Acabei de introduzir os dados.
Algumas ideias que se confirmam.
1 - O povo não se confessa mesmo. Ainda não me meti a fazer estatística a sério mas aposto que vai haver uma correlação inversa muito forte entre ir à missa e confessar-se. o que é, para mim, curioso.
2 - O pessoal diz que reza quase todos os dias.
3 - A respeito da imagem de Deus. Alguns valores (paz, alegria, felicidade) estão muito presentes. Algumas formulações mais "reificadas" (tiradas possivelmente duma catequese mais nocional, a la pio X). Grande confusão entre as pessoas da Trindade. A centralidade revelacional de Jesus quase sempre ausente.
4 - Catequese e missa são os grandes lugares da fé. Mas estes são os que andam na catequese. Estou curioso para saber o que dirão os que não andam na catequese.
5 - Pais e catequistas são os grandes jogadores deste campeonato. Avós... qualquer coisinha.
6 - Supostamente os media e a escola não pinta nada nisto da fé. É o que eles dizem. Será interessante perceber, numa entrevista em profundidade, se isso resiste.
7 - A dimensão missionária da fé quase ausente.
2009/12/31
2009/12/30
começa a aplicação dos questionários
já tenho aí uns 40 questionários preenchidos. De gente que anda na catequese e se prepara para o crisma.Interior Norte, rural.
Estou a meter os dados no computador.
Algumas observações preliminares:
1 - Na zona alfa (de onde vêm os questoionários; obviamente, não a identifico) a malta não se confessa. Estou ainda a metade da introdução mas a olho aposto que esse resultado vai ser esmagador. Culpa da catequese? Da pastoral local? Efeito da adolescência? Gostava de perceber porquê?
2 - No questionário há questões paralelas, a respeito das 3 pessoas da trindade. Assim a olho há uma tendência notória para fazer copy-paste de uns para outros. Não em absoluto, mas há fortes influências. Porquê? Uma teologia trinitária que não distingue bem as pessoas trinitárias? Preguiça? Dificuldade de vocabulário?
3 - Os rapazes presentes no grupo têm respostas muito "limitdas". Baixo nível cultural? Mas no território onde estão os rapazes com mais nível cultural? J´+a largaram a fé?
4 - Catequese e missa são os grandes (quase únicos) lugares de experiência religiosa.
5 - Pessoas a influenciar a fé: maioritariamente catequistas, pais, avós. Não aparecem amigos, nem professores
Estou a meter os dados no computador.
Algumas observações preliminares:
1 - Na zona alfa (de onde vêm os questoionários; obviamente, não a identifico) a malta não se confessa. Estou ainda a metade da introdução mas a olho aposto que esse resultado vai ser esmagador. Culpa da catequese? Da pastoral local? Efeito da adolescência? Gostava de perceber porquê?
2 - No questionário há questões paralelas, a respeito das 3 pessoas da trindade. Assim a olho há uma tendência notória para fazer copy-paste de uns para outros. Não em absoluto, mas há fortes influências. Porquê? Uma teologia trinitária que não distingue bem as pessoas trinitárias? Preguiça? Dificuldade de vocabulário?
3 - Os rapazes presentes no grupo têm respostas muito "limitdas". Baixo nível cultural? Mas no território onde estão os rapazes com mais nível cultural? J´+a largaram a fé?
4 - Catequese e missa são os grandes (quase únicos) lugares de experiência religiosa.
5 - Pessoas a influenciar a fé: maioritariamente catequistas, pais, avós. Não aparecem amigos, nem professores
2009/12/08
Representação social e atitude
Isto da tese não tem andado tão depressa como eu gostaria.
Estou quase pronto a começar a aplicação dos questionários. Mas há questões de teoria metodológica que me estão a azucrinar.
Entretanto estou a ler ROSA AnnamariaSilvana de, Social representations and attitudes: problems of coherence between the theoretical definition and procedure of research em Papers on Social Representation 1993.
O artigo começa por ser uma comparação entre o conceito de RS e o conceito de atitude. Mas acaba por ser uma interessante reflexão sobre as questões metodológicas que a teoria da RS enfrenta. O problema é que é de 1993 e não integra os desenvolvimentos mais recentes.
A tese inicial é que muitas das dificuldades de aceitação da TRS vem de uma "nostalgia" da atitude.
A psicologia, ao longo de décadas tem tratado a "atitude" como um menino-lindo, que serve para tudo. Trocar isso pelo patinho feio da RS parece ser uma operação excessivamente arriscada.
A autora defende uma primeira tese, segundo a qual a RS é, ao mesmo tempo, um conceito heurístico e uma teoria; enquanto a "atitude" é usada com significados diferentes em diferentes teorias. Contra o "senso comum" existente entre muitos psicólogos, a atitude é tudo menos um conceito estável e unívoco.
É de reter a tabela em que Rosa faz uma comparação entre os princípios epistémicos da TRS e das abordagens mais cognitistas-individualistas.
(continua...
Estou quase pronto a começar a aplicação dos questionários. Mas há questões de teoria metodológica que me estão a azucrinar.
Entretanto estou a ler ROSA AnnamariaSilvana de, Social representations and attitudes: problems of coherence between the theoretical definition and procedure of research em Papers on Social Representation 1993.
O artigo começa por ser uma comparação entre o conceito de RS e o conceito de atitude. Mas acaba por ser uma interessante reflexão sobre as questões metodológicas que a teoria da RS enfrenta. O problema é que é de 1993 e não integra os desenvolvimentos mais recentes.
A tese inicial é que muitas das dificuldades de aceitação da TRS vem de uma "nostalgia" da atitude.
A psicologia, ao longo de décadas tem tratado a "atitude" como um menino-lindo, que serve para tudo. Trocar isso pelo patinho feio da RS parece ser uma operação excessivamente arriscada.
A autora defende uma primeira tese, segundo a qual a RS é, ao mesmo tempo, um conceito heurístico e uma teoria; enquanto a "atitude" é usada com significados diferentes em diferentes teorias. Contra o "senso comum" existente entre muitos psicólogos, a atitude é tudo menos um conceito estável e unívoco.
É de reter a tabela em que Rosa faz uma comparação entre os princípios epistémicos da TRS e das abordagens mais cognitistas-individualistas.
(continua...
2009/11/07
Grrrr!
Eu sei que prometi não misturar aqui as minhas desventuras profissionais, mas...
Desde há mais de uma semana ando às voltas a rever um livro (Orar a Palavra).
No Projecto GPS, oferecemos também um manual com propostas de lectio divina a partir do evangelho de Domingo. O ano passado editámos o livro referente ao ano litúrgico B e agora deveria estar a sair o material para o ano C.
Estes livros são feitos a partir de propostas elaboradas por um grupo liderado pelo Pe. tarcízio e distribuídas numa mailing list.
Eu não sei se o material que estou a usar este ano está "pior" ou se sou eu que estou mais picuinhas em termos pastorais. Ou se, com a idade e o mau génio, estou simplesmente mais chato. Mas isto está-me a dar água pela barba.
Já o ano passado reparei que no material que me chegou (em bruto) havia problemas: textos longos demais, problemas de português...
Mas este ano estou-me a sentir um bocado mal porque não alinho com muita da teologia e dos modelos pastorais subjacentes a bastantes dos textos.
O que me traz alguns "dramas" de consciência: faço uma "edição" em profundidade e mexo nos textos em função do que me parece ser a nossa linha editorial? Ou respeito o que está e concluo que aquilo não é editável (por nós)?
Desde há mais de uma semana ando às voltas a rever um livro (Orar a Palavra).
No Projecto GPS, oferecemos também um manual com propostas de lectio divina a partir do evangelho de Domingo. O ano passado editámos o livro referente ao ano litúrgico B e agora deveria estar a sair o material para o ano C.
Estes livros são feitos a partir de propostas elaboradas por um grupo liderado pelo Pe. tarcízio e distribuídas numa mailing list.
Eu não sei se o material que estou a usar este ano está "pior" ou se sou eu que estou mais picuinhas em termos pastorais. Ou se, com a idade e o mau génio, estou simplesmente mais chato. Mas isto está-me a dar água pela barba.
Já o ano passado reparei que no material que me chegou (em bruto) havia problemas: textos longos demais, problemas de português...
Mas este ano estou-me a sentir um bocado mal porque não alinho com muita da teologia e dos modelos pastorais subjacentes a bastantes dos textos.
O que me traz alguns "dramas" de consciência: faço uma "edição" em profundidade e mexo nos textos em função do que me parece ser a nossa linha editorial? Ou respeito o que está e concluo que aquilo não é editável (por nós)?
2009/10/29
pré-teste
Há tempos fiz um esboço do teste que conto aplicar para recolha de dados.
O pessoal do meu grupo tem-me ajudado mas as respostas tardam a chegar.
Já recebi 3; a coisa parece ser funcional. E já recolhi algumas sugestões de melhoria.
O pessoal do meu grupo tem-me ajudado mas as respostas tardam a chegar.
Já recebi 3; a coisa parece ser funcional. E já recolhi algumas sugestões de melhoria.
2009/10/19
Back home
E já estou de regresso a PT.
Muito frio e muitos livros, lá na Alemanha.
Algumas ideias interessantes.
Algum sono em atraso.
No sábado ainda pude estar um pouco no dia do animador da diocese de Braga e com umas centenas de pais da paróquia de calendário.
Muito frio e muitos livros, lá na Alemanha.
Algumas ideias interessantes.
Algum sono em atraso.
No sábado ainda pude estar um pouco no dia do animador da diocese de Braga e com umas centenas de pais da paróquia de calendário.
2009/10/12
frankfurt
Esta semana, até sábado estarei em Frankfurt, na feira do livro.
Para quem nunca lá esteve é difícil de perceber a vastidão da coisa.
Lá irei, mais este ano, ver novidades, aprender, conhecer tendências.
Para quem nunca lá esteve é difícil de perceber a vastidão da coisa.
Lá irei, mais este ano, ver novidades, aprender, conhecer tendências.
2009/10/08
Projectos
Isto dos "projectos" tornou-se na Igreja (e não só) uma palavra de moda. Mal entendida, mal usada, deixada cair no esquecimento prático...
Há muita confusão entre projecto, plano, calendário. Aqui não me quero deter nas distinções de tipo mais técnico e operativo. Quero antes pensar sobre os aspectos "filosóficos" e atitudinais que são pré-requisito para um projecto.
Projecto tem que ver com futuro. Com "tender para".
O projecto pretende ser uma resposta à pergunta "onde queremos estar lá mais à frente?"
Basicamente, há três tipos possíveis de resposta ao futuro.
1. O futuro utópico. O futuro é pensado como perfeição, como realização quase imediata de todos os sonhos. Exemplo: Todos vamos ser felizes, o Sporting vai ganhar 5 campeonatos seguidos, os políticos vão começar a ser todos verdadeiros, honestos e educados.
Este tipo de visão do futuro tem, ao mesmo tempo, algo de alienado e de perigoso. Alienado porque não realista. Perigoso porque não admite discussão. A "perfeição" não se discute. Mas como cada um de nós pode ter visões diferentes do futuro perfeito, o conflito é inevitável.
Alguém me perguntará se a esperança cristã ão é necessariamente um futuro deste tipo. Direi que não. A esperança cristã é escatológica, tem que ver com as coisas últimas e definitivas. É não utópica porque se funda na realidade de Deus. Não é projecção dos desejos pessoais: está já presente na história, ainda que sob forma germinal. A esperança cristã leva a uma acção de tipo projectual que se encaminha, consciente de todas as fragilidades, para a escatologia. Não é utópica.
Entre nós, só o pessoal muito ingénuo e maçarico é que alinha com esta visão do futuro.
2. Mais do mesmo. Pensa o futuro como uma variação em quantidade do presente. O que fazemos (na Igreja, na educação, na família, na...) é sempre uma continuação do que temos feito. não há verdadeira inovação. Não há pensamento crítico sobre os pressupostos do presente. Não há coragem nem vontade de pensar um futuro qualitativamente diferente do presente. Não há capacidade de abandonar as perguntas de sempre e procurar outras mais relevantes.
Normalmente, esta atitude liga-se à consciência burocrática. A consciência burocrática é típica dos sistemas (pessoais, sociais... exemplos: grupo de jovens, centros de catequese, paróquias...) que se entendem fechados, como fins em si mesmos. A consciência burocrática, o "projecto mais do mesmo", não pensa que haja realidade para fora de si mesma. Não há desafios, não há interesses para fora de si mesmo. É egocêntrica. É ateia (na medida em que rejeita um Deus que sempre convida ao êxodo).
Esta atitude defende-se bem fazendo apelo ao realismo, à segurança das práticas consolidadas.
3. Projecto de futuro. Esta terceira atitude empenha-se na construção de um futuro que seja qualitativamente diferente do presente e das condições actuais. Mas, ao contrário da tendência utópica, não se actua por mero desejo. Está consciente das condições e constrições actuais. E em interacção com elas, define um percurso que permite construir uma realidade outra.
OK. Depois da minha apresentação sucinta já deve estar claro quem é que são os "bons". Isto pode parecer bastante teórico. Mas estas pré-compreensões são bastante importantes. Dá-me a sensação que o fracasso em implementar uma verdadeira mentalidade de projecto em tantas realidades eclesiais tem que ver com isto.
E parece-me ainda que são necessários três vectores para podermos aderir a um verdadeiro projecto de futuro.
a) Abertura horizontal. Só há projecto quando os participantes e as estruturas se decidem a uma abertura horizontal. Quando um catequista fala com outro. Quando uma paróquia fala com outra. Quando a diocese fala (para cima e para baixo) com as paróquias. Quando há atenção e disponibilidade interior para escutar os desafios que nos chegam da economia, da ecologia, da sociedade, das tendências culturais. Esta abertura não é resignação, nem acomodação acrítica. É diálogo. Com tensão bipolar. Com procura activa das "razões" que assistem àqueles que estão "de fora" ou com quem não concordamos. Isto que estou a descrever coincide, em muitos aspectos, com aquilo a que nós cristãos chamamos "comunhão".
b) Abertura temporal. Só há projecto quando temos capacidade de nos pensarmos no eixo temporal. O que temos feito? Que resultados tem produzido? Esta atitude permite ao mesmo tempo relativizar o que é relativo e apostar naquilo que é essencial. Todo o tema da avaliação aparece aqui. Todo o tema da identidade aparece aqui. A nossa identidade não se esgota nas concretizações. O esforço de fidelidade dinâmica exige esta abertura temporal. A avaliação é a capacidade de verificar a qualidade de longo prazo do que temos vindo a fazer. Exemplo: avaliar não é verificar se a festa da 1ª comunhão correu bem (não houve pais aos gritos, nem fotógrafos com os pés em cima do altar); é antes verificar se as crianças adquirem consistentemente uma prática eucarística.
c) Abertura vertical. É uma clara abertura ao divino. Não há projecto que se aguente sem a busca humilde de diálogo com o Deus que Se revela. Que nos faz ver as coisas de forma diferente. Que nos fortalece. Que nos critica e convida à mudança.
Há muita confusão entre projecto, plano, calendário. Aqui não me quero deter nas distinções de tipo mais técnico e operativo. Quero antes pensar sobre os aspectos "filosóficos" e atitudinais que são pré-requisito para um projecto.
Projecto tem que ver com futuro. Com "tender para".
O projecto pretende ser uma resposta à pergunta "onde queremos estar lá mais à frente?"
Basicamente, há três tipos possíveis de resposta ao futuro.
1. O futuro utópico. O futuro é pensado como perfeição, como realização quase imediata de todos os sonhos. Exemplo: Todos vamos ser felizes, o Sporting vai ganhar 5 campeonatos seguidos, os políticos vão começar a ser todos verdadeiros, honestos e educados.
Este tipo de visão do futuro tem, ao mesmo tempo, algo de alienado e de perigoso. Alienado porque não realista. Perigoso porque não admite discussão. A "perfeição" não se discute. Mas como cada um de nós pode ter visões diferentes do futuro perfeito, o conflito é inevitável.
Alguém me perguntará se a esperança cristã ão é necessariamente um futuro deste tipo. Direi que não. A esperança cristã é escatológica, tem que ver com as coisas últimas e definitivas. É não utópica porque se funda na realidade de Deus. Não é projecção dos desejos pessoais: está já presente na história, ainda que sob forma germinal. A esperança cristã leva a uma acção de tipo projectual que se encaminha, consciente de todas as fragilidades, para a escatologia. Não é utópica.
Entre nós, só o pessoal muito ingénuo e maçarico é que alinha com esta visão do futuro.
2. Mais do mesmo. Pensa o futuro como uma variação em quantidade do presente. O que fazemos (na Igreja, na educação, na família, na...) é sempre uma continuação do que temos feito. não há verdadeira inovação. Não há pensamento crítico sobre os pressupostos do presente. Não há coragem nem vontade de pensar um futuro qualitativamente diferente do presente. Não há capacidade de abandonar as perguntas de sempre e procurar outras mais relevantes.
Normalmente, esta atitude liga-se à consciência burocrática. A consciência burocrática é típica dos sistemas (pessoais, sociais... exemplos: grupo de jovens, centros de catequese, paróquias...) que se entendem fechados, como fins em si mesmos. A consciência burocrática, o "projecto mais do mesmo", não pensa que haja realidade para fora de si mesma. Não há desafios, não há interesses para fora de si mesmo. É egocêntrica. É ateia (na medida em que rejeita um Deus que sempre convida ao êxodo).
Esta atitude defende-se bem fazendo apelo ao realismo, à segurança das práticas consolidadas.
3. Projecto de futuro. Esta terceira atitude empenha-se na construção de um futuro que seja qualitativamente diferente do presente e das condições actuais. Mas, ao contrário da tendência utópica, não se actua por mero desejo. Está consciente das condições e constrições actuais. E em interacção com elas, define um percurso que permite construir uma realidade outra.
OK. Depois da minha apresentação sucinta já deve estar claro quem é que são os "bons". Isto pode parecer bastante teórico. Mas estas pré-compreensões são bastante importantes. Dá-me a sensação que o fracasso em implementar uma verdadeira mentalidade de projecto em tantas realidades eclesiais tem que ver com isto.
E parece-me ainda que são necessários três vectores para podermos aderir a um verdadeiro projecto de futuro.
a) Abertura horizontal. Só há projecto quando os participantes e as estruturas se decidem a uma abertura horizontal. Quando um catequista fala com outro. Quando uma paróquia fala com outra. Quando a diocese fala (para cima e para baixo) com as paróquias. Quando há atenção e disponibilidade interior para escutar os desafios que nos chegam da economia, da ecologia, da sociedade, das tendências culturais. Esta abertura não é resignação, nem acomodação acrítica. É diálogo. Com tensão bipolar. Com procura activa das "razões" que assistem àqueles que estão "de fora" ou com quem não concordamos. Isto que estou a descrever coincide, em muitos aspectos, com aquilo a que nós cristãos chamamos "comunhão".
b) Abertura temporal. Só há projecto quando temos capacidade de nos pensarmos no eixo temporal. O que temos feito? Que resultados tem produzido? Esta atitude permite ao mesmo tempo relativizar o que é relativo e apostar naquilo que é essencial. Todo o tema da avaliação aparece aqui. Todo o tema da identidade aparece aqui. A nossa identidade não se esgota nas concretizações. O esforço de fidelidade dinâmica exige esta abertura temporal. A avaliação é a capacidade de verificar a qualidade de longo prazo do que temos vindo a fazer. Exemplo: avaliar não é verificar se a festa da 1ª comunhão correu bem (não houve pais aos gritos, nem fotógrafos com os pés em cima do altar); é antes verificar se as crianças adquirem consistentemente uma prática eucarística.
c) Abertura vertical. É uma clara abertura ao divino. Não há projecto que se aguente sem a busca humilde de diálogo com o Deus que Se revela. Que nos faz ver as coisas de forma diferente. Que nos fortalece. Que nos critica e convida à mudança.
2009/10/07
Falar claro?
Há, em muitos de nós que somos Igreja, uma tentação grave de não falar claro. De meter muita maquilhagem nas palavras. Porque elas podem ofender alguém ou o establishment. Porque achamos que os nossos interlocutores são uns imbecis, incapazes de pensar pela própria cabeça, incapazes de aceitarem ou rejeitarem com liberdade e responsabilidade aquilo que dizemos.
Um exemplo recente:
No dia 5, na Forma(c)ção mandei umas "bocas" a respeito dos novos catecismos. É público e notório que estou cada vez mais crítico em relação aos méritos destes novos catecismos. Quer em termos do produto em si, do processo que os gerou e dos resultados que deveriam produzir.
É certo que ainda não tive a coragem (ou a paciência) de fazer aquilo que fiz na minha tese de mestrado, que seria analisar sistematicamente todos os textos, de fio a pavio, e provar por "a+b" as razões da minha (e não só) crítica.
Mas os "erros" catequéticos e as limitações estruturais de que padecem são facilmente judicáveis.
Enquanto escrevo isso num blog ou na revista Catequistas, o feedback não é muito. Ou porque as pessoas não lêm ou porque não sabem/querem responder ou contestar a minha opinião e a minha avaliação.
Quando digo aquilo em público há sempre mais feedback. A maioria das pessoas acaba por concordar comigo. E alguns discordarão. O que é normal.
E depois há aquele pessoal que me diz: "Tu até tens razão. Mas é preciso ter cuidado. As pessoas podem interpretar mal"...
E é aqui que eu acho interessante pensar sobre o tipo de praxis comunicativa que queremos em Igreja. Claramente sou favorável a uma comunicação o mais clara possível. Onde todas as cartas estejam em cima da mesa. Para que todos tenham o máximo de informação para confrontar, para processar, para ir elaborando as suas opiniões.
Continuando com o exemplo: no final da minha intervenção um jovem seminarista, encheu-se de coragem e disse aquilo que provavelmente muita gente pensa: "Se os catecismos são tão desinteressantes [tao cheios de palha; expressão dele], não será preferível abdicar deles e irmos dando uns temas e umas coisas mais interessantes?"
A minha resposta foi um "NÃO" CLARÍSSIMO. E justifiquei as minhas razões.
E é por isto que eu prefiro uma praxis comunicativa que favorece a clareza. Imagina que eu não digo nada; este tipo de ideias de trocar a sistematicidade dos catecismos por umas coisas avulsas e à vontade do freguês, continua por aí, sem nunca ter oportunidade de aparecer à luz do dia, de forma larvar, sem se confrontar com críticas, sem possibilidade de evoluir.
Claro que o facto de alguém fazer críticas mina a "autoridade" seja do que for. Mas pensem bem se queremos voltar a uma postura do "come e cala-te".
Aliás, ao limite, esta é uma das razões porque sou mais crítico dos catecismos actuais. Não apenas por serem "mauzinhos" em muitos aspectos mas por serem "perigosos". Explico. As suas linitações de redacção, pedagógicas, gráficas, a confusão entre conteúdos e objectivos, as imensas confusões na hierarquia de objectivos, a sua "imensidão" palavrosa, leva uma boa parte dos catequistas a considerá-los pouco operacionais, pouco aplicáveis. Mas a maneira confusa como estão feitos empurra o catequista "médio" a tentar outras coisas; não somente ao nível da metodologia mas também ao nível dos conteúdos (porque, precisasmente, os guias não separam bem as coisas). O que é que vaia acontecer? O catequista sente-se forçado a escolher entre tentar implementar o que está proposto nos guias ipsis verbis (o que a maioria considera inviável) ou a tentar inventar. Mas se opta por inventar, a estrutura dos guias não os ajuda a perceber a diferença entre o que é nuclear e o que á relativo e acessório. E do mesmo modo que eu digo que é inútil discutir a etimologia grega da palavra "carisma" outro catequista vai-se sentir à vontade para considerar "inútil"... a ressurreição de Jesus, ou a Eucaristia.
Que alternativa? Calar-me e fazer figas para quem tudo, magicamente se componha? Ou tentar o "caminho longo" da formação, do diálogo, do estimular à mudança e à construção de uma alternativa qualitativamente superior nas práticas catequéticas e eclesiais de todos nós?
Um exemplo recente:
No dia 5, na Forma(c)ção mandei umas "bocas" a respeito dos novos catecismos. É público e notório que estou cada vez mais crítico em relação aos méritos destes novos catecismos. Quer em termos do produto em si, do processo que os gerou e dos resultados que deveriam produzir.
É certo que ainda não tive a coragem (ou a paciência) de fazer aquilo que fiz na minha tese de mestrado, que seria analisar sistematicamente todos os textos, de fio a pavio, e provar por "a+b" as razões da minha (e não só) crítica.
Mas os "erros" catequéticos e as limitações estruturais de que padecem são facilmente judicáveis.
Enquanto escrevo isso num blog ou na revista Catequistas, o feedback não é muito. Ou porque as pessoas não lêm ou porque não sabem/querem responder ou contestar a minha opinião e a minha avaliação.
Quando digo aquilo em público há sempre mais feedback. A maioria das pessoas acaba por concordar comigo. E alguns discordarão. O que é normal.
E depois há aquele pessoal que me diz: "Tu até tens razão. Mas é preciso ter cuidado. As pessoas podem interpretar mal"...
E é aqui que eu acho interessante pensar sobre o tipo de praxis comunicativa que queremos em Igreja. Claramente sou favorável a uma comunicação o mais clara possível. Onde todas as cartas estejam em cima da mesa. Para que todos tenham o máximo de informação para confrontar, para processar, para ir elaborando as suas opiniões.
Continuando com o exemplo: no final da minha intervenção um jovem seminarista, encheu-se de coragem e disse aquilo que provavelmente muita gente pensa: "Se os catecismos são tão desinteressantes [tao cheios de palha; expressão dele], não será preferível abdicar deles e irmos dando uns temas e umas coisas mais interessantes?"
A minha resposta foi um "NÃO" CLARÍSSIMO. E justifiquei as minhas razões.
E é por isto que eu prefiro uma praxis comunicativa que favorece a clareza. Imagina que eu não digo nada; este tipo de ideias de trocar a sistematicidade dos catecismos por umas coisas avulsas e à vontade do freguês, continua por aí, sem nunca ter oportunidade de aparecer à luz do dia, de forma larvar, sem se confrontar com críticas, sem possibilidade de evoluir.
Claro que o facto de alguém fazer críticas mina a "autoridade" seja do que for. Mas pensem bem se queremos voltar a uma postura do "come e cala-te".
Aliás, ao limite, esta é uma das razões porque sou mais crítico dos catecismos actuais. Não apenas por serem "mauzinhos" em muitos aspectos mas por serem "perigosos". Explico. As suas linitações de redacção, pedagógicas, gráficas, a confusão entre conteúdos e objectivos, as imensas confusões na hierarquia de objectivos, a sua "imensidão" palavrosa, leva uma boa parte dos catequistas a considerá-los pouco operacionais, pouco aplicáveis. Mas a maneira confusa como estão feitos empurra o catequista "médio" a tentar outras coisas; não somente ao nível da metodologia mas também ao nível dos conteúdos (porque, precisasmente, os guias não separam bem as coisas). O que é que vaia acontecer? O catequista sente-se forçado a escolher entre tentar implementar o que está proposto nos guias ipsis verbis (o que a maioria considera inviável) ou a tentar inventar. Mas se opta por inventar, a estrutura dos guias não os ajuda a perceber a diferença entre o que é nuclear e o que á relativo e acessório. E do mesmo modo que eu digo que é inútil discutir a etimologia grega da palavra "carisma" outro catequista vai-se sentir à vontade para considerar "inútil"... a ressurreição de Jesus, ou a Eucaristia.
Que alternativa? Calar-me e fazer figas para quem tudo, magicamente se componha? Ou tentar o "caminho longo" da formação, do diálogo, do estimular à mudança e à construção de uma alternativa qualitativamente superior nas práticas catequéticas e eclesiais de todos nós?
2009/09/29
Aquecimento global?
Tem pouco a ver com investigação em teologia pastoral, mas convido a ler isto.
Mais dados a sugerir que não só a teoria do aquecimento global antropogénico não tem fundamento como pode até ser intencionalmente aldrabada.
O que é só um alerta para a qualidade da metodologia.
Mais dados a sugerir que não só a teoria do aquecimento global antropogénico não tem fundamento como pode até ser intencionalmente aldrabada.
O que é só um alerta para a qualidade da metodologia.
2009/09/28
depois das eleiçõs
As legislativas foram ontem.
Daqui a 15 dias há autárquicas. Uma pergunta que faço a mim mesmo. É uma pergunta de teologia pastoral. Não "operacional"-
Não ficaram com a sensação que nste clima de urgência e/ou de emergência nós Igreja não tínhamos nada a dizer ao país?
Não perco tempo com aqueles epifenómenos de padres candidatos ou mandatários do BE (essa então, perte-me todo!).
Mas atendendo a que estas eleições foram as mais "plitizadas" desde há muitos anos não seria expectável que nós Igreja, publicamente, tivéssemos algo a dizer?
Daqui a 15 dias há autárquicas. Uma pergunta que faço a mim mesmo. É uma pergunta de teologia pastoral. Não "operacional"-
Não ficaram com a sensação que nste clima de urgência e/ou de emergência nós Igreja não tínhamos nada a dizer ao país?
Não perco tempo com aqueles epifenómenos de padres candidatos ou mandatários do BE (essa então, perte-me todo!).
Mas atendendo a que estas eleições foram as mais "plitizadas" desde há muitos anos não seria expectável que nós Igreja, publicamente, tivéssemos algo a dizer?
2009/09/22
Educação cristã: um serviço e um compromisso
Não sei se sabem mas de 4 a 11 de Outubro vai celebrar-se a semana da educação cristã. Dá-me a sensação que é uma iniciativa que passa muito ao lado das nossas comunidades cristãs, o que é pena
Devo confessar que também eu não me mobilizo muito. Mas este ano, fui ler a mensagem da semana.
Não a acho particularmente relevante mas isso pode dever-se a distracção minha. Diz umas coisas genéricas e verdadeiras sobre educação e (ponto positivo) tenta ligar a educação cristã ao ano sacerdotal.
Claro que se usa muito a expressão educação cristã; estando eu fora de contexto posso não saber exactamente o alcance da expressão. Mas, supostamente, seria a catequese, a ERMC, a pastoral de jovens, a escola católica... Bom: fala-se apenas de catequese e de ERMC.
Além disso há uma perplexidade que me apareceu.
Leiam por favor o nº 2:
2. A Igreja sempre assumiu a educação como um imperativo da sua missão evangelizadora, consciente de que é através da educação que se constrói a realização humana e o futuro da própria humanidade. Por isso, empenha-se em promover a educação cristã, como um serviço e um compromisso: serviço do “homem novo” (2) e de uma sociedade renovada, nos quais estão directamente envolvidos a Família, a Escola, a Paróquia e os Movimentos e Associações laicais.
Isto não vos soa estranho? É que este elenco dos "agentes" da educação cristã inclui a paróquia... só muito wishfull thinking!
E porque é que não inclui os religiosos?
Esta "exclusão" aparece também em 3.2: 3.2. A educação cristã não se restringe à Catequese. Começa na Família e prolonga-se na Escola, que lhe presta um contributo subsidiário, sendo frequentemente apoiada, mormente nos adultos, pelos Movimentos e Associações laicais.
Devo confessar que também eu não me mobilizo muito. Mas este ano, fui ler a mensagem da semana.
Não a acho particularmente relevante mas isso pode dever-se a distracção minha. Diz umas coisas genéricas e verdadeiras sobre educação e (ponto positivo) tenta ligar a educação cristã ao ano sacerdotal.
Claro que se usa muito a expressão educação cristã; estando eu fora de contexto posso não saber exactamente o alcance da expressão. Mas, supostamente, seria a catequese, a ERMC, a pastoral de jovens, a escola católica... Bom: fala-se apenas de catequese e de ERMC.
Além disso há uma perplexidade que me apareceu.
Leiam por favor o nº 2:
2. A Igreja sempre assumiu a educação como um imperativo da sua missão evangelizadora, consciente de que é através da educação que se constrói a realização humana e o futuro da própria humanidade. Por isso, empenha-se em promover a educação cristã, como um serviço e um compromisso: serviço do “homem novo” (2) e de uma sociedade renovada, nos quais estão directamente envolvidos a Família, a Escola, a Paróquia e os Movimentos e Associações laicais.
Isto não vos soa estranho? É que este elenco dos "agentes" da educação cristã inclui a paróquia... só muito wishfull thinking!
E porque é que não inclui os religiosos?
Esta "exclusão" aparece também em 3.2: 3.2. A educação cristã não se restringe à Catequese. Começa na Família e prolonga-se na Escola, que lhe presta um contributo subsidiário, sendo frequentemente apoiada, mormente nos adultos, pelos Movimentos e Associações laicais.
2009/09/20
Moção sobre educação (MCE)
O Movimento Católico de estudantes, publicou uma moção sobre educação, na sequência do seu 30º conselho nacional.
Porque falam de coisas que também me interessam, gostaria de partilhar aqui algumas ideias. Como sempre, aviso que não quero julgar nada nem ninguém; apenas pensar alto.
Português
Não sei se a moção foi redigida altas horas da noite, se houve dificuldade a chegar a consensos... mas o português onde aquilo está redigido é bastante difícil de ler. Isto já vai sendo uma mania que nós temos em Igreja: escrever complicado e sem respeito pela paciência dos possíveis leitores.
As ideias
Não conheço a tradição do MCE e das suas moções. Mas fiquei com uma sensação triste ao ler este texto. A respeito de educação faz umas declarações soleníssimas, genéricas mas com pouca atenção à pluralidade cultural que existe hoje. Nota-se que estão dominados pelo binómio educação-escola; e passam ao lado da pluralidade de plataformas que hoje, melhor ou pior, com mais ou menos valores, fazem educação: os media, as redes sociais, a internet...
As pérolas
A escola deve ser o motor primordial de desenvolvimento cultural de cada indivíduo, NO WAY! Porque é que a escola tem de ser isso? Quem disse? O sujeito não pode escolher onde faz o seu desenvolvimento cultural? Este é mais um daqueles exemplos de "dogmatismo" nos agentes eclesiais: por qualquer razão, mete-se uma ideia (até boa) na cabeça e toca a debotar isso como dogma; sem verificar se isso acontece mesmo; sem distinguir entre o que é e o que deve ser; e, claro, sem identificar o que é necessário para passar do real ao ideal.
Afirmar, conscientemente, a importância da reflexão e integração dos valores na educarão em escola, é também sublinhar que se torna sumariamente fundamental, garantir nas primeiras fases do percurso escolar, que esta seja reconhecida, significativamente, nos sistemas de avaliação do aluno, de forma que este tenha consciência da importância destes valores na sua vida.
Juro que não é por maldade que vos obrigo a ler este parágrafo. Não é falta de cultura tua; a frase é mesmo difícil de entender. Se eu entendo bem a ideia é que a escola deve apostar forte numa educação aos valores. (Não explicam bem quais são, como gerir a pluralidade que há sobre quais deveriam ser.) E para isso, "nas primeiras fases do percurso escolar" (até onde é que isso vai?) o empenho dos alunos nessa educação aos valores deveria entrar na nota. Percebi bem? Já viram até que ponto isto é reaccionário? E perigoso? Como é que se avalia a "importância da reflexão e integração dos valores"? Pela capacidade de elaborar um discurso "politicamente correcto"? Por ser "um menino bem comportado"?
Esta é a era dos números e das percentagens, das estatísticas. Mais do que isto, preferimos a qualidade do ensino, a garantia de melhores espaços de educação, das melhores práticas e metodologias, do maior e melhor desenvolvimento.
Mais poesia perigosa. Em vez de fazerem uma crítica a sério dos pressupostos epistemológicos que podem estar por detrás das várias utilizações das estatísticas e dos métodos de avaliação, em vez de denunciar o uso fraudulento que este governo tem feito dos números na educação, decidem abaondonar a "frieza" dos números em favor de uma vaga e indefinida qualidade. E deixam por responder algumas coisas: Como é que se verifica essa qualidade? Quem é que define o que é qualidade?
Continua
O futuro da educação passa por exigir de cada um de nós a certeza de que as práticas educativas deixarão de ser instrumentalizadas e de se encontrar ao serviço de interesses alheios, perdendo o seu verdadeiro sentido.
Quais interesses alheios?
garantir que todo o processo educativo tem, antes de mais, presente o desenvolvimento livre de cada indivíduo, oferecendo-lhe oportunidades, contrariamente ao que tem acontecido: criar-lhe apenas condições.
Mais uma vez, é melhor nem comentar o português. Mas há aqui mais coisas. Se bem percebo, estão em oposição "oferecendo-lhe oportunidades" a "criar-lhe apenas condições", sendo esta uma situação a evitar. ?!?!
O que é que isto quer dizer? Para lá do "gozo" que pode dar a confusão de ideias e de português talvez haja aqui matéria para objecções mais sérias. A educação que se deseja deveria,s e bem entendo, ir mais além do que dar às pessoas condições.
É isso? Mas então consiste em quê? Em renunciar ao princípio da responsabilidade e liberdade pessoal, que, julgava eu, era uma "verdade" quase inquestionável?
todos devemos ter igualdade no acesso à educação, travando-se a luta pelo fim da marginalização que, muito frequentemente, ainda vemos acontecer nas escolas portuguesas. O valor da igualdade é, por tudo isto, a alternativa a esta realidade; igualdade no acesso à educação, igualdade nas oportunidades de aprendizagem ao longo do desenvolvimento (a organização do espaço escolar não deve discriminar pessoas pelas suas diferenças individuais, mas antes tentar a sua inclusão)
Mais uma vez teria sido bom se fossem mais concretos e pudessem identificar os processos e as causas da dita marginalização. Porque se o fizessem seria mais fácil avançar com propostas credíveis para mudar a situação.
De todo não concordo que o valor da igualdade seja o motor para superar estas marginalizações.
Não poderíamos fechar esta reflexão em torno da educação, sem antes dizer o que habitualmente o Movimento vem dizendo aos seus militantes, mudar a organização da educação está ao alcance de cada um, parte deste já dito fenómeno complexo.
É aqui que se percebe que o essencial é mudar a organização da educação. Será mesmo?
Para mudar a organização não seria conveniente antes mudar outras coisas?
Porque falam de coisas que também me interessam, gostaria de partilhar aqui algumas ideias. Como sempre, aviso que não quero julgar nada nem ninguém; apenas pensar alto.
Português
Não sei se a moção foi redigida altas horas da noite, se houve dificuldade a chegar a consensos... mas o português onde aquilo está redigido é bastante difícil de ler. Isto já vai sendo uma mania que nós temos em Igreja: escrever complicado e sem respeito pela paciência dos possíveis leitores.
As ideias
Não conheço a tradição do MCE e das suas moções. Mas fiquei com uma sensação triste ao ler este texto. A respeito de educação faz umas declarações soleníssimas, genéricas mas com pouca atenção à pluralidade cultural que existe hoje. Nota-se que estão dominados pelo binómio educação-escola; e passam ao lado da pluralidade de plataformas que hoje, melhor ou pior, com mais ou menos valores, fazem educação: os media, as redes sociais, a internet...
As pérolas
A escola deve ser o motor primordial de desenvolvimento cultural de cada indivíduo, NO WAY! Porque é que a escola tem de ser isso? Quem disse? O sujeito não pode escolher onde faz o seu desenvolvimento cultural? Este é mais um daqueles exemplos de "dogmatismo" nos agentes eclesiais: por qualquer razão, mete-se uma ideia (até boa) na cabeça e toca a debotar isso como dogma; sem verificar se isso acontece mesmo; sem distinguir entre o que é e o que deve ser; e, claro, sem identificar o que é necessário para passar do real ao ideal.
Afirmar, conscientemente, a importância da reflexão e integração dos valores na educarão em escola, é também sublinhar que se torna sumariamente fundamental, garantir nas primeiras fases do percurso escolar, que esta seja reconhecida, significativamente, nos sistemas de avaliação do aluno, de forma que este tenha consciência da importância destes valores na sua vida.
Juro que não é por maldade que vos obrigo a ler este parágrafo. Não é falta de cultura tua; a frase é mesmo difícil de entender. Se eu entendo bem a ideia é que a escola deve apostar forte numa educação aos valores. (Não explicam bem quais são, como gerir a pluralidade que há sobre quais deveriam ser.) E para isso, "nas primeiras fases do percurso escolar" (até onde é que isso vai?) o empenho dos alunos nessa educação aos valores deveria entrar na nota. Percebi bem? Já viram até que ponto isto é reaccionário? E perigoso? Como é que se avalia a "importância da reflexão e integração dos valores"? Pela capacidade de elaborar um discurso "politicamente correcto"? Por ser "um menino bem comportado"?
Esta é a era dos números e das percentagens, das estatísticas. Mais do que isto, preferimos a qualidade do ensino, a garantia de melhores espaços de educação, das melhores práticas e metodologias, do maior e melhor desenvolvimento.
Mais poesia perigosa. Em vez de fazerem uma crítica a sério dos pressupostos epistemológicos que podem estar por detrás das várias utilizações das estatísticas e dos métodos de avaliação, em vez de denunciar o uso fraudulento que este governo tem feito dos números na educação, decidem abaondonar a "frieza" dos números em favor de uma vaga e indefinida qualidade. E deixam por responder algumas coisas: Como é que se verifica essa qualidade? Quem é que define o que é qualidade?
Continua
O futuro da educação passa por exigir de cada um de nós a certeza de que as práticas educativas deixarão de ser instrumentalizadas e de se encontrar ao serviço de interesses alheios, perdendo o seu verdadeiro sentido.
Quais interesses alheios?
garantir que todo o processo educativo tem, antes de mais, presente o desenvolvimento livre de cada indivíduo, oferecendo-lhe oportunidades, contrariamente ao que tem acontecido: criar-lhe apenas condições.
Mais uma vez, é melhor nem comentar o português. Mas há aqui mais coisas. Se bem percebo, estão em oposição "oferecendo-lhe oportunidades" a "criar-lhe apenas condições", sendo esta uma situação a evitar. ?!?!
O que é que isto quer dizer? Para lá do "gozo" que pode dar a confusão de ideias e de português talvez haja aqui matéria para objecções mais sérias. A educação que se deseja deveria,s e bem entendo, ir mais além do que dar às pessoas condições.
É isso? Mas então consiste em quê? Em renunciar ao princípio da responsabilidade e liberdade pessoal, que, julgava eu, era uma "verdade" quase inquestionável?
todos devemos ter igualdade no acesso à educação, travando-se a luta pelo fim da marginalização que, muito frequentemente, ainda vemos acontecer nas escolas portuguesas. O valor da igualdade é, por tudo isto, a alternativa a esta realidade; igualdade no acesso à educação, igualdade nas oportunidades de aprendizagem ao longo do desenvolvimento (a organização do espaço escolar não deve discriminar pessoas pelas suas diferenças individuais, mas antes tentar a sua inclusão)
Mais uma vez teria sido bom se fossem mais concretos e pudessem identificar os processos e as causas da dita marginalização. Porque se o fizessem seria mais fácil avançar com propostas credíveis para mudar a situação.
De todo não concordo que o valor da igualdade seja o motor para superar estas marginalizações.
Não poderíamos fechar esta reflexão em torno da educação, sem antes dizer o que habitualmente o Movimento vem dizendo aos seus militantes, mudar a organização da educação está ao alcance de cada um, parte deste já dito fenómeno complexo.
É aqui que se percebe que o essencial é mudar a organização da educação. Será mesmo?
Para mudar a organização não seria conveniente antes mudar outras coisas?
Tornar-se cristão
É o título de um livro que compila as comunicações do convénio da AICA (Associação italiana de catequetas) de 2001.
MEDDI Luciano (a cura di) Diventare cristiani. La catechesi come percorso formativo, Napoli 2002.
Ando há meses a lê-lo mas aquilo não saía da cepa torta (o que traduzido em míudos, significa que ao fim de uma página já estava nos braços de Morfeu); finalmente esta semana dei-lhe com força e cheguei ao fim.
proponho ir aqui dando conta dos conteúdos relevantes dos vários artigos.
LIPARI Domenico, Il "Processo formativo": senso di un'espressione, pp. 19-38.
Artigo muito técnico que tenta explicar aos catequetas o que é hoje um processo formativo, as dificuldades resultantes da fragmentação cultural em que estamos. Foi dos artigos que mais sono meu deu. Mas é decisiva esta reflexão de fundo sobre formação para podermos fugir às banalidades e falsidades de tantas propostas e bitaites catequéticos.
MEDDI Luciano (a cura di) Diventare cristiani. La catechesi come percorso formativo, Napoli 2002.
Ando há meses a lê-lo mas aquilo não saía da cepa torta (o que traduzido em míudos, significa que ao fim de uma página já estava nos braços de Morfeu); finalmente esta semana dei-lhe com força e cheguei ao fim.
proponho ir aqui dando conta dos conteúdos relevantes dos vários artigos.
LIPARI Domenico, Il "Processo formativo": senso di un'espressione, pp. 19-38.
Artigo muito técnico que tenta explicar aos catequetas o que é hoje um processo formativo, as dificuldades resultantes da fragmentação cultural em que estamos. Foi dos artigos que mais sono meu deu. Mas é decisiva esta reflexão de fundo sobre formação para podermos fugir às banalidades e falsidades de tantas propostas e bitaites catequéticos.
2009/09/19
De volta a casa
Acabo de chegar a casa.
Como tinha avisado, estive esta semana em Oseira, um mosteiro cisterciense da Galiza.
Estive a orientar o retiro dos seminaristas de Braga do 3º a0 5º ano.
Eram 14. Acho que não os fiz perder o seu tempo.
Impecável o acolhimento dos monges.
Como tinha avisado, estive esta semana em Oseira, um mosteiro cisterciense da Galiza.
Estive a orientar o retiro dos seminaristas de Braga do 3º a0 5º ano.
Eram 14. Acho que não os fiz perder o seu tempo.
Impecável o acolhimento dos monges.
2009/09/13
os dias e as obras
Já são vários dias sem deixar aqui nada de jeito.
O que tenho andado a fazer.
Desde o início do mês, estive fechado no quarto (não literalmente, mas quase) a escrever o livro que acompanha o novo cd do Pe. tarcízio morais. Vai chamar-se "Um só Senhor". Meditações sobre as canções, propostas para as usar em grupo, rezá-las em grupo ou sozinhos... cento e tal páginas que me saíram do pelo.
Ainda não acabei os portfolios para enviar para o prof. Anthony.
Esta semana estarei na Galiza a pregar o retiro aos alunos do seminário maior de Braga. É uma honra. Mas uma responsabilidade.
O que tenho andado a fazer.
Desde o início do mês, estive fechado no quarto (não literalmente, mas quase) a escrever o livro que acompanha o novo cd do Pe. tarcízio morais. Vai chamar-se "Um só Senhor". Meditações sobre as canções, propostas para as usar em grupo, rezá-las em grupo ou sozinhos... cento e tal páginas que me saíram do pelo.
Ainda não acabei os portfolios para enviar para o prof. Anthony.
Esta semana estarei na Galiza a pregar o retiro aos alunos do seminário maior de Braga. É uma honra. Mas uma responsabilidade.
2009/09/06
Auto-estima
Aqui fica uma pequena vaidade pessoal:
Há uns anos publiquei, em parceria com a Ir. Rute, um livro chamado "101 propostas para melhorar a auto-estima".
Os nossos amigos da CCS (a editora salesiana em Espanha) publicaram esse texto lá por aquelas bandas.
Aí está o meu esforço para a internacionalização da economia portuguesa.
Há uns anos publiquei, em parceria com a Ir. Rute, um livro chamado "101 propostas para melhorar a auto-estima".
Os nossos amigos da CCS (a editora salesiana em Espanha) publicaram esse texto lá por aquelas bandas.
Aí está o meu esforço para a internacionalização da economia portuguesa.
2009/09/01
Homo credens
É o nome de um livro de João Duque: Homo credens. para uma teologia da fé.
Não tenho acompanhado muito bem a produção teológica nacional mas parece ser um manual sobre a fé para a cadeira de teologia fundamental.
Estou quase a chegar ao fim do livro e gostava de deixar aqui alguns apontamentos laterais. São mesmo laterais porque o livro parece-me muito bem escrito (isto dito por mim que sou um não especialista em fundamental).
Bibliografia em alemão: Há muitas citações de textos em alemão. O que é normal para um professor que se preze. LOL. Mas a verdade é que imagino que são poucos os alunos de teologia que pegam no alemão. É público o meu desconhecimento culposo de alemão!
Bastante europeu: O livro recolhe muitos dos debates e autores que circulam na teologia europeia, católica e protestante. Mas vi muito pouco de teologia americana, particularmente de linha evangélica. O que poderia ser importante, neste contexto de globalização.
Genealogia da pós-modernidade: João Duque tem sido dos homens que, em Portugal, melhor pensa a pós-modernidade e o diálogo com a fé. Mas parece-me detectar uma tendência (comum a outros teólogos um pouco por todo o lado) a reduzir a pós-modernidade a uma corrente filosófica. Na sequência da história das ideias teria havido uns fulanos a quem deu para isso da pós-modernidade com as características x, y e z. Mas isso tende a esquecer que a pós-modernidade é uma realidade muito complexa em que se cruzam, sem dúvida, derivas filosóficas mas também condições socioeconómicas, desenvolvimentos tecnológicos e mediáticos, crises políticas...
Ai, a empiria! É claro que este é um livro de teologia fundamental. E que eu me interesso por teologia pastoral, com atenção especial à dimensão empírica. Seria injusto e idiota "medirmos" o outro a partir dos nossos próprios interesses, metodologias e perspectivas. Mas do mesmo modo que eu não consigo fazer TP sem uma boa TF, também me parece que quem faz TF tem de estar mais atento à realidade empírica. A base filosófica de João Duque é bem sólida. Nota-se. E ele desloca-se essencialmente no diálogo entre a revelação e a filosofia (e os seus instrumentos). O problema é que quando se fazem afirmações empíricas (ex: a cultura contemporânea é assim ou assado) elas t~em de ser demonstradas empiricamente e não apenas lógica ou filosoficamente.
Resumindo: não perdi o meu tempo ao ler este livro no Verão.
Não tenho acompanhado muito bem a produção teológica nacional mas parece ser um manual sobre a fé para a cadeira de teologia fundamental.
Estou quase a chegar ao fim do livro e gostava de deixar aqui alguns apontamentos laterais. São mesmo laterais porque o livro parece-me muito bem escrito (isto dito por mim que sou um não especialista em fundamental).
Bibliografia em alemão: Há muitas citações de textos em alemão. O que é normal para um professor que se preze. LOL. Mas a verdade é que imagino que são poucos os alunos de teologia que pegam no alemão. É público o meu desconhecimento culposo de alemão!
Bastante europeu: O livro recolhe muitos dos debates e autores que circulam na teologia europeia, católica e protestante. Mas vi muito pouco de teologia americana, particularmente de linha evangélica. O que poderia ser importante, neste contexto de globalização.
Genealogia da pós-modernidade: João Duque tem sido dos homens que, em Portugal, melhor pensa a pós-modernidade e o diálogo com a fé. Mas parece-me detectar uma tendência (comum a outros teólogos um pouco por todo o lado) a reduzir a pós-modernidade a uma corrente filosófica. Na sequência da história das ideias teria havido uns fulanos a quem deu para isso da pós-modernidade com as características x, y e z. Mas isso tende a esquecer que a pós-modernidade é uma realidade muito complexa em que se cruzam, sem dúvida, derivas filosóficas mas também condições socioeconómicas, desenvolvimentos tecnológicos e mediáticos, crises políticas...
Ai, a empiria! É claro que este é um livro de teologia fundamental. E que eu me interesso por teologia pastoral, com atenção especial à dimensão empírica. Seria injusto e idiota "medirmos" o outro a partir dos nossos próprios interesses, metodologias e perspectivas. Mas do mesmo modo que eu não consigo fazer TP sem uma boa TF, também me parece que quem faz TF tem de estar mais atento à realidade empírica. A base filosófica de João Duque é bem sólida. Nota-se. E ele desloca-se essencialmente no diálogo entre a revelação e a filosofia (e os seus instrumentos). O problema é que quando se fazem afirmações empíricas (ex: a cultura contemporânea é assim ou assado) elas t~em de ser demonstradas empiricamente e não apenas lógica ou filosoficamente.
Resumindo: não perdi o meu tempo ao ler este livro no Verão.
projectos, planos e papel deitado ao lixo
Está a começar o ano pastoral.
Em maior ou menor grau começam as reuniões de programação do próximo ano.
O que é interessante é como ninguém parece reter muito do sucesso/insucesso do ano passado.
Está mandado (ou está de moda) isto das planificações... portanto... faz-se.
Atenção: não tenho nada contra uma boa metodologia de projecto. Pelo contrário.
Onde não se confunde projecto com programa. Nem com calendarização.
A acção pastoral pode ser comparada às várias operações que realizamos ao conduzir um carro. Quantidades diversas de acelerador, de travão, uso da embraiagem, mudanças na caixa de velocidades...
Mas impressiona-me como alguns "projectos" (pelo menos no papel) parecem ser um somatório aleatório dessas operações.
Quando estamos ao volante, as várias operações que realizamos têm que ver umas com as outras (se estamos a acelerar, passamos de 2ª para 3ª) e com o terreno onde estamos (não se ataca uma subida em ponto morto). Mas quando lemos alguns "projectos" perguntamo-nos: "Isto vem de onde?" terá sido feito ao acaso? escreveram umas fichas, atiraram-nas ao ar e passaram para o papel as que ficaram viradas para cima?
Em maior ou menor grau começam as reuniões de programação do próximo ano.
O que é interessante é como ninguém parece reter muito do sucesso/insucesso do ano passado.
Está mandado (ou está de moda) isto das planificações... portanto... faz-se.
Atenção: não tenho nada contra uma boa metodologia de projecto. Pelo contrário.
Onde não se confunde projecto com programa. Nem com calendarização.
A acção pastoral pode ser comparada às várias operações que realizamos ao conduzir um carro. Quantidades diversas de acelerador, de travão, uso da embraiagem, mudanças na caixa de velocidades...
Mas impressiona-me como alguns "projectos" (pelo menos no papel) parecem ser um somatório aleatório dessas operações.
Quando estamos ao volante, as várias operações que realizamos têm que ver umas com as outras (se estamos a acelerar, passamos de 2ª para 3ª) e com o terreno onde estamos (não se ataca uma subida em ponto morto). Mas quando lemos alguns "projectos" perguntamo-nos: "Isto vem de onde?" terá sido feito ao acaso? escreveram umas fichas, atiraram-nas ao ar e passaram para o papel as que ficaram viradas para cima?
2009/08/26
Projecto GPS: livro 3 (2)
O livro está em fase final de revisão. Ainda esta semana deve começar a ser impresso.
2009/08/16
Entender João 6
Em 2009 estamos no ano litúrgico B, onde se escuta principlmente o texto de S. Marcos.
Mas a certa altura, a leitura de Marcos é interrompida para lermos o capítulo 6 de S. João.
É um texto importante porque é dos textos mais densos e longos do NT sobre a Eucaristia.
Claro que o texto é longo e parece algo repetitivo. Somando isso ao calor que faz nesta época do ano, ouço com frequência gente a queixar-se da "inutilidade" (pastoral) deste texto.
E leio alguns comentários que interpretam João 6 em sentido simbólico, interpessoal, social.
O próprio texto de João recorda como as palavras de Jesus provocaram comoção e escândalo entre os seus ouvintes e até entre os discípulos.
Jesus comete uma série de "erros" comunicativos. Ele diz coisas que, hoje, são politicamente incorrectas. mesmo em ambientes eclesiais.
Ele vem dizer que acreditar n'Ele leva à vida. E só acreditar n'Ele o faz. Segundo Ele, quem não acreditar n'Ele, quem não entrar numa relação de alta intensidade com Ele... está lixado.
1ª asneira de Jesus (segundo o pensamento limpinho). Esta pretensão de exclusividade cheira a fanatismo e vai contra o relativismo.
Mas Jesus continua a dizer "asneiras". Ele vai equivaler "acreditar n'Ele" e "comer a sua carne". A fé "é" Eucaristia.
Isto então é que é o cúmulo do inaceitável.
Há muita "pastoral" que passa o tempo a ter uma visão descontraída, descomprometida, da Eucaristia. E vem Jesus dizer que... tudo ou nada? Pode lá ser!
É evidente que não pretendo negar aqui todo o papel da progresividade pastoral, da importância de saudáveis modelos educativos. O Evangelho de João é um texto muito maduro, escrito de dentro da comunidade para dentro. Não é um texto para ajudar ao crescimento de quem está fora. É um texto para sedimentar a identidade cristã de uma comunidade que já teve de enfrentar muitas contrariedades, também internas.
Os meus interesses pastorais, normalmente, colocam-se a outro nível: ao nível daqueles que estão em trajectória de crescimento na fé. E é óbvio que não tem sentido estruturas uma pastoral catequética a partir do "tudo ou nada" que João 6 propõe.
Mas o texto é útil à mesma para percebermos qual é a identidade crente para a qual caminhamos. Ajuda-nos a tomar posição sobre algumas questões importantes.
Cristo é essencial para a nossa salvação, para a nossa qualidade de vida? Ou não? Que relação entre o papel de Cristo e os outros factores de qualidade (salvação) na nossa vida?
qual o papel da Eucaristia na vida cristã? Tem sentido uma vida cristã em que a Eucaristia é um optativo? Em que o valor da Eucaristia depende da estética ou da sintonia psicológica do cristão?
É óbvio que João carrega nas tintas. O capítulo 6 é longo e há frases que se repetem muitas vezes. O que, a meu ver, mostra a importância que o autor dá ao que está em causa. Também me parece óbvio que há hoje muito operador e "pensador" pastoral que aposta no "aligeirar", no diminuir a tensão.
2 projectos pastorais em confronto. Como sempre, a minha veia pragmática sugere-me uma pista para avaliar as respectivas qualidades. Qual deles produz mais resultados? Qual deles é capaz de produzir práticas de vida mais em consonância com o estilo de Jesus? E qual deles produz mais conformidade à cultura dominante? Qual produz mais amor, mais entrega, mais sangue e vida oferecidos? Qual deles produz mais comodismo, mais capacidade de calar as vozes que nos incomodam com os seus apelos?
Disclaimer: Já estou a imaginar algumas bocas de conhecidos, dizendo que virei integrista ou coisa que o valha. Pois... deve ser isso mesmo
Mas a certa altura, a leitura de Marcos é interrompida para lermos o capítulo 6 de S. João.
É um texto importante porque é dos textos mais densos e longos do NT sobre a Eucaristia.
Claro que o texto é longo e parece algo repetitivo. Somando isso ao calor que faz nesta época do ano, ouço com frequência gente a queixar-se da "inutilidade" (pastoral) deste texto.
E leio alguns comentários que interpretam João 6 em sentido simbólico, interpessoal, social.
O próprio texto de João recorda como as palavras de Jesus provocaram comoção e escândalo entre os seus ouvintes e até entre os discípulos.
Jesus comete uma série de "erros" comunicativos. Ele diz coisas que, hoje, são politicamente incorrectas. mesmo em ambientes eclesiais.
Ele vem dizer que acreditar n'Ele leva à vida. E só acreditar n'Ele o faz. Segundo Ele, quem não acreditar n'Ele, quem não entrar numa relação de alta intensidade com Ele... está lixado.
1ª asneira de Jesus (segundo o pensamento limpinho). Esta pretensão de exclusividade cheira a fanatismo e vai contra o relativismo.
Mas Jesus continua a dizer "asneiras". Ele vai equivaler "acreditar n'Ele" e "comer a sua carne". A fé "é" Eucaristia.
Isto então é que é o cúmulo do inaceitável.
Há muita "pastoral" que passa o tempo a ter uma visão descontraída, descomprometida, da Eucaristia. E vem Jesus dizer que... tudo ou nada? Pode lá ser!
É evidente que não pretendo negar aqui todo o papel da progresividade pastoral, da importância de saudáveis modelos educativos. O Evangelho de João é um texto muito maduro, escrito de dentro da comunidade para dentro. Não é um texto para ajudar ao crescimento de quem está fora. É um texto para sedimentar a identidade cristã de uma comunidade que já teve de enfrentar muitas contrariedades, também internas.
Os meus interesses pastorais, normalmente, colocam-se a outro nível: ao nível daqueles que estão em trajectória de crescimento na fé. E é óbvio que não tem sentido estruturas uma pastoral catequética a partir do "tudo ou nada" que João 6 propõe.
Mas o texto é útil à mesma para percebermos qual é a identidade crente para a qual caminhamos. Ajuda-nos a tomar posição sobre algumas questões importantes.
Cristo é essencial para a nossa salvação, para a nossa qualidade de vida? Ou não? Que relação entre o papel de Cristo e os outros factores de qualidade (salvação) na nossa vida?
qual o papel da Eucaristia na vida cristã? Tem sentido uma vida cristã em que a Eucaristia é um optativo? Em que o valor da Eucaristia depende da estética ou da sintonia psicológica do cristão?
É óbvio que João carrega nas tintas. O capítulo 6 é longo e há frases que se repetem muitas vezes. O que, a meu ver, mostra a importância que o autor dá ao que está em causa. Também me parece óbvio que há hoje muito operador e "pensador" pastoral que aposta no "aligeirar", no diminuir a tensão.
2 projectos pastorais em confronto. Como sempre, a minha veia pragmática sugere-me uma pista para avaliar as respectivas qualidades. Qual deles produz mais resultados? Qual deles é capaz de produzir práticas de vida mais em consonância com o estilo de Jesus? E qual deles produz mais conformidade à cultura dominante? Qual produz mais amor, mais entrega, mais sangue e vida oferecidos? Qual deles produz mais comodismo, mais capacidade de calar as vozes que nos incomodam com os seus apelos?
Disclaimer: Já estou a imaginar algumas bocas de conhecidos, dizendo que virei integrista ou coisa que o valha. Pois... deve ser isso mesmo
2009/08/15
Fé e quotidiano
Pode ser só uma observação "a olhometro"... Mas é engano meu ou vai crescendo, na pastoral juvenil (que é a área que acompanho mais) uma mentalidade que separa a fé do quotidiano?
Há gente motivada, que leva a fé a sério, que quer ir a Taize, ou fazer esta experiência espiritual intensa, cheia de boa vontade... mas numa lógica de consumo espiritual pontual, regressa à sua vida quotidiana, mas sem solução de continuidade entre essas experiências de pico e o quotidiano...
E, melhor ou pior, vão vivendo... e ansiando pela próxima experiência de pico.
isto, em termos cristãos, não faz muito sentido, pois não?
É uma vida compartimentada.
É também uma afirmação de fé algo blasfema. Será que Deus não tem poder para estar presente e transformar o quotidiano?
Há gente motivada, que leva a fé a sério, que quer ir a Taize, ou fazer esta experiência espiritual intensa, cheia de boa vontade... mas numa lógica de consumo espiritual pontual, regressa à sua vida quotidiana, mas sem solução de continuidade entre essas experiências de pico e o quotidiano...
E, melhor ou pior, vão vivendo... e ansiando pela próxima experiência de pico.
isto, em termos cristãos, não faz muito sentido, pois não?
É uma vida compartimentada.
É também uma afirmação de fé algo blasfema. Será que Deus não tem poder para estar presente e transformar o quotidiano?
A minha meta é o céu
É o que diz o refrão de uma das canções dos Terceira margem.
E é uma ideia apropriada para esta festa da Assunção de Maria.
Hoje festejamos que ela está no céu. Vive e vive em Deus.
O que quer dizer que o nosso Deus não andou na mesma escola dos nossos políticos de promessas sempre revistas e/ou adiadas.
Mas mais importante do que fazer uma afirmação sobre Maria de Nazaré, é percebermos o impacto que isso tem sobre todos nós, Igreja. A plenitude da vida em Deus é viável. Há uma via, um caminho para lá chegar.
E o evangelho da visitação (proposto pela liturgia para hoje) dá indicações sobre esse caminho. O caminho para o céu é o caminho do serviço.
É o caminho do louvor.
E é uma ideia apropriada para esta festa da Assunção de Maria.
Hoje festejamos que ela está no céu. Vive e vive em Deus.
O que quer dizer que o nosso Deus não andou na mesma escola dos nossos políticos de promessas sempre revistas e/ou adiadas.
Mas mais importante do que fazer uma afirmação sobre Maria de Nazaré, é percebermos o impacto que isso tem sobre todos nós, Igreja. A plenitude da vida em Deus é viável. Há uma via, um caminho para lá chegar.
E o evangelho da visitação (proposto pela liturgia para hoje) dá indicações sobre esse caminho. O caminho para o céu é o caminho do serviço.
É o caminho do louvor.
2009/08/09
Projecto GPS: Livro Três
Uma notícia meio pessoal, meio profissional.
Está na fase final a elaboração do Livro Três do Projecto GPS.
O corpo do texto está pronto, já paginado; falta apenas escrever a introdução.
Foi um desafio e peras. As propostas para o 3º ano do GPS supõem que o grupo estará na 4ª e 5ª etapas do seu ciclo evolutivo. E a verdade é que há pouca experiência de observar grupos nessa fase. Nestas fases, a interacção do grupo está muito mais virada para os conteúdos. Mas como fazer propostas que não reduzam o grupo ao "debater temas", tão clássico e tão estéril?
Com dificuldade, se calhar com algumas oscilações de qualidade, acho que conseguimos, fazer propostas activas.
Está na fase final a elaboração do Livro Três do Projecto GPS.
O corpo do texto está pronto, já paginado; falta apenas escrever a introdução.
Foi um desafio e peras. As propostas para o 3º ano do GPS supõem que o grupo estará na 4ª e 5ª etapas do seu ciclo evolutivo. E a verdade é que há pouca experiência de observar grupos nessa fase. Nestas fases, a interacção do grupo está muito mais virada para os conteúdos. Mas como fazer propostas que não reduzam o grupo ao "debater temas", tão clássico e tão estéril?
Com dificuldade, se calhar com algumas oscilações de qualidade, acho que conseguimos, fazer propostas activas.
2009/07/29
Os lugares da fé
Foi este o nome do fórum que orientei no Festival Jota 2009.
Depois, algum dos participantes perguntava-me: Como é que se faz, no concreto, para aumentar a fé?
A pergunta não é idiota e vem no contexto, mesmo que possa parecer "ímpia".
É certo que a fé é dom de Deus; e nesse sentido, não podemos fazer nada para "forçar" Deus a ser mais generoso connosco.
Mas a fé é também resposta nossa. E sobre o rumo que damos à nossa liberdade podemos influir sobre outros e sobre nós mesmos.
Quem me perguntava, sugeria-me que a oração seria uma pista "obrigatória".
Faz sentido; o contacto íntimo com Aquele a quem amamos, aumenta o desejo, transforma-nos e liberta-nos daquilo que nos bloqueia a fé. Mas não chega.
Uma ideia clara de quem é Aquele em quem acreditamos é essencial.
Depois, algum dos participantes perguntava-me: Como é que se faz, no concreto, para aumentar a fé?
A pergunta não é idiota e vem no contexto, mesmo que possa parecer "ímpia".
É certo que a fé é dom de Deus; e nesse sentido, não podemos fazer nada para "forçar" Deus a ser mais generoso connosco.
Mas a fé é também resposta nossa. E sobre o rumo que damos à nossa liberdade podemos influir sobre outros e sobre nós mesmos.
Quem me perguntava, sugeria-me que a oração seria uma pista "obrigatória".
Faz sentido; o contacto íntimo com Aquele a quem amamos, aumenta o desejo, transforma-nos e liberta-nos daquilo que nos bloqueia a fé. Mas não chega.
Uma ideia clara de quem é Aquele em quem acreditamos é essencial.
2009/07/20
Jornadas catequistas Porto 2009 (2)
MUito do debate que há em catequese reduz-se a saber qual o peso que têm os conteúdos e a metodologia. E uns puxam para um lado e outros para o outro.
Mas, se calhar, a questão está em saber quais os conteúdos.
Começamos a catequese dos pequeninos a dizer que jesus é nosso amigo. Ok, para começar.
Mas como é que fazemos evoluir essa noção-relação para o absoluto de Deus na vida?
Discutimos se a iniciação à eucaristia se deve fazer no 2º ou no 3º ano. Mas não nos preocupamos em assegurar um itinerário educativo que ajude os catequizandos a assumir o ritmo de celebração semanal típico e necessário à comunidade adulta.
Mas, se calhar, a questão está em saber quais os conteúdos.
Começamos a catequese dos pequeninos a dizer que jesus é nosso amigo. Ok, para começar.
Mas como é que fazemos evoluir essa noção-relação para o absoluto de Deus na vida?
Discutimos se a iniciação à eucaristia se deve fazer no 2º ou no 3º ano. Mas não nos preocupamos em assegurar um itinerário educativo que ajude os catequizandos a assumir o ritmo de celebração semanal típico e necessário à comunidade adulta.
Jornadas catequistas Porto 2009
De 6ª até ontem estive nas jornadas de catequistas do Porto, a orientar um dos cursos: acompanhar a profissão de fé dos adolescentes.
Mais de 200 participantes (no total; uns 30 no meu curso). Reencontrar bons amigos como o Luís de Braga e o Queirós de Vila Real. Também catequistas motivados daqui e dali.
Boa parte do que disse no curso vai aparecer ao longo do próximo ano na revista Catequistas. Mas quero deixar aqui algumas ideias e perguntas que me parecem importantes.
Estou é todo derreado. 2 dias e meio de curso, da maneira "intensa" como eu os oriento, deixaram-me todo partido. Se calhar seria mesmo sensato fazer como a maioria: sentar-me atrás do microfone, ler devagar um textinho, deixar umas perguntas para uns trabalhos de grupo lamechas...
Mais de 200 participantes (no total; uns 30 no meu curso). Reencontrar bons amigos como o Luís de Braga e o Queirós de Vila Real. Também catequistas motivados daqui e dali.
Boa parte do que disse no curso vai aparecer ao longo do próximo ano na revista Catequistas. Mas quero deixar aqui algumas ideias e perguntas que me parecem importantes.
Estou é todo derreado. 2 dias e meio de curso, da maneira "intensa" como eu os oriento, deixaram-me todo partido. Se calhar seria mesmo sensato fazer como a maioria: sentar-me atrás do microfone, ler devagar um textinho, deixar umas perguntas para uns trabalhos de grupo lamechas...
2009/07/16
crismas (3)
No sábado à noite, tivemos uma celebração penitencial com pessoal dos grupos, padrinhos e pais.
Apontamentos só para pensar alto e sem pretensões de avaliar coisa nenhuma:
1: Nós (animadores) não fazemos ideia de qual é a relação dos nossos jovens com o sacramento da confissão.
2: Basicamente confessaram-se os crismandos e os padrinhos.
Estou ciente que só "pensar" estas coisas já é perigoso. Podemos estar a tornarmo-nos num big brother controleiro. Mas a pergunta (e só a pergunta; não as conclusões) é legítima. Os "outros" não tinham necessidade de se confessar? Isto do confessar-se vai da "pressão" exercida?
Apontamentos só para pensar alto e sem pretensões de avaliar coisa nenhuma:
1: Nós (animadores) não fazemos ideia de qual é a relação dos nossos jovens com o sacramento da confissão.
2: Basicamente confessaram-se os crismandos e os padrinhos.
Estou ciente que só "pensar" estas coisas já é perigoso. Podemos estar a tornarmo-nos num big brother controleiro. Mas a pergunta (e só a pergunta; não as conclusões) é legítima. Os "outros" não tinham necessidade de se confessar? Isto do confessar-se vai da "pressão" exercida?
2009/07/13
crismas (2)
Na catequese que fizemos no sábado emergiram algumas questões que se vão tornando clássicas.
crisma: entre sacramento e profissão de fé
Os jovens que levam isto da fé mais ou menos a sério acentuam de tal modo o seu próprio papel, da sua decisão, do seu compromisso, que esquecem a dinâmica própria do sacramento e de toda a vida cristã. É Deus que toma a iniciativa e que oferece os dons que nos transformam; o nosso papel (e tantas vezes nada fácil) é dizer "sim", acolher os dons da iniciativa primeira de Deus.
Dificuldades com as palavras
Impressionou-me o contraste entre a fé sentida e assumida (dos crismandos e dos que já se tinham crismado à mais tempo) e as dificuldades de linguagem. Há um deficit sério de linguagem teológica desta gente.
Ainda e sempre: entre conteúdos e pedagogia
Se há debate que já cheira de velho nisto da catequese e da pastoral juvenil é a tensão entre conteúdos e pedagogia; entre mais atenção aos conteúdos da fé ou mais atenção aos processos pedagógicos. Evidentemente eu sou crítico de uma série de processos e tradições pastorais que ignoram ou que não reflectem seriamente sobre a dimensão pedagógicia nem sobre a condição do destinatário. Mas a verdade é que às vezes há mesmo um problema de falta de conteúdos. Ao dizer isto não quero reeditar uma pastoral que volte a ser injecção de conteúdos elaborados em sede de investigação teológica e que são "traduzidos" (mal!) em linguagens mais acessíveis aos destinatários. Foi chão que já deu uvas e nem vale a pena perder tempo com abordagens destas. Mas é importante trabalhar com os conteúdos "certos". Neste caso crisma tem que ver com um compromisso, com uma adesão séria, totalizante a Jesus e ao seu projecto. Não tem que ver com jogos sociais nem com uma pseudo-sedução dos jovens.
crisma: entre sacramento e profissão de fé
Os jovens que levam isto da fé mais ou menos a sério acentuam de tal modo o seu próprio papel, da sua decisão, do seu compromisso, que esquecem a dinâmica própria do sacramento e de toda a vida cristã. É Deus que toma a iniciativa e que oferece os dons que nos transformam; o nosso papel (e tantas vezes nada fácil) é dizer "sim", acolher os dons da iniciativa primeira de Deus.
Dificuldades com as palavras
Impressionou-me o contraste entre a fé sentida e assumida (dos crismandos e dos que já se tinham crismado à mais tempo) e as dificuldades de linguagem. Há um deficit sério de linguagem teológica desta gente.
Ainda e sempre: entre conteúdos e pedagogia
Se há debate que já cheira de velho nisto da catequese e da pastoral juvenil é a tensão entre conteúdos e pedagogia; entre mais atenção aos conteúdos da fé ou mais atenção aos processos pedagógicos. Evidentemente eu sou crítico de uma série de processos e tradições pastorais que ignoram ou que não reflectem seriamente sobre a dimensão pedagógicia nem sobre a condição do destinatário. Mas a verdade é que às vezes há mesmo um problema de falta de conteúdos. Ao dizer isto não quero reeditar uma pastoral que volte a ser injecção de conteúdos elaborados em sede de investigação teológica e que são "traduzidos" (mal!) em linguagens mais acessíveis aos destinatários. Foi chão que já deu uvas e nem vale a pena perder tempo com abordagens destas. Mas é importante trabalhar com os conteúdos "certos". Neste caso crisma tem que ver com um compromisso, com uma adesão séria, totalizante a Jesus e ao seu projecto. Não tem que ver com jogos sociais nem com uma pseudo-sedução dos jovens.
crismas (1)
A vigararia nascente da cidade do Porto celebrou ontem os seus crismas na sé. Foram 160 jovens das várias paróquias.
5 jovens dos grupos de jovens do centro onde colaboro (2 dos "meu" grupo) estavam nesse lote. Mais que a notícia do evento de festa e de fé, há aqui matéria para pensar.
Na 6ª feira a organização juntou-se com todos os crismandos e padrinhos. Não estive mas pelo relato pareceu-me uma abordagem clássica: explicação do rito, apelo aos valores do compromisso.
Nós, no sábado ao final da tarde fizemos uma catequese envolvendo os 2 grupos de onde vêm os crismandos (e não apenas os crismandos) seguida de jantar convívio com os pais que aparecessem e uma celebração penitencial a seguir.
5 jovens dos grupos de jovens do centro onde colaboro (2 dos "meu" grupo) estavam nesse lote. Mais que a notícia do evento de festa e de fé, há aqui matéria para pensar.
Na 6ª feira a organização juntou-se com todos os crismandos e padrinhos. Não estive mas pelo relato pareceu-me uma abordagem clássica: explicação do rito, apelo aos valores do compromisso.
Nós, no sábado ao final da tarde fizemos uma catequese envolvendo os 2 grupos de onde vêm os crismandos (e não apenas os crismandos) seguida de jantar convívio com os pais que aparecessem e uma celebração penitencial a seguir.
2009/07/09
Padres e política
A respeito deste post do meu amigo Luís Rodrigues e porque foi um tópico que apareceu no retiro que preguei a semana passada aos diáconos, alguns bitaites:
1. Está mais que claro o que o direito da Igreja diz sobre a relação entre clérigos, instituições eclesiais e partidos políticos.
2. Não entendo a falta de lealdade de ir contra uma regra aceite em Igreja sem dar cavaco a ninguém e forçando o resto da comunidade a ter que lidar com o facto consumado.
3. Não confundir esta auto-imposta limitação do acesos dos clérigos a cargos políticos com a negação cristã da política. Como cristãos, em fidelidade ao Evangelho, somos todos (padres incluídos) "animais fortemente políticos". O rumo que a "polis" (cidade) leva só nos pode interessar. E mantemos o dever de intervir politicamente. No pensamento atento, na formação da consciência, na denúncia da lamaceira em que se vai tornando a "coisa pública" (e aqui está mais um acto político!)... Se dúvidas houvesse, bastaria ler a última encíclica do Papa.
4. Não percebo a questão da ineligibilidade dos ministros de qualquer culto ou religião. COnvido-vos a ler o regulamento: estão excluídos as entidades do estado, os vigaristas e os potenciais corruptores ou beneficiários de corrupção. A que propósito aparece esta limitação aos ministros do culto?
Todas aquelas limitações têm sentido para garantir a "limpeza" do processo eleitoral. Quem já faz parte do estado não se pode meter; quem não cumpriu o seu contrato com o estado; quem pode ter uma relação equívoca com a autarquia... entende-se.
Mas porque é que eu não me posso candidatar a presidente da junta? Sou cidadão português! É que esse pessoal que brada tanto pela separação entre a Igreja e o Estado está-me a mexer nos meus direitos políticos
E, fora isso, gostava de saber onde é que o estado tem um registo dos ministros do culto.
1. Está mais que claro o que o direito da Igreja diz sobre a relação entre clérigos, instituições eclesiais e partidos políticos.
2. Não entendo a falta de lealdade de ir contra uma regra aceite em Igreja sem dar cavaco a ninguém e forçando o resto da comunidade a ter que lidar com o facto consumado.
3. Não confundir esta auto-imposta limitação do acesos dos clérigos a cargos políticos com a negação cristã da política. Como cristãos, em fidelidade ao Evangelho, somos todos (padres incluídos) "animais fortemente políticos". O rumo que a "polis" (cidade) leva só nos pode interessar. E mantemos o dever de intervir politicamente. No pensamento atento, na formação da consciência, na denúncia da lamaceira em que se vai tornando a "coisa pública" (e aqui está mais um acto político!)... Se dúvidas houvesse, bastaria ler a última encíclica do Papa.
4. Não percebo a questão da ineligibilidade dos ministros de qualquer culto ou religião. COnvido-vos a ler o regulamento: estão excluídos as entidades do estado, os vigaristas e os potenciais corruptores ou beneficiários de corrupção. A que propósito aparece esta limitação aos ministros do culto?
Todas aquelas limitações têm sentido para garantir a "limpeza" do processo eleitoral. Quem já faz parte do estado não se pode meter; quem não cumpriu o seu contrato com o estado; quem pode ter uma relação equívoca com a autarquia... entende-se.
Mas porque é que eu não me posso candidatar a presidente da junta? Sou cidadão português! É que esse pessoal que brada tanto pela separação entre a Igreja e o Estado está-me a mexer nos meus direitos políticos
E, fora isso, gostava de saber onde é que o estado tem um registo dos ministros do culto.
Vocações
Ontem, a Rute Mesquita fez a sua primeira profissão religiosa, em Angola, na congregação das mercedárias da caridade. É um momento de festa para os amigos; ela escreveu comigo o "101 propostas para melhorar a auto-estima" e colaborou em várias acções de formação.
Na impossibilidade de ir a Angola à sua profissão (nem os pais conseguiram vistos em tempo útil) juntámo-nos na capela do colégio salesiano do porto para uma vigília vocacional.
Interessante a iniciativa; bastantes participantes.
Depois da oração, um momento de comunidade à volta de um chá e de bolos.
Alguém mais curioso perguntará: mas qual o interesse científico deste post? Nenhum. Há sabedoria suficiente em rezar e em dar graças.
Na impossibilidade de ir a Angola à sua profissão (nem os pais conseguiram vistos em tempo útil) juntámo-nos na capela do colégio salesiano do porto para uma vigília vocacional.
Interessante a iniciativa; bastantes participantes.
Depois da oração, um momento de comunidade à volta de um chá e de bolos.
Alguém mais curioso perguntará: mas qual o interesse científico deste post? Nenhum. Há sabedoria suficiente em rezar e em dar graças.
os jovens confessam-se?
No próximo domingo (dia 11) vai haver crismas na Sé do Porto.
Há uns 5 jovens dos nossos grupos que vão ser confirmados.
São dos "atrasados" (tratamento carinhoso): pessoas que por uma razão ou por outra não celebraram este sacramento ao mesmo tempo que os companheiros de grupo.
No sábado vamos ter uma catequese especial com todos os elementos dos grupos, jantar partilhado e celebração penitencial à noite.
Ao preparar estas coisas, damo-nos conta (eu e os outros animadores) que não fazemos ideia de qual é a prática, regularidade, qualidade, de reconciliação dos nossos jovens.
Não estou a dizer isto aqui para alardear a minha ignorância. Mas para dizer que há muitos processos que reputamos como importantes para um crescimento sustentado na fé que nos passam ao lado.
Serei o único?
Há uns 5 jovens dos nossos grupos que vão ser confirmados.
São dos "atrasados" (tratamento carinhoso): pessoas que por uma razão ou por outra não celebraram este sacramento ao mesmo tempo que os companheiros de grupo.
No sábado vamos ter uma catequese especial com todos os elementos dos grupos, jantar partilhado e celebração penitencial à noite.
Ao preparar estas coisas, damo-nos conta (eu e os outros animadores) que não fazemos ideia de qual é a prática, regularidade, qualidade, de reconciliação dos nossos jovens.
Não estou a dizer isto aqui para alardear a minha ignorância. Mas para dizer que há muitos processos que reputamos como importantes para um crescimento sustentado na fé que nos passam ao lado.
Serei o único?
2009/07/05
de regresso
Terminou ontem o retiro que preguei aos 9 diáconos (2 de Viana e 7 de Braga) que serão ordenados brevemente. Decorreu em Singeverga, onde a comunidade dos monges beneditinos nos acolheu como convém.
Evidentemente não é este o lugar para falar das emoções associadas a uma experiência destas mas, numa linha mais analítica, aqui ficam algumas questões para pensar:
+ Para que servem as antigas ordens monásticas e de clausura?
+ O que se espera de um padre novo?
Prometo cá voltar a estes temas.
Evidentemente não é este o lugar para falar das emoções associadas a uma experiência destas mas, numa linha mais analítica, aqui ficam algumas questões para pensar:
+ Para que servem as antigas ordens monásticas e de clausura?
+ O que se espera de um padre novo?
Prometo cá voltar a estes temas.
2009/06/29
Retiro aos futuros padres
Ainda ontem "reactivei" o blog e já me vou ausentar!
Entre amanhã e o próximo sábado vou estar fora, sem acesso à net.
Vou estar em Singeverga, a pregar o retiro a 7 diáconos da diocese de Braga que serão ordenados padres em breve.
Para eles é um momento de intensa experiência espiritual. Peço a todos os benévolos leitores as vossas orações.
Entre amanhã e o próximo sábado vou estar fora, sem acesso à net.
Vou estar em Singeverga, a pregar o retiro a 7 diáconos da diocese de Braga que serão ordenados padres em breve.
Para eles é um momento de intensa experiência espiritual. Peço a todos os benévolos leitores as vossas orações.
Apresentação do projecto GPS em Leiria (2)
Outra questão que, nestes âmbitos da PJ, costuma separar as águas é o conceito de animador.
Para muitos grupos animador é aquele que tem um papel activo na condução das reuniões.
Por isso quando eu digo que o grupo precisa de um animador bem formado, disponível, adulto na fé, isso é sentido como se eu pretendesse "enfiar" no grupo um professor-polícia que reduziria os jovens à passividade.
Vamos lá a ver se nos entendemos.
1. Não confundir a figura do animador com a questão das lideranças. Em qualquer processo de grupo, é inevitável o aparecimento de líderes, de elementos que se destacam em algum aspecto e que acabam por ser mais centrais na rede de comunicação (e decisão-acção) do grupo. A liderança é uma função "natural" do grupo. Eu falo do animador. De alguém que, estando no grupo, é suficientemente diferente (mais maduro) para estar ao serviço do crescimento do grupo e dos seus elementos.
2. Não confundir o animador com o gestor de actividades. O animador não tem que fazer tudo. O que o animador faz, deixa de fazer ou faz fazer depende do tipo de grupo, da fase evolutiva do grupo e de mil e um factores. O facto de haver um animador não quer dizer que seja ele o único protagonista. Muito pelo contrário.
Mas para lá destas diferenças factuais no conceito de animador, pode ser que as diferenças tenham bases teóricas.
Eu revejo-me num modelo educativo que assenta na assimetria educativa. Ou seja, só há diálogo educativo se houver algum tipo de assimetria. Isto não quer dizer hierarquia, desigual distribuição do poder. Um professor (vamos buscar um exemplo à escola) pode ser muito "democrático" mas tem de ser "diferente" (=assimétrico) dos alunos; se isso não acontecer termina a relação educativa. A diferença pode ser de idade, autoridade, competência científica. Ou pode ser apenas de atitude: os alunos estão lá para um qualquer objectivo (aprender, fazer turismo na escola...); o professor está lá para servir esse objectivo dos alunos.
Acho ingénuo um certo "basismo" que diz que sendo todos iguais não deveria haver distinções dentro do grupo. Discordo disto em termos filosóficos. Mas, acima de tudo em termos práticos: isto não acontece na realidade. Peguem em qualquer grupo e deixem-no sem nenhum tipo de autoridade. A evolução natural do grupo leva ao aparecimento de diferentes papéis; entre esses papéis diferenciados estão as lideranças. Mesmo que o grupo não evolua para o caos nem para a ditadura, mesmo que se mantenha organizado e democrático (coisa que estatisticamente é bastante raro) aparece sempre alguém que "faz as despesas" de organização do grupo.
Aquilo que defendo é que em vez de deixar isso ao acaso, a comunidade ofereça aos grupos eclesiais alguém disponível e formado para esse serviço.
Num certo sentido eu percebo a dificuldade de aceitar estas propostas:
1) Por reacção à falta de protagonismo juvenil. Na escola, na sociedade, na Igreja demasiadas coisas são impostas. Os jovens sentem uma necessidade real de espaços onde possam sentir-se responsáveis. É evidente que o modelo de animador que defendemos não contraria isso; antes o potencia!
2) Por tradicionalismo. Como em muitos sectores de PJ o nível de reflexão é muito baixo, as ocasiões de formação são raras, as pessoas agarram-se ao que conhecem. A mudança é sentida como perigosa.
Para muitos grupos animador é aquele que tem um papel activo na condução das reuniões.
Por isso quando eu digo que o grupo precisa de um animador bem formado, disponível, adulto na fé, isso é sentido como se eu pretendesse "enfiar" no grupo um professor-polícia que reduziria os jovens à passividade.
Vamos lá a ver se nos entendemos.
1. Não confundir a figura do animador com a questão das lideranças. Em qualquer processo de grupo, é inevitável o aparecimento de líderes, de elementos que se destacam em algum aspecto e que acabam por ser mais centrais na rede de comunicação (e decisão-acção) do grupo. A liderança é uma função "natural" do grupo. Eu falo do animador. De alguém que, estando no grupo, é suficientemente diferente (mais maduro) para estar ao serviço do crescimento do grupo e dos seus elementos.
2. Não confundir o animador com o gestor de actividades. O animador não tem que fazer tudo. O que o animador faz, deixa de fazer ou faz fazer depende do tipo de grupo, da fase evolutiva do grupo e de mil e um factores. O facto de haver um animador não quer dizer que seja ele o único protagonista. Muito pelo contrário.
Mas para lá destas diferenças factuais no conceito de animador, pode ser que as diferenças tenham bases teóricas.
Eu revejo-me num modelo educativo que assenta na assimetria educativa. Ou seja, só há diálogo educativo se houver algum tipo de assimetria. Isto não quer dizer hierarquia, desigual distribuição do poder. Um professor (vamos buscar um exemplo à escola) pode ser muito "democrático" mas tem de ser "diferente" (=assimétrico) dos alunos; se isso não acontecer termina a relação educativa. A diferença pode ser de idade, autoridade, competência científica. Ou pode ser apenas de atitude: os alunos estão lá para um qualquer objectivo (aprender, fazer turismo na escola...); o professor está lá para servir esse objectivo dos alunos.
Acho ingénuo um certo "basismo" que diz que sendo todos iguais não deveria haver distinções dentro do grupo. Discordo disto em termos filosóficos. Mas, acima de tudo em termos práticos: isto não acontece na realidade. Peguem em qualquer grupo e deixem-no sem nenhum tipo de autoridade. A evolução natural do grupo leva ao aparecimento de diferentes papéis; entre esses papéis diferenciados estão as lideranças. Mesmo que o grupo não evolua para o caos nem para a ditadura, mesmo que se mantenha organizado e democrático (coisa que estatisticamente é bastante raro) aparece sempre alguém que "faz as despesas" de organização do grupo.
Aquilo que defendo é que em vez de deixar isso ao acaso, a comunidade ofereça aos grupos eclesiais alguém disponível e formado para esse serviço.
Num certo sentido eu percebo a dificuldade de aceitar estas propostas:
1) Por reacção à falta de protagonismo juvenil. Na escola, na sociedade, na Igreja demasiadas coisas são impostas. Os jovens sentem uma necessidade real de espaços onde possam sentir-se responsáveis. É evidente que o modelo de animador que defendemos não contraria isso; antes o potencia!
2) Por tradicionalismo. Como em muitos sectores de PJ o nível de reflexão é muito baixo, as ocasiões de formação são raras, as pessoas agarram-se ao que conhecem. A mudança é sentida como perigosa.
2009/06/28
Apresentação do projecto GPS em Leiria (1)
Ontem (27 Junho) fomos (eu, a idália e o Fraga) a Leiria. A convite da pastoral juvenil da diocese apresentámos o projecto GPS. previstos 25 participantes; presentes uns 45. O que nestas coisas de PJ é sempre de saudar. Vários padres presentes. Ainda de saudar mais.
No diálogo com os participantes apareceram várias questões que merecem alguma reflexão.
Que entendimento de grupo?
Eu tenho vindo a defender a existência de grupos fortemente coesos. Com uma alta estabilidade dos elementos. Alguns animadores (ali e em muitos sítios) defendem uma ideia diferente (e que é prática corrente em muito sítio) em que o grupo é uma realidade muito aberta onde se entra e sai numa rotação relativamente levada. Este modelo imagina que o jovem entra a uma certa idade, se mantém no grupo durante alguns ano e depois o abandona. E este processo vai-se mantendo em contínuo. Isto leva a que num mesmo grupo coexistam pessoas de idades muito diferentes, normalmente entre os 15-16 e os 20 e tal anos. Eu posso representar este modelo com a imagem do corredor de passagem. Um grupo assim é como um corredor de passagem onde se entra de um lado, se leva algum tempo a fazer o que há a fazer e se sai pelo outro lado. Em cada momento há um determinado número de pessoas dentro do corredor (grupo) mas em que os tempos de permanência no grupo são muito diferentes.
Eu defendo um outro modelo que pode ser representado pela imagem da sala de estar: há um grupo de pessoas (mais ou menos sempre as mesmas) que se mantêm na sua tarefa (os objectivos do grupo) com uma certa constância.
Claro que não defendo um grupo-seita em que não se pode entrar ou do qual não se pode sair. Isso poderia ser representado pela imagem do bunker!. É evidente que no modelo que defendo há gente que entra e que sai. Mas isso acontece como excepção a uma regra. Excepção que tem custos para o adequado funcionamento do grupo. Excepção que não pode nem deve ser erigida em norma.
Claro que o argumentário em favor de um ou outro modelo pode nunca mais acabar. Mas vale a pena tentar perceber as vantagens e limites de cada um deles.
Podemos tentar perceber qual o grau de coesão de cada modelo.
É sempre mais baixa no modelo "corredor de passagem". A coesão faz-se a partir das memórias, da quantidade e qualidade das inter-relações. A partir do momento em que o grupo está sempre a refazer-se (porque é de norma que haja sempre gente que entra e sai) as redes internas estão sempre em fase inicial de elaboração. Isso leva a que a qualidade da comunicação profunda seja relativamente débil.
No modelo "sala de estar" a coesão (e a qualidade-quantidade das comunicações dentro do grupo) pode crescer porque o grupo pode seguir um percurso evolutivo mais ou menos linear (isto não quer dizer que não haja sobressaltos e problemas). Quando a comunicação tem alta qualidade, quando o grupo tem, ao mesmo tempo uma alta coesão e um alto respeito pela individualidade de cada um dos elementos, o grupo ganha o seu maior potencial educativo.
Outra questão é a da homogeneidade-heterogemeidade . No modelo "corredor de passagem" há uma mais alta heterogeneidade. Normalmente a partir do factor idade. E isso, com todo o realismo, condiciona a qualidade da comunicação. Não acho que seja impossível algum diálogo entre pessoas de 16 anos e pessoas de 25. Mas as experiências de vida e de fé são de facto muito condicionadas pelas vivências de cada um. Pessoas com idades diferentes podem perfeitamente falar adequadamente sobre "coisas" externas: a cultura de espinafres, o uso do preservativo, um texto de S. Paulo... Mas se não quisermos mais falar sobre coisas mas sobre a nossa vivência, se quisermos que o grupo seja um espaço onde se partilham experiências e se aprende com elas numa lógica de interacção, fica mais difícil quando a heterogeneidade é muita.
Exemplo: a experiência de tentar viver na fé a sexualidade (para dar exemplo de uma questão frequente) não é a mesma aos 16 e aos 25 (espero eu!). O que acontece se colocarmos um grupo "corredor" heterogéneo a trabalhar sobre isto? Das duas uma: ou se procura um diálogo "objectivo", em que todos abdicam das suas experiências e vivências (a dimensão subjectiva) ou algumas experiências abafam outras. Pode-se tentar negar este meu argumento, dizendo que "os mais novos aprendem com os mais velhos"... É verdade, até certo ponto. Mas o modelo de PJ que defendo, diz que os mais "novos" têm direito a ser mais novos, a ter as suas próprias experiências, a elaborar, eclesialmente, as suas próprias sínteses, ao seu ritmo.
É evidente que não vale a pena procurar construir grupos absolutamente homogéneos. Inviável e inútil. O que digo é que a partir de certo ponto a heterogeneidade dentro do grupo impossibilita o diálogo e a partilha. O modelo "sala de estar" defende melhor a qualidade de comunicação e aprendizagem dentro do grupo.
Poderia ser interessante pensar nesta óptica a prática dos escuteiros. Como se sabe, cada secção tem 4-5 anos de duração: lobitos (6-10); exploradores (10-15);Pioneiros (15-18); caminheiros (18-22). Dentro de cada secção organizam-se as unidades, pequenos grupos (bandos, patrulhas, equipas). Se bem me lembro, cada agrupamento pode usar vários modelos para estruturar as unidades. Podem ser em co-educação ou separadas por géneros; podem pedir homogeneidade de idades ou podem preferir um modelo "vertical" em que coexistem, na mesma unidade as várias idades. Estas várias possibilidades mostram que a questão não é simples. E tem muito que ver com o modelo educativo escutista e com o tipo de "objectivos" que estão em jogo.
Mas se repararem não é possível ter um jovem de 16 anos (pioneiro) com outro de 22 (caminheiro em idade de partida)
No diálogo com os participantes apareceram várias questões que merecem alguma reflexão.
Que entendimento de grupo?
Eu tenho vindo a defender a existência de grupos fortemente coesos. Com uma alta estabilidade dos elementos. Alguns animadores (ali e em muitos sítios) defendem uma ideia diferente (e que é prática corrente em muito sítio) em que o grupo é uma realidade muito aberta onde se entra e sai numa rotação relativamente levada. Este modelo imagina que o jovem entra a uma certa idade, se mantém no grupo durante alguns ano e depois o abandona. E este processo vai-se mantendo em contínuo. Isto leva a que num mesmo grupo coexistam pessoas de idades muito diferentes, normalmente entre os 15-16 e os 20 e tal anos. Eu posso representar este modelo com a imagem do corredor de passagem. Um grupo assim é como um corredor de passagem onde se entra de um lado, se leva algum tempo a fazer o que há a fazer e se sai pelo outro lado. Em cada momento há um determinado número de pessoas dentro do corredor (grupo) mas em que os tempos de permanência no grupo são muito diferentes.
Eu defendo um outro modelo que pode ser representado pela imagem da sala de estar: há um grupo de pessoas (mais ou menos sempre as mesmas) que se mantêm na sua tarefa (os objectivos do grupo) com uma certa constância.
Claro que não defendo um grupo-seita em que não se pode entrar ou do qual não se pode sair. Isso poderia ser representado pela imagem do bunker!. É evidente que no modelo que defendo há gente que entra e que sai. Mas isso acontece como excepção a uma regra. Excepção que tem custos para o adequado funcionamento do grupo. Excepção que não pode nem deve ser erigida em norma.
Claro que o argumentário em favor de um ou outro modelo pode nunca mais acabar. Mas vale a pena tentar perceber as vantagens e limites de cada um deles.
Podemos tentar perceber qual o grau de coesão de cada modelo.
É sempre mais baixa no modelo "corredor de passagem". A coesão faz-se a partir das memórias, da quantidade e qualidade das inter-relações. A partir do momento em que o grupo está sempre a refazer-se (porque é de norma que haja sempre gente que entra e sai) as redes internas estão sempre em fase inicial de elaboração. Isso leva a que a qualidade da comunicação profunda seja relativamente débil.
No modelo "sala de estar" a coesão (e a qualidade-quantidade das comunicações dentro do grupo) pode crescer porque o grupo pode seguir um percurso evolutivo mais ou menos linear (isto não quer dizer que não haja sobressaltos e problemas). Quando a comunicação tem alta qualidade, quando o grupo tem, ao mesmo tempo uma alta coesão e um alto respeito pela individualidade de cada um dos elementos, o grupo ganha o seu maior potencial educativo.
Outra questão é a da homogeneidade-heterogemeidade . No modelo "corredor de passagem" há uma mais alta heterogeneidade. Normalmente a partir do factor idade. E isso, com todo o realismo, condiciona a qualidade da comunicação. Não acho que seja impossível algum diálogo entre pessoas de 16 anos e pessoas de 25. Mas as experiências de vida e de fé são de facto muito condicionadas pelas vivências de cada um. Pessoas com idades diferentes podem perfeitamente falar adequadamente sobre "coisas" externas: a cultura de espinafres, o uso do preservativo, um texto de S. Paulo... Mas se não quisermos mais falar sobre coisas mas sobre a nossa vivência, se quisermos que o grupo seja um espaço onde se partilham experiências e se aprende com elas numa lógica de interacção, fica mais difícil quando a heterogeneidade é muita.
Exemplo: a experiência de tentar viver na fé a sexualidade (para dar exemplo de uma questão frequente) não é a mesma aos 16 e aos 25 (espero eu!). O que acontece se colocarmos um grupo "corredor" heterogéneo a trabalhar sobre isto? Das duas uma: ou se procura um diálogo "objectivo", em que todos abdicam das suas experiências e vivências (a dimensão subjectiva) ou algumas experiências abafam outras. Pode-se tentar negar este meu argumento, dizendo que "os mais novos aprendem com os mais velhos"... É verdade, até certo ponto. Mas o modelo de PJ que defendo, diz que os mais "novos" têm direito a ser mais novos, a ter as suas próprias experiências, a elaborar, eclesialmente, as suas próprias sínteses, ao seu ritmo.
É evidente que não vale a pena procurar construir grupos absolutamente homogéneos. Inviável e inútil. O que digo é que a partir de certo ponto a heterogeneidade dentro do grupo impossibilita o diálogo e a partilha. O modelo "sala de estar" defende melhor a qualidade de comunicação e aprendizagem dentro do grupo.
Poderia ser interessante pensar nesta óptica a prática dos escuteiros. Como se sabe, cada secção tem 4-5 anos de duração: lobitos (6-10); exploradores (10-15);Pioneiros (15-18); caminheiros (18-22). Dentro de cada secção organizam-se as unidades, pequenos grupos (bandos, patrulhas, equipas). Se bem me lembro, cada agrupamento pode usar vários modelos para estruturar as unidades. Podem ser em co-educação ou separadas por géneros; podem pedir homogeneidade de idades ou podem preferir um modelo "vertical" em que coexistem, na mesma unidade as várias idades. Estas várias possibilidades mostram que a questão não é simples. E tem muito que ver com o modelo educativo escutista e com o tipo de "objectivos" que estão em jogo.
Mas se repararem não é possível ter um jovem de 16 anos (pioneiro) com outro de 22 (caminheiro em idade de partida)
Aniversário
Ontem a LS (do meu grupo de jovens) fez anos: 22.
Decidiu fazer uma festa. A mãe tem um café, o que oferece algumas vantagens logísticas.
Convidou o pessoal do grupo de jovens e alguns catequistas com quem trabalha.
Não! Não estou a transformar este blog num noticiário de eventos sociais, para manter a média de posts!
Quero é pensar pastoralmente sobre isto.
Ela poderia ter convidado colegas da faculdade, amigos e conhecidos.
Poderia não ter feito festa nenhuma.
Decidiu investir simbolicamente numa rede de relações ligadas ao grupo de fé e aos serviços eclesiais em que está. Quais as condições de possibilidade para isso acontecer?
Eu avanço com uma hipótese: a eclesialidade tem uma consistência social forte. E à hora de fazer opções, isso nota-se.
Este exemplo contraria aqueles que defendem que é possível ser Igreja sem uma forte relacionalidade social, sem efectivos laços. A experiência de Igreja (e da fé que lhe está associada) não pode ser apenas uma questão de referência mas de efectiva pertença.
Decidiu fazer uma festa. A mãe tem um café, o que oferece algumas vantagens logísticas.
Convidou o pessoal do grupo de jovens e alguns catequistas com quem trabalha.
Não! Não estou a transformar este blog num noticiário de eventos sociais, para manter a média de posts!
Quero é pensar pastoralmente sobre isto.
Ela poderia ter convidado colegas da faculdade, amigos e conhecidos.
Poderia não ter feito festa nenhuma.
Decidiu investir simbolicamente numa rede de relações ligadas ao grupo de fé e aos serviços eclesiais em que está. Quais as condições de possibilidade para isso acontecer?
Eu avanço com uma hipótese: a eclesialidade tem uma consistência social forte. E à hora de fazer opções, isso nota-se.
Este exemplo contraria aqueles que defendem que é possível ser Igreja sem uma forte relacionalidade social, sem efectivos laços. A experiência de Igreja (e da fé que lhe está associada) não pode ser apenas uma questão de referência mas de efectiva pertença.
Hora de retomar
Antes de mais, um pedido de desculpas.
Este blog, está, há quase um mês, em estado latente (dizer comatoso, pode ser exagerado).
Qualquer semelhança com o governo da nação, é pura coincidência; os sintomas (ausência de acção) podem ser similares mas as causas (e eventuais consequências) são bem diferentes. Só faço esta nota por motivos epistemológicos: é interessante perceber se 2 realidades com os mesmos fenómenos são necessariamente iguais.
Causas: Regressei a Portugal e às Edições Salesianas e tive de me dedicar a fundo a alguns dossiers mais "emergentes". Preferi suspender as minhas atenções académicas durante este mês de Junho, resolver os pendentes para, a partir de agora conseguir compaginar (com um mínimo de decência) a investigação, o trabalho na editora e os empenhos na formação.
Uma alteração: Até aqui este blog tem sido feito em Roma, numa situação de total dedicação ao estudo.
É evidente que agora, aqui em Portugal, as coisas mudam.
Pensei que poderia ser interessante usar este espaço para reflectir cientifica e criticamente sobre a realidade e os problemas pastorais que surgem. Eu escrevo habitualmente no site das Edições Salesianas e no Tás à toa (o site do meu grupo de jovens). Nenhum dos dois espaços tem o perfil adequado para uma reflexão mais sistemática.
Este blog, está, há quase um mês, em estado latente (dizer comatoso, pode ser exagerado).
Qualquer semelhança com o governo da nação, é pura coincidência; os sintomas (ausência de acção) podem ser similares mas as causas (e eventuais consequências) são bem diferentes. Só faço esta nota por motivos epistemológicos: é interessante perceber se 2 realidades com os mesmos fenómenos são necessariamente iguais.
Causas: Regressei a Portugal e às Edições Salesianas e tive de me dedicar a fundo a alguns dossiers mais "emergentes". Preferi suspender as minhas atenções académicas durante este mês de Junho, resolver os pendentes para, a partir de agora conseguir compaginar (com um mínimo de decência) a investigação, o trabalho na editora e os empenhos na formação.
Uma alteração: Até aqui este blog tem sido feito em Roma, numa situação de total dedicação ao estudo.
É evidente que agora, aqui em Portugal, as coisas mudam.
Pensei que poderia ser interessante usar este espaço para reflectir cientifica e criticamente sobre a realidade e os problemas pastorais que surgem. Eu escrevo habitualmente no site das Edições Salesianas e no Tás à toa (o site do meu grupo de jovens). Nenhum dos dois espaços tem o perfil adequado para uma reflexão mais sistemática.
2009/06/06
já em PT
Desculpem lá a ausência. Cheguei a Portugal no domingo passado e estive uns dias em casa dos meus pais. Desde 4ª feira já estou no Porto, na minha comunidade das Ediçóes Salesianas.
Tem sido tempo de rever os amigos e arrumar coisas.
Algumas impressões:
1. Então já acabaste o doutoramento? perguntam-me com frquência.
Não, não acabei. Um doutoramento não se faz em 4 meses. isto não são Phd em novas oportunidades nem dá para mandar teses por faz ao domingo (desculpem mas não resisto a esta farpazinha)
2. Outra coisa que me faz espécie é que raras são as pessoas que se interessam por tentar perceber de que é que trata este projecto de investigação.
Não é uma acusação a ninguém. É apenas um estímulo à (minha) humildade e a perceber que a vida das pessoas anda à volta daquilo que elas consideram importante e urgente. E nesse sentido o distanciar-se que o estudo sempre supõe é sempre um bocado irrelevante. Claro que há algumas pessoas que se dizem pros nisto da Igreja e da pastoral bem poderiam mostrar (ou fingir mostrar) algum interesse. Mas poderia ser pior: um colega meu está a acabar uma tese sobre o conceito de graça em Jerónimo Seripando. Quando o ouvi falar sobre isso a minha ignorância só me permitiu rir do nome do fulano. Obviamente, eu só posso achar que o "meu" tema de tese é que é interessante, os outros nem por isso.
Tem sido tempo de rever os amigos e arrumar coisas.
Algumas impressões:
1. Então já acabaste o doutoramento? perguntam-me com frquência.
Não, não acabei. Um doutoramento não se faz em 4 meses. isto não são Phd em novas oportunidades nem dá para mandar teses por faz ao domingo (desculpem mas não resisto a esta farpazinha)
2. Outra coisa que me faz espécie é que raras são as pessoas que se interessam por tentar perceber de que é que trata este projecto de investigação.
Não é uma acusação a ninguém. É apenas um estímulo à (minha) humildade e a perceber que a vida das pessoas anda à volta daquilo que elas consideram importante e urgente. E nesse sentido o distanciar-se que o estudo sempre supõe é sempre um bocado irrelevante. Claro que há algumas pessoas que se dizem pros nisto da Igreja e da pastoral bem poderiam mostrar (ou fingir mostrar) algum interesse. Mas poderia ser pior: um colega meu está a acabar uma tese sobre o conceito de graça em Jerónimo Seripando. Quando o ouvi falar sobre isso a minha ignorância só me permitiu rir do nome do fulano. Obviamente, eu só posso achar que o "meu" tema de tese é que é interessante, os outros nem por isso.
2009/05/27
Já está!
Pelas 12h15 eu e outro colega (também orientado pelo Anthony) lá fomos apresentar os nossos esquemas.
Mais uma vez o tempo se revelou curto. Começo ele, falou muito e os professores também não se calavam. resultado: eu fiquei com 13 minutos para apresentação e diálogo. Fiz 3-4 minutos de apresentação. O Cimosa elogiou muito o esquema (ou gostou ou queria ir almoçar), o Venturi perguntou algo pelo aspecto prospectivo e o José Luis Moral resolveu dizer asneiras: e tal e coisa e a base antropológica e a sociologia do conhecimento (Berger e Luckman) e a sociologia francesa...
Pena que nestas plataformas não dê para responder; ou não leu o esquema e/ou não percebe nada de Moscovici.
No fim, o Anthony chamou a atenção sobre a necessidade de avaliar estas coisas como propostas de teologia empírica que são.
Bem... já está. Agora vou imprimir e levar ao prof. para assinar e entregar na secretaria.
Mais uma vez o tempo se revelou curto. Começo ele, falou muito e os professores também não se calavam. resultado: eu fiquei com 13 minutos para apresentação e diálogo. Fiz 3-4 minutos de apresentação. O Cimosa elogiou muito o esquema (ou gostou ou queria ir almoçar), o Venturi perguntou algo pelo aspecto prospectivo e o José Luis Moral resolveu dizer asneiras: e tal e coisa e a base antropológica e a sociologia do conhecimento (Berger e Luckman) e a sociologia francesa...
Pena que nestas plataformas não dê para responder; ou não leu o esquema e/ou não percebe nada de Moscovici.
No fim, o Anthony chamou a atenção sobre a necessidade de avaliar estas coisas como propostas de teologia empírica que são.
Bem... já está. Agora vou imprimir e levar ao prof. para assinar e entregar na secretaria.
Apresentação esquema da tese
Hoje vou apresentar aos professores do instituto de teologia pastoral o meu esquema de tese. É uma novidade deste ano: os alunos apresentam o seu esquema a um conjunto de professores da área; isto aumenta os contactos e a comunicação.
O título
Believing in God: An empirical-theological study of social representations among adolescents in Portugal
Proponho para este projecto de investigação o título: “Acreditar em Deus…”
É um título que indica já as grandes opções e conteúdos do projecto.
“Acreditar em Deus”. Optei por uma forma verbal e não substantival porque permite exprimir melhor o objecto central do estudo. As expressões “fé” ou “imagem de Deus” poderiam ainda induzir um mapa teológico em que o estudo do mistério de Deus, a teologia da fé, a teologia espiritual estavam ainda separadas e compartimentadas. Ao usar uma forma verbal remete-se para uma acção, para uma praxis que vai ser estudada sob uma perspectiva empírico-teológica. O título diz ainda qual a abordagem teórica que preside ao olhar empírico sobre a realidade: a teoria das representações sociais.
O grupo estudado será o dos adolescentes em Portugal. Concretamente aquele grupo (aproximadamente 150000) de adolescentes com idades compreendidas entre os 16 e os 20 anos que frequentaram a catequese.
Desenho da tese
As opções desta proposta são claramente influenciadas pelo ciclo empírico-teológico proposto por van der Ven.
Opto por uma abordagem exploratória-explanatória em boa parte por ausência de investigação prévia utilizável.
Objectivos
• Identificare le immagini di Dio elaborate dagli adolescenti e il rapporto stabilito con Lui;
• I processi messi in atto per questo;
• Riflettere e valutare teologicamente e pastoralmente la reale esperienza di credere in Dio.
Estes objectivos estão formulados ainda sem referência aos constructos teóricos que vou usar.
São objectivos realistas, isto é são atingíveis a partir das disponibilidades e recursos científicos disponibilizados por mim e pelos relatores. É razoável acreditar que, por analogia com outros projectos de investigação, no estado actual da ciência, seja possível chegar a resultados originais.
Os objectivos estão devidamente articulados sem sobreposições nem repetições.
Background
Como pano de fundo e motivação para este trabalho está a evidente tensão entre a necessidade de conhecer-compreender a realidade e a ausência ou grave deficiência de estudos teórica e empiricamente bem fundados. Os estudos feitos em Portugal sobre as temáticas conexas com esta têm sérias limitações ao nível da definição teórica e ao nível epistemológico.
Clarificar os pressupostos teóricos
Qualquer estudo em teologia deve sempre clarificar quer o seu objecto teológico (neste caso, a experiência de acreditar em Deus) quer os instrumentos analíticos de que se serve (neste caso, a teoria das representações sociais).
Por isso assumo claramente uma visão “rica” de acreditar em Deus. Onde se articulam fides qua e fides quae num cristocentrismo trinitário. Dimensão eclesial e ortoprática. Dimensão histórico-evolutiva e escatológica.
Optei por usar a teoria das representações sociais pela sua capacidade heurística, flexibilidade e por evitar alguns dos problemas que outras abordagens às temáticas religiosas geralmente têm: o individualismo e a epistemologia reificada e monológica. A TRS permitirá estudar os processos pelos quais os sujeitos estudados elaboram socialmente as suas representações.
Pode parecer um risco usar esta teoria num contexto de teologia. Mas a sua antropologia de base dialógica, onde os sujeitos e os contextos sociais se articulam sem se sobreporem nem anularem e o equilíbrio tenso que há entre força do contexto sócio-cultural e agência da pessoa parecem oferecer uma alternativa promissora no clima cultural onde estamos, que nos parece condenar a escolher entre o esquecimento das críticas pós-modernas e a dissolução do sujeito.
Questões a investigar
• Quali le rappresentazioni sociali di Dio fatte dagli adolescenti portoghesi coinvolti nei processi di catechesi?
• Quali i processi messi in atto nella elaborazione delle RS (ancoraggio, oggettivazione) ?
• Quali i contenuti delle RS e come sono strutturati?
• Che correlazioni ci sono tra queste variabili e concetti: genero, età, pratica religiosa personale, percorso catechistico, RS di Dio del catechista rispettivo?
• Ci sono manifestazioni di polifasia cognitiva? Como possono essere interpretate?
• Può la “zona muta delle RS” spiegare la tendenza apofatica?
• Quale interpretazione teologica possiamo fare sulle RS di Dio prodotte dagli adolescenti?
Metodologia
A pesquisa sobre a RS da amostra será feita com um questionário. Este questionário contém uma série de informações de tipo mais anagráfico e alguns indutores que permitem captar as representações sociais presentes nos sujeitos.
Complementarmente à análise (cluster, factor, MDS) pode ser necessário recorrer a uma recolha de dados mais qualitativa que sugira pistas posteriores de análise e interpretação. O desenvolvimento, em anos recentes de software que permite uma expedita análise de dados não estruturados será uma ajuda preciosa.
O título
Believing in God: An empirical-theological study of social representations among adolescents in Portugal
Proponho para este projecto de investigação o título: “Acreditar em Deus…”
É um título que indica já as grandes opções e conteúdos do projecto.
“Acreditar em Deus”. Optei por uma forma verbal e não substantival porque permite exprimir melhor o objecto central do estudo. As expressões “fé” ou “imagem de Deus” poderiam ainda induzir um mapa teológico em que o estudo do mistério de Deus, a teologia da fé, a teologia espiritual estavam ainda separadas e compartimentadas. Ao usar uma forma verbal remete-se para uma acção, para uma praxis que vai ser estudada sob uma perspectiva empírico-teológica. O título diz ainda qual a abordagem teórica que preside ao olhar empírico sobre a realidade: a teoria das representações sociais.
O grupo estudado será o dos adolescentes em Portugal. Concretamente aquele grupo (aproximadamente 150000) de adolescentes com idades compreendidas entre os 16 e os 20 anos que frequentaram a catequese.
Desenho da tese
As opções desta proposta são claramente influenciadas pelo ciclo empírico-teológico proposto por van der Ven.
Opto por uma abordagem exploratória-explanatória em boa parte por ausência de investigação prévia utilizável.
Objectivos
• Identificare le immagini di Dio elaborate dagli adolescenti e il rapporto stabilito con Lui;
• I processi messi in atto per questo;
• Riflettere e valutare teologicamente e pastoralmente la reale esperienza di credere in Dio.
Estes objectivos estão formulados ainda sem referência aos constructos teóricos que vou usar.
São objectivos realistas, isto é são atingíveis a partir das disponibilidades e recursos científicos disponibilizados por mim e pelos relatores. É razoável acreditar que, por analogia com outros projectos de investigação, no estado actual da ciência, seja possível chegar a resultados originais.
Os objectivos estão devidamente articulados sem sobreposições nem repetições.
Background
Como pano de fundo e motivação para este trabalho está a evidente tensão entre a necessidade de conhecer-compreender a realidade e a ausência ou grave deficiência de estudos teórica e empiricamente bem fundados. Os estudos feitos em Portugal sobre as temáticas conexas com esta têm sérias limitações ao nível da definição teórica e ao nível epistemológico.
Clarificar os pressupostos teóricos
Qualquer estudo em teologia deve sempre clarificar quer o seu objecto teológico (neste caso, a experiência de acreditar em Deus) quer os instrumentos analíticos de que se serve (neste caso, a teoria das representações sociais).
Por isso assumo claramente uma visão “rica” de acreditar em Deus. Onde se articulam fides qua e fides quae num cristocentrismo trinitário. Dimensão eclesial e ortoprática. Dimensão histórico-evolutiva e escatológica.
Optei por usar a teoria das representações sociais pela sua capacidade heurística, flexibilidade e por evitar alguns dos problemas que outras abordagens às temáticas religiosas geralmente têm: o individualismo e a epistemologia reificada e monológica. A TRS permitirá estudar os processos pelos quais os sujeitos estudados elaboram socialmente as suas representações.
Pode parecer um risco usar esta teoria num contexto de teologia. Mas a sua antropologia de base dialógica, onde os sujeitos e os contextos sociais se articulam sem se sobreporem nem anularem e o equilíbrio tenso que há entre força do contexto sócio-cultural e agência da pessoa parecem oferecer uma alternativa promissora no clima cultural onde estamos, que nos parece condenar a escolher entre o esquecimento das críticas pós-modernas e a dissolução do sujeito.
Questões a investigar
• Quali le rappresentazioni sociali di Dio fatte dagli adolescenti portoghesi coinvolti nei processi di catechesi?
• Quali i processi messi in atto nella elaborazione delle RS (ancoraggio, oggettivazione) ?
• Quali i contenuti delle RS e come sono strutturati?
• Che correlazioni ci sono tra queste variabili e concetti: genero, età, pratica religiosa personale, percorso catechistico, RS di Dio del catechista rispettivo?
• Ci sono manifestazioni di polifasia cognitiva? Como possono essere interpretate?
• Può la “zona muta delle RS” spiegare la tendenza apofatica?
• Quale interpretazione teologica possiamo fare sulle RS di Dio prodotte dagli adolescenti?
Metodologia
A pesquisa sobre a RS da amostra será feita com um questionário. Este questionário contém uma série de informações de tipo mais anagráfico e alguns indutores que permitem captar as representações sociais presentes nos sujeitos.
Complementarmente à análise (cluster, factor, MDS) pode ser necessário recorrer a uma recolha de dados mais qualitativa que sugira pistas posteriores de análise e interpretação. O desenvolvimento, em anos recentes de software que permite uma expedita análise de dados não estruturados será uma ajuda preciosa.
2009/05/25
Socialização e valores
Mais um livro que começo a ler (antes de regressar): Franco Garelli, Augusto Palmonari e Loredana Sciolla, La socializzazione flessibile. Identità e trasmissione dei valori tra i giovani.
Uma das hipóteses a testar era que nas agências tradicionais (família, escola) as relações se estabelecem na base da negociação e no diálogo (e não como antes, na base de uma relação de força).
Hipótese confirmada, mas...
Quer na escola quer na família dominam os modelos não autoritários. Mas na família as relações pais-filhos mostram muita força, num clima de diálogo e de reciprocidade entre pais e filhos. os filhos tendem a identificar-se muito com os modelos culturais transmitidos pelos pais.
Na escola também já não há posturas autoritárias. mas as coisas não são como nas famílias. Há uma indiferença recíproca, até um verdadeiro laxismo, mesmo quando há desacordo com os professores. isto não gera uma oposição generalizada aos professores; antes, uma "microconflitualidade" difusa.
Isto promete...
Uma das hipóteses a testar era que nas agências tradicionais (família, escola) as relações se estabelecem na base da negociação e no diálogo (e não como antes, na base de uma relação de força).
Hipótese confirmada, mas...
Quer na escola quer na família dominam os modelos não autoritários. Mas na família as relações pais-filhos mostram muita força, num clima de diálogo e de reciprocidade entre pais e filhos. os filhos tendem a identificar-se muito com os modelos culturais transmitidos pelos pais.
Na escola também já não há posturas autoritárias. mas as coisas não são como nas famílias. Há uma indiferença recíproca, até um verdadeiro laxismo, mesmo quando há desacordo com os professores. isto não gera uma oposição generalizada aos professores; antes, uma "microconflitualidade" difusa.
Isto promete...
o papel do estado
É um bocado off-topic mas pareceu-me interessante este artigo. Não é nenhuma apologia do neoliberalismo nem se trata de discutir a redução de impostos. Está colocado mais numa perspectiva de defesa.
Um estado-nação moderno define-se por ter (ou tentar ter) o monopólio da violência. A história dos últimos 200 anos é história da luta entre estados ou de grupos que não se reviam em estados e queriam estados alternativos.
mas hoje, segundo o autor, isso está a mudar. É possível definir uma agenda política sem precisar de estado. Ou até, fazer depender essa agenda da ausência de estado.
A ler.
Um estado-nação moderno define-se por ter (ou tentar ter) o monopólio da violência. A história dos últimos 200 anos é história da luta entre estados ou de grupos que não se reviam em estados e queriam estados alternativos.
mas hoje, segundo o autor, isso está a mudar. É possível definir uma agenda política sem precisar de estado. Ou até, fazer depender essa agenda da ausência de estado.
A ler.
Defese de tese
Hoje à tarde, um colega vai defender a sua tese em teologia dogmática: perspectivas mariológicas no diálogo católicos anglicanos.
2009/05/24
isto tem estado algo parado
mas não é só por preguiça. Entre o calor e as mudanças fica difícil ter cabeça clara para postar seja o que for.
Esta semana apresentei o meu esquema de tese aos colegas do seminário. na próxima 4ª (dia 27) apresento aos professores do Instituto de pastoral.
Daqui a uma semana estou de regresso a portugal.
Coisas boas:
1. Biblioteca
2. Alguns professores muito acessíveis
Descoberta recentes:
1. A teologia de Perangelo Sequeri
2. O potencial das ferramentas de análise de dados qualitativos e não estruturados
Esta semana apresentei o meu esquema de tese aos colegas do seminário. na próxima 4ª (dia 27) apresento aos professores do Instituto de pastoral.
Daqui a uma semana estou de regresso a portugal.
Coisas boas:
1. Biblioteca
2. Alguns professores muito acessíveis
Descoberta recentes:
1. A teologia de Perangelo Sequeri
2. O potencial das ferramentas de análise de dados qualitativos e não estruturados
2009/05/17
religiosidade juvenil em Itália (4)
Um segundo capítulo estuda os valores dos jovens e a sua correlação com as pertenças religiosas.
Num certo sentido, nada de surpreendente.
Sistematicamente a adesão religiosa associa-se a valores éticos mais sólidos e menos hedonistas.
Mas o que é surpreendente (em todos os grupos) é como os valores mais apreciados são os ligados à pessoa e ao seu espaço relacional: família, saúde, paz, liberdade, amor, amizade.
Mesmo os que poderiam ser lidos com uma componente mais "social" (paz,liberdade) estão nesta lista apenas porque são condição de possibilidade do tal bem-estar individual.
NO fim da lista, evidentemente os valores políticos.
Mais uma vez isto são valores de 2004 e de Itália. Evidentemente é capaz de haver resultados hoje em Portugal. mas penso bem que esta tendência se deve manter.
A parte
Estou a pôr-me a par do Prison break. Foi uma série que não acompanhei aí em PT, mas nas horas vagas estou a recuperar o tempo perdido. Como todas as boas séries esta funciona a mais do que um nível. O mais óbvio é a fuga (série 1 e 2) ou a luta contra os maus da "companhia" (séries 3 e 4). Mas há outros dilemas a alimenta o interesse pela série. Mormente os de tipo moral. Neste sentido esta é das séries em que o tema da escolha moral é mais patente. E no meio de todas as peripécias, da injustiça, da incapacidade do sistema democrático dar sossego aos heróis, como é que eles tomam as suas decisões: pela lealdade aos que amam (família, amigos). Nada mais é seguro ou certo nesta série. Tudo pode esconder um perigo. Só podes confiar em termos da tua escolha, da tua tomada de decisão, no valor da família ou das relações próxima.
É óbvio que Prison Break não é a primeira série nesta linha. O que me levanta uma pergunta. Fazem a série assim para ir de encontro à nossa maneira de pensar ou nós pensamos assim por termos visto muitas séries destas?
Num certo sentido, nada de surpreendente.
Sistematicamente a adesão religiosa associa-se a valores éticos mais sólidos e menos hedonistas.
Mas o que é surpreendente (em todos os grupos) é como os valores mais apreciados são os ligados à pessoa e ao seu espaço relacional: família, saúde, paz, liberdade, amor, amizade.
Mesmo os que poderiam ser lidos com uma componente mais "social" (paz,liberdade) estão nesta lista apenas porque são condição de possibilidade do tal bem-estar individual.
NO fim da lista, evidentemente os valores políticos.
Mais uma vez isto são valores de 2004 e de Itália. Evidentemente é capaz de haver resultados hoje em Portugal. mas penso bem que esta tendência se deve manter.
A parte
Estou a pôr-me a par do Prison break. Foi uma série que não acompanhei aí em PT, mas nas horas vagas estou a recuperar o tempo perdido. Como todas as boas séries esta funciona a mais do que um nível. O mais óbvio é a fuga (série 1 e 2) ou a luta contra os maus da "companhia" (séries 3 e 4). Mas há outros dilemas a alimenta o interesse pela série. Mormente os de tipo moral. Neste sentido esta é das séries em que o tema da escolha moral é mais patente. E no meio de todas as peripécias, da injustiça, da incapacidade do sistema democrático dar sossego aos heróis, como é que eles tomam as suas decisões: pela lealdade aos que amam (família, amigos). Nada mais é seguro ou certo nesta série. Tudo pode esconder um perigo. Só podes confiar em termos da tua escolha, da tua tomada de decisão, no valor da família ou das relações próxima.
É óbvio que Prison Break não é a primeira série nesta linha. O que me levanta uma pergunta. Fazem a série assim para ir de encontro à nossa maneira de pensar ou nós pensamos assim por termos visto muitas séries destas?
2009/05/16
religiosidade juvenil em Itália (3)
Um pouco espalhados pelas várias posições religiosas está a participação dos jovens em grandes eventos: Taize, jornadas da juventude...
São momentos de forte emotividade que, de algum modo, mantêm acesa a fé...
A questão que se põe é saber se queremos continuar a alimentar um consumo religioso-emotivo que não altera substancialmente nada na vida e na fé dos jovens, em que estes momentos não trazem qualquer impacto ao quotidiano... ou se acreditamos que estes momentos têm o potencial de ser o início de uma caminhada mais séria.
Mas esta questão já se põe há anos. E não parece haver da parte das comunidades cristãs e dos seus responsáveis uma vontade sincera de alterar o status quo.
São momentos de forte emotividade que, de algum modo, mantêm acesa a fé...
A questão que se põe é saber se queremos continuar a alimentar um consumo religioso-emotivo que não altera substancialmente nada na vida e na fé dos jovens, em que estes momentos não trazem qualquer impacto ao quotidiano... ou se acreditamos que estes momentos têm o potencial de ser o início de uma caminhada mais séria.
Mas esta questão já se põe há anos. E não parece haver da parte das comunidades cristãs e dos seus responsáveis uma vontade sincera de alterar o status quo.
2009/05/15
religiosidade juvenil em Itália (2)
Mais cedo do que previa lá fui ler o livro.
Mais alguns dados:
Idade: a idade parece ser um factor que influencia a identidade religiosa. Os autores falam de uma curva em U: haveria um ponto mais alto pelos 15 anos, vai-se descendo aí pelos 20 e a partir dos 25 volta-se a subir.
Neste estudo, como noutros, isto levanta imensas questões. É um efeito de idade ou de cohorte? Estas evoluções têm que ver com a idade ou os mais novos estão sujeitos ao efeito da secularização?
Género: As mulheres continuam a ter sempre resultados melhores.
Transmissão matrilienar da fé: Palavras complicadas para dizer que as mulheres na família (mães e avós) são mais influentes a definir o perfil religioso dos jovens do que os homens. Pelo menos aqui neste estudo. Em portugal também se verifica isso mas na minha tese de mestrado lancei a hipótese que o peso do efeito feminino estaria a diminuir. Em PT não há grande reflexão sobre o papel das avós nesta história.
Mais alguns dados:
Idade: a idade parece ser um factor que influencia a identidade religiosa. Os autores falam de uma curva em U: haveria um ponto mais alto pelos 15 anos, vai-se descendo aí pelos 20 e a partir dos 25 volta-se a subir.
Neste estudo, como noutros, isto levanta imensas questões. É um efeito de idade ou de cohorte? Estas evoluções têm que ver com a idade ou os mais novos estão sujeitos ao efeito da secularização?
Género: As mulheres continuam a ter sempre resultados melhores.
Transmissão matrilienar da fé: Palavras complicadas para dizer que as mulheres na família (mães e avós) são mais influentes a definir o perfil religioso dos jovens do que os homens. Pelo menos aqui neste estudo. Em portugal também se verifica isso mas na minha tese de mestrado lancei a hipótese que o peso do efeito feminino estaria a diminuir. Em PT não há grande reflexão sobre o papel das avós nesta história.
2009/05/14
religiosidade juvenil em Itália
Alguns dados, muito sintéticos, a partir de um inquérito feito em 2004.
Totalmente superadas algumas categorias que ainda usamos.
Os autores identificam 11 tipos de religiosidade juvenil.
Agnósticos: 6,3%. Sentem que não podem exprimir um juízo sobre o facto religioso. Longe ou em afastamento de religião, com escassa confiança nas formas institucionais. Assumir-se como agnóstico nem sempre é uma escolha convicta e motivada; vem mais de um contexto familiar pouco interessado no tema religioso.
Não crentes: 11,4%. Os mais afastados da experiência religiosa. Há uma reflexão pessoal feita por detrás. Há uma recusa coerente das práticas religiosas e um marcado cepticismo face à Igreja.
Crer num Deus genérico: 6%. Andam à procura de uma religião pessoal, modelada a partir das exigências pessoais e afastada das formas tradicionais e institucionais. Normalmente, gente com alto capital cultural interessados em defender a própria liberdade e individualidade.
Minorias religiosas: 2%. São isso mesmo.
Cristãos genéricos: 4,8%. Dizem crer em Jesus mas não na Igreja. Estão a afastar-se das formas tradicionais de participação mas têm ainda uma certa tensão religiosa, vivida apenas no interior pessoal.
Católicos afastados: 4,7%. Abandonaram quase totalmente a prática religiosa, institucionalizada ou pessoal. A dimensão religiosa não interessa. Mas reconhecem-se na fé católica e não acham que a sua fé esteja a diminuir.
Católicos ocasionais: 18%. A religião não é parte essencial da sua vida. Baixa participação comunitária. Participação esporádica em rituais religiosos e oração pessoal. A religião não coloca grandes problemas.
Católicos ritualitas: 16, 7%. A dimensão religiosa está sempre presente mas mais como um preceito do que como uma opção pessoal. A religião não é importante mas não se quer acabar com ela. Uma fé mais de preceitos e pressão social do que de afectos.
Católicos intimistas: 9.9%. Fé forte mas isolada da comunidade eclesial. A Igreja é vista como importante mas a vida religiosa é vivida essencialmente no espaço pessoal. Esta opção nasce do individualismo da cultura dominante.
Católicos moderados: 13,6%. Uma clara escolha de pertencer de ser católico, num quadro de forte tensão espiritual. Mas é-lhes difícil assumir os preceitos da fé. alternam momentos de empenho religioso com outros de desinteresse. Componente emotiva importante, têm uma religiosidade estruturada e apoio familiar nesta dimensão.
Católicos fervorosos: 6,7%. Os mais identificados. Ser católico é mais do que uma etiqueta social. Mexe com as opções de vida e os comportamentos quotidianos. alto impacto na vida pessoal e na participação comunitária.
Totalmente superadas algumas categorias que ainda usamos.
Os autores identificam 11 tipos de religiosidade juvenil.
Agnósticos: 6,3%. Sentem que não podem exprimir um juízo sobre o facto religioso. Longe ou em afastamento de religião, com escassa confiança nas formas institucionais. Assumir-se como agnóstico nem sempre é uma escolha convicta e motivada; vem mais de um contexto familiar pouco interessado no tema religioso.
Não crentes: 11,4%. Os mais afastados da experiência religiosa. Há uma reflexão pessoal feita por detrás. Há uma recusa coerente das práticas religiosas e um marcado cepticismo face à Igreja.
Crer num Deus genérico: 6%. Andam à procura de uma religião pessoal, modelada a partir das exigências pessoais e afastada das formas tradicionais e institucionais. Normalmente, gente com alto capital cultural interessados em defender a própria liberdade e individualidade.
Minorias religiosas: 2%. São isso mesmo.
Cristãos genéricos: 4,8%. Dizem crer em Jesus mas não na Igreja. Estão a afastar-se das formas tradicionais de participação mas têm ainda uma certa tensão religiosa, vivida apenas no interior pessoal.
Católicos afastados: 4,7%. Abandonaram quase totalmente a prática religiosa, institucionalizada ou pessoal. A dimensão religiosa não interessa. Mas reconhecem-se na fé católica e não acham que a sua fé esteja a diminuir.
Católicos ocasionais: 18%. A religião não é parte essencial da sua vida. Baixa participação comunitária. Participação esporádica em rituais religiosos e oração pessoal. A religião não coloca grandes problemas.
Católicos ritualitas: 16, 7%. A dimensão religiosa está sempre presente mas mais como um preceito do que como uma opção pessoal. A religião não é importante mas não se quer acabar com ela. Uma fé mais de preceitos e pressão social do que de afectos.
Católicos intimistas: 9.9%. Fé forte mas isolada da comunidade eclesial. A Igreja é vista como importante mas a vida religiosa é vivida essencialmente no espaço pessoal. Esta opção nasce do individualismo da cultura dominante.
Católicos moderados: 13,6%. Uma clara escolha de pertencer de ser católico, num quadro de forte tensão espiritual. Mas é-lhes difícil assumir os preceitos da fé. alternam momentos de empenho religioso com outros de desinteresse. Componente emotiva importante, têm uma religiosidade estruturada e apoio familiar nesta dimensão.
Católicos fervorosos: 6,7%. Os mais identificados. Ser católico é mais do que uma etiqueta social. Mexe com as opções de vida e os comportamentos quotidianos. alto impacto na vida pessoal e na participação comunitária.
2009/05/12
Dialogicidade (1)
Como vos disse, comecei a ler o livro de Ivana Markova.
Acabei o 3ª capítulo. Já vão 88 páginas. temas difíceis, muitos autores, uma linha de pensamento pouco convencional.
Mas o que até me espanta é que a mulher escreve bem. Não sei se é por estar em inglês mas aquilo corre. Frases bem construída, com preocupação de clareza. Acho que viu tirar fotocópias ao livro e enviá-las a uma série de professores daqui!
Só para aumentar o apetite:
E vai na volta, um de vocês diz: "pois, mas para que é que isso serve?"
Contra as visões do mundo que vêm a pessoas como essencialmente indivíduo, ela (Markova) recolhe demosntração do nosso carácter dialógico. Não apenas na linha de Buber, de um diálogo interpessoal que leva à comunhão. Mas numa linha mais claramente mais social onde está presente a cultura, a linguagem, a ideologia, a economia... e onde o que nos faz ser humanos é o diálogo. Um diálogo permanente.
E que importância tem isso?
Imagina a catequese. Bem podem procurar catecismos maravilhosos e perfeitos. Se nós somos mesmos seres dialógicos, terá sempre mais peso a qualidade do diálogo que se estabelece no grupo de catequese, do que o rigor teológico do catecismo ou a eficácia cognitivista dos materiais.
Outro exemplo. Numa visão monológica, individualista, a diferença entre as pessoas é uma perda que deve ser superada. Claro que hoje não há as formas antigas que havia para chegar ao consenso (imposição pela força). E por isso somos quase forçados a renunciar à comunicação em que cada um fica na sua. Mas esta visão dialógica abre-nos a um diálogo constante, onde nunca há consenso. (O consenso é o fim do diálogo, a morte)
Pois todos os sistemas dependem da pluralidade das vozes para poder subsistir.
tentem lá aplicar isso ao vosso grupo de catequese ou ao vosso namoro a ver se isto não abre possibilidades interessantes.
Não percam os próximos capítulos, pois nós, tamb+em não!
Acabei o 3ª capítulo. Já vão 88 páginas. temas difíceis, muitos autores, uma linha de pensamento pouco convencional.
Mas o que até me espanta é que a mulher escreve bem. Não sei se é por estar em inglês mas aquilo corre. Frases bem construída, com preocupação de clareza. Acho que viu tirar fotocópias ao livro e enviá-las a uma série de professores daqui!
Só para aumentar o apetite:
Se o Ego-alter é a ontologia da comunicação,e, por implicação, ontologia da mente humana, então é a dialogicidade que gera e multiplicidade de géneros de pensamento e comunicação. Por isso, as antimonias no pensar e na linguagem, devem ser uma expressão da dialogicidade. Elas são produtos e processos dialógicos. A dialogicidade poderia fornecer as bases para uma teoria dialógica do conhecimento social, ie, para uma epistemolodia dialógica. Consequentemente, a dialogicidade parece ser um bom ponto de partida para a elaboração de umas psicologia social
E vai na volta, um de vocês diz: "pois, mas para que é que isso serve?"
Contra as visões do mundo que vêm a pessoas como essencialmente indivíduo, ela (Markova) recolhe demosntração do nosso carácter dialógico. Não apenas na linha de Buber, de um diálogo interpessoal que leva à comunhão. Mas numa linha mais claramente mais social onde está presente a cultura, a linguagem, a ideologia, a economia... e onde o que nos faz ser humanos é o diálogo. Um diálogo permanente.
E que importância tem isso?
Imagina a catequese. Bem podem procurar catecismos maravilhosos e perfeitos. Se nós somos mesmos seres dialógicos, terá sempre mais peso a qualidade do diálogo que se estabelece no grupo de catequese, do que o rigor teológico do catecismo ou a eficácia cognitivista dos materiais.
Outro exemplo. Numa visão monológica, individualista, a diferença entre as pessoas é uma perda que deve ser superada. Claro que hoje não há as formas antigas que havia para chegar ao consenso (imposição pela força). E por isso somos quase forçados a renunciar à comunicação em que cada um fica na sua. Mas esta visão dialógica abre-nos a um diálogo constante, onde nunca há consenso. (O consenso é o fim do diálogo, a morte)
Pois todos os sistemas dependem da pluralidade das vozes para poder subsistir.
tentem lá aplicar isso ao vosso grupo de catequese ou ao vosso namoro a ver se isto não abre possibilidades interessantes.
Não percam os próximos capítulos, pois nós, tamb+em não!
santa malandragem
Já receberam mails da Nigéria de um gajo que diz que te quer dar uma fortuna de um tio rico de que nunca ouviste falar?
Há toda uma indústria de fraude na internet.
Mas agora chegou o payback time.
São cada vez mais as pessoas que se dedicam, com maior ou menor afinco, a lixar os vigaristas.
É perfeito. Todo o prazer de pregar uma grande partida a alguém só prejudicando vigaristas.
Ler este artigo para começar.
Um exemplo real de uma vigarice feita a vigaristas.
Acho que, nas horas vagas, vou pegar neste hobby!
Há toda uma indústria de fraude na internet.
Mas agora chegou o payback time.
São cada vez mais as pessoas que se dedicam, com maior ou menor afinco, a lixar os vigaristas.
É perfeito. Todo o prazer de pregar uma grande partida a alguém só prejudicando vigaristas.
Ler este artigo para começar.
Um exemplo real de uma vigarice feita a vigaristas.
Acho que, nas horas vagas, vou pegar neste hobby!
2009/05/11
a pastar
Estou um bocado à toa.
Com o esquema da tese já feito mas ainda não apresentado e aprovado fica-se um bocado sem saber o que fazer.
Tenho andado a recolher bibliografia que pode ser útil mas fica difícil perceber até que ponto se deve aprofundar determinada leitura.
Depois começa o calor e a sensação de que está quase na hora de ir embora.
Comecei hoje a ler uma coisinha bem escrita: MARKOVA Ivana, Dialogicity and social representations. The dynamics of mind.
Com o esquema da tese já feito mas ainda não apresentado e aprovado fica-se um bocado sem saber o que fazer.
Tenho andado a recolher bibliografia que pode ser útil mas fica difícil perceber até que ponto se deve aprofundar determinada leitura.
Depois começa o calor e a sensação de que está quase na hora de ir embora.
Comecei hoje a ler uma coisinha bem escrita: MARKOVA Ivana, Dialogicity and social representations. The dynamics of mind.
2009/05/08
Parabéns Karina
Hoje a Karina, do ComDeus, a editora brasileira com quem estamos a fazer o suplemento da Catequistas faz anos.
Conhecemo-nos profissionalmente há quase um ano, nunca nos vimos.
Mas, por isso mesmo, quero agradecer a Deus o esforço que ela faz pela evangelização da criançada.
Para ela, família e colaboradores a bênção de Deus e uma oração
Conhecemo-nos profissionalmente há quase um ano, nunca nos vimos.
Mas, por isso mesmo, quero agradecer a Deus o esforço que ela faz pela evangelização da criançada.
Para ela, família e colaboradores a bênção de Deus e uma oração
2009/05/06
Nomes a reter
Já reparei que uma das falhas neste meu prestar de contas aqui no blog é a referência a autores ou livros que vale a pena reter.
Ou porque são mesmo muito bons ou porque entram para a fila dos autores a ler.
Na área da sociologia da religião apresento Danielle Hervieu-léger. Um saltinho à wikipedia.
À volta da pós-modernidade e da maneira como lida com a religião, três sugestões: Zygmunt Baumann, Giddens (who eles?) e Ulrich Beck
Ou porque são mesmo muito bons ou porque entram para a fila dos autores a ler.
Na área da sociologia da religião apresento Danielle Hervieu-léger. Um saltinho à wikipedia.
À volta da pós-modernidade e da maneira como lida com a religião, três sugestões: Zygmunt Baumann, Giddens (who eles?) e Ulrich Beck
Pós-adolescência 2
Em quase todos os contextos se observa que há um afastamento da fé-Igreja nesta idade (3ª década de vida).
Em portugal isso não é facilmente demonstrável; claro que esse afastamento existe; mas não é fácil demonstrar que se trata de algo novo. Nós notamos que desde os 10 anos há um afastamento progressivo. Fica a pergunta: aos 20 anos há uma perda mais grave?
Basicamente há 2 explicações:
Teoria da secularização e da descristianização progressiva: Parece uma história da carochinha, já tem muitos anos, está mais que demonstrada a sua falsidade mas continua a estar por detrás de muita ciência social em PT. O afastamento é "normal" e resulta dum movimento social generalizado.
Ciclo de vida: Outra teoria diz que é por causa da especificidade desta faixa de vida que se dá o afastamento. Porque entram no mundo dos adultos e da "racionalidade" ou porque apostam noutros âmbitos de vida (estudo, namoro-casamento, entrada no mercado de trabalho...) a religião perde peso específico. Superados estes parêntesis haveria um regresso.
O Schweitzer sugere outras interpretações a ter em conta.
Efeitos do desenvolvimento cognitivo. As pessoas não desenvolvem todas as capacidade ao mesmo tempo. Pode ser que a adesão a uma experiência de fé, nestas idades, exija um certo tipo de desenvolvimento e maturidade. E quando ele não acontece, pura e simplesmente, as pessoas perdem interesse pela fé.
Influências biográficas. Parece óbvio mas não é. A história pessoal de vida e de fé de cada um acaba por ser profundamente influente nas opções que se fazem.
Efeito de cohorte. Muito do que sucede não tem apenas que ver com a geração dos "vinte" em geral mas com esta geração que agora tem "vintes".
Em portugal isso não é facilmente demonstrável; claro que esse afastamento existe; mas não é fácil demonstrar que se trata de algo novo. Nós notamos que desde os 10 anos há um afastamento progressivo. Fica a pergunta: aos 20 anos há uma perda mais grave?
Basicamente há 2 explicações:
Teoria da secularização e da descristianização progressiva: Parece uma história da carochinha, já tem muitos anos, está mais que demonstrada a sua falsidade mas continua a estar por detrás de muita ciência social em PT. O afastamento é "normal" e resulta dum movimento social generalizado.
Ciclo de vida: Outra teoria diz que é por causa da especificidade desta faixa de vida que se dá o afastamento. Porque entram no mundo dos adultos e da "racionalidade" ou porque apostam noutros âmbitos de vida (estudo, namoro-casamento, entrada no mercado de trabalho...) a religião perde peso específico. Superados estes parêntesis haveria um regresso.
O Schweitzer sugere outras interpretações a ter em conta.
Efeitos do desenvolvimento cognitivo. As pessoas não desenvolvem todas as capacidade ao mesmo tempo. Pode ser que a adesão a uma experiência de fé, nestas idades, exija um certo tipo de desenvolvimento e maturidade. E quando ele não acontece, pura e simplesmente, as pessoas perdem interesse pela fé.
Influências biográficas. Parece óbvio mas não é. A história pessoal de vida e de fé de cada um acaba por ser profundamente influente nas opções que se fazem.
Efeito de cohorte. Muito do que sucede não tem apenas que ver com a geração dos "vinte" em geral mas com esta geração que agora tem "vintes".
Pós-adolescência
Schweitzer The postmodern life cycle. Challenges for the Church and Theology) continua a sua apresentação com a pós-adolescência. Outros chamam-lhe jovens adultos. Outros falam apenas da 3ª década de vida.
Não há acordo nos nomes. Nem na teoria.
Mas estamos de acordo que o pessoal de 20 e tal anos, na maioria dos casos, ainda não é adulto. É só recordar os sociólogos e os seus limiares: fim de estudos, entrada no mercado de trabalho, estabilização de uma relação afectiva, sair de casa dos pais, ter o 1º filho.
Também é verdade que encontramos aqueles casos de amigos que superando todos esses limiares continuam a não ser adultos. Mas não me quero meter nisso, que a coisa assim já é complicada quanto baste.
Que desafios para a Igreja e para a teologia pastoral?
Não há acordo nos nomes. Nem na teoria.
Mas estamos de acordo que o pessoal de 20 e tal anos, na maioria dos casos, ainda não é adulto. É só recordar os sociólogos e os seus limiares: fim de estudos, entrada no mercado de trabalho, estabilização de uma relação afectiva, sair de casa dos pais, ter o 1º filho.
Também é verdade que encontramos aqueles casos de amigos que superando todos esses limiares continuam a não ser adultos. Mas não me quero meter nisso, que a coisa assim já é complicada quanto baste.
Que desafios para a Igreja e para a teologia pastoral?
Que adolescência na pós-modernidade? (3)
Resumindo: é difícil chegar a conclusões.
A reflexão psicológica e sociológica sobre a adolescência é pouco sistemática.
Aliás, o Handbook of adolescent psychology (Lerner-Steinberg) aposta claramente nas mid-range theories em detrimento das grand-theories.
E tudo se complica quando metemos a pós-modernidade à mistura.
Claramente revejo-me na crítica ao positivismo racionalista que muitos autores pós-modernos fazem. Ma non troppo. Mas não acho que a realidade se dissolva em construções culturais.
Concordo que é difícil chegar a modelos absolutos, universais, value-free. Mas isso não deveria inibir a normatividade. Ou seja, acho legítimo usar práticas de análise e de transformação da realidade inspiradas em valores não universais.
Mas isto é tudo ao nível da pós-modernidade como quadro teórico de interpretação. outra coisa é ao nível das vivências.
Assim a olho, percebe-se que algo de pós-modernidade está presente nas práticas correntes. O que não encontro é estudos empíricos que o demonstrem, que o quantifiquem. Vai na volta, os pós-modernos vão dizer que esse tipo de abordagem é "demodee".
Ou seja: gostava de saber como é que as grandes intuições da pós-modernidade podem ser operacionalizadas. Como é que as práticas dos nossos adolescentes são por elas influenciadas.
A reflexão psicológica e sociológica sobre a adolescência é pouco sistemática.
Aliás, o Handbook of adolescent psychology (Lerner-Steinberg) aposta claramente nas mid-range theories em detrimento das grand-theories.
E tudo se complica quando metemos a pós-modernidade à mistura.
Claramente revejo-me na crítica ao positivismo racionalista que muitos autores pós-modernos fazem. Ma non troppo. Mas não acho que a realidade se dissolva em construções culturais.
Concordo que é difícil chegar a modelos absolutos, universais, value-free. Mas isso não deveria inibir a normatividade. Ou seja, acho legítimo usar práticas de análise e de transformação da realidade inspiradas em valores não universais.
Mas isto é tudo ao nível da pós-modernidade como quadro teórico de interpretação. outra coisa é ao nível das vivências.
Assim a olho, percebe-se que algo de pós-modernidade está presente nas práticas correntes. O que não encontro é estudos empíricos que o demonstrem, que o quantifiquem. Vai na volta, os pós-modernos vão dizer que esse tipo de abordagem é "demodee".
Ou seja: gostava de saber como é que as grandes intuições da pós-modernidade podem ser operacionalizadas. Como é que as práticas dos nossos adolescentes são por elas influenciadas.
2009/05/04
Vasco Granja
Morreu. MUitos não devem saber quem era.
Mas acho que fez mais pela cultura do que muitos ministros da dita e artistas da treta que nada fazem sem o subsidiozinho.
Entre a animação na tv e e revista tintin há uma parte de mim que foi formada por ele.
Ok, é verdade que gostava mais dos filmes do Tex Avery do que dos Koniecs (Koniec é, numa língua eslava qualquer o mesmo que The end; chamávamos assim aos filmes de leste que o Vasco lá metia). Mas a verdade é que vi coisas muito bonitas que abriram horizontes e possibilidades: os checos com as plasticinas, o Norman Mc Claren e as suas experimentações.
A verdade é que se hoje alguém, com 10 ou com 20 anos quiser saber mais sobre animação ou quiser ver desenhos animados fora do mainstream, não tem grande hipótese.
Não tenho vergonha de dizer que ainda gosto muito de nada desenhada. E isso também se deve a ele.
R I P
Mas acho que fez mais pela cultura do que muitos ministros da dita e artistas da treta que nada fazem sem o subsidiozinho.
Entre a animação na tv e e revista tintin há uma parte de mim que foi formada por ele.
Ok, é verdade que gostava mais dos filmes do Tex Avery do que dos Koniecs (Koniec é, numa língua eslava qualquer o mesmo que The end; chamávamos assim aos filmes de leste que o Vasco lá metia). Mas a verdade é que vi coisas muito bonitas que abriram horizontes e possibilidades: os checos com as plasticinas, o Norman Mc Claren e as suas experimentações.
A verdade é que se hoje alguém, com 10 ou com 20 anos quiser saber mais sobre animação ou quiser ver desenhos animados fora do mainstream, não tem grande hipótese.
Não tenho vergonha de dizer que ainda gosto muito de nada desenhada. E isso também se deve a ele.
R I P
Ainda às voltas com a adolescência
Como viram nos posts anteriores, Schweitzer identifica como um grande desafio a crise da identidade em contexto pós-moderno.
Vai daí, tentei aprofundar o problema. Já referi o texto de Gilligan.
Descobri também uma revista chamada Identity. O nº 2 de 2005 é todo dedicado a este tema de pensar a identidade em contexto pós-moderno.
Um obrigado à Sofia que me arranjou, com impressionante velocidade, acesso aos textos.
Vai daí, tentei aprofundar o problema. Já referi o texto de Gilligan.
Descobri também uma revista chamada Identity. O nº 2 de 2005 é todo dedicado a este tema de pensar a identidade em contexto pós-moderno.
Um obrigado à Sofia que me arranjou, com impressionante velocidade, acesso aos textos.
2009/05/02
Self
Desculpem a ignorância, mas...
Como é que se deve traduzir "self" em português?
Em contexto de psicologia, identidade etc...
Como é que se deve traduzir "self" em português?
Em contexto de psicologia, identidade etc...
Que adolescência na pós-modernidade? (2)
Ora todo este processo aparece num contexto cada vez mais plural: nas opções, nos valores... e não há, para muitos adolescentes (resta ver até que ponto a experiência da fé o poderia ser) um centro estruturador e integrador dessa pluralidade.
À pergunta "quem sou eu?" não há uma resposta única. Há uma pluralidade de respostas e de auto-definições.
Não pode haver identidades fixas no contexto da pós-modernidade.
Ok: esta é a teoria. E assim a olho, parece explicar muitos dos fenómenos que observamos.
Mas gostava de saber até que ponto isto se verifica mesmo.
Um exemplo: esta semana li na net (e não me lembro onde) um estudo, feito em Portugal a dizer que muita da formação profissional que se fazia em idade adulta era razoavelmente inútil, já que era incapaz de mudar estruturalmente as prestações do trabalhador; de algum modo elas já estariam definidas na adolescência. A ser verdade, isto parece contrariar a tese pós-moderna.
À pergunta "quem sou eu?" não há uma resposta única. Há uma pluralidade de respostas e de auto-definições.
Não pode haver identidades fixas no contexto da pós-modernidade.
Ok: esta é a teoria. E assim a olho, parece explicar muitos dos fenómenos que observamos.
Mas gostava de saber até que ponto isto se verifica mesmo.
Um exemplo: esta semana li na net (e não me lembro onde) um estudo, feito em Portugal a dizer que muita da formação profissional que se fazia em idade adulta era razoavelmente inútil, já que era incapaz de mudar estruturalmente as prestações do trabalhador; de algum modo elas já estariam definidas na adolescência. A ser verdade, isto parece contrariar a tese pós-moderna.
Que adolescência na pós-modernidade? (1)
Estou a ler Friedrich SCHWEITZER, The postmodern life cycle. Challenges for church abd theology.
O 3º capítulo estuda a adolescência (como 2ª fase da vida, a seguir à infânica) e tenta perceber o que é isso da Adol. neste contexto pós-moderno e que desafios coloca à pastoral.
A tese, não original, é que a adolescência é uma "invenção" da modernidade. A existência de um tempo, mais ou menos prolongado, entre a infância e a idade adulta só aparece porque as condições da modernidade o possibilitavam e exigiam.
É a modernidade, com a sua exigência de um tempo alargado de formação para a vida activa que cria a adolescência.
Erikson caracteriza a adol. como um tempo de definição da identidade pessoal.
O problema é que as actuais condições sociais diferem drasticamente daquela situação em que a ideia da adol. como identidade foi definida.
Schwaitzer recorda a crítica feminista à identidade como sendo virada para descrição dos adolescentes masculinos.
Mais grave ainda parece ser a alteração das estruturas temporais da adol. A modernidade criou a adol como um tempo de transição entre a infância e a adultez. Não já criança; ainda não adulto! É esse "ainda não" que parece posto hoje em questão.
em 1º lugar porque as perspectiva laborais mudaram. A ideia de usar a adol. como um tempo de prepração profissional para o resto da vida foi posto em causa. A flexibilidade de emprego veio para ficar. Por isso a adol. e as suas opções (formativas e outras) deixa de ter aquele carácter definitivo que tinha antes.
Devido à indefinição, a adol tende a prolongar-se cada vez mais. E uma série de marcas dos adultos passam a ser reclamados pelos adol.: vida sexual activa, autonomia financeira...
De algum modo, desapareceu a pressão para evoluir em direcção à idade adulta. É possível continuar indefinidamente adol. Ora isso torna inviável o aparecimento de uma identidade definida.
O 3º capítulo estuda a adolescência (como 2ª fase da vida, a seguir à infânica) e tenta perceber o que é isso da Adol. neste contexto pós-moderno e que desafios coloca à pastoral.
A tese, não original, é que a adolescência é uma "invenção" da modernidade. A existência de um tempo, mais ou menos prolongado, entre a infância e a idade adulta só aparece porque as condições da modernidade o possibilitavam e exigiam.
É a modernidade, com a sua exigência de um tempo alargado de formação para a vida activa que cria a adolescência.
Erikson caracteriza a adol. como um tempo de definição da identidade pessoal.
O problema é que as actuais condições sociais diferem drasticamente daquela situação em que a ideia da adol. como identidade foi definida.
Schwaitzer recorda a crítica feminista à identidade como sendo virada para descrição dos adolescentes masculinos.
Mais grave ainda parece ser a alteração das estruturas temporais da adol. A modernidade criou a adol como um tempo de transição entre a infância e a adultez. Não já criança; ainda não adulto! É esse "ainda não" que parece posto hoje em questão.
em 1º lugar porque as perspectiva laborais mudaram. A ideia de usar a adol. como um tempo de prepração profissional para o resto da vida foi posto em causa. A flexibilidade de emprego veio para ficar. Por isso a adol. e as suas opções (formativas e outras) deixa de ter aquele carácter definitivo que tinha antes.
Devido à indefinição, a adol tende a prolongar-se cada vez mais. E uma série de marcas dos adultos passam a ser reclamados pelos adol.: vida sexual activa, autonomia financeira...
De algum modo, desapareceu a pressão para evoluir em direcção à idade adulta. É possível continuar indefinidamente adol. Ora isso torna inviável o aparecimento de uma identidade definida.
2009/05/01
1 de Maio
Aqui em Roma também é feriado.
E aqui na universidade é dia de festa. Estas 8 comunidades (as 6 que estamos no campus, o "gerini" onde estão os estudantes salesianos de teologia, o "testaccio" onde estão os salesianos que estudam em outras universidades romanas) juntamo-nos para festejar a nossa unidade, o nosso pertencer a esta unidade.
É um momento de comunhão, onde as barreiras de idade, de estatuto académico desaparecem. O programa foi simples mas rico. Recordem que não é fácil envolver 330 intelectuais nestas exuberâncias festivas. Ao início da manhã houve uma academia, onde cada comunidade apresentava um número e onde se homenagearam os irmãos que comemoravam jubileus de profissão religiosa ou de ordenação (25, 50 ou 60 anos).
Ao final da manhã foi a missa. Senti-me bem.
NO fim da missa fomos buscar à estação de comboios o Pe. Artur, um salesianos de Portugal que nos veio visitar. Chegou mesmo a tempo do almoço.
Da parte da tarde houve sessão de cinema, mas nós os portugueses escapulimo-nos e fomos dar à língua em português, que sabe muito bem.
E aqui na universidade é dia de festa. Estas 8 comunidades (as 6 que estamos no campus, o "gerini" onde estão os estudantes salesianos de teologia, o "testaccio" onde estão os salesianos que estudam em outras universidades romanas) juntamo-nos para festejar a nossa unidade, o nosso pertencer a esta unidade.
É um momento de comunhão, onde as barreiras de idade, de estatuto académico desaparecem. O programa foi simples mas rico. Recordem que não é fácil envolver 330 intelectuais nestas exuberâncias festivas. Ao início da manhã houve uma academia, onde cada comunidade apresentava um número e onde se homenagearam os irmãos que comemoravam jubileus de profissão religiosa ou de ordenação (25, 50 ou 60 anos).
Ao final da manhã foi a missa. Senti-me bem.
NO fim da missa fomos buscar à estação de comboios o Pe. Artur, um salesianos de Portugal que nos veio visitar. Chegou mesmo a tempo do almoço.
Da parte da tarde houve sessão de cinema, mas nós os portugueses escapulimo-nos e fomos dar à língua em português, que sabe muito bem.
2009/04/30
Às voltas com a adolescência
Meio por acaso, esta semana voltei a pegar nas questões da adolescência.
Algumas descobertas e muitas perguntas.
Primeiro: não há uma teoria geral da adolescência.
Segundo: a adolescência está a mudar com essa coisa da "pós-modernidade" (que também não se sabe bem o que é nem como se há-de chamar: segunda modernidade, modernidade líquida, supra-modernidade...)
Moral da história: aqueles caramelos como eu que querem acima de tudo levar o Evangelho à malta nova, acabam sem saber para onde se virar.
Se a nossa acção de pastoral tem de ser fiel, ao mesmo tempo, à mensagem de Deus e ao destinatário... se não nos conseguimos entender sobre o destinatário... como é que o evangelizamos?
Claramente tenho-me colocado na linha de Erikson, do seu modelo de desenvolvimento e da adolescência como um tempo definido pela tarefa da identidade. Sempre me pareceu mais integrativo que as teorias mais psicanalíticas (Anna Freud).
Mas há algumas críticas.
A 1ª vem do lado da pós-modernidade: num tempo de pluralismo não é possível definir identidade nenhuma; logo a adolescência fica em coisa nenhuma.
A 2ª vem do feminismo., Dei de caras com uma referência a um livro de Carol Gilligan (in another voice) em que ela diz que a sequência proposta por Erikson (identidade >> Intimidade >> generatividade) é demadiado machista, que nas raparigas não há uma separação entre identidade e intimidade.
Ainda estou a ler o livro da Gilligan mas, assim a olho, ela é capaz de ter razão. Muitos de nós (operadores pastorais e não psis de profissão) já temos notado que o tema da intimidade na adolescência está muito mais presente do que pensávamos. Não sei como é que vocês processavam a dissonância. A mim, já há algum tempo que me andava a fazer espécie. A ver se aparece por aí algum psi que ajude a perceber isto!
Claro que, para complicar, o livro de Gilligam é de 1980; precisava de algo que pegasse no mesmo tema, numa linha mais... 2009!
Algumas descobertas e muitas perguntas.
Primeiro: não há uma teoria geral da adolescência.
Segundo: a adolescência está a mudar com essa coisa da "pós-modernidade" (que também não se sabe bem o que é nem como se há-de chamar: segunda modernidade, modernidade líquida, supra-modernidade...)
Moral da história: aqueles caramelos como eu que querem acima de tudo levar o Evangelho à malta nova, acabam sem saber para onde se virar.
Se a nossa acção de pastoral tem de ser fiel, ao mesmo tempo, à mensagem de Deus e ao destinatário... se não nos conseguimos entender sobre o destinatário... como é que o evangelizamos?
Claramente tenho-me colocado na linha de Erikson, do seu modelo de desenvolvimento e da adolescência como um tempo definido pela tarefa da identidade. Sempre me pareceu mais integrativo que as teorias mais psicanalíticas (Anna Freud).
Mas há algumas críticas.
A 1ª vem do lado da pós-modernidade: num tempo de pluralismo não é possível definir identidade nenhuma; logo a adolescência fica em coisa nenhuma.
A 2ª vem do feminismo., Dei de caras com uma referência a um livro de Carol Gilligan (in another voice) em que ela diz que a sequência proposta por Erikson (identidade >> Intimidade >> generatividade) é demadiado machista, que nas raparigas não há uma separação entre identidade e intimidade.
Parêntesis cultural: Eu já conhecia a Gilligan, mormente da crítica que ela fazia ao desenvolvimento do raciocínio moral de Kohlberg, excessivamente asssente no conceito de justiça. Mas conhecia de ver citada sem nunca ter tido oportunidade (ou vontade?) de ler o livro. Pois hoje descubro que no mesmo livro ela critica os 2 caramelos: Kohlberg e Erikson
Ainda estou a ler o livro da Gilligan mas, assim a olho, ela é capaz de ter razão. Muitos de nós (operadores pastorais e não psis de profissão) já temos notado que o tema da intimidade na adolescência está muito mais presente do que pensávamos. Não sei como é que vocês processavam a dissonância. A mim, já há algum tempo que me andava a fazer espécie. A ver se aparece por aí algum psi que ajude a perceber isto!
Claro que, para complicar, o livro de Gilligam é de 1980; precisava de algo que pegasse no mesmo tema, numa linha mais... 2009!
Bíblia e teologia
Ontem, o Instituto de teologia dogmática organizou um seminário sobre bíblia e teologia.
Veio aí uma professora da Gregoriana, espanhola, muito simpática.
A verdade é que nós, da pastoral, estávamos um bocado à nora, já que aquilo era mesmo muito especializado para a dogmática.
Gostei foi do modelo de organizar o evento.
Começou com uma conferência da senhora. Depois havia um tempo de trabalho de grupos. Não havia que fazer nada a não ser dialogar sobre impressões da conferência e conteúdos. Havia 3 grupos: um mais virado para a teologia fundamental, outro para a dogmática e outro para a teologia sacramental.
Depois deste diálogo voltámos a encontra-nos para um tempo de perguntas e diálogo.
Veio aí uma professora da Gregoriana, espanhola, muito simpática.
A verdade é que nós, da pastoral, estávamos um bocado à nora, já que aquilo era mesmo muito especializado para a dogmática.
Gostei foi do modelo de organizar o evento.
Começou com uma conferência da senhora. Depois havia um tempo de trabalho de grupos. Não havia que fazer nada a não ser dialogar sobre impressões da conferência e conteúdos. Havia 3 grupos: um mais virado para a teologia fundamental, outro para a dogmática e outro para a teologia sacramental.
Depois deste diálogo voltámos a encontra-nos para um tempo de perguntas e diálogo.
2009/04/29
Mais um livro de adolescentes
MONTISCHI Ferdinando - PALMONARI Augusto, Nuovi adolescenti: dalla conoscenza all'incontro.
Para quem não sabe este Palmonari é um fulano muito citado nesta área da adolescência.
O livro é muito acessível. Não é divulgativo mas está longe de ser coisa muito profunda. Li as primeiras 100 páginas do livro (metade) e folheei o resto (onde ele analisa uma série de casos e dá dicas práticas). Aquilo que me interessava era mesmo a parte teórica.
O livro é original por fazer quase uma história da psicologia da adolescência. Apresenta as grandes chaves da interpretação da adolescência: um modelo muito ligado ao impacto da puberdade que vê a Ad. como tempo de crise e o modelo de Erikson, centrado na construção da identidade.
Para quem não sabe este Palmonari é um fulano muito citado nesta área da adolescência.
O livro é muito acessível. Não é divulgativo mas está longe de ser coisa muito profunda. Li as primeiras 100 páginas do livro (metade) e folheei o resto (onde ele analisa uma série de casos e dá dicas práticas). Aquilo que me interessava era mesmo a parte teórica.
O livro é original por fazer quase uma história da psicologia da adolescência. Apresenta as grandes chaves da interpretação da adolescência: um modelo muito ligado ao impacto da puberdade que vê a Ad. como tempo de crise e o modelo de Erikson, centrado na construção da identidade.
Barraca surrealista
Hoje pelas 12h15 havia reunião do instituto de pastoral. No início tinham uma votação qualquer e depois 3 doutorandos iam apresentar o seu esquema de tese.
A ideia é ter a possibilidade de um momento de diálogo e debate entre candidato, doutorandos e docentes antes da discussão do conselho da faculdade (que é quem aprova, ou não, o esquema).
Mas entre a falta de tempo e a confusão processual aquilo tornou-se numa coisa totalmente surreal. Completamente indigno.
Há qualquer coisa que não entendo. Há um aluno que apresenta um esquema em que o relator (que assinou aquele esquema) diz que aquilo é "mastodontico". (E pelo que percebi, o prof tem mesmo razão; aquilo é enorme, sem métodos.) Mas se está assim tão mal, como é que assina?
Depois um indiano da minha comunidade a tentar ler à pressa, com enormes dificuldades no italiano, um texto que preparou... a meio o presidente manda-o calar e diz que está tudo bem...
A ver se alguém me explica melhor o que se passou. Ou quais são as regras do jogo.
Eu devo estar a ficar velho e acomodado. Tive medo de me levantar a meio, quando percebi a palhaçada que aquilo era, e dizer que não posso pactuar com uma fantochada daquelas.
Mas o presidente (futuro ex-) fazia anos e estava com pressa de ir festejar.
Acho que tenho que começar um sério diálogo intercultural com estas estruturas. Apresentando-lhes aquelas partes do léxico português mais adaptadas a estas situações de tensão!
A ideia é ter a possibilidade de um momento de diálogo e debate entre candidato, doutorandos e docentes antes da discussão do conselho da faculdade (que é quem aprova, ou não, o esquema).
Mas entre a falta de tempo e a confusão processual aquilo tornou-se numa coisa totalmente surreal. Completamente indigno.
Há qualquer coisa que não entendo. Há um aluno que apresenta um esquema em que o relator (que assinou aquele esquema) diz que aquilo é "mastodontico". (E pelo que percebi, o prof tem mesmo razão; aquilo é enorme, sem métodos.) Mas se está assim tão mal, como é que assina?
Depois um indiano da minha comunidade a tentar ler à pressa, com enormes dificuldades no italiano, um texto que preparou... a meio o presidente manda-o calar e diz que está tudo bem...
A ver se alguém me explica melhor o que se passou. Ou quais são as regras do jogo.
Eu devo estar a ficar velho e acomodado. Tive medo de me levantar a meio, quando percebi a palhaçada que aquilo era, e dizer que não posso pactuar com uma fantochada daquelas.
Mas o presidente (futuro ex-) fazia anos e estava com pressa de ir festejar.
Acho que tenho que começar um sério diálogo intercultural com estas estruturas. Apresentando-lhes aquelas partes do léxico português mais adaptadas a estas situações de tensão!
2009/04/28
Cultura
Hoje à tarde fomos visitar o pontifício conselho da cultura.
O Reyes, um mexicano que está na minha "turma" de doutoramento trabalha lá e uma das actividades que marcámos foi uma visita. Para conhecer aquilo, perceber como funcionae etc...
Tempo ranhoso, está de chuva e já não me lembro da seca que é andar de transportes públicos aqui em Roma. É tempo de dar graças a Deus por este dom que é morar no campus. Ok, e ser solidário com aqueles que não têm este dom.
Gostei da visita. Há detalhes que, evidentemente, não vou deixar aqui mas... 2 coisas.
1) Trabalham num edifício que teve obras profundas à pouco tempo. Escritórios fechados, cada um em seu canto. open space, nem pensar. A arquitectura traduz um modo de pensar.
2) Ao todo o vaticano terá uns 2000 empregados. Quando pensamos em burocracias, pensamos que seriam muito mais. E afinal não
O Reyes, um mexicano que está na minha "turma" de doutoramento trabalha lá e uma das actividades que marcámos foi uma visita. Para conhecer aquilo, perceber como funcionae etc...
Tempo ranhoso, está de chuva e já não me lembro da seca que é andar de transportes públicos aqui em Roma. É tempo de dar graças a Deus por este dom que é morar no campus. Ok, e ser solidário com aqueles que não têm este dom.
Gostei da visita. Há detalhes que, evidentemente, não vou deixar aqui mas... 2 coisas.
1) Trabalham num edifício que teve obras profundas à pouco tempo. Escritórios fechados, cada um em seu canto. open space, nem pensar. A arquitectura traduz um modo de pensar.
2) Ao todo o vaticano terá uns 2000 empregados. Quando pensamos em burocracias, pensamos que seriam muito mais. E afinal não
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