2009/03/28

Epistemologia da TRS

A partir do artigo MARKOVÁ Ivana 2008 The epistemological significance of the theory of social representations. Journal for the Theory of Social Behaviour 38(4):461-487.
A autora tenta estudar a dificuldade de acolhimento da TRS no âmbito da psicologia social a partir de questões paradigmáticas e epistemológicas.
Apresenta a tese que o salto ocorrido na física entre uma física (e epistemologia) newtoniana e einsteiniana ainda não ocorreu na psicologia (e na psicologia social em particular).
A maioria da psicologia depende ainda da visão mecanicista e empiricista de Newton.
A TRS assume-se como seguidora do paradigma de Einstein e do seu triângulo de relações.
O primeiro lado desse triângulo é a relação entre epistemologia e ciência. Para Einstein há uma relação recíproca entre ambas, cada uma dependente da outra.
O segundo lado é a relação entre teoria e experiência. A praxis tradicional diz que a teoria deve ser deduzida da experiência por abstracção lógica e que a teoria é falsifica por resultados experimentais que a contradigam. Mas não é a abordagem de Einstein. Os conceitos são invenções livres do espírito humano, não são deduzidos por abstracção.
O terceiro lado é o argumento contra as explicações dos efeitos a partir das suas causas.
Epistemologia interaccional
Muita da dificuldade em entender a TRS é tentar fazê-lo a partir do paradigma mecanicista em vez de usar uma epistemologia interaccional.
A TRS explora a realidade social dos fenómenos nas suas interdependências e dinâmicas. Ela pressupõe interacção entre os fenómenos sociais e não a existência de categorias simples. Assume que o pensamento natural e a comunicação são multifacetados e heterogéneos. Interessa-se mais pela interacção entre os sujeitos do que pelo comportamento dos agentes isolados.
Nesta abordagem (TRS) uma representação é gerada conjuntamente pelo eu e pelo outro.
O que separa as epistemologias de Newton e de Einstein é o conceito de interacção entre o eu e o outro na produção de conhecimento (representação). Na epistemologia de Newton o eu, independentemente do social, gera a representação a partir do objecto.
Esta triangularidade leva a explorar outras componentes do processo de geração social do conhecimento: tempo, cultura…. À figura base do triângulo, acrescenta-se uma dimensão temporal. (O que leva à metáfora do Toblerone, o famoso chocolate suíço).
Uma abordagem newtoniana exige uma operacionalização dos conceitos como princípio metodológico. Mas a natureza relacional das RS, leva a que o critério de verdade baseado na correspondência entre os fenómenos sociais complexos e a medição não fça muito sentido. Porquê? Porque entender as RS como fenómenos mentais de nível individual originados em acções ou interacções, passa completamente ao lado da questão.
O modelo habitual em psicologia propõe um conhecedor passivo e um objecto a ser descoberto. A TRS propõe que a representação deva ser considerado em modo activo: as representações são modalidades de conhecimento e a sua função é moldar actividades, comunicação e criar realidade. Conceber as RS como pequenas entidades estáveis é tentar interpretar o electromagnetismo em termos mecanicistas.
Teoria é método da TRS
A ciência pré-Einstein é “data-driven” e não “theory-driven”, o que leva à centralidade do método.
A TRS está aberta a uma pluralidade de métodos; todos servem desde qu sirvam para resolver o problema.
Pensamento natural e polifasia cognitiva
As pessoas usam vários modos de comunicação e pensamento. Por isso, o pensamento humano está cheio de contradições, é influenciado pelo pensar dos outros e pelos contextos históricos e culturais que nos rodeiam.
Tudo isso leva à hipótese da polifasia cognitiva, a possibilidade de cada um ter variadas práticas comunicativas ao mesmo tempo.

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