Porque alguns dos últimos posts ainda têm sido mais confusos do que o costume aqui ficam algumas tentativas de esclarecimento.
Em teologia, em bom rigor, não há um método. Desde sempre a(s) teologia(s) usaram métodos originários de outros saberes. Mas este diálogo de métodos pode ter várias configurações. Isto pode parecer muito esotérico e inútil. Até ao dia em que te dás conta que clarificar estas coisas é a única maneira de sair do pantanal.
Monodiscilpinaridade É a posição que diz que a teologia funciona por si mesma, não precisa de dar cavaco a ninguém. Na idade média dizia-se que a filosofia era escrava (ancilla) da teologia. Como isto queria-se dizer que a teologia se podia servir da filosofia. Mas na monodisciplinaridade (também chamado modelo ancilar) a teologia usa (explora?) os dados de outros saberes (tradicionalmente a filosofia, mas esta atitude pode manter-se com outras ciências) sem reflectir sobre as condições desse diálogo. Aliás, sem diálogo. Os resultados não costumam ser famosos. mas ai de quem chamara atenção para isto.
MUltidisciplinaridade. Com a consciência que era preciso pensar o diálogo entre a teologia e os outros saberes avançou-se para um modelo multidiciplinar, em que várias disciplinas se sobrepõem. Exemplo: para fazer um projecto pastoral de uma paróquia, chama-se um sociólogo, um arquitecto, um economista e um teólogo. Cada um diz a sua bitaitada, junta-se tudo num relatório enorme e... ponto final. Aquilo não serve para nada. Nos anos 60-80, cheios de boa vontade, muita gente tentou isto. mas a verdade é que não chega a haver diálogo. nem reflexão sobre o diálogo Imagina que num modelo destes o sociólogo diz: "os jovens de hoje não gostam de ir à missa." Que conclusões é que tu tiras daqui? Que devemos deixar de "fazer" missa? Que devemos abandonar os jovens? (estou a colocar hipóteses absurdas, que este modelo não é capaz de evitar).
Interdisciplinaridade. Neste modelo há um diálogo pensado, discutido entre saberes diferentes. Conhecem-se os pressupostos ideológicos e metodológicos das ciências em presença e tenta-se produzir um saber não só científico mas em que todas as partes se possam ver reflectidas. É claramente um modelo interessante.
Intradisciplinaridade. Um pouco mais à frente. Este modelo que só aos poucos vai entrando na área da pastoral diz que a teologia deve incorporar internamente os métodos das ciências humanas. Não já fazer um outsourcing como na interdisciplinaridade, mas autonomizar-se. Ou seja o teólogo, além de saber teologia, sabe também de outras ciências, e usa com rigor os métodos próprios das outras ciências para a sua tarefa de teólogo. Exemplo: Estamos a pensar teologicamente um conjunto de catecismos; para isso adquirimos os métodos das ciências da comunicação, da psicologia, das ciências da educação e, internamente, elaboramos o nosso produto.
NUm certo sentido isto não tem nada de novo. A teologia dogmática sempre fez isto. Sempre usou com qualidade a filosofia, como ferramenta digna, para a sua tarefa. A teologia bíblica usa os métodos de análise literária. A teologia histórica usa os métodos de análise histórica.
Está esclarecido? Parece simples, não?
And now... the one million dollars question: Olhem para produções teológicas vossas conhecidas... digam lá qual modelo estão a usar? eh, eh... (grande farra vai ser nos comentários).
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