Os maravilhosos eventos da história da salvação não estão presentes nas suas vidas; estamos apenas a oferecer metodologias ou comnteúdos mas sem nos ligarmos verdadeiramente à vida e sem ligarmos a sua vida à longa hist+ória da salvação.

Catecumenato antigo 1

Meio por curiosidade, meio para não ter que ler coisas mais sérias, comecei a folhear o contributo de PASQUATO Ottorino, Quale tradizione per l'iniziazione criatiana? Dall'età dei padri all'epoca carolingia no livro "Iniziazione cristiana degli adulti oggi. Atti della XXVI Settimana di Studio dell'associazione Professori di Liturgia".
Gosto da história.
A 1ª e a 2ª parte do texto têm uma estrutura clássica: descrevem o catecumanato, com abundante e cuidado recurso às fontes disponíveis, desde o século III (a partir do qual temos informações mais fidedignas) até à época carolíngia. Mas Pasquato não se limita a citar textos antigos. Explica o sentido, as motivações, enquadra na sempre em mutação relação igreja-estado-sociedade.
Gostei mesmo foi da 3ª parte: A lição da tradição. Ele tira várias conclusões muito estimulantes para hoje.

1. O catecumanato é uma imagem da Igreja.
O CA mostra bem o auto-entendimento que a Igreja tem, em cada momento. O CA da época áurea exige uma comunidade eclesial capaz de acolher os catecúmenos. O CA implica não só quem pede para ser cristão mas o conjunto dos fiéis que respondem acompanhando. Não se trata apenas dos padrinhos (aqueles que fazem o 1º anúncio) nem dos catequistas (que de uma forma mais sistemática acompanham a progressão); é a comunidade toda.
E não é apenas uma Igreja que recebe e integra, é a própria igreja que se move, que muda algo de si mesma, oferecendo àqueles que entram agora, a possibilidade de fazer Igreja também com possibilidades novas.
Há mudança em quem acolhe e em quem é acolhido.
Eu limito-me a citar as conclusões de um historiador da Igreja. Qualquer semelhança com questões ligadas à pastoral juvenil ou à catequese é pura cocincidência.

2009/03/12

para não dizer nada

Desculpem lá esta semana estar a postar menos.
Não é preguiça de postar nem falta de trabalho.
Continuo às voltas com o van der Ven e a fundamentação de uma teologia empírica.
O prof Anthony arranjou-me um outro texto dele (A revised empirical-theological cycle and its legitimacy. The case of human rights and religion que me ajudou a perceber melhor tudo isto.
Traduzindo em português: conseguir perceber a coisa à primeira sem adormecer pelo caminho
A título de partilha: não sei se é de estar mal habituado (acesso à net no quarto, biblioteca a 100 metros) mas há práticas de estudo que me estão a surpreender. Para ler gosto mesmo de riscar, sublinhar, anotar ao lado (O que em livros que não são meus não dá muito jeito!) Outra coisa é que me está a custar a ler livros. Não sei se é por ter andado a trabalhar tanto com artigos de revistas, se vários dos livros serem compilações... ou se por não ter apanhado livros que do princípio ao fim tenham que ver com o que eu quero... ou se simplesmente estou já a ser vítima da doença dos computadores.
A sério que gostava mesmo de saber da experiência de outras pessoas.
E vou ficar por aqui. Hoje na comunidade tivemos a festa do europeus. Missa à tarde com o ritual quase todo em polaco (cantado), com leituras em português e espanhol. Salmo cantado em bielorusso. outras interevenções em italiano e eslovaco.
Havia umas folhas com tradução em italiano para as pessoas não se perderam de todo.
Depois da missa, festa grande. não sei explicar bem o que comi, mas era muito e muito bom. Eu limitei-me a partilhar um porto.

2009/03/11

disciplinaridades

Porque alguns dos últimos posts ainda têm sido mais confusos do que o costume aqui ficam algumas tentativas de esclarecimento.
Em teologia, em bom rigor, não há um método. Desde sempre a(s) teologia(s) usaram métodos originários de outros saberes. Mas este diálogo de métodos pode ter várias configurações. Isto pode parecer muito esotérico e inútil. Até ao dia em que te dás conta que clarificar estas coisas é a única maneira de sair do pantanal.
Monodiscilpinaridade É a posição que diz que a teologia funciona por si mesma, não precisa de dar cavaco a ninguém. Na idade média dizia-se que a filosofia era escrava (ancilla) da teologia. Como isto queria-se dizer que a teologia se podia servir da filosofia. Mas na monodisciplinaridade (também chamado modelo ancilar) a teologia usa (explora?) os dados de outros saberes (tradicionalmente a filosofia, mas esta atitude pode manter-se com outras ciências) sem reflectir sobre as condições desse diálogo. Aliás, sem diálogo. Os resultados não costumam ser famosos. mas ai de quem chamara atenção para isto.
MUltidisciplinaridade. Com a consciência que era preciso pensar o diálogo entre a teologia e os outros saberes avançou-se para um modelo multidiciplinar, em que várias disciplinas se sobrepõem. Exemplo: para fazer um projecto pastoral de uma paróquia, chama-se um sociólogo, um arquitecto, um economista e um teólogo. Cada um diz a sua bitaitada, junta-se tudo num relatório enorme e... ponto final. Aquilo não serve para nada. Nos anos 60-80, cheios de boa vontade, muita gente tentou isto. mas a verdade é que não chega a haver diálogo. nem reflexão sobre o diálogo Imagina que num modelo destes o sociólogo diz: "os jovens de hoje não gostam de ir à missa." Que conclusões é que tu tiras daqui? Que devemos deixar de "fazer" missa? Que devemos abandonar os jovens? (estou a colocar hipóteses absurdas, que este modelo não é capaz de evitar).
Interdisciplinaridade. Neste modelo há um diálogo pensado, discutido entre saberes diferentes. Conhecem-se os pressupostos ideológicos e metodológicos das ciências em presença e tenta-se produzir um saber não só científico mas em que todas as partes se possam ver reflectidas. É claramente um modelo interessante.
Intradisciplinaridade. Um pouco mais à frente. Este modelo que só aos poucos vai entrando na área da pastoral diz que a teologia deve incorporar internamente os métodos das ciências humanas. Não já fazer um outsourcing como na interdisciplinaridade, mas autonomizar-se. Ou seja o teólogo, além de saber teologia, sabe também de outras ciências, e usa com rigor os métodos próprios das outras ciências para a sua tarefa de teólogo. Exemplo: Estamos a pensar teologicamente um conjunto de catecismos; para isso adquirimos os métodos das ciências da comunicação, da psicologia, das ciências da educação e, internamente, elaboramos o nosso produto.
NUm certo sentido isto não tem nada de novo. A teologia dogmática sempre fez isto. Sempre usou com qualidade a filosofia, como ferramenta digna, para a sua tarefa. A teologia bíblica usa os métodos de análise literária. A teologia histórica usa os métodos de análise histórica.
Está esclarecido? Parece simples, não?
And now... the one million dollars question: Olhem para produções teológicas vossas conhecidas... digam lá qual modelo estão a usar? eh, eh... (grande farra vai ser nos comentários).

2009/03/08

Custou mas foi

Estou desde 6ª feira a tentar ler um artigo de van der Ven: An empirical or a normative approach to practical-theological research? A false dilemma.
Começa, não percebes, a cabeça pesa, os olhos fecham-se, voltas atrás, desistes... recomeças... custou mas consegui chegar ao fim sem fazer (demasiada) batota.
Mais uma vez a questão é epistemológica. Como é que se faz teologia prática. Ele quer afirmar a recusa (por ser um falso dilema) de ter de optar pela obediência à normatividade (de conteúdos de fé, ou de procedimentos metodológicos) ou pela obediência aos dados empíricos recolhidos na realidade.
O artigo não foi fácil de ler porque se misturavam problemas teológicos com problemas epistemológicos. É preciso perceber que van der Ven é holandês; vem de um contexto académico (norte Europa) onde a teologia está muitas vezes em universidades públicas; onde o diálogo com os outros saberes e com a sua legitimação é uma questão sempre em cima da mesa. No nosso contexto português onde a teologia quase não existe, tudo isto parece chinês.
E depois há a dificuldade em acompanhar o debate epistemológico. Finalmente acho que percebi algumas das questões mas como as fui aprofundando noutros contextos (inglês, norte-americano: Patton, Silverman, Seale...) custou um pouco fazer a "tradução " conceptual.
A conclusão a que ele chega é que a teologia prática é normativa por natureza não apesar mas precisamente por causa do seu carácter empírico. E, por isso, a escolha de uma abordagem normativa ou empírica é uma falsa questão.
Só que para isso há que fundamentar bem algumas questões:
1) Assumir bem que todas as pesquisa empíricas têm na base uma impostação teórica.
2) Toda a pesquisa empírica tem uma base normativa, especialmente em relação à finalidade e à aplicação das descobertas.
3) Deve procurar-se uma complementaridade de métodos qualitativos e quantitativos.
4) Deve haver uma atenção muito grande na análise e interpretação dos resultados.
5) Assumir a orientação para a práxis.

Donum veritatis 3

Na sequência do último encontro do tirocínio algumas questões merecem reflexão.
Sobre o documento Donum veritiatis
Apesar de algumas belas intuições (o teólogo como servidor eclesial, como vocação) o todo do documento tem uma orientação demasiado polémica. A sugestão que teria nascido como remate aos anteriores documentos sobre a teologia da libertação parece fazer sentido.

Pluralismo
A intervenção de ??? (Madagáscar) sobre a tendência fragmentária dá que pensar. Segundo ele, num único país, o “excesso” de adaptação às 18 tribos existentes diminui muito a comunhão. Evidentemente não posso-quero discutir a situação concreta. Mas recordei-me do episódio de Babel, da tensão entre uma uniformidade imperialista e idolátrica e uma diferenciação que quebra a comunicação e a comunhão. A isso a Igreja responde com o Pentecostes, com a experiência de comunicação-comunhão na diferença (das línguas, das culturas).
Talvez o papel do teólogo seja também servir o Espírito Santo ajudando as comunidades a comunicar-comungar com o “outro”.
E os pastores?
A pergunta do prof. Anthony dá que pensar. Em primeiro lugar porque não é comum. Mas em todas as questões suscitadas pela Donum veritatis, o papel dos bispos não é fácil.
Pastores e teólogos
Ganzevoort sugere que haja uma maior separação mental entre teólogos e pastores. Ele fala na perspectiva dos teólogos que também são pastores (= actores na praxis eclesial). Segundo ele isso teria que ver com a distinção entre discurso de 1ª e de 2ª ordem
Públicos
Ganzevoort, mais uma vez, fez-me pensar numa questão que não aparecendo no documento pode ter a sua importância. O teólogo produz discurso para públicos diferentes. E por isso produz discurso com formas e exigências diferentes. Ele distingue entre a academia, a Igreja e o mundo. No tirocínio “critiquei” o facto de muita teologia ser produzida apenas para consumo académico, inter pares. Pouca vem produzida para o povo de Deus. Temos ainda menos experiência de falar teologicamente para fora da Igreja (e falar aqui, entende-se como discurso de 2ª ordem). Ora é normal que a descontextualização do discurso teológico feito para cada um desses públicos possa provocar dificuldades.

Pré-adolescentes 2

3 A queda da prática religiosa depois da pré-adolescência
O que acontece a seguir à PA? (Que também corresponde à mudança de ciclo escolar)
Cai para 1/3 a participação na Eucaristia semanal. A frequência à catequese tamb+em diminui, até porque não há oferta. Diminui também a participação no associativismo educativo.
Apesar disso, mantém-se elevada a inscrição nas aulas de religião na escola (acima dos 85%). Tudo isto dá que pensar.
Este abandono não será sinal de uma experiência religiosa pobre de conteúdo? Que outros factores o poderiam explicar? Que fragilidades já estavam presentes no percurso?
Terá sentido ver a PA como religiosamente homogénea?
4. A evolução “oculta” ao longo da pré-adolescência
O autor duvida que a mudança que estamos a estudar ocorra apenas depois da PA. Na realidade, ao longo do 2º e 3º ciclo já se vão observando mudanças
Permito-me trazer aqui uma tabela que mostra bem como, já no interior da PA há uma degradação da pertença religiosa
6º ano 7º ano 8º ano total
Vai à missa todos os domingos 72 66 63 67
Comunga todos os domingos 76 69 63 69
Segue a homilia 56 51 37 48
Confessa-se todos os meses 67 63 42 57
Pensa que os colegas vão à missa 27 36 56 40
por obrigação
Chateia-se durante a catequese 19 33 37
Reza todos os dias 66 57 44 55
Sente Deus como afastada 46 54 69 57


Mas os adultos não detectam estas mudanças. Porquê? Porque os adultos observam principalmente os aspectos mais exteriores. E aí, os PAs continuam a ir à missa e à catequese. Mas no interior dos PAs, onde não há controlo dos adultos, muita coisa está a mudar. Vê-se no abaixamento do hábito da confissão e da oração, no aumento de motivações extrínsecas para os gestos religiosos e na diminuição do sentimento de proximidade para com Deus.
Os comportamentos exteriores evoluem lentamente; mas a vivência interior está sob forte tensão.
Nisto tudo há diferenças entre eles e elas. A tendência global de afastamento religioso é comum, mas mais forte nos rapazes.

Pré-adolescentes 1

A partir de um artigo de Alessandro Castegnaro (La prassi pastorale dell'iniziazione cristiana nell'attuale contesto culturale. Situazioni, problemi, opportunità gostaria de abrir uma série de posts sobre catequese e pré-adolescentes.
E agora para algo muito mais acessível e próximo da realidade. Este artigo faz a síntese de uma série de pesquisas empíricas feitas no Veneto (região de Veneza).Incide muito nos pré-adolescentes, pois na pastoral italiana eles têm uma grande importância: o crisma é conferido durante a pré-adolescência, a que se segue (em grande número) o abandono da prática.
1. A verdadeira pergunta
Duas observações iniciais: 1) A socialização religiosa dos menores em Itália é muito alta. Durante a pré-adolescência (= PA) os níveis de prática e de envolvimento na catequese são muito elevados; 2) Apesar disso, nos anos seguintes há uma queda brutal desses valores.
Quais as causa? Falência da catequese? Talvez não. Estranho seria que uma prática religiosa elevada na PA se mantivesse tão acima da prática religiosa do todo da população.
Aliás a pergunta passa a ser: Porque é que num país onde a prática não passa de um terço (em Portugal anda por 1/5) a maioria dos PAs participa na missa e na catequese?
É que além dos praticantes há uma fatia relevante da população que se revê num modelo de religiosidade sem Igreja, feita de ritualidades extraordinárias (casamentos, funerais, festas…). Os modelos de religiosidade dos adultos são muito diferenciados. Há os praticantes de sempre (também com experiências um tanto ou quanto diversificadas), há aqueles que se não excluem a dimensão religiosa e a identidade católica, não prevêem formas muito empenhativas de experiência religiosa (Em PT falaríamos dos católicos não praticantes).
Ou seja, os PAs crescem num ambiente religiosamente pluralista; e à medida que crescem não podem não o observar.
Por isso é que a verdadeira pergunta é como se mantém uma socialização religiosa tão elevada dos PAs.
Durante a PA (11-14 anos; o que corresponde aos 3 primeiros anos depois da escola primária [que aqui é de 5 anos]) os números de frequência semanal à missa são muito elevados, bem como os de participação na catequese.
Mas os números caem brutalmente entre os 15 e os 17 anos.
Os números de inscrição no ensino religioso (a ERMC daqui) andam acima dos 90%.
São também muito numerosos os inscritos em actividades paroquiais de tempo livre.

2009/03/07

Your research project. A step-by-step guide for the first-time researcher

A semana passada o prof Anthony emprestou-me uma cópia do livro WALLIMAN Nicholas, Your research project. A step-by-step guide for the first-time researcher (2001). achei-lhe uma certa piada. Muito na linha dos livros técnicos anglo-saxónicos: pensados de forma pedagógica, com boa disposição gráfica. Encomendei um exemplar pela amazon. Chegou-me ontem a 2ª edição (2005).
Esta 2ª edição continua muito pedagógica. Mas parece-me muito mais cuidada, ao referir outras fontes e outras correntes de opinião. Com esta opção penso que não se “afunila” tanto como na anterior.

No exercício 1.2 (pp. 18-20) o autor propõe dois textos defendendo um que a ciência é uma construção social e outro o contrário.
Ambos os textos usam o argumentário já habitual nestas ocasiões.
Algumas observações minhas:
• Fala-se de ciência em geral. Mas possivelmente em algumas ciências o grau de construção social será maior do que noutras. Até por causa dos pressupostos identificados pelo autor para o método científico (p. 12).
o Ordem. Se estudamos sociologia, a ordem é mutável
o Realidade externa. Quando avançamos para as ciências humanas, a realidade passa a ser menos externa, pois diminui a distância entre sujeito e objecto
o Fiabilidade (reliability?). Só pela soma das duas anteriores a fiabilidade da nossa percepção é posta em causa.
• Por um lado, a defesa da ciência como construção social leva-nos ao relativismo e, tendencialmente, à irrelevância e inutilidade do discurso científico
• Por outro, a defesa a outrance do carácter não-social da ciência esquece as condições objectivas de produção social (financiamentos, valores…)
o Podem-se citar os exemplos da frenologia e o actual dogma do aquecimento global

2009/03/06

What you see is what you get

No fundo, e se bem percebi o artigo (GANZEVOORT R. Ruard, What you see is what you get. Social construction and normativity in practical theology, pretende-se, por um lado legitimar a teologia pastoral como teologia empírica e, por outro, usar uma epistemologia n alinha do construcionismo social.
Reconheço que (ainda) não percebi qual é a lógica global do artigo. Possivelmente insere-se num debate sobre epistemologia teológica que me passa ao lado. Vou apresentando algumas ideias do artigo que tentarei comentar.
A primeira é que a teologia é feita para públicos diferentes: para a academia, para a comunidade eclesial, para a comunidade extra-eclesial. Ora o discurso da teologia interage com o seu público-alvo. O que leva a uma pluralidade teológica inevitável.
A segunda ideia é a distinção entre discurso de primeira e de segunda ordem. A experiência religiosa que as pessoas e as comunidades fazem (ou não) integra o discurso de 1ª ordem; a teologia (a reflexão sobre o discurso da 1ª ordem) faz o discurso de 2ª ordem. Isto ajuda a enquadrar o objecto da teologia. Não é Deus; é a experiência que d'Ele se faz. E por isso a teologia pode ser ciência, um saber humano, de algum modo comparável às outras ciências. E isso faz que, de algum modo, toda a teologia seja empírica: trabalha com dados empíricos. Seja a experiência actual dos crentes (teologia prática ou pastoral), a dos crentes ao longo da história ou a memória bíblica. A teologia elabora sempre a partir de experiência vividas.
Apesar desta marca empírica, a TP (teologia pastoral) não pode ter pretensões positivistas de objectividade: todo o saber nasce enquadrado em quadro teóricos pré-existentes. "No círculo hermenêutico de teoria e práxis, precisamos de nos perguntar onde encontramos os critérios normativos para criar novas estratégias ou para avaliar as existentes" (p. 24)
Uma possibilidade é derivar a TP da teologia bíblica ou sistemática. Destas viriam os critérios e a TP limitar-se-ia a tirar os corolários. O que, para o autor (e para mim) não tem sustentação possível. Pode-se ver o artigo anterior para o confirmar. A rapidez com que "despacho" este assunto pode parecer estranha num contexto eclesial como o português, onde é dominante a ideia da pastoral como "aplicação" da teologia séria. Se houver oportunidade, voltarei ao assunto, para dissipar dúvidas que apareçam.
O autor reconhece que muitas tentativas de legitimar a TP na práxis têm dificuldades em o conseguir fazer. Diz ele que "Perhaps the most radical approach locating normativity in the praxis is found in those shapes of practical theology that are influenced by liberation theology" (p. 25).
Aqui, acho que o homem se torna muito genérico. Quando se fala de teologia da libertação (TL) estamos a falar de muita coisa. Para ver até que ponto é preciso estar atento convido a ler este artigo de Clodovis BOff. Mas depois podem ler esta resposta de um outro expoente da TL, Comlin, aqui. O irmão de Clodóvis, Leonardo Boff, responde forte. A polémica pode estar para durar. O importante é salientar que a relação entre o actual e o empírico originário podem associar-se de muitas formas, em ordem a produzir normatividade.
A seguir o autor conclui que, para a TP, a normatividade, não pode nem ser deduzida da teol. sistemática nem reduzida à nossa análise da situação actual.
Ele propõe um caminho de humildade. Não podemos conhecer os critérios últimos de normatividade, pois esses só a Deus pertencem. Por isso, procuramos uma normatividade penúltima pondo em diálogo as fontes da fé com a nossa situação actual.
O que me faz lembrar Paulo VI e o critério da dupla fidelidade: à mensagem de Deus e ao destinatário. Mas se calhar estou a exorbitar...

Construcionismo social

Isto começa a levar-me muito longe dos meus terrenos habituais.
mas cá vai. Continuo às voltas com o livro de van der Ven. Agora no 2º artigo: GANZEVOORT R. RuardWhat you see is what you get. Social construction and normativity in practical theology.
Porque o autor se mete pela área do construcionismo social talvez valha a pena ler esta artigo na wikipedia. Ok. bem sei que a wikipedia não é propriamente uma fonte científica muito credível mas sugiro que leiam o tal artigo antes de avançar para os comentários ao texto de Ganzevoort.
Para esclarecer: eu revejo-me naquilo que o articulista da wiki chama construcionismo fraco.
Ou melhor, sou adepto de um realismo subtil, na linha do póspositivismo. Juro que estes nomes não são gozo; correspondem mesmo a correntes de pensamento Revejo-me muito na posição metodologica de Clive Seale em The quality of qualitative research.

Questões metodológicas

Espero começar agora uma série de posts "chatos" sobre a fundamentação metodológica.
Não se trata de nenhuma imposição nem do gosto de espantar os poucos e corajosos viajantes que aparecem por aqui. Mas num projecto de investigação (doutoramento ou coisas mais básicas) reflectir sobre como se faz a própria investigação tem todo o sentido, em ordem a conseguir maior qualidade.
é verdade que isto é bastante árido mas nos últimos 2 anos tenho trabalhado um pouco sobre isto. Mais na persepctiva das ciências humanas e dos métodos qualitativos. Mas agora penso que é preciso pensar estas coisas teologicamente.
Estou a ler Normativity and empirical research in theology de Van Der VEN Johannes A.//SCHERER-RATH Michael.É uma compilação de estudos feitos no âmbito do ISERT (International Society of empirical research in theology).
O 1º estudo é de DREYER Jaco A., Theological normativity: ideology or utopia? Reflections on the possible contribution of empirical research.
Apesar da temática ser assustadora ("mas estão a falar de quê?") consegui ler este muito bem.
O autor parte da sua situação na áfrica do Sul pós-aparteid. E levanta uma pergunta: onde está a normatividade da teologia? Onde e como é que a teologia diz, à luz do Evangelho, o que deve ser? E ele recorda que tanto o apartheid como a luta contra ele foram fundamentados teologicamente. Em que ficamos? Na necessidade de pensar.
Alguns defendem que num contexto pós-moderno a teologia deve renunciar a qualquer normatividade autónoma; deveria limitar-se a seguir a tendência dominante na cultura. Outros argumentam que a normatividade religiosa é independente do contexto social. Ambas as posições devem ser criticadas. A posição clássica (a normativodade transcendente) não se sustenta historicamente: sempre houve interpretações diferentes do Evamngelho ao longo da história, dependentes das circunstâncias. A posição moderna cai no relativismo e conformismo relativamente às posições dominantes.
Nesta altura o autor vai buscar Paul Ricoeur e a teoria da imaginação cultural.
Para Ricoeur, todas as acções estão simbolicamente estruturadas, são influenciadas pelo nosso universo simbólico. Esta imaginação social serve para manter a ordem mas também pode produzir inovação e ruptura.A imaginação social apresneta-nos uma tensão dialéctica (É ao usar estas palavras caras que se justifica o dinheiro que se gasta a fazer um doutoramento!) entre ideologia e utopia. A ideologia serve para conservar, para dar ordem à acção. O que pode tornar-se patológico, quando a ideologia começa a distorcer a realidade.
a função da utopia é a crítica aos sistemas de poder vigentes e pensar alternativas. Mas a utopia também pode ter patologias: fugir da realidade, das imperfeições e desafios da práxis num escapismo alienado. Há ainda o "futurismo" que mais não é que o sonho de um paraíso perdido.
Ideologia e utopia interagem. A ideologia precisa da função critica e provocativa da utopia para não cair na distorção. A utopia precisa das funções integrativa e conservativa da ideologia para evitar o escapismo.
Talvez isto nos possa ajudar a entender a relação entre normatividade (aquilo que a teologia [enquanto discurso do e sobre o religioso] propõe ao nível do dever ser) e contexto.
As nossas normatividades teológicas precisam de inovação. A tradição é necessaria. mas não pode subsistir sem recorrer à inovação. Sem inovação. cai-se na distorção.
Mas se a inovação se desliga da tradição perde a relação à praxis e torna-se escapismo.
O autor dá o exemplo de alguma teologia sul-africana que acabou por justificar teologicamente o apartheid. A normatividade teológica tornou-se ideológica.

Pesquisa empírica em tensão entre a ideologia e a utopia
A pergunta é: pode uma abordagem mais empírica ajudar a teologia (mormente a teologia prática) a fazer a mediação entre normatividade e contexto?
Por estranho que pareça, são os pós-modernos que dizem que não. Com o seu relativismo radical acabam por dizer que os saberes empíricos, de empírico nada têm, que é tudo uma projecção de estruturas ideológicas subjacentes.
Ok. É verdade que as ciências humanas (sociologia, psicologia, antropologia, história...) têm de perder as peneiras que são ciências exactas, numa linha positivista.
Ou seja: não seria por usar dados empíricos que, automaticamente, a teologia conseguiria não alinhar com o apartheid, pois esses mesmos dados já estariam inquinados pela ideologia do apartheid.
A pesquisa empírica está tb ela sujeita à tensão ideologia-utopia. E a pesquisa empírica (e a teologia construída com ela) pode servir de apoio à ideologia dominante.
Mas "apesar dos perigos da pesquisa empírica funcionar como legitimadora da ideologia em sentido negativo ou de fornecer utopias irrealistas, eu defendo que a pesquisa empírica feita duma perspectiva teológica pode contribuir positivamente..."
E da uma série de exemplos...
Aqui sou eu que não percebo. Não me resulta garantido em que condições é que a tal pesquisa empírica em âmbito teológico supera os problemas enunciados
Mas ele avança para uma 2ª pergunta: Como fazer a pesquisa sem cair nas patologias ideológica ou utópicas?
"a critical hermenutical framework could help..."
Uma hermeneutica sem uma perspectiva crítica pode tornar-se uma ideologia. Hermeneutica sem perspectiva empírica perde contacto com a realidade. perspectiva empírica sem hermenêutica pode levar ao positivismo na pesquisa empírica. Perspectiva empírica sem perspectiva crítica pode levar a um uso ingénuo, acrítico dos dados.
Esta perspectiva hermenutico-crítica influencia os pressupostos epistemológicos básicos, os métodos de pesquisa, a relação entre o investigador e o investigado, os fins da pesquisa, a interpretação dos dados e a aplicação do conhecimento construído.
Uma das preocupações hermenêuticas é a tensão entre distanciamento e pertença, A opinião dele é que a pertença a uma determinada corrente religiosa pode ajudar a reduzir o perigo de escapismo; Um certo distanciamento crítico ajuda a combater a manipulação ideológica.
Claramente isto precisa de ser aprofundado.

2009/03/05

Notícias soltas

As primeiras duas semanas do 2º semestre foram cheias de eventos de todas as faculdades: colóquios, convénios, seminários de estudo.
Grande vitalidade académica.
Mas só ontem é que percebi a outra parte da história: o actual reitor acaba agora o mandato. Foram ontem as primeiras votações.
Afinal, está visto, que aquelas iniciativas todas eram para mostrar serviço.

Catequese e sacramentos

Já deu para perceber que aqui em Itália o debate sobre a relação entre catequese e sacramentos continua a bulir. Aqui já apresentei sucintamente a questão.
Para fazer alguma ordem, trago hoje um (longo) artigo de CASPANI Pierpaolo: «Iniziazione cristiana» e «catecumenato»: semplicemente sinonimi? (1999).
O artigo é longo mas menos longo do que o livro de 900 páginas (segundo me disse o Montisci) onde ele aprofunda estas ideias.
O artigo já tem 10 anos e está em termos das referências algo desactualizado.
O problema dele é tentar perceber como é que se articulam catequese e sacramentos, se o importante é a iniciação pelos sacramentos ou a iniciação aos sacramentos.
É verdade que havia na altura (e continua a haver) uma grande confusão terminológica.
O homem inclina-se para reconhecer a prioridade da acção de Deus nos sacramentos. Mas não é dos ultras.
Mas neste debate todo, acho que esta gente esquece as coisas essenciais.
O que é que está em causa? fazer catequese? sacramentos? Não.
O que está em cima da mesa é como é que as pessoas se tornam cristãs.
Convinha não esquecer também que este processo de nos tornarmos cristãos segue o estilo dialógico e incarnacional de toda a história da salvação. Deus toma a iniciativa e pede a nossa resposta positiva. A salvação acontece quando dizemos "sim" à iniciativa de Deus.
Por nós próprios não nos podemos tornar cristãos (pelagianismo). Acentuar de tal modo a iniciativa de Deus que se esqueça-ignore a componente humana da resposta remete-nos para a magia.
Uns acentuam mais a dimensão humana e estão interessados na "catequese" vista como um processo educativo humano que capacita a pessoa a aderir ao projecto de Deus. E nesta linha os sacramentos são apenas ritos simbólicos que dão forma à decisão interior da pessoa.
Outros acentuam mais a força salvífica do sacramento. pela acção de Deus, o sacramento modifica radicalmente a pessoa.
Uns e outros esticam a corda ora para um lado, ora para outro.
Outros ainda tentam sínteses e consensos.
Estarei eu a ver mal ou esta gente está a esquecer a pergunta primeira?
E não estarão a esquecer as grandes pistas da Igreja, representadas pelo RICA?
Mesmo cronologicamente o RICA recorda que a IC não acaba com os sacramentos da iniciação mas sim com a mistagogia. O RIca é muoto claro ao definir um percurso onde tudo o que ele considera importante está presente. Depois da conversão há um tempo de catecumenato; quando a fé amadurece o suficiente, entra-se numa preparação específica para os sacramentos (originalmente, a quaresma), eles são recebidos e depois há um tempo de mistagogia, onde os que receberam os sacramentos são instruídos a fazer a ponte entre a fé madura, a força do sacramento, a presença plena na comunidade e a vida.
Menos que isto não chega.

2009/03/04

Luciano Meddi

Aleluia. (bem sei que na quaresma não se deve dizer!
Finalmente encontrei um autor com o qual estou bastante em sintonia.
É Luciano Meddi, italiano, professor de catequética na univ. Urbaniana.
Foi-me sugerido por Ubaldo MOntisci, o professor de iniciação cristã e catecumenado.
Ele analisa muito bem a situação italiana. Que é algo diferente da nossa:
1) Na quantidade e qualidade da reflexão. Quer a nível de catequetas, quer dos bispos, aqui há muito mais produção. O que é bom mas também obriga a muito maior esforço à hora de chegar a consensos.
2) Na caminhada catequética. Aqui houve coisas muito interessantes e originais. Mas tiveram muito mais dificuldade do que nós em deslocar-se de um catequese virada para os sacramentos. Claro que em portugal nos lamentamos de tantas coisas. Mas aqui a catequese ainda é catequese para a 1ª comunhão, que se interrompe por uns anos e que se reactiva para o crisma (pelo 11-13 anos).
Deixem-me resumir um dos artigos.
La catechesi come la stella dei magi? A quali condizioni pastorali le catechei può realizzare i suoi scoppi em Catechesi (2004) 74/2 pp. 28-37.
O artigo (tal como as outras coisas que li dele) está muito virado para a análise da realidade italiana. E faz uma analise muito fina. Imagino que sempre que ele escreve haverá gente que fica com urticária. Eu, aqui vou tentar saltar, aquilo que só interessa ao contexto italiano.
1. A catequese mediadora da pastoal italiana
Faz um pouco de história sobre os processos de recepção do Concílio, aqui em Itália. E recorda o muito esforço da catequese em superar uma religiosidade sociológica, centrada nos sacramentos.
2. Crise da mediação catequística?
Parece que os resultados não foram muitos. E pergunta-se porque é que n~ão há um estudo sério das razões do fracasso e se continua a preferir dizer banalidades.
3. O que ajuda a catequese
Em que condições é possível à catequese atingir os seus objectivos?
a) Onde está a comunidade?
Sem comunidade não há catequese. Simples. mas onde está essa comunidade? "Como se pode reevangelizar sem passar por uma comunidade edificada sobre a 'decisão adulta' pela fé?" Uma das coisas que ele critica é o facto de, na prática, se estar a tentar voltar para trás, a cristãos imaturos, a comunidades que se limitam a ser consumidoras de bens religiosos. A sustentar esta postura está uma visão que autonomiza os sacramentos do resto da vida cristã. E aí é possível fazer uma catequese que só serve para distribuir sacramentos. e ter uma comunidade=consumidores de sacramentos. As nossas propostas de catequese são feitas sem o contributo de vivências comunitárias.
b) Clarificação das finalidades pastorais
Contra a paróquia estação de serviço. O problema é que não "se percebe quais as verdadeiras finalidades que os planos pastorais querem atingir". (Pois... nós em PT não temos grandes planos pastorais; mas será que a fraqueza e irrelevância dos que temos, não serve também para manter tudo na mesma?
Diz ele que é preciso denunciar o curto-circuito pastoral em que estamos: a pastoral tridentina produziu um cristianismo sociológico incapaz de resistir às pressões da cultura moderna; por isso fazemos uma catequese que recupera a postura tridentina para manter o cristianismo sociológico.
c) Clarificar a relação fé-cultura
Está tudo de acordo que precisamos de renovar a linguagem da fé, que é preciso dialogar com a cultura contemporânea. mas a verdade é que, por medo ou preguiça, ninguém mexe uma palha.
d) Clarificar o papel institucional da catequese
Denuncia aqui a falta de preparação catequética dos párocos. Continuam a entender a catequese como conteúdos, como teologia em comprimidos.
Tal como entre nós há uma grande falta de dignidade nisto. Continua a receber-se os sacramentos sem maturidade de fé. Não há mecanismos de avaliação nem de correcção sistémica.
e) O apoio da família
Perecebe-se que o papel da família é muito importante. Mas fica a sensação que se pede à família aquilo que a comunidade não quer fazer.
É que as famílias reais (os pais) andaram numa catequese que não os convenceu-motivou a serem cristãos maduros; por isso o que os pais pedem é o acesso aos sacramentos e à ritualidade; não a um empenho que leve os filhos a uma maturidade de fé (que eles, pais, tamn+em não têm).

Onde estou

Deixem-me hoje fazer umas partilhas mais existenciais.
Para desabafo, para recolha de sugestões e também como possibilidade de ajudar alguém nas mesmas circunstâncias a não se sentir tão anormal.
Tentações. Tranquilos. não as da carne. Será que este tema é viável? Continuo a estudar o tema para superar as dificuldades que se percebem ou tento outra coisa nova?
Até aqui tenho andado a ler as coisas óbvias iniciais (artigos dicionários, enciclopédias, manuais...) Coisas curtas. Tal como os artigos das revistas. Aliás muito do que aqui tenho reportado vem daí.
Comecei agora a ler uns livros. E é estranho. Parece que nunca mais acabam.
Quando se lê um artigo são poucas páginas, muito concentrado, depressa chegas ao fim.
Um livro é mais lento. Leva mais tempo. Vai mais devagar. aprofunda mais. Obriga a um mecanismo de atenção diverso.
É óbvio, dirás tu. Pois. Mas nesta faae em que ainda não tenho um plano de trabalho não é tão simples mudar de registo.

2009/03/03

Think tank sobre evangelização dos jovens

Aqui a univ. vai fazer um think tank sobre evangelização dos jovens.
Ou seja, em vez de aprovar um qualquer projecto à socapa, na sequência de estranhas jogadas de bastidores, facadas e outras malfeitorias, decidiram fazer isto de forma aberta, colegial e participativa.
Até aqui tudo bem.
A participação dos doutorandos também foi pedida.
E é aqui que me dói reconhecer a minha ignorância. Eu que até posso mandar bitaites sobre muita coisa, à hora de fazer propostas, puxo-me atrás.
Ou seja não estou a ver, assim do pé para a mão, o que possa sugerir.
Bom, aqui vos deixo a papelada que recebi (em italiano). Se alguém tiver ideias brilhantes, deixe-as nas caixas de comentários.
“Evangelizzazione dei giovani oggi”
Proposte per una ricerca internazionale


Cosa è un “think tank”?
• I think tank sono una peculiarità tutta statunitense. Infatti è stata la cultura pragmatica degli USA a favorirne la nascita, lo sviluppo e infine l'istituzionalizzazione.
• Tali organismi assicurano dati, informazioni, consigli e previsioni ai policy makers (coloro che realizzano le politiche pubbliche) in termini tendenzialmente oggettivi, tenendo conto cioè dello stato reale delle cose e, pertanto, valutando le possibilità di una politica pubblica, scovandone opportunità, risorse, obiettivi auspicabili e conseguenze effettivamente riscontrabili o riscontrate…. – Wikipedia

Cosa implica un “think tank” su evangelizzazione dei giovani oggi?
Un “think tank” è la modalità scelta per favorire la partecipazione all’impostazione di una ricerca su “evangelizzazione dei giovani oggi”, che l’UPS vorrebbe avviare. In quanto ricercatori (docenti, dottorandi, studenti) appartenenti alle varie facoltà dell’UPS, siete invitati a proporre, dalla prospettiva della vostra esperienza e specializzazione, “idee chiave” per la ricerca su “evangelizzazione dei giovani oggi”, tenendo presente la situazione ecclesiale e sociale a raggio continentale e mondiale, ed indicando obiettivi, metodologie e risorse necessarie.

Cosa si fa in concreto?
Si prepara “una pagina” di proposta per la ricerca su “Evangelizzazione dei giovani oggi”, che includa almeno i seguenti elementi, ai quali se ne possono aggiungere altri:
1. Le idee chiave, che non devono mancare nel quadro concettuale della ricerca
2. Gli obiettivi / ipotesi della ricerca
3. Le metodologie da utilizzare nella ricerca
4. Le risorse disponibili e necessarie per la ricerca
5. La tua disponibilità a collaborare nella ricerca.

Le fasi di “think tank” su “Evangelizzazione dei giovani oggi”
1. Ognuno scrive “una pagina” sulla propria visione della ricerca (in italiano, inglese, spagnolo o francese) e invia il testo all’indirizzo e-mail vincent@unisal.it entro il 15 marzo 2009, indicando il proprio nome e la facoltà. Si può realizzare la redazione della proposta anche in gruppo. Chi non prevede di essere presente per l’incontro immediatamente successivo può inviare ugualmente le proprie proposte scritte.
2. I responsabili del CIR (proff. Francis-Vincent Anthony & Ubaldo Montisci) elaboreranno una bozza di sintesi delle proposte pervenute, con la quale si lavorerà nell’incontro del 23 marzo.
3. Durante l’incontro del 23 marzo 2009 (17.00 – 19.00, Aula CS1 della FSC) si svolgerà un dibattito sulle proposte raccolte per definire la ricerca su “evangelizzazione dei giovani oggi”.
4. Infine verrà strutturato il progetto di ricerca su “Evangelizzazione dei giovani oggi”, compreso il coinvolgimento, da parte del CIR, delle facoltà e delle persone interessate.

2009/03/01

E vai mais uma

Mais um artigo do estilo do anterior.
LEAK Gary K.// RANDALL Brandy A. Clarification of the link between right-wing authoritarianism and religiousness: the role of religious maturity em Journal for the Scientific Study of Religion 1995.
A definição dos conceitos já é bastante cuidada. Mas mais uma vez o conceito de maturidade religiosa deixa a desejar.

Satisfação matrimonial, maturidade religiosa

Mais uma leitura que não deu em nada:
ANTHONY Michael J., The relationship between marital satisfaction and religious maturity em Religious Education (1993).
O conceito de maturidade religiosa que usa (e os respectivos instrumentos de análise) parecem-me muito básicos.

Que adolescência?

SCHWEITZER Friedrich em In search of a faith of one's own: The changing shape of adolescence as a challenge to the christian churches, Concilium 2007, 5 p 78ss defende a ideia que as nossas noções de adolescência e de ciclo evolutivo estão postas em causa pela pós-modernidade.
A ideia da adolescência como um tempo para definir a identidade não se aguenta, segundo ele, já que não existem mais que identidades adaptativas, sempre mutáveis.
Ele remete para alguma bibliografia que terei ainda de estudar.
Em consequência disso, todo o edifício pastoral e ritual que a Igreja oferecia aos adolescentes, em ordem à sua entrada no mundo dos adultos da fé, está também posta em causa.
E eu que pensava que com Erickson tínhamos tudo resolvido!
Em primeiro lugar, tenho que aprofundar a ideia de fundo do autor.
Mas há algumas hipóteses que ele não contempla.
A primeira é a de uma acção pastoral diferenciada. Ele trata os adolescentes todos como iguais. Como se não fosse possível que, qualitativa e estruturalmente, haja diferenças. Estou-me a referir, por exemplo, às várias etapas da iniciação crostã.
Outra coisa que não está clara é a relação entre a análise da situação e a nossa proposta educativa. Por uma série de factores culturais e sociais, a ideia da identidade como objetivo está posta em causa; de acordo com os factos. Mas deriva-se daí que as agências educativas devam renunciar a propor uma identidade estável?
Com isso não concordo. Embora me seja possível antecipar que não seja possível, sem mais, continuar a repetir o que se fazia antes