Na sequência do último encontro do tirocínio algumas questões merecem reflexão.
Sobre o documento Donum veritiatis
Apesar de algumas belas intuições (o teólogo como servidor eclesial, como vocação) o todo do documento tem uma orientação demasiado polémica. A sugestão que teria nascido como remate aos anteriores documentos sobre a teologia da libertação parece fazer sentido.
Pluralismo
A intervenção de ??? (Madagáscar) sobre a tendência fragmentária dá que pensar. Segundo ele, num único país, o “excesso” de adaptação às 18 tribos existentes diminui muito a comunhão. Evidentemente não posso-quero discutir a situação concreta. Mas recordei-me do episódio de Babel, da tensão entre uma uniformidade imperialista e idolátrica e uma diferenciação que quebra a comunicação e a comunhão. A isso a Igreja responde com o Pentecostes, com a experiência de comunicação-comunhão na diferença (das línguas, das culturas).
Talvez o papel do teólogo seja também servir o Espírito Santo ajudando as comunidades a comunicar-comungar com o “outro”.
E os pastores?
A pergunta do prof. Anthony dá que pensar. Em primeiro lugar porque não é comum. Mas em todas as questões suscitadas pela Donum veritatis, o papel dos bispos não é fácil.
Pastores e teólogos
Ganzevoort sugere que haja uma maior separação mental entre teólogos e pastores. Ele fala na perspectiva dos teólogos que também são pastores (= actores na praxis eclesial). Segundo ele isso teria que ver com a distinção entre discurso de 1ª e de 2ª ordem
Públicos
Ganzevoort, mais uma vez, fez-me pensar numa questão que não aparecendo no documento pode ter a sua importância. O teólogo produz discurso para públicos diferentes. E por isso produz discurso com formas e exigências diferentes. Ele distingue entre a academia, a Igreja e o mundo. No tirocínio “critiquei” o facto de muita teologia ser produzida apenas para consumo académico, inter pares. Pouca vem produzida para o povo de Deus. Temos ainda menos experiência de falar teologicamente para fora da Igreja (e falar aqui, entende-se como discurso de 2ª ordem). Ora é normal que a descontextualização do discurso teológico feito para cada um desses públicos possa provocar dificuldades.
2 comentários:
na ciencia e tecnologia o problema é semelhante ..de «publico alvo que molda a forma do discurso».. e depois cria esta sensaçao (errada, penso eu) de estarmos em mundos diferentes
é verdade. Eu tenho escrito sobretudo para um público (catequistas, animadores) de aficionados. E fico com a sensação que gente com alguma formação pensa que eu ando a dizer apenas banalidades (mesmo quando se trata de gente que disto de educação, de catequética ou de pastoral juvenil nunca estudou nada, nem os documentos da CEP).
Por outro, a ideia de dizer o que penso sobre iniciação cristã para "fora da Igreja" aterra-me, pois tenho a sensação, à partida, que a incomunicação vai ser muita.
é que se calhar não é apenas uma questão de estilo comunicativo; passa também por conteúdos diferentes. Por exemplo fizeram bem os bispos em assumir que catequese e 1º anúncio têm conteúdos diferentes.
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