2009/03/21

Representações sociais e atitudes (2)

Atitudes e representações sociais: uma distinção básica
As definições de atitude são inúmeras. Mas tendem a partilhar a noção que, diante de um objecto há uma atitude latente que se vai exprimir num contexto “neutral”. A atitude não corresponde ao comportamento; influencia-o. As atitudes são uma propriedade dos indivíduos. Estes são vistos de forma isolada, dissociados do seu ambiente social, recebendo informação e reagindo a ela. Algumas abordagens têm em conta o ambiente, mas mais como uma variável de fundo. Não se explora o facto de o indivíduo poder influenciar o ambiente e vice-versa. Além disso, a teoria das atitudes não consegue explorar como as atitudes são partilhadas, como certas atitudes se relacionam com outras, qual a relação entre atitudes e identidades e como é que certas atitudes podem influir na sociedade como um todo.
Uma primeira função das RS é dotar o nosso mundo de uma ordem negociada (e, por isso mesmo, negociável) que enquadre objectos, pessoas e acontecimentos.
Para a TRS, os indivíduos são vistos como alguém que activamente participa na construção do ambiente. As RS diferem das atitudes porque não podem ser formadas pelos indivíduos isolados. As RS são moldadas na interacção, no diálogo e na prática com os outros.
Uma segunda função das RS é permitir a comunicação entre membros de uma comunidade, ao fornecer-lhes um código para a interacção social e um código comum para entender a realidade onde existem.
Uma oura função das RS é prescritiva. As RS são partilhadas e tendem a impor-se. O que é prescritivo nas RS é o processo de re-presentação em si mesmo. Não pode haver comunicação dentro de uma sociedade ou grupo sem representação. Isto não quer dizer que a TRS negue o livre arbítrio ou a possibilidade da mudança social. As RS só existem na medida em que circulam em constantes cambiantes, pois são interpretadas e reelaboradas pelos sujeitos. Por isso as RS podem conter doses elevadas de conflito e contradição. Um campo representacional “permite” contradição, fragmentação, negociação e debate.
A TRS permite a conceptualização da polifasia cognitiva. Isto não só permite inconsistências nas RS mas teoriza que essas contradições são centrais para a comunicação, a interacção e a prática social.
Resumindo: o que a teoria das atitudes e a TRS estudam seja semelhante em termos de conteúdo, as suas perspectivas não poderiam ser mais diferentes. As atitudes partem do indivíduo. As RS partem do conhecimento social. As RS são diferentes das atitudes porque existem fora do indivíduo tal como na mente do indivíduo.

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