No fundo, e se bem percebi o artigo (GANZEVOORT R. Ruard, What you see is what you get. Social construction and normativity in practical theology, pretende-se, por um lado legitimar a teologia pastoral como teologia empírica e, por outro, usar uma epistemologia n alinha do construcionismo social.
Reconheço que (ainda) não percebi qual é a lógica global do artigo. Possivelmente insere-se num debate sobre epistemologia teológica que me passa ao lado. Vou apresentando algumas ideias do artigo que tentarei comentar.
A primeira é que a teologia é feita para públicos diferentes: para a academia, para a comunidade eclesial, para a comunidade extra-eclesial. Ora o discurso da teologia interage com o seu público-alvo. O que leva a uma pluralidade teológica inevitável.
A segunda ideia é a distinção entre discurso de primeira e de segunda ordem. A experiência religiosa que as pessoas e as comunidades fazem (ou não) integra o discurso de 1ª ordem; a teologia (a reflexão sobre o discurso da 1ª ordem) faz o discurso de 2ª ordem. Isto ajuda a enquadrar o objecto da teologia. Não é Deus; é a experiência que d'Ele se faz. E por isso a teologia pode ser ciência, um saber humano, de algum modo comparável às outras ciências. E isso faz que, de algum modo, toda a teologia seja empírica: trabalha com dados empíricos. Seja a experiência actual dos crentes (teologia prática ou pastoral), a dos crentes ao longo da história ou a memória bíblica. A teologia elabora sempre a partir de experiência vividas.
Apesar desta marca empírica, a TP (teologia pastoral) não pode ter pretensões positivistas de objectividade: todo o saber nasce enquadrado em quadro teóricos pré-existentes. "No círculo hermenêutico de teoria e práxis, precisamos de nos perguntar onde encontramos os critérios normativos para criar novas estratégias ou para avaliar as existentes" (p. 24)
Uma possibilidade é derivar a TP da teologia bíblica ou sistemática. Destas viriam os critérios e a TP limitar-se-ia a tirar os corolários. O que, para o autor (e para mim) não tem sustentação possível. Pode-se ver o artigo anterior para o confirmar. A rapidez com que "despacho" este assunto pode parecer estranha num contexto eclesial como o português, onde é dominante a ideia da pastoral como "aplicação" da teologia séria. Se houver oportunidade, voltarei ao assunto, para dissipar dúvidas que apareçam.
O autor reconhece que muitas tentativas de legitimar a TP na práxis têm dificuldades em o conseguir fazer. Diz ele que "Perhaps the most radical approach locating normativity in the praxis is found in those shapes of practical theology that are influenced by liberation theology" (p. 25).
Aqui, acho que o homem se torna muito genérico. Quando se fala de teologia da libertação (TL) estamos a falar de muita coisa. Para ver até que ponto é preciso estar atento convido a ler este artigo de Clodovis BOff. Mas depois podem ler esta resposta de um outro expoente da TL, Comlin, aqui. O irmão de Clodóvis, Leonardo Boff, responde forte. A polémica pode estar para durar. O importante é salientar que a relação entre o actual e o empírico originário podem associar-se de muitas formas, em ordem a produzir normatividade.
A seguir o autor conclui que, para a TP, a normatividade, não pode nem ser deduzida da teol. sistemática nem reduzida à nossa análise da situação actual.
Ele propõe um caminho de humildade. Não podemos conhecer os critérios últimos de normatividade, pois esses só a Deus pertencem. Por isso, procuramos uma normatividade penúltima pondo em diálogo as fontes da fé com a nossa situação actual.
O que me faz lembrar Paulo VI e o critério da dupla fidelidade: à mensagem de Deus e ao destinatário. Mas se calhar estou a exorbitar...
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